30 de abril de 2018

Carlos Betancur lidera uma Movistar que está com o pensamento no Tour

(Fotografia: Movistar Team)
Há cinco anos, um jovem Carlos Betancur começava a confirmar as expectativas que tinham sido criadas com algumas boas exibições na Acqua & Sapone. A AG2R tinha razões para estar feliz com o seu reforço ao vê-lo terminar na quinta posição na Volta a Itália, depois do terceiro lugar na Flèche Wallonne e quarto na Liège-Bastogne-Liège. Mais um colombiano despontava, numa altura que Rigoberto Uran se ia afirmando - foi segundo nesse Giro - e um Nairo Quintana já deixava todos a pensar que se estava perante um ciclista de grande futuro. Porém, apesar de no ano seguinte ainda ter vencido o Paris-Nice, Betancur tornou-se num problema para a equipa francesa. Chegou ao ponto de nem avisar por onde andava, além de ser óbvio em algumas competições como se apresentava longe do ideal físico. Em Agosto de 2015, a AG2R terminou o contrato. Parecia que Betancur poderia cair no esquecimento, mas a Movistar acreditou que poderia reabilitá-lo.

Não "pegou" logo, mas ao longo de 2016, Betancur foi deixando mostras que talvez a aposta da Movistar não fosse perdida. No ano passado confirmou que o talento não desapareceu entre as atitudes que não se adequam para quem segue o profissionalismo nesta modalidade. No Tour foi 18º e foi à Vuelta com a oportunidade de lutar como quisesse, pelo que quisesse. Uma queda na sexta etapa deixou-o tão maltratado que até precisou de ser submetido a uma cirurgia ao rosto. Porém, ficou claro que Betancur não só tinha recuperado a confiança, como, mais importante, tinha recuperado a vontade de competir e ganhar ao mais alto nível.

Enquanto muito se discutia (e se discute) como iria funcionar o tridente Mikel Landa, Nairo Quintana e Alejandro Valverde, o colombiano não teve receio de se chegar à frente e dizer que também queria liderar numa grande volta em 2018. Com Andrey Amador a ser um forte candidato a regressar à condição de líder no Giro - isto se Landa não resolvesse ir a Itália -, depois de dois anos "tapado", primeiro por Valverde e depois por Quintana, a Movistar resolveu mesmo abrir as portas a Betancur, com Amador a ficar escalado para aquela que promete ser uma super equipa para a Volta a França.

Betancur viu assim o seu pedido ser atendido. Aos 28 anos vai liderar a Movistar no Giro, ainda que em seu redor vá estar uma equipa que varia entre a juventude e os mais velhos com pouca experiência em grandes voltas. Não há dúvidas que o director Eusebio Unzué tem as baterias todas apontadas para o Tour, Além dos quatro nome mencionados, também Marc Soler está na lista. O próprio Betancur poderá muito bem ser também chamado para reforçar ainda mais o bloco, pelo que se quer brilhar, é melhor aproveitar o Giro.

Não tem feito uma época de encantar e até abandonou na Volta à Romandia. Porém, regularidade é algo que não tem feito parte da carreira de Betancur, que se mostrar a vontade do Tour e Vuelta de 2017 e se estiver perto do seu melhor, é um sério candidato a meter-se no pódio... Isto se estiver muito bem na montanha, pois sofre do mal de outros excelentes trepadores: o contra-relógio.

De Betancur espera-se tudo e o colombiano espera que Rafael Valls (30 anos) possa ser o seu braço direito. Tal como Betancur já participou em oito grandes voltas e assinou pela Movistar na esperança de revitalizar a sua carreira. O argentino Eduardo Sepúlveda é outro dos reforços. Tem 26 anos e três Tours no seu currículo e a sua contratação levantou algumas dúvidas. Talvez não consiga colocar-se já no bloco que poderá rodear os principais líderes, mas em Itália tem a oportunidade de mostrar que tem lugar na Movistar.

Víctor De La Parte (31 anos e um Giro no currículo, em 2017) é conhecido do público português. Passou pela Efapel em 2014 e no ano passado chegou ao World Tour. Homem de trabalho por excelência, o que lhe falta de experiência em grandes voltas, ganha na que já tem na carreira. Rubén Fernández (27) esteve num Giro e duas Vueltas. É um ciclista talentoso, bom trepador, mas parece que falta... dar o clique. Antonio Pedrero (26) é mais um espanhol que a Movistar está a tentar tirar o máximo de potencial. Só esteve na Vuelta no ano passado, mas deverá assumir um papel importante na ajuda a Betancur quando chegarem as etapas de montanha.

Dayer Quintana (25) vive na sombra do irmão. Só em 2015 esteve no Giro, apesar de desde 2014 estar na Movistar. As comparações com Nairo são inevitáveis e o irmão está a anos-luz de Dayer, que tem novamente a oportunidade para tentar mostrar que merece um lugar na Movistar e não apenas por razões familiares.

Não é por acaso que se deixa Richard Carapaz para o fim. O equatoriano está a criar uma enorme curiosidade. Tem apenas 24 anos, mas já pouco duvidarão que se está perante um potencial ciclista de grande qualidade para as grandes voltas. Esteve na Vuelta, no ano passado, mas tal como a maioria dos ciclistas de uma Movistar sem líder definido, acabou por andar meio perdido. Vem de uma vitória na Volta às Astúrias, no domingo - Ricardo Mestre, da W52-FC Porto, ganhou a última etapa e foi terceiro na geral - e vai aparecer no Giro de confiança reforçada. Certamente que terá vontade de se mostrar e seria interessante vê-lo ter alguma liberdade. A ver vamos o que diz e faz Betancur, para perceber se Carapaz poderá ser um joker numa Movistar que está a pensar muito no Tour, mas não significa que não vá ao Giro à procura de dar algum tipo de luta.

»»George Bennett com contas a ajustar na Volta a Itália««

»»Lotto Soudal muda de nome e de camisola para o Giro e espera pela afirmação de Wellens««

»»Um Chris Froome no Giro rodeado por algumas incertezas««

Richie Porte stressado com indefinição do futuro da BMC

Richie Porte espera que possa haver uma continuidade do projecto da BMC. O australiano está feliz na equipa, mas confessa que começa a ser stressante as semanas passarem e não se saber se em 2019 a estrutura mantém-se ou não. Maio está aí, o que significa que se aproxima a data limite que Porte tinha definido para definir o futuro. Caso a BMC não desse certezas, o ciclista tinha alertado que iria começar a procurar uma nova equipa.

Estávamos no arranque da Volta ao Algarve quando o australiano deixou o aviso. Em final de contrato, Richie Porte é um ciclista que, apesar de já ter 33 anos, é dos mais valiosos do pelotão. Apesar de lhe ainda faltar um grande resultado numa volta de três semanas - entre furos e quedas, o azar tem perseguido o australiano - é um ciclista que oferece garantias de estar na luta por vitórias. Sair da Sky para a BMC foi um passo acertado na sua carreira em 2016, deixando de vez o papel de escudeiro de Chris Froome, para ser líder indiscutível.

Apesar da prioridade ser ficar na BMC se a estrutura tiver futuro - mesmo que seja com outro patrocinador -, não hesitará sair se a incerteza se arrastar até final de Maio. "Não quero mentir. É um pouco stressante. Nós andamos de bicicleta e é o trabalho dos directores encontrar um patrocinador para o próximo ano. Seria triste ver a BMC sair. É uma grande equipa e tivemos uns anos muito bons", salientou Porte ao Cycling News. O australiano considera que chegou o momento da verdade, mas avança que não tem conhecimento se já há propostas em cima da mesa para assinar por outra equipa. "Não tenho a certeza. Terá de perguntar ao meu empresário, Andrew McQuaid", disse, acrescentando que vai fazendo figas para que a BMC se mantenha na estrada em 2019.

Porte recordou como na BMC se está a sofrer com a morte de um dos seus mentores, Andy Rhis: "Esta equipa era a sua paixão e queremos que isso continue." O director Jim Ochowicz está a tentar salvar um projecto que na última década se tornou dos mais fortes no ciclismo. Porém, arrisca-se a começar a perder corredores se não conseguir garantir o dinheiro necessário para manter uma equipa do nível World Tour. 

