31 de maio de 2021

João Almeida sai mais forte da Volta a Itália

© Tim de Waele/Getty Images/Deceuninck-QuickStep
Perder um quinto lugar por menos de um segundo, ter um mau dia logo no início do Giro, ser obrigado a ajudar um companheiro quando também se quer estar na frente da corrida... Falar da Volta a Itália de João Almeida merece mais do que repetir à exaustão o que de mal aconteceu. Muito há a discutir na Deceuninck-QuickStep, é certo. As decisões poderão ter tirado ao ciclista português um melhor resultado. Merecia mais apoio, merecia que não tivesse ficado tão "preso" a Remco Evenepoel. Porém, como de "ses" não reza a história, João Almeida merece que se destaque o que fez de positivo.

Para tal, começa-se pelo fim. A terceira semana (no fundo, cinco dias) foi excepcional. Não só mostrou como estava bem preparado para a corrida e como até foi melhorando com o passar da prova, como evoluiu desde o último Giro, o qual andou de rosa 15 dias. Desta feita não viveu um sonho. A realidade foi bem dura, mas também foi demonstradora do que Almeida é capaz de fazer. Numa fase final da Volta a Itália difícil, exigente, o português foi dos melhores em prova, para não dizer o melhor, entre os que aspiravam o top dez ou até mais.

Almeida não só conseguiu acompanhar o ritmo fosse de Egan Bernal ou Simon Yates, por exemplo, como atacou. Se no último Giro as maiores altitudes acabaram por ser complicadas de ultrapassar, desta feita o ciclista das Caldas da Rainha revelou como evoluiu neste aspecto importante, cimentando o seu estatuto como um dos mais talentosos jovens voltistas. O que aconteceu em 2020 não foi um acidente, ou obra do acaso. Almeida confirmou o potencial que tem, confirmou como continua a trabalhar para se tornar num ciclista cada vez melhor. E está fortíssimo no contra-relógio! Não é de admirar que se fale que há várias equipas a querer contar com Almeida a partir de 2021.

O português, de 22 anos, merece ter companheiros que dediquem a sua corrida em apoiá-lo, pois como se viu no Giro, uma boa equipa faz toda a diferença (Bernal que o diga). Por melhor que se seja individualmente, é sempre preciso apoio e naquele quarto dia de mau tempo (frio e chuva), uma ajuda poderia ter escrito outra história neste Giro. Por mais que não fosse o que quisesse fazer, Almeida mostrou também ser profissional. Ajudou Remco Evenepoel quando assim o teve de fazer. Quando recebeu instruções para o fazer.

Mas mais profissional foi quando lhe deram (finalmente) liberdade. Não desistiu, não se rendeu a uma possível frustração. Foi atrás do melhor resultado possível. Sexto lugar a 7:24 minutos de Bernal na geral (em 2020 foi quarto), ficou tão perto de uma vitória de etapa e não houve jornal, rádio, televisão, site, redes social que não falasse do português. A equipa que o contratar vai ter um ciclista com grande futuro, não apenas fisicamente, mas também mentalmente. Almeida é já um corredor do presente, mas tem muito para dar e ganhar nas épocas que aí vêm.

Almeida vai à Vuelta, a grande volta que inicialmente estava no seu programa. Será desde logo uma das principais figuras, mesmo que seja apenas a sua terceira grande volta. É mais um exemplo de como esta nova geração não precisa de esperar para ganhar destaque.

Remco Evenepoel também está na lista da formação belga. Faltará saber se será o segundo episódio da novela que dominou em demasia este Giro. João Almeida estará então a pouco tempo de terminar contrato, o que acentuará a questão da liderança. Mas a Deceuninck-QuickStep terá as más decisões do Giro a também pesar na decisão que tomar. 

Como se viu no Giro, Almeida sabe ultrapassar estes obstáculos. Sai da Volta a Itália mais forte. E há quem veja como merece ser líder e o queira contratar. Quem? Responsáveis da UAE Team Emirates, Bora-Hansgrohe, Movistar... Os rumores são muitos. Em Agosto, quando abrir o mercado talvez já se saiba. Até lá, que venha a próxima corrida para ver este fantástico ciclista que tanto está a entusiasmar Portugal.

