28 de abril de 2018

Um Chris Froome no Giro rodeado por algumas incertezas

(Fotografia: Facebook Volta ao Alpes)
Por esta altura esperava-se estar a dizer que Chris Froome apresenta-se como um sério candidato a ganhar a grande volta que lhe falta, que está entre os candidatos mais fortes, novamente apoiado por uma equipa preparadíssima para dar tudo pelo seu líder. Nada disto deixa de ser verdade, mas quando se fala de Chris Froome no Giro, tem de se falar da incerteza que o rodeia. Afinal como estará o britânico psicologicamente tendo em conta que tudo o que vier a fazer em Itália e tudo o que fez desde a Vuelta, poderá ser apagado, se vier a ser sancionado no caso do salbutamol? Irá conseguir o ciclista estar concentrado 100% no seu objectivo quando em seu redor persistem as suspeitas, quando ciclistas já defenderam que o líder da Sky não deveria estar a competir, quando até a organização do Giro chegou a mostrar-se insatisfeita com toda esta situação?

Na estrada, tivemos um Froome q.b. na Volta aos Alpes, falhando o pódio por um segundo e ficando a apenas 16 do vencedor Thibaut Pinot. Antes só o tínhamos visto no Tirreno-Adriatico (34º) e na Ruta del Sol (10º). Nas duas corridas italianas foi clara a melhoria de um ciclista que não esconde a frustração de ver que querem sempre perguntar-lhe sobre o caso do salbutamol e não tanto sobre a sua performance desportiva. Já chegou mesmo a dizer que não fala mais sobre o assunto. Se até agora Froome não consegue "ter sossego" neste aspecto, não irá certamente acontecer durante uma Volta a Itália, na qual se teme que se possa viver uma situação idêntica há de 2011: Alberto Contador ganhou, mas a vitória foi posteriormente atribuída a Michele Scarponi, depois do espanhol ser sancionado num caso de doping, que remontava ao Tour do ano anterior.

Mas tentemos concentrar-nos na parte desportiva. Para todos os efeitos, o regulamento permite que Froome possa competir enquanto faz sua defesa e até poderá não sofrer qualquer sanção, pelo que se alcançasse a vitória no Giro, esta ficaria gravada no seu já impressionante currículo. O facto de ter andado pouco em competição não é situação inédita e, por isso, que não se pode atribuir por estar a tentar proteger-se de uma maior exposição mediática devido à sua situação. Se olharmos para o calendário em 2017, Froome fez cinco corridas até ao Tour, que começou a 1 de Julho. E não foi particularmente convincente nas suas exibições. Quando chegou o principal momento da temporada, o britânico suou um pouco mais do que em anos anteriores, mas ganhou a sua quarta Volta a França.

Por isso mesmo, é de esperar que Froome esteja a altura dos acontecimentos quando o Giro começar na próxima sexta-feira, em Jerusalém, mesmo que psicologicamente viva um momento muito complicado na carreira. Poderemos não ver um Froome tão forte como normalmente está no Tour, precisamente porque a corrida francesa continua a ser um dos objectivos do ano. Chegar à marca das cinco vitórias é a principal ambição. É necessário uma gestão de forças e já se sabe o que tem acontecido a quem tem tentado a dobradinha Giro/Tour nos últimos anos: Alberto Contador ganhou o primeiro, esteve discreto no segunto, Nairo Quintana foi segundo em Itália e afundou-se na classificação em França (um 12º lugar era algo impensável para o colombiano).

Será interessante perceber se Froome estará disposto a dar o tudo por tudo para ganhar o Giro. O seu passado na corrida não é algo que queira recordar. Esteve em 2009, quando foi 32º, e no ano seguinte foi excluído por se ter agarrado a uma moto. Porém, uma vitória colocaria Froome ainda mais acima na lista dos melhores da história. Conquistaria as três voltas e três de forma consecutiva.

É verdade que Froome já viveu momentos bem difíceis devido a suspeitas lançadas sobre a equipa. Já lhe cuspiram, tentaram agredir, tentaram infernizar-lhe a vida no Tour e o britânico sobreviveu a tudo. Agora a situação é diferente. Acusou o dobro do permitido de uma substância utilizada por asmáticos. Diz que não fez nada de mal e se surgir em Itália nas melhores condições para lutar por uma grande volta, também será uma demonstração da forte mentalidade deste ciclista.

Há outra incógnita a rodear Froome. A equipa que o acompanhará é forte. Só poderia tendo em conta o plantel da Sky. No entanto, a forma de Wout Poels, por exemplo, é preocupante. O holandês tem oscilado entre o muito bom e a completa desilusão, como foi na Liège-Bastogne-Liège. E estando esta corrida tão próxima do Giro, a última coisa que a Sky queria ver era um dos homens mais importantes na defesa do seu líder, não ter demonstrado capacidade para aguentar o ritmo elevado dos favoritos.

Para contrabalançar, Froome terá um Kenny Elissonde de luxo. Fez uma exibição tremenda na Volta aos Alpes, até por vezes deixando a ideia que estava em melhor forma que o seu líder. Mas nunca o abandonou. A performance do francês foi decisiva para garantir um lugar no Giro, que não estava até então assegurado. Com Geraint Thomas mais do que dedicado a ter um papel de destaque no Tour, Elissonde poderá tornar-se no novo escudeiro do britânico, principalmente se Poels não conseguir melhorar a sua forma.

Sergio Henao também tem estado bem, pelo que o Froome sabe que terá no colombiano um excelente companheiro para as etapas mais difíceis de montanha. Vasil Kiriyenka é aquela máquina de meter ritmo que a Sky não abdica, com Christian Knees e Salvatore Puccio a serem dois ciclistas que cumprem à risca com o que lhes é pedido. Já David de la Cruz estará ansioso por ter alguma liberdade. Mas se tudo estiver a correr bem com Froome, o espanhol terá mesmo de esperar pela Vuelta para se mostrar. É um ciclista que estando bem irá fortalecer o núcleo da Sky.

Na Volta aos Alpes a Sky não foi tão dominadora como noutras corridas, mas é mais um pormenor que não é inédito. Chegando o momento mais importante, não tem por hábito falhar. Porém, não é só Froome que terá de lidar as questões sobre o salbutamol. Inevitavelmente temos de voltar a falar do caso que marca a actualidade na modalidade. Como irão enfrentar os seus companheiros as constantes perguntas e dúvidas se o trabalho que se preparam para realizar não será em vão?

Tantas incógnitas a rodear um ciclista que nos últimos anos tem habituado a ser o favorito nas grandes voltas em que enfrenta e ponto final. Sem "ses". Ainda assim, apesar das incógnitas, está no topo dos candidatos no Giro - como só poderia ser - e teremos o muito esperado embate entre o britânico e Tom Dumoulin (Sunweb).

»»Fabio Aru a precisar que a equipa não lhe falhe««

»»Dumoulin com equipa jovem mas forte para o apoiar na Volta a Itália««

»»Pinot é finalmente um candidato a temer««

Sem comentários:

Enviar um comentário