Greg van Avermaet é a outra estrela da equipa. O seu limite é um pouco mais alargado do que o de Richie Porte, mas o belga também já alertou que após a Volta a França irá querer definir o seu futuro.

Há um ano foi a outra equipa americana que ameaçou fechar portas. A então Cannondale-Drapac chegou inclusivamente a recorrer ao crowdfunding para angariar o dinheiro que lhe faltava, mas um patrocinador acabou por aparecer: a Education First. Agora é a BMC que confirma as dificuldades que já eram faladas em 2017. Além de Porte e Avermaet, nomes como Dylan Teuns, Rohan Dennis, Alessandro de Marchi, Damiano Caruso, Nicholas Roche, Jurgen Roelandts e mesmo Tejay van Garderen - ainda que estejamos perante um ciclista que suscita cada vez mais dúvidas, não dando tantas garantias como se esperaria nesta fase da sua carreira -, estarão a entrar em potenciais listas de reforços.

Por agora, Richie Porte quer manter-se concentrado no seu objectivo não só de temporada, mas de carreira: a Volta a França. A temporada não tem sido fácil. Uma infecção respiratória obrigou-o a falhar o Tirreno-Adriatico e foi um mês e meio sem competir. Depois da Volta ao Algarve (27º), regressou na Volta ao País Basco, mas abandonou. Porém, na Volta à Romandia, o australiano deu mostras de estar a recuperar a forma, tendo terminado na terceira posição, a 35 segundos do vencedor, Primoz Roglic (Lotto-Jumbo).

Há um ano, Porte chegou num momento fantástico de forma ao Tour, mas uma queda não só acabou com a sua corrida, como com a temporada. Aos poucos, Porte volta a construir uma candidatura para tentar ganhar a competição que mais deseja.

»»Morrreu o dono da BMC««

»»Wolfpack, a história da alcunha da Quick-Step Floors que remonta a um gangue««

»»Um Chris Froome no Giro rodeado por algumas incertezas««

Astana ameaça pedir indemnização a Westra após admissão de ter fingido lesões para tomar cortisona

(Fotografia: Astana)
Retirado há mais de um ano, Lieuwe Westra dedicou-se à sua autobiografia e as primeiras declarações que vieram a público, ainda antes da publicação do livro, já chamaram muita atenção. Em causa volta a estar a utilização da Autorização de Utilização Terapêutica, a famosa TUE, na sigla em inglês, que tem estado muito em voga nas suspeitas que rodeiam a Sky e Bradley Wiggins. Westra terá admitido que recorreu a este sistema, alegando uma lesão no joelho, para tomar cortisona antes de competições importantes.

"Tive problemas no joelho durante anos. Permitia-me tomar cortisona quando nos aproximávamos de momentos importantes da temporada. A declaração médica que recebi do médico era falsa. Aos nossos líderes, não lhes interessava, a não ser que fossemos apanhados pelas autoridades. A ignorância traz felicidade", terá dito o ciclista, em declarações publicadas no jornal holandês Leeuwarder Courant e traduzidas pelo L'Equipe.

Entretanto, mais partes do livro foram divulgadas. No Cycling Weekly lê-se: "Eu tomei [substâncias] para pedalar mais rápido, para agarrar prémios, para receber elogios. No meu primeiro ano como profissional, tornou-se claro que não se atingiria vitórias apenas treinando duro. Se querias juntar-te às grandes figuras, tinhas de ir aos limites do que era permitido."

Westra terá então recorrido às TUE quando representou a Vacansoleil e a Astana. A primeira equipa terminou em 2013, com o holandês a prosseguir a carreira na estrutura cazaque, que reagiu de imediato às confissões de Westra. "Estamos chocados com as notícias e queremos que fique claro que na Astana nunca são e nunca serão dadas substâncias proibidas aos ciclistas", afirmou em comunicado. A equipa ameaça mesmo agir judicialmente contra Westra: "Se o uso de substâncias proibidas se confirmar, a Astana reserva o direito para pedir uma indemnização ao ciclista, já que o recurso ao doping é estritamente proibido pelos regulamentos internos da equipa, que são assinados por todos os ciclistas."

O livro estará à venda a partir da próxima semana. Lieuwe Westra terminou a carreira aos 34 anos, no final de 2016. Tinha acordado representar a Wanty-Groupe Gobert quando anunciou que sofria de uma depressão e que iria deixar o ciclismo. Participou em sete grandes voltas, incluindo no Tour que Vincenzo Nibali venceu em 2014. Esteve ainda em 11 clássicas e somou 13 vitórias como profissional, destacando-se as etapas no Critérium du Dauphiné, Paris-Nice e Volta à Catalunha.

As declarações surgem numa altura em que a Astana vive um grande momento, com 14 vitórias em 2018, metade em Abril. O historial da equipa faz com que declarações como estas relancem suspeitas, pois na Astana já houve ciclistas suspensos por doping, a começar pelo agora director Alexander Vinokourov. Já nestas funções, o cazaque teve um 2014 complicado quando em poucos meses, entre a equipa do World Tour e a de desenvolvimento (Continental) houve cinco testes positivos.

»»Westra confirma depressão. Falta de motivação e problemas legais levaram-no a terminar a carreira««

»»Sexto ciclista da Funvic com controlo positivo««

»»Relatório provoca enorme abanão à Sky. Suspeitas de doping no Tour de 2012««

29 de abril de 2018

"Iria sempre ter de mudar de tarefa no futuro e achei que agora era a altura certa"

"Eu gostava da competição, mas estava a chegar a uma idade ou dava o salto para algo que fosse espectacular ou então... sentia que não estava a dar o clique com o passo à frente." Os convites não faltaram para continuar no ciclismo como atleta. Porém, Hélder Ferreira considerou que tinha chegado o momento de seguir outro rumo e aceitou o convite para integrar a equipa da Federação Portuguesa de Ciclismo. Não esconde que sente falta dos treinos, do ambiente de estágio, de estar com os companheiros, mas também não hesita em dizer o quanto está a gostar das novas funções, do quanto está a aprender agora que vive a modalidade que adora noutra perspectiva.

Considerou que seria "mais desafiante e mais enriquecedor" ter outra função na modalidade e passou a ser técnico da federação. "Estou mais na área do Ciclismo para Todos, apesar de gostar da competição e pretender ao máximo envolver-me nesse aspecto", explicou ao Volta ao Ciclismo. E tem marcado presença nas corridas. Agora fora da bicicleta, mas sem muito tempo para sentir a falta da competição. "Não tinha noção de algumas coisas. Na Volta ao Algarve, por exemplo, eu por vezes saía muito tarde do secretariado e fazia trabalhos que não fazia a menor ideia que eram feitos, como imprimir não sei quantos comunicados para a imprensa e muitas outras coisas. Não sabia que se tinha de fazer algumas funções", contou, admitindo que ganhou um novo respeito pelas organizações das provas.

"Se se quer que as coisas corram bem, há que ter muita preparação, há muito trabalho a fazer. Não é fácil! É necessário meios para fazer uma corrida, é necessário gente que saiba o que fazer... Eu ainda estou a aprender, mas já vejo a dificuldade que é pôr uma prova na estrada, ou uma de BTT", referiu. Acrescentou como agora está a conhecer pessoas que estão há muitos mais anos do que ele no ciclismo: "Eu andava de bicicleta e o resto passava-me um pouco ao lado."


"Tenho saudades de sair para treinar com os meus colegas, também de competir, do ambiente de estágio, dos jantares quando estávamos todos juntos... mas tudo passa"

Foi Sérgio Sousa - que no ano passado assumiu o cargo de director da federação depois de terminar a carreira de ciclista - que desafiou Hélder Ferreira. "Eu tinha a possibilidade de continuar [a competir]. Até tive o convite de um treinador com quem já tinha trabalhado e que gostava muito que eu fosse para o projecto dele. Tinha também a possibilidade de continuar no Louletano. Eles contavam comigo. Por acaso este ano até tinha algumas hipóteses em aberto. Mas pensei que era o momento certo para mudar e acho que fiz bem", salientou. A decisão nem se prendeu com questões financeiras. Hélder Ferreira considerou que simplesmente tinha chegado o momento de apostar em algo diferente "Iria sempre ter de mudar de tarefa no futuro e achei que agora era a altura certa."