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25 de maio de 2021

Libertem o João e deixem o Remco em paz

© Tim de Waele/Getty Images/Deceuninck-QuickStep
Remco, Remco, Remco! Muito se falou do regresso de Evenepoel, ofuscando quase tudo e todos antes e durante os primeiros dias do Giro. João Almeida teve o seu merecido destaque, que Patrick Lefevere, director da Deceuninck-QuickStep resolveu "colorir" com a notícia que o ciclista português ia sair da equipa no final do ano, com direito a críticas ao empresário do atleta. Timing estranho, já que o fez no dia antes da prova arrancar. João começou bem, Remco também - ainda que tenha ficado atrás do português no contra-relógio - e até foi a um sprint intermédio para ganhar a dianteira na geral para ser o número um da Deceuninck-QuickStep. Como se houve essa questão... Depois, João perdeu tempo e teve de definitivamente ficar a ajudar o belga. Quando Evenepoel começou a dar sinais de fraqueza a equipa manteve-se unida em torno do líder, com Almeida a ter essas ordens. Nada de novo e absolutamente normal. A aposta falhou. Agora é a vez de João ir para a frente nos cinco dias que faltam de Volta a Itália. Se há corrida que está a contribuir para o crescimento do português, é este Giro.

Há uns meses, quando João Almeida foi líder durante 15 dias em Itália, foi um sonho rosa que o lançou para a ribalta e confirmou todo o seu potencial, que ainda não atingiu por completo, pelo que muito mais e melhor se vai ver deste ciclista. Mas eis que este Giro traz a realidade que bem se conhecia. A Deceuninck-QuickStep aposta grande parte do seu futuro próximo no prodígio Evenepoel. Nove meses depois da gravíssima queda na Lombardia, finalmente regressou. E logo numa prova de três semanas, que nunca tinha feito na curta carreira.

De doidos? Certo é que apesar do bom início, aconteceu o que seria de expectável: Evenepoel ainda está longe de ser o que era antes da queda. O processo de recuperação ainda não terminou, principalmente a nível mental. Aquelas descidas... Há que dar tempo ao tempo. Quem não quer ver este espectacular ciclista de volta ao seu melhor? Não está a ser óptimo ver Egan Bernal (Ineos Grenadiers) a ser... Bernal? Situações diferentes, é certo, mas posições idênticas: apesar de jovens, tiveram um sucesso rápido e souberam cedo o que é passar maus momentos e viver sob desconfiança do que podem fazer no futuro... Mesmo sendo tão jovens.

João Almeida (22 anos) merecia ser líder. Está em boa forma e, apesar de lhe faltar uma grande vitória, já mostrou que a pode alcançar. Aquela quarta etapa selou-lhe um destino que mais cedo ou mais tarde seria inevitável se Remco não cedesse. Era o número dois. Merecia que o tivessem protegido mais, por tudo o que já fez, não só no último Giro. A equipa rodeou o seu "menino bonito" e Remco foi alimentando a euforia dentro e fora da Deceuninck-QuickStep. Nove meses depois estava a lutar pelo Giro! É difícil acreditar que não se esperava de maneira nenhuma esta quebra. Talvez não de 28 minutos, mas que não estaria na luta pela vitória do Giro e que até poderia ficar fora do top dez.

Remco Evenepoel é o primeiro a querer mais e mais. Vive bem com essa pressão que se auto impõe. Mas viu-se na situação que todos pediam... exigiam o "velho" Remco (até parece mal dizer velho tendo ele 21 anos, feitos em Janeiro). Se este Giro muito pode estar a ajudar no amadurecimento de João Almeida, também acontecerá o mesmo a Remco. Não é nenhum extraterrestre, não é nenhum super-herói, é um homem que também quebra. Há que o deixar recuperar, há que o deixar ser Remco Evenepoel ao seu ritmo. O novo Eddy Merckx? Quando o chamaram isso, ainda enquanto júnior, a sua resposta foi: "Não, sou o Remco Evenepoel!" E é isso mesmo. Merckx há só um, por mais que na Bélgica se diga que há um novo Merckx sempre que surge um ciclista com talento. E Evenepoel também haverá só um e se conseguir recuperar por completo física e mentalmente, será igualmente fenomenal, à sua maneira.

Quanto a João Almeida, assentou durante a corrida depois de algumas atribulações e declarações que pareciam fomentar polémicas. O português cumpriu as ordens da equipa. Goste-se ou não, é o que tem de fazer. Se foram as melhores... Muito haverá a analisar no final do Giro por parte da formação de Lefevere. Há que recordar que a Deceuninck-QuickStep abdicou de lutar por sprints ou de estar em fugas, como é normal em grandes voltas, o que significa que trocou o habitual objectivo de conquistar etapas, por uma geral. Quando Evenepoel deu os primeiros sinais que estava a claudicar, a equipa manteve a hierarquia. Nesta segunda-feira, a equipa finalmente libertou um João Almeida em crescendo, com Remco em quebra total. Um top dez é o mínimo para a equipa salvar o Giro.

O português está em 10º. São 10:01 minutos para Egan Bernal. Uma montanha de tempo para recuperar. Só uma catástofre afastará o colombiano da conquista da sua segunda grande volta (venceu o Tour em 2019). Pódio para João Almeida? Hugh Carthy (EF Education-Nippo), terceiro, está a 3:40 de Bernal. Tem sido um Giro complicado para os líderes das equipas - menos para Bernal - pelo que o português pode muito bem alcançar mais um top dez, depois de ter sido quarto na sua estreia no Giro e numa grande volta.

Qualquer coisa que venha a mais (na classificação ou ganhar uma etapa), será bem-vindo e merecido para um ciclista que nos vai dar muitas razões para celebrar. Só precisa que o libertem das amarras de Remco, que agora diz ser a sua vez de ajudar e que vai estar ao lado do português, dentro do que as forças deixarem. Só lhe ficará bem e assim sim, é como funciona uma equipa.

Cinco dias para dar tudo! Bota lume João!

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9 de maio de 2021

João Rodrigues: do sorriso de um dia de azul à conquista de uma amarela histórica

© Volta ao Algarve
Em 2018, João Rodrigues subiu ao pódio da Volta ao Algarve no final da primeira etapa, em Lagos, para vestir a camisola azul da montanha. Então, o ciclista da W52-FC Porto havia integrado a fuga e garantiu um momento que então marcava a sua carreira. O sorriso não enganava o quanto estava orgulhoso por estar ali, ainda mais a correr na sua região. Numa conversa realizada mais tarde com o algarvio, Rodrigues admitiu o quanto aqueles minutos haviam sido especiais, mesmo que no dia seguinte tenha perdido a camisola. Foi só o início...

Naquela altura, João Rodrigues estava a crescer dentro da equipa. Estava a ser preparado para outros voos. Trabalhava o contra-relógio e aprimorava as suas capacidades na montanha. Era um gregário, mas na W52-FC Porto já era visto como um potencial vencedor. Em 2019, o jovem ciclista que havia dado as primeiras pedaladas no Tavira, afirmou-se definitivamente na equipa nortenha.

Começou por vencer a Volta ao Alentejo. Mas uma vez, custava-lhe acreditar no que havia alcançado, enquanto celebrava em Évora. A sua primeira vitória havia chegado precisamente no contra-relógio que tanto andava a trabalhar e garantiu depois a geral. Não esquecer que estamos a falar de uma corrida que também é de categoria internacional.

Nesse mesmo ano, João Rodrigues acabou a ser o líder na Volta a Portugal. Numa das edições mais disputadas em tempos recentes, mais uma vez foi no contra-relógio, na última etapa, que selou a vitória. Antes subiu a Torre para vencer. Para as equipas lusas, a Volta é o topo. Mas afinal, Rodrigues ainda não o tinha atingido quando há uma prova que é a de escalão mais alto que se realiza no nosso país. A Volta ao Algarve é ProSeries (segunda categoria, apenas abaixo das competições World Tour).

W52-FC Porto ao ataque no Malhão
© Volta ao Algarve
Em 2020, Rodrigues foi de extrema importância na vitória de Amaro Antunes na Volta, mas foi este domingo, 9 de Maio de 2021, que João Rodrigues escreveu uma história que atravessou fronteiras. Numa Volta ao Algarve dominada pelas grandes equipas em tempos recentes, com nomes como Remco Evenepoel, Tadej Pogacar, Primoz Roglic, Geraint Thomas, Alberto Contador a ganhar... vencer esta corrida tem sido uma miragem para quem está numa equipa portuguesa.

Se há um ano a Volta ao Algarve foi um dos últimos momentos de normalidade que se viveu, em 2021 nem conseguiu realizar-se no seu habitual calendário de Fevereiro. O pelotão foi diferente, mas nem por isso sem ciclistas de alto nível e/ou jovens talentos à procura de afirmação. A Ineos Grenadiers teve Ethan Hayter perto de alcançar a sua primeira grande conquista, a Deceuninck-QuickStep quis repetir a dose de Evenepoel com Kasper Asgreen, simplesmente o vencedor da Volta a Flandres.

A W52-FC Porto, que até tem sido das equipas portuguesas aquela que mais se mostra no Algarve - Amaro Antunes venceu no Malhão em 2017 -, apareceu com vontade de disputar a geral. João Rodrigues surgiu em excelente forma. Em Portugal ainda pouco se competiu, mas na equipa dirigida por Nuno Ribeiro preparou-se a participação com ambição a Algarvia. Rodrigues foi batido na Fóia por Hayter que depois viria a cair no contra-relógio de Lagoa. Ainda assim, ganhou 12 segundos ao português. Desta vez, o esforço individual não foi fonte do sucesso para Rodrigues, mas tudo ficou em aberto para a etapa do Malhão.