A carreira de ciclista ficou assim terminada aos 26 anos (entretanto já fez 27), depois de quatro temporadas como profissional, três na Efapel e a última no Louletano-Hospital de Loulé. Fez três Voltas a Portugal e foi sempre um ciclista de confiança para os líderes que apoiou. Regressar é algo que considera difícil, até porque não se cansa de dizer que está mesmo a gostar do que agora faz, ainda mais por ter a oportunidade de realizar diferentes funções: "Estou numa fase de aprendizagem, vou passando por vários departamentos dentro da federação e acho que é útil conhecer as diferentes realidades que este organismo tem. É diferente, mas estou a gostar bastante."

No entanto, confessou: "Tenho saudades de sair para treinar com os meus colegas, também de competir, do ambiente de estágio, dos jantares quando estávamos todos juntos... mas tudo passa. Agora estou focado em tantas tarefas, em tanta coisa nova, que nem tenho tempo para pensar nisso!" Mas claro que apesar do muito trabalho, pedalar continua a fazer parte da sua vida.

Licenciado em Ciências do Desporto e com o mestrado em Treino de Alto Rendimento Desportivo, será que pensa em um dia enveredar pela carreira de treinador? "Gostava de experimentar, mas estou a viver muito o momento. Vou dando um passinho de cada vez. Quem sabe...", disse. "Agora estou a aprender a parte organizativa, como funciona a federação, não estou a fazer muitos projectos para o futuro. O dia de amanhã logo se vê", acrescentou.

»»José Mendes: "Custou-me um pouco sair da Bora-Hansgrohe"««

»»Tiago Antunes: "Tinha de decidir o que era o melhor para mim e decidi sair"««

»»João Almeida: "Quando cheguei fiquei naquela: será que ganhei mesmo?!"««

George Bennett com contas a ajustar na Volta a Itália

(Fotografia: © Lotto-Jumbo)
Para George Bennett chegou o momento de se afirmar. Já chega de erros de treino, de doenças ou de outras "desculpas". E depois de ter saído praticamente incólume de um choque com um carro antes do arranque da Volta aos Alpes, o neozelandês apresenta uma candidatura ao Giro que o coloca entre os ciclistas a ficarem no top dez. Porém, tendo em conta o que demonstrou na semana passada, Bennett deixou indicações que poderá estar bem preparado para se intrometer numa luta ainda mais ambiciosa.

Após o 10º lugar na Vuelta em 2016, Bennett foi ganhar a Volta à Califórnia, demonstrando que poderia ser uma agradável surpresa para o Tour que se aproximava. Não estava a desiludir e o top dez era uma forte possibilidade. No entanto, um problema de saúde obrigou-o a abandonar. Apostou novamente na Vuelta, mas não estava recuperado e a equipa decidiu tirá-lo da corrida após a 11ª etapa. "Houve semanas em que não conseguia sair da cama. Estava completamente esgotado", contou recentemente ao Cycling News. Referiu como há um ano sofreu de mononucleose e que conhecendo o caso de Beñat Intxausti - espanhol da Sky que praticamente não tem competido nas últimas três temporadas -, chegou a ficar bastante preocupado. Agora garante que está tudo bem e que está pronto para atacar um Giro de más memórias.

Foi em Itália que se estreou nas grandes voltas, em 2013. Um jovem Bennett, então na RadioShack-Leopard, estava ansioso por se mostrar e aprendeu uma valiosa lição: "Foram as priores três semanas da minha vida. Consegui treinar de mais na Serra Nevada. Comecei o estágio como herói e acabei como o pior ciclista. Fui à Romandia e fui último todos os dias e depois fui ao Giro e fui uma merda. Vivi os piores momentos. Aprendemos muito sobre o que não devemos fazer."

Quando ia regressar ao Giro em 2015, já na Lotto-Jumbo, acabou por ser excluído pela equipa na véspera quando teve conhecimento de um teste que tinha detectado níveis baixos de cortisol. A formação holandesa fazia então parte do Movimento por um Ciclismo Credível e como o resultado poderia ser significado do uso de cortisona ou de algum problema de saúde, as regras determinavam que não deveria correr. Bennett enfrentou a missão de comprovar que não tinha recorrido ao doping, nem tinha qualquer outro problema e conseguiu. A Lotto-Jumbo deixou o movimento depois deste caso.

2018 e nova tentativa de regressar ao Giro. Tudo parecia estar a correr bem até que durante o reconhecimento antes do início da Volta aos Alpes, um carro atravessou-se à sua frente. O ciclista ia a grande velocidade e ao chocar passou por cima do veículo antes de cair. Apesar do susto e de por momentos não conseguir mexer o joelho, Bennett competiu e foi quinto, a um minuto do vencedor, Thibaut Pinot (Groupama-FDJ). Porém, não esconde com o acidente o afectou a nível psicológico, admitindo que nas descidas teve algum receio. Fisicamente diz estar bem, ainda que não consiga mexer bem o ombro. "Não me dói. Não estamos preocupados", afirmou.

Se Bennett (28 anos) apresentar a forma que demonstrou na Volta aos Alpes e conseguir ir melhorando durante as três semanas, o neozelandês poderá ter capacidade para estar com os principais favoritos e tornar-se ele próprio num. O seu problema era o contra-relógio, mas tem trabalhado muito neste aspecto e se recuámos à Volta à Califórnia do ano passado, surpreendeu tudo e todos ao segurar a liderança, defendendo-se muito bem. No Tirreno-Adriatico, em Março, perdeu 35 segundos para Chris Froome.

Esta sua evolução na especialidade e a sua inegável qualidade na montanha, levou a Loto-Jumbo a apostar no neozelandês em Itália, deixando Steven Kruijswijk - o homem que viu escapar-lhe a vitória no Giro em 2016 - concentrar-se no Tour. Apesar da presença de Chris Froome e de Tom Dumoulin surgir com um estatuto reforçado depois da vitória no Giro100, esta é uma corrida que terá tendência a ser um pouco mais aberta do que uma Volta a França. Bennett poderá encontrar uma competição à sua medida.

A equipa poderá não ser das mais fortes, mas conta com muita experiência que terá um papel importante em, pelo menos, deixar bem colocado Bennett. Na alta montanha é de Robert Gesink (31 anos) de quem mais se espera, até porque o holandês é um ciclista com top dez no Tour e Vuelta. Estando em forma, Gesink não deverá ficar limitado a ser um homem de trabalho, com a Lotto-Jumbo a ter outra opção viável para um bom resultado.

Enrico Battaglin, Koen Bouwman, Jos van Emden - que no ano passado venceu o contra-relógio final do Giro100 -, Gijs van Hoecke, Bert-Jan Lindeman e o sprinter Danny van Poppel completam a equipa da Lotto-Jumbo.

»»Lotto Soudal muda de nome e de camisola para o Giro e espera pela afirmação de Wellens««

»»Um Chris Froome no Giro rodeado por algumas incertezas««

»»Fabio Aru a precisar que a equipa não lhe falhe««

Lotto Soudal muda de nome e de camisola para o Giro e espera pela afirmação de Wellens

(Imagem: Print screen)
Entra 4 e 27 de Maio não será Lotto Soudal, mas sim Lotto Fix ALL. Também as camisolas não serão as tradicionais brancas e vermelhas. A equipa belga irá assim fazer uso da regra que permite uma mudança deste género uma vez por ano e irá promover um dos produtos do seu patrocinador, desta feita, numa corrida de três semanas: o Giro.

Esta não é a primeira vez que a marca opta por esta mudança. Já aconteceu em 2016 e 2017, sendo o Paris-Nice a corrida então escolhida. Desta vez a aposta foi numa das competições mais importantes do ano. De oito etapas, passarão para 21 de exposição mediática, além dos três dias de descanso, do dia a apresentação...

"Porque o giro é uma das três maiores corridas e chega a uma larga audiência mundial, em 171 países, é perfeito para esta opção. Ainda mais, Itália é um mercado importante para a Soudal. Desejamos à equipa a melhor sorte no Giro e estamos entusiasmados por ver a camisola da Fix ALL na televisão", afirmou Dirk Coorevits, CEO da Soudal.