Asgreen, a 21 segundos, assumia que ia tentar a vitória. A W52-FC Porto sabia que estava perante uma oportunidade única de vencer uma corrida que é tão apreciada por equipas World Tour.

Hayter, debilitado pelas mazelas da queda, foi protegido pela Ineos Grenadiers até que a dois quilómetros da meta o britânico cedeu, quando a equipa portuguesa já havia acelerado e Rodrigues atacava. Asgreen até tinha sido quem tinha aberto as hostilidades a 15 quilómetros do fim. A Deceuninck-QuickStep colocou na fuga o sprinter Sam Bennett e o seu lançador Michael Morkov. Foram úteis a Asgreen, contudo, foi a táctica da W52-FC Porto, uma equipa Continental (terceiro escalão) que deu frutos.

© Volta ao Algarve
A equipa controlou as formações adversárias e só se mexeu com o Malhão à vista. Excelente o trabalho que João Rodrigues terminou exemplarmente. Foi novamente segundo na etapa, mas deixou Hayter a nove segundos e Asgreen a 28. Élie Gesbert (Arkéa Samsic) venceu a etapa, mas a principal festa foi portuguesa. Há 15 anos que tal não acontecia. Desde 2006 que um ciclista luso não vencia. Então foi João Cabreira o vencedor, com Hugo Sabido a triunfar no ano anterior. Depois sucederam-se nomes de corredores que estão entre os melhores do mundo.

Rodrigues acreditou até ao fim e claro que é ainda mais especial ser um algarvio vencer a "sua" corrida. Entre as competições internacionais com história que se realizam em Portugal, só lhe fica a faltar o Troféu Joaquim Agostinho. Aos 26 anos construiu já um currículo invejável.

© Volta ao Algarve
Mas há mais sucesso em português

Ficou um pouco ofuscado pela vitória de João Rodrigues, mas houve outro português a celebrar. Luís Fernandes saiu do top dez após um fraco contra-relógio, mas foi para a fuga do dia e somou os pontos suficientes na montanha para garantir a camisola azul. Também ele teve direito a estar no pódio final, numa conquista importante para a Rádio Popular-Boavista, equipa que este ano quis igualmente mostrar-se mais na Volta ao Algarve.

Rafael Reis (Efapel) foi segundo no contra-relógio, Iúri Leitão (Tavfer-Measindot-Mortágua) foi quinto no sprint de Portimão... os portugueses souberam tirar partido de uma Volta ao Algarve com condições excepcionais para terem uma projecção internacional que, por cá, só a Algarvia lhes dá.

Foi uma Volta ao Algarve que trouxe uma emoção diferente perante a forma de João Rodrigues. A oportunidade estava lá e o algarvio não a desperdiçou!

De referir que Sam Bennett venceu a classificação dos pontos (camisola verde), enquanto o americano Sean Quinn (Hagens Berman Axeon) juntou a camisola branca da juventude, à vitória na semana anterior na Clássica da Arrábida. A W52-FC Porto venceu por equipas.

O ciclismo nacional volta à estrada já no próximo fim-de-semana com o Grande Prémio O Jogo (sábado e domingo), enquanto por Itália as atenções centram-se em João Almeida (Deceuninck-QuickStep) e ainda em Rúben Guerreiro (EF Education-Nippo) e Nelson Oliveira (Movistar), o trio de portugueses no Giro.

Classificações completas, via ProCyclingStats.

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Lefevere sem timings anuncia saída de João Almeida

© Tim de Waele/Getty Images/Deceuninck-QuickStep
Com a Volta a Itália prestes a arrancar ter o dono de uma equipa a confirmar a saída de um dos seus líderes no final do contrato, é algo que só se pode pensar que não será bom para o ciclista em causa. No entanto, Patrick Lefevere nunca foi parco em palavras e timings não lhe preocupam. João Almeida não irá continuar na Deceuninck-QuickStep em 2022, segundo o belga, que o afirmou ainda antes do ciclista partir este sábado para o contra-relógio. O responsável garante que a decisão não terá influência no apoio ao ciclista durante o Giro. Mas será mesmo assim?

"Não vai determinar a escolha tática para o Giro. Serão as pernas a decidir. Não me interessa nada, se ganhar o Giro, que seja com um belga ou um português", lê-se na habitual crónica de Lefevere no Het Nieuwsblad. Em causa está o regresso de Remco Evenepoel, cuja a queda na Lombardia obrigou a uma longa paragem, a adiamentos no regresso e ainda a incertezas do que poderá fazer o ciclista nesta Volta a Itália. Tal como João Almeida, começou bem. Mas o português começou melhor.

"Quem me conhece, sabe que a camisola da equipa é mais importante que as nacionalidades. O João é o líder, o Remco terá liberdade", garantiu, mas não está fechada a porta para que Evenepoel assuma o papel que já lhe era destinado no ano passado, antes da queda. Ou seja, se com o decorrer da corrida o belga se apresentar melhor, passará a ser chefe-de-fila.

Recorde-se que Evenepoel deveria ter feito a sua estreia numa grande volta precisamente no Giro, em 2020. Estava numa sucessão de vitórias, incluindo na Volta ao Algarve, e com Almeida a ser um apoio importante em algumas. Porém, com Evenepoel a recuperar da grave queda, o português não só foi chamado quase à última hora para o Giro, como rapidamente "saltou" a parte de perceber como seria competir numa prova de três semanas. Começou forte, no contra-relógio e pouco depois iniciou uma fantástica história de 15 dias de camisola rosa.

Almeida já era um dos jovens considerados a ser seguido com atenção. Naquele Giro realizado em Outubro, passou a ser um dos jovens mais apetecidos por outras equipas. Não ganhou, mas o quarto lugar foi a todos os níveis um resultado final fantástico. Desde então que o ciclista da Caldas da Rainha continuou a somar exibições convincentes. No início desta temporada conseguiu o seu primeiro pódio numa prova World Tour, nos Emirados Árabes Unidos e com o contrato a terminar no final de 2021, há muito que a sua saída era dada como uma forte possibilidade.

Lefevere nunca gostou dessas notícias, criticou bem à sua maneira um possível convite da UAE Team Emirates do português e apesar do desejo de manter Almeida na Deceuninck-QuickStep, a equipa belga acaba por ter duas desvantagens. A primeira é o facto de ser uma formação muito virada para clássicas e sprints. Apesar de já estar a reforçar um pouco o bloco para grandes voltas, tal começou a ser foi feito a pensar em Evenepoel. Se o belga recuperar a sua forma, ninguém dúvida quem será a figura no que a este tipo de prova diz respeito.

Depois há a questão financeira. Uma equipa como a UAE Team Emirates tem uns bolsos bem mais fundos do que a equipa belga. A Deceuninck-QuickStep pode ser a que mais ganha na estrada, das mais populares, mas dos Emirados Árabes Unidos vem muito dinheiro e que já fazem, por exemplo, de Tadej Pogacar o segundo ciclista mais bem pago do pelotão: cinco milhões de euros/época, segundo o jornal Marca.

Não há confirmação oficial de para onde vai João Almeida. Tal só é permitido no ciclismo a partir de 1 de Agosto. Contudo, a equipa que já conta com Rui Costa e os gémeos Oliveira é uma forte possibilidade, mas a Bora-Hansgrohe e a Movistar também são avançadas como hipótese. Tanto uma como outra estão a precisar de reforçar o sector de liderança nas grandes voltas. Podem não ter bolsos tão fundos como a UAE Team Emirates, mas também têm capacidade de oferecer bons contratos.

Aos 22 anos, João Almeida irá dar o passo que seria inevitável, mais cedo ou mais tarde. Não perde tempo e dá-lo-á já em 2022. O ciclista quer uma equipa que lhe dê as condições para lutar por vitórias em grandes voltas ou noutras provas por etapas. A Deceuninck-QuickStep foi a formação perfeita para se apresentar ao World Tour, tendo em conta a filosofia que tem em dar oportunidades a praticamente todos os seus ciclistas, independentemente da idade e experiência.

A Almeida resta mostrar o que não há dúvidas que o fará: profissionalismo. Independentemente do que se passará em 2022, é agora que luta por um Giro. Começou com quarto lugar no contra-relógio, batendo a concorrência directa entre os que ambicionam a camisola rosa.

Durante as próximas três semanas, a ver vamos como irá a equipa reagir a este anúncio de Lefevere. Certo é que o dono da Deceuninck-QuickStep não está nada satisfeito com as negociações, criticando o empresário do ciclista. Não é uma posição ideal para João Almeida, mas este só tem de continuar no caminho que tem feito. No seu segundo ano no World Tour já é um dos principais ciclistas do pelotão e consegue ser o centro de disputa entre grandes equipas. Notável!

Mais saídas

Já este domingo, Lefevere fez mais um anúncio. Também Sam Bennett está de saída. Tanto o responsável, como o ciclista, segundo o belga, gostariam de continuar a ligação, mas a Deceuninck-QuickStep não tem capacidade para igualar as ofertas que o sprinter está a receber. Um regresso à Bora-Hansgrohe estará na equação, pois Pascal Ackermann poderá estar a caminho da UAE Team Emirates.