Fix ALL é o nome de um dos produtos da Soudal. É um selante e um adesivo e já tem publicidade a rigor para a prova que se aproxima (ver vídeo no final do texto). E o grande responsável em fazer falar-se bastante deste nome será Tim Wellens. A Lotto Fix ALL irá com o objectivo de colocar o belga entre os primeiros na geral. Aos 26 anos conquistou uma posição de líder e está a assumir um papel de relevo na equipa, numa altura em que a principal estrela está a apagar-se: André Greipel.

Dos sprints para a geral, a Lotto Fix ALL poderá ter razões para estar confiante que Wellens poderá tentar meter-se no top dez. O seu registo em grandes voltas não é nada de fantástico. Fez dois Giros (54º em 2014 e 96º em 2016) e dois Tours (129º em 2015 e abandonou no ano passado). No entanto, em Itália já ganhou uma etapa, em 2016, num ataque que deu em vitória. E esta tem sido a história dos triunfos de Wellens. É um ciclista que tem um percepção perfeita de quando deve tentar a sua sorte.

Tem sido um ciclista que a equipa tem estado a aprimorar desde 2013, depois de no ano anterior ter convencido durante o estágio que realizou. Aos poucos foi demonstrando a capacidade para ganhar corridas por etapas, mas sendo belga, as clássicas também entram sempre nos seus planos. Em 2018 começou a aquecer - e de que maneira - em Espanha. Ganhou no Trofeo Serra de Tramuntana e depois foi conquistar brilhantemente a Ruta de Sol (e uma etapa), onde estavam alguns dos principais voltistas da actualidade. Ficou feita a candidatura a algo mais para uma grande volta.

Colocou a semana das Ardenas como prioridade e antes venceu a Brabantse Pijl. Porém, nos momentos decisivos das três corridas que apontou, não conseguiu produzir a performance desejada e ainda criticou o companheiro que na Flèche Wallonne fez terceiro. Acusou Jelle Vanendert de não o ter ajudado, com a Lotto Soudal a sair em defesa do ciclista e forçando Wellens a pedir desculpa. Um momento menos bonito de quem talvez ainda esteja a aprender a ser líder.

Depois de se consagrar como corredor para corridas por etapas, mas de uma semana, é altura de Wellens mostrar se tem estofo para as três. Se se apresentasse com o objectivo de ir atrás de etapas, então estaria no topo da lista dos ciclistas que provavelmente sairiam do Giro com pelo menos uma. No entanto, querendo começar a afirmar-se como homem de geral, será um passo importante na carreira de Wellens. O potencial parece lá estar e a equipa acredita no seu ciclista, rodeando-o de companheiros experientes e de qualidade para o apoiarem. Sem ser um conjunto ao nível de uma Sky ou Sunweb, ciclistas como Sander Armée, Lars Ytting Bak e Adam Hansen (o homem que terminou 19 grandes voltas consecutivas e vai agora tentar a 20ª) serão importantes. Tosh Van der Sande, Victor Campenaerts, Jens Debusschere e Frederik Frison completam uma equipa que não deverá apostar apenas numa classificação geral. 

A Lotto Soudal/Fix ALL também quererá garantir etapas e Wellens será o principal responsável por conseguir uma, mas Sander Armée, que no ano passado venceu na Vuelta, poderá ter liberdade em algum dia, com Campenaerts a ter de ir a fundo nos contra-relógios.

Pela sua evolução, pelo que demonstrou este ano, Wellens entra no grupo de ciclistas a seguir com atenção.



28 de abril de 2018

Um Chris Froome no Giro rodeado por algumas incertezas

(Fotografia: Facebook Volta ao Alpes)
Por esta altura esperava-se estar a dizer que Chris Froome apresenta-se como um sério candidato a ganhar a grande volta que lhe falta, que está entre os candidatos mais fortes, novamente apoiado por uma equipa preparadíssima para dar tudo pelo seu líder. Nada disto deixa de ser verdade, mas quando se fala de Chris Froome no Giro, tem de se falar da incerteza que o rodeia. Afinal como estará o britânico psicologicamente tendo em conta que tudo o que vier a fazer em Itália e tudo o que fez desde a Vuelta, poderá ser apagado, se vier a ser sancionado no caso do salbutamol? Irá conseguir o ciclista estar concentrado 100% no seu objectivo quando em seu redor persistem as suspeitas, quando ciclistas já defenderam que o líder da Sky não deveria estar a competir, quando até a organização do Giro chegou a mostrar-se insatisfeita com toda esta situação?

Na estrada, tivemos um Froome q.b. na Volta aos Alpes, falhando o pódio por um segundo e ficando a apenas 16 do vencedor Thibaut Pinot. Antes só o tínhamos visto no Tirreno-Adriatico (34º) e na Ruta del Sol (10º). Nas duas corridas italianas foi clara a melhoria de um ciclista que não esconde a frustração de ver que querem sempre perguntar-lhe sobre o caso do salbutamol e não tanto sobre a sua performance desportiva. Já chegou mesmo a dizer que não fala mais sobre o assunto. Se até agora Froome não consegue "ter sossego" neste aspecto, não irá certamente acontecer durante uma Volta a Itália, na qual se teme que se possa viver uma situação idêntica há de 2011: Alberto Contador ganhou, mas a vitória foi posteriormente atribuída a Michele Scarponi, depois do espanhol ser sancionado num caso de doping, que remontava ao Tour do ano anterior.

Mas tentemos concentrar-nos na parte desportiva. Para todos os efeitos, o regulamento permite que Froome possa competir enquanto faz sua defesa e até poderá não sofrer qualquer sanção, pelo que se alcançasse a vitória no Giro, esta ficaria gravada no seu já impressionante currículo. O facto de ter andado pouco em competição não é situação inédita e, por isso, que não se pode atribuir por estar a tentar proteger-se de uma maior exposição mediática devido à sua situação. Se olharmos para o calendário em 2017, Froome fez cinco corridas até ao Tour, que começou a 1 de Julho. E não foi particularmente convincente nas suas exibições. Quando chegou o principal momento da temporada, o britânico suou um pouco mais do que em anos anteriores, mas ganhou a sua quarta Volta a França.

Por isso mesmo, é de esperar que Froome esteja a altura dos acontecimentos quando o Giro começar na próxima sexta-feira, em Jerusalém, mesmo que psicologicamente viva um momento muito complicado na carreira. Poderemos não ver um Froome tão forte como normalmente está no Tour, precisamente porque a corrida francesa continua a ser um dos objectivos do ano. Chegar à marca das cinco vitórias é a principal ambição. É necessário uma gestão de forças e já se sabe o que tem acontecido a quem tem tentado a dobradinha Giro/Tour nos últimos anos: Alberto Contador ganhou o primeiro, esteve discreto no segunto, Nairo Quintana foi segundo em Itália e afundou-se na classificação em França (um 12º lugar era algo impensável para o colombiano).

Será interessante perceber se Froome estará disposto a dar o tudo por tudo para ganhar o Giro. O seu passado na corrida não é algo que queira recordar. Esteve em 2009, quando foi 32º, e no ano seguinte foi excluído por se ter agarrado a uma moto. Porém, uma vitória colocaria Froome ainda mais acima na lista dos melhores da história. Conquistaria as três voltas e três de forma consecutiva.

É verdade que Froome já viveu momentos bem difíceis devido a suspeitas lançadas sobre a equipa. Já lhe cuspiram, tentaram agredir, tentaram infernizar-lhe a vida no Tour e o britânico sobreviveu a tudo. Agora a situação é diferente. Acusou o dobro do permitido de uma substância utilizada por asmáticos. Diz que não fez nada de mal e se surgir em Itália nas melhores condições para lutar por uma grande volta, também será uma demonstração da forte mentalidade deste ciclista.