Sem confirmação oficial, mas entre os rumores que começam a surgir, Álvaro Hodeg também não deverá renovar, enquanto Peter Sagan (Bora-Hansgrohe) é apontado como possível reforço. Começa a parecer que o mercado de transferências vai ser animado a partir de 1 de Agosto.

(Texto actualizado às 15:53 com a saída de Sam Bennett e possível não renovação de Álvaro Hodeg.)

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8 de maio de 2021

Asgreen recordista. Hayter caiu mas continua de amarelo. João Rodrigues mantém sonho vivo

© João Calado
Enquanto se ia assistindo ao recorde de Remco Evenepoel no percurso de contra-relógio em Lagoa a ser batido não por um, nem por dois, mas por três ciclistas, a luta pela geral parecia que iria ser apenas uma questão de perceber quantos segundos ficariam a separar os primeiros e se alguém entraria ou sairia da luta pela amarela. Mas, uma queda de Ethan Hayter assustou a Ineos Grenadiers, enquanto na W52-FC Porto poderia estar em aberto a possibilidade de João Rodrigues ficar com a camisola amarela antes da etapa decisiva do Malhão. Por um lado percebeu-se que o algarvio está bem ciente que está perante uma oportunidade que pode ser única, por outro conheceu-se um pouco mais do carácter de Hayter.

O britânico estava a realizar um bom contra-relógio e pedalava para uma possível diferença que lhe desse mais tranquilidade no Malhão, este domingo. Recorde-se que este sábado, antes do contra-relógio, três ciclistas estavam empatados em tempo (Hayter, Rodrigues e Jonathan Lastra, da Caja Rural). Porém, numa curva, perdeu o controlo da bicicleta e caiu. Teve de trocar de "máquina", mas lá seguiu caminho, com tempo precioso perdido e um corpo mal-tratado.

João Rodrigues dava o tudo por tudo para minimizar possíveis perdas, ou então conseguir mesmo superiorizar-se Hayter. Com a queda do britânico, a segunda hipótese ficou ainda mais perto de se tornar realidade. Mas foi aqui que se assistiu como este jovem ciclista tem perfil de vencedor. Não foram quilómetros fáceis, mas superou dores e certamente a frustração de ter caído para cortar a meta com um tempo melhor que Rodrigues.

A amarela continua com Hayter, mas como estará o ciclista este domingo? Depois de Richie Porte, Geraint Thomas e Michal Kwiatkowski, a Ineos Grenadiers procura vencer a Algarvia com um ciclista em que aposta para o futuro. Rodrigues vive um momento que, tendo em conta o pelotão que normalmente está na corrida quando esta se realiza em Fevereiro, poderá não estar tão cedo numa situação tão privilegiada como esta. E Kasper Asgreen quer contribuir ainda mais para o domínio da Deceuninck-QuickStep.

© João Calado
O dinamarquês venceu o contra-relógio, mas teve de se aplicar bastante. Era o seu objectivo, mas quando partiu, já sabia que Benjamin Thomas tinha batido o recorde do percurso que Remco Evenepoel estabeleceu em 2020 (24:07 minutos). O francês da Groupama-FDJ fez 24:01.

Depois uma surpresa, mas só para quem não conhece Rafael Reis. É um especialista do contra-relógio e apareceu em grande forma. Este ano mudou-se para a Efapel e no Algarve deixou Thomas sem a possibilidade de vitória. Completou os 20,3 quilómetros em 23:55. Estava mais perto um triunfo português, algo que não acontece desde que Amaro Antunes venceu no Malhão, em 2017.

Kasper Agreen estragou a festa. O dinamarquês fez 23:52 minutos e reentrou na luta pela geral, sendo agora terceiro a 21 segundos, recuperando mais de um minuto para Hayter. Rodrigues ficou a 12, enquanto Lastra ficou mais longe, a 42.

Este triunfo significa que são três vitórias em quatro etapas da Deceuninck-QuickStep, que ainda tem Sam Bennett com a camisola verde virtualmente garantida (só precisa de terminar este domingo), depois da pontuação máxima que somou com os sprints que ganhou em Portimão e Tavira. Falta agora ver se Asgreen não vai tentar a amarela e suceder ao colega de equipa, Evenepoel.

Thibault Guernalec (Arkéa Samsic) - um ciclista que já participou na Volta a Portugal - também de um salto na classificação, sendo agora quatro, a 22 segundos de Hayter.

Classificações completas, via ProCyclingStats.