Há outra incógnita a rodear Froome. A equipa que o acompanhará é forte. Só poderia tendo em conta o plantel da Sky. No entanto, a forma de Wout Poels, por exemplo, é preocupante. O holandês tem oscilado entre o muito bom e a completa desilusão, como foi na Liège-Bastogne-Liège. E estando esta corrida tão próxima do Giro, a última coisa que a Sky queria ver era um dos homens mais importantes na defesa do seu líder, não ter demonstrado capacidade para aguentar o ritmo elevado dos favoritos.

Para contrabalançar, Froome terá um Kenny Elissonde de luxo. Fez uma exibição tremenda na Volta aos Alpes, até por vezes deixando a ideia que estava em melhor forma que o seu líder. Mas nunca o abandonou. A performance do francês foi decisiva para garantir um lugar no Giro, que não estava até então assegurado. Com Geraint Thomas mais do que dedicado a ter um papel de destaque no Tour, Elissonde poderá tornar-se no novo escudeiro do britânico, principalmente se Poels não conseguir melhorar a sua forma.

Sergio Henao também tem estado bem, pelo que o Froome sabe que terá no colombiano um excelente companheiro para as etapas mais difíceis de montanha. Vasil Kiriyenka é aquela máquina de meter ritmo que a Sky não abdica, com Christian Knees e Salvatore Puccio a serem dois ciclistas que cumprem à risca com o que lhes é pedido. Já David de la Cruz estará ansioso por ter alguma liberdade. Mas se tudo estiver a correr bem com Froome, o espanhol terá mesmo de esperar pela Vuelta para se mostrar. É um ciclista que estando bem irá fortalecer o núcleo da Sky.

Na Volta aos Alpes a Sky não foi tão dominadora como noutras corridas, mas é mais um pormenor que não é inédito. Chegando o momento mais importante, não tem por hábito falhar. Porém, não é só Froome que terá de lidar as questões sobre o salbutamol. Inevitavelmente temos de voltar a falar do caso que marca a actualidade na modalidade. Como irão enfrentar os seus companheiros as constantes perguntas e dúvidas se o trabalho que se preparam para realizar não será em vão?

Tantas incógnitas a rodear um ciclista que nos últimos anos tem habituado a ser o favorito nas grandes voltas em que enfrenta e ponto final. Sem "ses". Ainda assim, apesar das incógnitas, está no topo dos candidatos no Giro - como só poderia ser - e teremos o muito esperado embate entre o britânico e Tom Dumoulin (Sunweb).

»»Fabio Aru a precisar que a equipa não lhe falhe««

»»Dumoulin com equipa jovem mas forte para o apoiar na Volta a Itália««

»»Pinot é finalmente um candidato a temer««

Wolfpack, a história da alcunha da Quick-Step Floors que remonta a um gangue

(Fotografia: © Sigfrid Eggers/Quick-Step Floors)
"Wolfpack" tornou-se na nova imagem de marca da Quick-Step Floors. A ideia "pegou" há cerca de um ano, ganhou forna em 2018, ainda que seja utilizada no seio da equipa desde 2012. Este época foi criada uma comunidade, todo um merchandising e a hashtag #thewolfpack não mais deixou de ser utilizada pela equipa. Mas afinal como começou o "Woldfpack", alcateia em português? Até foi num gangue na Dinamarca, mas o objectivo no ciclismo foi mesmo o de representar a união e a lealdade. E a Quick-Step Floors tem sido o exemplo disso, com uma mentalidade em prol do colectivo que já lhe rendeu 27 vitórias em 2018.

"É uma imagem muito forte, não é? Não te ris quando o 'wolfpack' está a chegar. É um bom nome. Não queres ser conhecido como os 'White Ponies' (póneis brancos), pois não?"  Brian Holm, director desportivo da equipa, é o criador do nome e explicou ao Velonews como surgiu: "Começou em 2012 quando eu vim para a equipa. Foi um pouco por piada que comecei a utilizar [a expressão] em alguns e-mails. Quando eu estava a crescer, havia um gangue no meu bairro, em Copenhaga, que se chamava 'Wolfpack' e eram uns fulanos perigosos. Os ciclistas gostaram [do nome]. Ouvia-se na equipa há uns anos, mas no ano passado o Bob Jungels começou a dizê-lo durante a Volta a Itália. Depois, o Alessandro Tegner [director de marketing da Quick-Step Floors) fez uns chapéus. E a partir daí pegou."

Holm salientou como noutros desportos as equipas têm este tipo de nomes, exemplificando com o futebol americano, e têm também mascotes. Porém, no ciclismo não é habitual, sendo que de vez em quando nascem algumas alcunhas, mas nada que seja explorado comercialmente como está a ser o nome "Wolfpack". "Há algumas piadas dentro do pelotão. Há uma equipa a que chamam "os cabeleireiros", contou o director desportivo.

"Wolfpack" pretende destacar a lealdade, característica que Holm realçou ser algo enraizado na Quick-Step Floors. Foi criado o logótipo que surgiu nas camisolas e que de imediato chamou a atenção. O autocarro já tem a imagem, que entretanto se tornou a de uma comunidade, como a própria equipa quis. Quem pretender fazer parte, só precisa de se registar no site (aqui fica o link) e terá acesso a descontos, concursos e muito mais.

"Todos parecem felizes com o nome", disse Holm, que considera que esta alcateia até tem o seu macho alfa: "Philippe Gilbert, sem dúvida. Desde o primeiro dia em que chegou à equipa, ele tem sido um líder. Quem vês a correr sem luvas? É o Gilbert. Todos abanaram a cabeça quando ele atacou na Volta a Flandres, no ano passado. Ele conseguiu, certo? É um sacana duro de roer."

Depois de uma primavera excepcional, com a conquista de dois monumentos - a Volta a Flandres e a Liège-Bastogne-Liège -, chegou o momento de atacar as grandes voltas. E se para a geral poder-se-á não colocar ninguém como grande candidato, já para continuar a somar vitórias, a Quick-Step Floors apresenta-se fortíssima. Só para que não se duvide que esta equipa vai continuar "prego a fundo" à procura de vitórias, olhando para 2017, no Giro venceu cinco etapas (quatro por Fernando Gaviria e uma assinada por Bob Jungels), cinco no Tour (todas por Marcel Kittel) e seis na Vuelta (quatro por Matteo Trentin, uma por Julian Alaphilippe e outra por Yves Lampaert).

Uns ciclistas saíram, outros têm objectivos diferentes em 2018, mas esta Quick-Step Floors está a realizar uma época sensacional, dividindo vitórias entre os ciclistas mais experientes e até por aqueles que acabaram de chegar ao World Tour. Qual será o próximo ataque do "Wolfpack"?

»»Ciclista ciumento não tem lugar na Quick-Step Floors««

»»Todos a olhar para Valverde e Alaphilippe e a Quick-Step ganhou com Bob Jungels««

»»Só um grande ciclista, um verdadeiro campeão, poderia bater outro. Até Valverde se rendeu a Alaphilippe««

27 de abril de 2018

Fabio Aru a precisar que a equipa não lhe falhe

(Fotografia: © BettiniPhoto/UAE Team Emirates)
Ganhar a Vuelta meses depois de apenas um super Alberto Contador, que praticamente enfrentou toda a Astana sozinho, ter deixado Fabio Aru no segundo lugar no Giro, fez de 2015 o ano de afirmação do italiano. Na temporada seguinte estreou-se no Tour, mas foi uma desilusão (13º), tendo em conta as expectativas. Em 2017 queria apostar tudo no Giro100, mas uma queda num treino acabou com esse sonho. Porém, regressou ao Tour para ganhar uma etapa e até fazer um pouco de história, pois tirou a camisola amarela Chris Froome, habituado a quando a vestia, a ter até final. No entanto, terminou a corrida em perda, segundo o próprio por problemas de saúde que o limitaram.

Em 2018 assinou pela UAE Team Emirates, à procura de um contrato bem mais vantajoso financeiramente e de novos ares depois de seis anos na Astana. Queria regressar ao Giro, mas a equipa estava mais virada em utilizar os seus três grandes reforços no Tour (Aru, Daniel Martin e Alexander Kristoff). Porém, foi feita a sua vontade. Aru vai estar em Itália à procura de confirmar que a vitória na Vuelta não foi um acaso. Ninguém duvida das suas capacidades de voltista, mas estar na luta pela geral até final é algo que simplesmente não tem acontecido.