5ª etapa: Albufeira-Malhão (170,1 quilómetros)


Com a geral em aberto, o pelotão irá este domingo enfrentar a subida do Malhão, que só será feita uma vez. Etapa curta (170,1 quilómetros), com início em Albufeira, e que terá muito sobe e desce. Só na fase final do dia, os ciclistas terão uma sucessão de subidas exigentes, antes da escalada do Malhão (2,6 quilómetros com inclinação média de 9,2%). As restantes subidas estão colocadas em Vermelhos (3,2 km a 5,9%, a 43,1 km da chegada), Ameixeiras (1 km a 14%, a 32,2 km da meta) e Alte (2,1 km a 5%, a 14 km do final). Antes desta sequência, ainda haverá duas subidas de terceira categoria. Para aquecer!

A única certeza para o final desta 47ª edição da Volta ao Algarve é que quem a conquistar fá-lo-á pela primeira vez. E como curiosidade, se João Rodrigues o conseguir, será o primeiro português desde João Cabreira, que ganhou em 2006.

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»»Ethan Hayter, mais um jovem ciclista a conquistar o Alto da Fóia««

Ganna, aquela máquina. Almeida começa forte

© Tim de Waele/Getty Images/Deceuninck-QuickStep
João Almeida não perdeu tempo em entusiasmar ainda mais os adeptos portugueses, meses depois de ter deixado um país apaixonado pela camisola rosa. Logo no primeiro dia da Volta a Itália mostrou que está mais do que focado em estar na luta pela geral. Desta feita, apresenta-se como candidato desde a partida e começou novamente com um forte contra-relógio, ainda que tenha sido apenas de 8,6 quilómetros em Turim. Ficou a 17 segundos daquele que é "apenas" o campeão do mundo e que tem ganho quase todos os contra-relógios que faz.

Filippo Ganna (Ineos Grenadiers) repetiu a dose de 2020. No último Giro venceu os três contra-relógios da prova e agora soma nova vitória e veste outra vez a camisola rosa. Bateu outro italiano forte na especialidade. Edoardo Affini fez mais 10 segundos, mas tirou o chapéu (literalmente) à exibição do compatriota. Porém, a Jumbo-Visma não saiu completamente desiludida de Turim. Tobias Foss tem apenas 23 anos, mas já um potencial reconhecido, para o qual contribuiu ganhar o Tour de l'Avenir em 2019.

Apesar de George Bennett ser, na teoria, o líder da Jumbo-Visma, perder 41 segundos, enquanto Foss somou apenas mais 13 que Ganna, deixa o norueguês numa boa posição inicial para poder ser também ele uma aposta.

E dos potenciais candidatos a lutar pela geral, Foss foi o único que bateu João Almeida. "Obtive um resultado melhor do que tinha pensado.  É uma excelente forma de começar a corrida. É um tipo de resultado que te dá uma importante dose extra de motivação", referiu o ciclista, citado pela Deceuninck-QuickStep.

Além de João Almeida, a equipa belga viu ainda Rémi Cavagna ser quinto, a 18 segundos - o campeão francês queria ganhar o contra-relógio - e Remco Evenepoel em sétimo, a 19 segundos. O regresso do belga foi um dos momentos do dia. "Ter três ciclistas no top 10 é excelente para a equipa", afirmou Almeida, numa altura que muito se vai começar a falar da forma física de Evenepoel.

Apesar de surgir com o dorsal um da equipa, a sua longa ausência da competição devido a uma grave queda na Lombardia, levanta dúvidas quanto à sua condição. Evenepoel começou bem, mas os verdadeiros testes chegarão com a montanha. Para João Almeida é ainda mais importante arrancar como o melhor da Deceuninck-QuickStep para que possa reclamar o estatuto de número um na equipa neste Giro.

Quanto aos outros dois portugueses em prova, Nelson Oliveira (Movistar) é um especialista no contra-relógio, mas este de Turim não era nada que pudesse beneficiar as suas características. Terminou a 29 segundos de Ganna, com Ruben Guerreiro (EF Education-Nippo) a perder 47.

Na perspectiva de João Almeida, o ciclista das Caldas da Rainha ganhou tempo aos rivais, com Aleksandr Vlasov (Astana) a ser o melhor, a 24 segundos de Ganna. Egan Bernal fez mais 39 segundos do que o companheiro de equipa e Jai Hindley (DSM), que no Giro passado esteve perto de ganhar a corrida, tem 46 segundos de atraso. Mikel Landa (Bahrain-Victorious), que assumiu que a Volta a Itália é para ganhar, pode dizer que nem foi dos seus piores contra-relógios, tendo 49 segundos para recuperar para Ganna, que não será um adversário directo.