Fabio Aru chega ao Giro101 sem ter convencido durante a época até ao momento. Mas se do italiano se pode esperar que apareça bem melhor na grande volta, já quem pouco ou nada convence são os seus companheiros. As individualidades estão lá, mas o colectivo não tem funcionado.

Na Volta aos Alpes, Aru demonstrou ainda estar algo "preso" quando era preciso aumentar o ritmo. Apesar do sexto lugar, não conseguiu andar ao ritmo de Thibaut Pinot (Groupama-FDJ) - o vencedor -, Miguel Ángel López (Astana), Domenico Pozzovivo (Bahrain-Merida) - que completaram o pódio - e Chris Froome (Sky). Todos adversários que irá encontrar no Giro. Não há razões para pânico, com Aru a ter tempo para ir subindo a sua forma. No entanto, o que ficou bem claro foi a falta de capacidade da equipa em proteger o seu líder. Apenas dois desse grupo estarão no Giro com Aru: Valerio Conti e Vegard Stake Laengen. Dos restantes agora chamados, pode-se dizer que na teoria oferecem toda a confiança, mas é difícil não colocar um ponto de interrogação.

Este é um problema que já vem desde os últimos tempos da Lampre-Merida. Que o diga Rui Costa! Os líderes tentem a ficar muito sozinhos, com os companheiros de equipa ou a nem aparecerem ou a irem à procura de resultados próprios. Diego Ulissi, por exemplo, sabe bem o que é ganhar etapas no Giro (seis) e certamente que terá a sua liberdade. Se se dispor a ajudar também Aru, será uma dupla importante, trio se John Darwin Atapuma estiver em momento sim. A este colombiano não lhe falta talento, mas falha sempre algum pormenor nos momentos decisivos. Uma vitória de etapa em grandes voltas já lhe escapou umas quantas vezes. Foi nono no Giro há dois anos e a chegada de Aru e Martin tapou-lhe um caminho que provavelmente pensaria ser dele: ter a oportunidade de ser líder indiscutível numa volta.

Jan Polanc foi uma das sensações no Giro100. Venceu no Etna e terminou à porta do top dez. Aos 25 anos quer afirmar-se e apesar de ter tempo para tal, será difícil colocar de lado o pensamento que poderá repetir e até fazer melhor do que em 2017.

A veterania de Marco Marcato (34 anos) e Manuele Mori (37) terá o seu papel dentro da equipa, principalmente porque os dois ciclistas poderão assumir-se como leais homens de trabalho. Contudo, se a UAE Team Emirates não encontrar forma de colocar os seus melhores corredores a trabalhar para o líder, é Aru quem vai ter muito trabalho em disputar uma corrida, na qual encontrará uma Sky, Groupama-FDJ e Sunweb, por exemplo, 100% dedicadas aos seus números uns.

Fabio Aru precisa de união na sua equipa e também de um pouco de sorte, como o próprio disse antes da Volta aos Alpes. Entre quedas e indisposições, o ciclista tem ficado fora da discussão de momentos importantes. Mas é preciso mais do que sorte e se a UAE Team Emirates não corresponder colectivamente, então ou Aru veste a pele de Alberto Contador de 2015, ou o campeão italiano verá serem reduzidas as possibilidades de discutir o Giro. E Aru já destacou que precisa de ter cerca de 1:30 minutos de vantagem sobre um Tom Dumoulin, por exemplo, quando chegar o contra-relógio de 34,5 quilómetros de Rovereto, na 16ª etapa.

Com a UAE Team Emirates a ameaçar chegar ao Giro com apenas duas vitórias este ano, a pressão sobre Fabio Aru aumenta ainda mais. Resultados precisam-se numa equipa que tanto investiu.

»»Dumoulin com equipa jovem mas forte para o apoiar na Volta a Itália««

»»Pinot é finalmente um candidato a temer««

Liège-Bastogne-Liège vai mesmo ter um final diferente 28 anos depois

(Fotografia: Twitter Liège-Bastogne-Liège)
Bob Jungels acabou por ser o último ciclista a ganhar em Ans, pelo menos durante alguns tempo. Há alguns meses que se falava com alguma intensidade da possibilidade do percurso do monumento mais antigo ser alterado, visto ter-se tornado uma corrida algo previsível. A confirmação já chegou: a corrida irá fazer jus ao seu nome e regressar a uma meta no centro de Liège, 28 anos depois de ter sido desviada para Ans, que fica na região de Liège, mas mais afastada da cidade.

"A tradição não proíbe mudanças! Apesar da ASO estar ligada à história dos eventos que organiza, também se mantém aberta a mudanças para refrescar a imagem." A justificação da Amaury Sport Organisation (ASO) até é interessante, visto que muitas vezes é acusada de estar presa às escolhas mais tradicionais nas corridas, com destaque para a Volta a França. A Liège-Bastogne-Liège já algum tempo que tinha caído na previsibilidade, com várias subidas a fazer alguma selecção nos candidatos, mas com a última dificuldade em Ans a ser onde se decidia o monumento. Jungels quebrou um pouco essa rotina ao ter escapado antes ao grupo de favoritos e ter alcançado uma vitória a solo.

Os organizadores consideram que as alterações irão tornar o "formato mais condizente com o nome da corrida". "A mudança do local da meta é essencialmente feito por critérios desportivos, com intenção de tornar o final da corrida ainda mais atractivo", explicou a organização, num comunicado.

A última fez que o até então tradicional final no centro de Liège foi o local da consagração, o vencedor foi o italiano Moreno Argentin, em 1991. Agora é preciso aguardar para saber como irão ser distribuídas as subidas que compunham a fase decisiva da corrida e em 2019, 28 anos depois, a La Doyenne regressa, de certa forma, a casa. Até então, só em 1972 tinha fugido à tradição, com um final em Verviers. Também já era falado que se a mudança viesse a confirmar-se, sendo potencialmente um final mais plano, poderá chamar novamente outro tipo de ciclistas, com Peter Sagan e Greg van Avermaet logo à cabeça. Mas primeiro será preciso conhecer o novo percurso.

Onde não se irá mexer é no muro de Huy. Apesar da Flèche Wallonne andar a sofrer um pouco do mesmo mal da Liège-Bastogne-Liège, ou seja, acaba por ser algo previsível que a vitória se vai discutir na mítica subida, ainda assim, esta é uma tradição que continua a resultar a nível de espectáculo. Irá manter-se pelo menos até 2024. Já os locais do início continuarão a ser alterados para irem mostrando várias zonas da Valónia. E em 2019 será Ans a receber o arranque da Flèche Wallonne. Uma forma de compensar a perda da Liège-Bastogne-Liège.


26 de abril de 2018

Dumoulin com equipa jovem mas forte para o apoiar na Volta a Itália

Só dois destes ciclistas voltarão a estar no apoio a Dumoulin no Giro
(Fotografia: Giro d'Italia)
Tom Dumoulin tem andado algo discreto na preparação para a Giro. O holandês decidiu regressar à corrida na qual conquistou há um ano a sua primeira grande volta, em vez de apostar já no Tour, como tanto se falou, num ambicionado embate com Chris Froome. Vai ser em Itália que o vamos ver e também será lá que se irá perceber a forma física do ciclista. No entanto, há já uma certeza. A Sunweb confirmou a sua equipa e Dumoulin poderá contar com um conjunto que apesar da muita juventude, até poderá ser mais forte do que o de 2017, mesmo que não conte com um dos homens de confiança, Simon Geschke.

"Competir como o campeão em título irá dar uma dinâmica especial tanto à equipa, como à corrida e nós vamos estar preparados para tal. Lutar pela classificação geral é muito diferente de estar focado em ganhar etapas. Todos na equipa precisam de estar completamente focados durante as três semanas, o que exige muito de todos. Aprendemos muito no ano passado e vamos utilizar essa experiência para esta edição [do Giro]", salientou Marc Reef, director desportivo da Sunweb.

Os eleitos são os ciclistas que surgiram na lista provisória há dois dias: Tom Dumoulin, Roy Curvers, Chad Haga, Chris Hamilton, Lennard Hofstede, Sam Oomen, Laurens ten Dam e Louis Vervaeke. Comparativamente com a equipa que esteve no Giro em 2017, só Ten Dam e Chad Haga repetem a presença na ajuda a Dumoulin. É preciso ter em conta que este ano serão oito ciclistas, em vez de nove, dada as alterações das regras por parte da UCI. Ficaram de fora Tom Stamsnijder, Phil Bauhaus, Simon Geschke e Wilco Kelderman. 

A ausência deste último não é uma surpresa. O holandês terminou a época passada a lutar pelo pódio da Vuelta (foi quarto) e a Sunweb irá este ano apostar nele como líder novamente em Espanha, estando também escalado para o Tour, mas terá de esperar pela decisão de Dumoulin para saber qual será o seu papel em França. Quanto a Geschke, o alemão partiu a clavícula no início de Março, no Tirreno-Adriatico, regressou na semana das Ardenas, tendo sido chamado para a Volta à Romandia. No entanto, está no processo de recuperação de forma e a equipa não terá querido arriscar.

Sindre Skjostad Lunke também fez parte da Sunweb num Giro que a equipa não irá esquecer, mas o holandês está agora na Fortuneo-Samsic. Georg Preidler assinou pela Groupama-FDJ e estará de novo em Itália, mas ao lado de Thibaut Pinot.

Mas interessa é quem estará ao lado de Dumoulin, com Sam Oomen a poder ser um homem de grande importância. Aos 22 anos é visto como o próximo holandês a candidatar-se a vencer uma grande volta. De certa forma, um sucessor de Dumoulin, ainda que este tenha apenas  27 anos. Oomen estreou-se no ano passado na Vuelta. Não terminou, mas deixou indicações bem interessantes. Este ano tivemos a hipótese de o ver na Volta ao Algarve. Apesar de ter iniciado a corrida um pouco limitado por um problema no joelho, liderou do início ao fim a classificação da juventude. Kelderman tem outra experiência, que teria, naturalmente, a sua relevância, mas Oomen está a transformar-se num excelente trepador e Dumoulin sabe que conta com a total disponibilidade do jovem companheiro.

A Sunweb foi buscar Louis Vervaeke à Lotto Soudal sabendo que está perante um ciclista que apesar dos 24 anos, oferece já garantias. Dumoulin esteve com Vervaeke e Oomen a ultimar pormenores num estágio em altitude na Serra Nevada, que serviu também para estudar pontos fulcrais das etapas, segundo explicou Marc Reef.

Lennard Hofstede (23 anos) e Chris Hamilton (22) são mais dois jovens a serem chamados a grande responsabilidade, mas a Sunweb contrabalança com Chad Haga (29) e Ten Dam, um dos mais velhos do pelotão, com 37 anos e 15 grandes voltas já realizadas.

"A nossa escolha de equipa para o Giro é baseada nas características do percurso, com o equilíbrio certo entre talentosos trepadores e os nossos experientes capitães. Vamos para Israel [onde irão realizar-se as primeiras três etapas] com uma equipa forte e confiante", salientou Reef, que considera o percurso desta edição mais difícil, por ter mais subidas e menos quilómetros de contra-relógio, esta uma especialidade de Dumoulin e que foi decisiva para que em 2017 ganhasse a maglia rosa.

Afinal, como está Dumoulin?

Houve dois momentos em que este ano muito se falou de Tom Dumoulin. O primeiro foi quando atirou com a bicicleta, frustrado pelas avarias no contra-relógio na Volta a Abu Dhabi. Depois foi quando finalmente revelou que ia mesmo regressar a Itália e enfrentar aí Chris Froome. Competitivamente, pouco se tem visto. Apareceu um pouco na Liège-Bastogne-Liège (foi 15º), mas admitiu que lhe faltou a explosão necessária quando a corrida entrou na fase decisiva. Contudo, deixou a garantia: "Sinto-me melhor do que no ano passado e é por isso que estou muito satisfeito."

O ciclista considera que a presença no monumento belga foi uma boa preparação e no final revelou boa disposição, nas declarações ao canal holandês NOS: "O sentimento é um pouco como no ano passado e eu não estive particularmente mal no Giro!"

A verdade é que é difícil perceber como se irá apresentar Dumoulin no Giro. É uma das grandes incógnitas. Thibaut Pinot (Groupama-FDJ) ou Chris Froome (Sky), por exemplo, já deixaram indicações na recente Volta aos Alpes, onde o líder da Sunweb não esteve presente. Além de Abu Dhabi (38º), foi à Strade Bianche fazer 21º, caiu na quarta etapa da Tirreno-Adriatico e abandonou, regressou na Milano-Sanremo (31º) e depois fez a Liège. O holandês tem andado "escondido" nos seus treinos, não se mostrando tanto em competição. O calendário é o mesmo de 2017, ainda que os resultados tenham então sido melhores, como o quinto posto na Strade Bianche, mas, mais importante para dar indicações para o Giro, foi sexto lugar no Tirreno-Adriatico.

Há um ano, Dumoulin comprovou que estava feito num voltista. Potencialmente num grande voltista. Melhorou claramente nas subidas, característica que lhe tinha faltado quando liderou a Vuelta em 2015, que acabou por perder para Fabio Aru e nem no pódio conseguiu ficar. Não só melhorou as qualidades de trepador, como não perdeu nada como contra-relogista.

Vencer o Giro foi excelente, ainda mais tendo deixado atrás de si nomes como Nairo Quintana e Vincenzo Nibali. Contudo, mesmo tendo pela frente o embate com Chris Froome, é no Tour que se quer testar o holandês. Para já, parte como grande candidato à 101ª edição da Volta a Itália, mesmo que lhe tenham tirado quilómetros no contra-relógio e mesmo com montanha mais difícil, na teoria, pelo menos. Será uma boa oportunidade para mostrar que é de facto um voltista a respeitar, pois Dumoulin está na fase de demonstrar que a vitória de há um ano não foi caso isolado.



Eisel operado ao cérebro devido a complicações após queda no Tirreno-Adriatico

(Fotografia: Stiehl Photgraphy/Dimension Data)
Bernhard Eisel estava já a treinar para tentar regressar o mais rapidamente possível à competição depois de uma grave queda na quinta etapa do Tirreno-Adriatico. O ciclista bateu com a cabeça e realizou de imediato um TAC que não revelou qualquer hemorragia no cérebro. No entanto, o ciclista não se estava a sentir-se bem e na segunda-feira realizou novos exames e foi detectado um hematoma subdural. Eisel já foi operado e a Dimension Data espera que possa voltar a contar com o ciclista em breve.

Inicialmente, Eisel pensava que "estava a sofrer de alergias e tinha dificuldades em treinar", segundo explicou a equipa. As dores de cabeça acabaram por ser um alerta que levaram o ciclista a realizar novos exames médicos. "A hemorragia ocorreu lentamente durante as últimas semanas e, eventualmente, a acumulação de sangue coagulado colocou pressão no cérebro, provocando os sintomas", explicou a Dimension Data, em comunicado. Eisel foi operado no seu país, Áustria, e a expectativa é que dentro de duas semanas possa começar a treinar nos rolos e talvez daqui a um mês regresse à estrada, caso os exames médicos demonstrem estar apto.

No entanto, o ciclista de 37 anos mostra-se cauteloso. "Não posso dizer quando irei regressar. Primeiro quero ficar saudável, demorar o tempo necessário e se os médicos me derem luz verde, eu irei pensar quando é a melhor altura para regressar. Continuo a gostar de andar de bicicleta, mas isto foi algo enorme o que aconteceu ao meu corpo. Se és operado ao cérebro, é certo que te faz pensar duas vezes nas coisas, mas, de momento, irei seguir as recomendações dos médicos da equipa. De momento sinto-me bem e estou desejoso de sair do hospital e passar algum tempo com a família", afirmou Bernhard Eisel.

Esta é mais uma má notícia para uma Dimension Data a viver uma época complicada. Já não bastava ter a sua estrela, Mark Cavendish, a somar quedas e a estar há algum tempo parado, agora que o britânico se prepara para regressar no Tour de Yorkshire, no início de Maio, a equipa sul-africana perde um homem importante para o lançamento dos sprints.

A Dimension Data soma apenas duas vitórias este ano, uma por Cavendish, na terceira etapa da Volta ao Dubai, e a outra por Ben O'Connor, também numa terceira tirada, mas da Volta aos Alpes. E este foi um grande triunfo de um jovem australiano de 22 anos, que já chamou (e bem) as atenções sobre si. Louis Meintjes não tem aparecido, mas a equipa espera que a aposta no Giro seja bem sucedida no regresso do filho pródigo a casa, depois da passagem pela Lampre-Merida/Bahrain-Merida.

De referir que há poucos dias, Eisel estava a treinar com o compatriota Marco Haller, quando um carro se atravessou à frente dos ciclistas - não respeitou o stop -, com o corredor da Katusha-Alpecin a não conseguir evitar um choque. As lesões na perna são graves, pelo que não há previsão para o seu regresso.


25 de abril de 2018

As corridas que marcaram a vida de Alberto Contador

(Fotografia: Unipublic/Photogomez Sport)
Aos poucos, a ausência de Alberto Contador vai-se tornando em algo natural, ainda que vêm aí a primeira grande volta do ano e claro que, tendo sido um trepador e um voltista de excelência, ainda se falará muito deste espanhol este ano. E nos próximos, certamente! Dedicado aos projectos na sua fundação, com destaque para as equipas de ciclismo de jovens e em 2018 passo a ter uma no escalão Continental - a Polartec-Kometa -, Contador nunca sai realmente de cena e recentemente foi desafiado a divulgar as cinco corridas que marcaram a sua carreira. A sua vida, até.

Em 2003 surgiu na ONCE-Eroski um jovem talento espanhol que não demoraria muito a começar a confirmar créditos. A saúde pregou-lhe uma partida quando sofreu um aneurisma cerebral, mas Contador regressaria para se consagrar como um dos melhores da história, com sete grandes voltas conquistadas. Mas para o antigo ciclista, o primeiro momento marcante aconteceu ainda como amador, como contou ao Cycling News.

"Quando eu era amador havia uma corrida que se destacava. Era a Subida a Gorla", disse. Estávamos em 2001, no País Basco, e era o primeiro ano de Contador como ciclista amador. "Era uma curta subida que se fazia como corrida de estrada. Quem chegasse ao topo primeiro, ganhava", contou. Acrescentou que as pessoas costumavam dizer que quem ganhasse ali, iria ser profissional e seria um bom ciclista. "De facto, ainda detenho o recorde daquela subida. Tive três cães: um chamado Tour, outro Etna, mas o primeiro chamava-se Gorla por causa daquela subida e daquela corrida tão importante para mim", confessou.

Curiosamente, não há nenhum Tour que entre neste top cinco. Mas antes de ir para as grandes voltas, a próxima paragem é na Polónia, em 2003, a primeira vitória como profissional. "Coincidiu com a ONCE estar na Vuelta a lutar pela geral com Isidro Nozal, contra o Roberto Heras (ganhou este último). Nós estávamos na Polónia a correr em alguns circuitos bem perigosos", recordou Contador. A chuva marcou grande parte da corrida polaca, arrasando a equipa, com o espanhol a conseguir sobreviver. O último dia era de dupla jornada, com uma curta etapa de montanha de manhã e um contra-relógio de 19 quilómetros à tarde, grande parte plano, com os cinco finais a subir. "Fui fazer o reconhecimento com o director na noite anterior e disse-lhe: 'Olha, que tal se apenas cumprir a etapa matinal e guardar o máximo de força possível e depois dar tudo à tarde?'" Como o próprio Contador realçou, esta sugestão veio de um ciclista que tinha acabado de chegar ao profissionalismo. Mas a verdade é que a táctica resultou e o contra-relógio final da Volta à Polónia tornou-se na sempre inesquecível primeira vitória como profissional.

No ano seguinte, Contador sofreu um aneurisma cerebral. O regresso deu-se no Tour Down Under em 2005, num momento que sempre aparece como dos mais marcantes quando o espanhol é questionado sobre este tema. "Representou o meu primeiro passo rumo à vida normal." No entanto, durante a longa viagem até à Austrália, Contador admitiu que foi sempre a pensar como iria ser estar de volta à competição e se seria de facto possível regressar ao mais alto nível. O ex-ciclista contou como achava que o melhor era mesmo estar a competir, mesmo que tenha estado oito meses parado, com os médicos a não chegarem a um consenso quanto ao dar-lhe autorização para treinar. Só cinco semanas antes do Tour Down Under foi dada luz verde.

"Disse a mim próprio que era a melhor coisa porque assim, a competir, em vez de estar a treinar sozinho, se alguma coisa corresse mal, eu tinha uma ambulância atrás de mim, no pelotão, que poderia levar-me logo para o hospital", afirmou. Quando começou a corrida, Contador sentiu-se bem e ter novamente um dorsal nas costas foi algo muito importante. Contudo, o melhor estava para vir: "Consegui ganhar a etapa mais difícil do Tour Down Under, cortando a meta à frente, por pouco, de Luis León Sánchez. Para mim, esse dia foi incrível e, definitivamente, aquela vitória foi a mais especial da minha carreira."

E vamos então para as grandes voltas. A primeira grande conquista aconteceu em 2007, na Volta a França, mas é do Giro de 2008 que Contador falou. Começa por dizer que foi a melhor das três conquistas, ainda que oficialmente só lhe sejam atribuídas duas. Para o espanhol a de 2011 é dele, apesar de lhe ter sido retirada devido à sanção por doping, num caso que remonta ao Tour no ano antes - que também tinha ganho e ficou sem ele - e que se arrastou durante meses até à resolução, como está a acontecer com Chris Froome.

"Não fazia a menor ideia que poderia estar bem. Não fazia a menor ideia que ia até ao último minuto, quando me chamaram e eu estava de férias." A mudança de planos surgiu depois da Astana ter sido barrada de participar no Tour de 2008 pela organização, devido aos casos de doping detectados na equipa. Contador explicou que o plano inicial até era ficar apenas uma semana. Porém, apesar de ter apenas dois treinos de montanha e outros dois já em Itália, de ter caído no início do Giro e feito uma pequena fractura no antebraço, mesmo antes do contra-relógio, Contador percebeu que não estava mal fisicamente. "Lembro-me que estava a reconstruir a minha casa e não treinava há algum tempo", contou. Quando chegou a montanha acabou por dizer ao director desportivo: "Desculpa Johan [Bruyneel], mas vou ficar por cá até Milão." E acabou por ganhar mesmo esse Giro. Mais tarde nesse ano fechou a tripla nas grandes voltas, com uma vitória na Volta a Espanha. E tinha apenas 25 anos!

Damos um salto até 2017. Alberto Contador tinha adiado uma despedida, mas apesar de na Trek-Segafredo ter encontrado uma equipa disposta a dar-lhe tudo o que queria para competir, onde e quando quisesse, o espanhol percebeu que tinha chegado o momento de terminar a carreira. Tornou pública a decisão numa altura em que muito se falava sobre uma mudança de calendário para o ano seguinte, com a aposta a ser o Giro, até porque a equipa tem um patrocinador italiano. Mas não, Contador já não queria continuar e iria terminar a carreira na Vuelta. Ganhar era, naturalmente o objectivo, mas um mau dia logo nas primeiras dificuldades colocaram-no fora dessa luta. Começou o tudo por tudo por uma etapa.

Contador diz que a última Volta a Espanha "foi algo muito especial" e fez uma confissão: "Pode ser um choque para algumas pessoas, mas para ser honesto, se tivesse pesado os prós e contras entre fazer a Vuelta onde teria tudo calculado e ganhasse a geral e uma Vuelta onde pudesse atacar sempre que me apetecesse, preferia a última hipótese." E depois da perda de tempo na terceira etapa, devido a problemas de estômago, foi o que aconteceu. A despedida acabou mesmo por ser em grande com um triunfo inesquecível no Angliru. Uma última vitória à Contador. Um último disparo de El Pistolero.

»»Houve mesmo um último disparo. Gracias Contador««

»»Quem será o sucessor de Contador? O próprio nomeia««

»»As novas cores de Contador««