2ª etapa: Stupinigi (Nichelino)-Novara (179 quilómetros)



7 de maio de 2021

O regresso do sonho rosa

 © Tim de Waele/Getty Images/Deceuninck-QuickStep
Em 2020, com a pandemia e todas as restrições que então levaram a uma mudança radical no calendário velocipédico, foi preciso esperar por Outubro para ver a Volta a Itália, sendo que antes já o Tour tinha ido para a estrada. Então, no Giro, por cá olhava-se para o estreante numa grande volta, na sua primeira época no World Tour: João Almeida. As circunstâncias levaram-no à corrida com liberdade para mostrar-se, com o português a querer perceber como seria fazer uma prova de três semanas. Mal se imaginava o que estava prestes a acontecer.

Durante aqueles dias, Almeida não só rapidamente confirmou todo o talento e potencial que o levou a uma das melhores equipas do mundo, a Deceuninck-QuickStep, como se afirmou como mais um dos jovens ciclistas a conquistar o World Tour. 15 dias de camisola rosa atiraram-no para a ribalta e em Portugal, o ciclismo entusiasmou não só os adeptos, como trouxe à modalidade muitos mais interessados. Uma autêntica onda rosa invadiu a região das Caldas da Rainha de João Almeida, mas um pouco por todo o país, o nome do jovem atleta entrou nas conversas tantas vezes dominadas pelo futebol, teve destaque nas primeiras páginas dos jornais, teve direito a realce até nos telejornais.

O impacto da exibição de João Almeida no Giro trouxe um mediatismo renovado ao ciclismo no nosso país. O resultado final foi um brilhante quarto lugar e a certeza que Portugal tem um voltista que, aos 22 anos, ambiciona que uma camisola rosa, amarela ou vermelha possa um dia ser dele num pódio final de uma grande volta. E já é um dos mais procurados atletas, numa altura em que está em final de contrato com a equipa belga. Renovará ou não? Isso fica lá mais para o Verão.

Em 2021, Almeida foi inicialmente apontado à Volta a Espanha, mas, tal como na época passada, acabou a ser "puxado" para o Giro, que arranca este sábado em Turim. E depois do que fez em 2020, por cá, o sonho rosa já domina o discurso de todos aqueles que querem ver novamente Almeida a ser figura em Itália.

E se o ciclista da Deuceninck-QuickStep recebe, merecidamente muita atenção, em Outubro Rúben Guerreiro fez também ele história. Venceu uma etapa e foi o rei da montanha, segurando a camisola azul até final. Depois de épocas inconstantes, na agora EF Education-Nippo, Guerreiro apresentou e continua a apresentar o nível há muito esperado. Também ele está de regresso a Itália, mas é um atleta que quer mais do que alcançou na edição passada do Giro.

A Almeida e Guerreiro, junta-se o experiente Nelson Oliveira, que tem dois Giros feitos, mas já há muito que não viajava para Itália. Participou na grande volta em 2012 e 2013.

O que esperar do trio de portugueses?

Com os Jogos Olímpicos como um dos principais objectivos, ir ao Tour poderia ser prejudicial na preparação e recuperação para quem vai a Tóquio procurar uma medalha no contra-relógio. Nelson Oliveira (dorsal 174) é um dos melhores gregários do pelotão World Tour e no Giro não terá um papel diferente daquele que desempenha quando participa no Tour e Vuelta.

A Movistar tem Marc Soler como líder e espera a Nelson Oliveira o habitual trabalho de sacrifício, mas terá dois contra-relógios para se testar. O primeiro, a abrir este sábado o Giro, é curto, apenas 8,6 quilómetros, em Turim.  Nada que beneficie as suas características. Depois é preciso esperar pelo último dia, com 30,3 quilómetros, entre Senago e Milão, mas também falta alguma dificuldade para assentar melhor a Oliveira. 

Quanto a Rúben Guerreiro (dorsal 105), é um ciclista que há muito aspira lutar por uma geral  numa grande volta. A EF Education-Nippo terá Hugh Carthy com essa função, mas tal não elimina que o português também possa olhar para um bom resultado nessa classificação. Na recente Volta aos Alpes, Guerreiro demonstrou o quanto quer ser um ciclista de geral, realizando uma excelente corrida, exibição premiada com um oitavo lugar. Deixou boas indicações e aos 26 anos quer dar mais um passo na afirmação de ser um corredor que pode estar entre os melhores numa corrida de três semanas.

João Almeida (dorsal 92) terá desta feita Remco Evenepoel a seu lado. A dupla rendeu vitórias ao belga em 2020, até à grave queda na Lombardia e que o fez falhar o Giro. Desde Agosto que não compete, o regresso foi adiado e será mesmo no Giro que irá novamente ver-se este talentoso e espectacular ciclista. A pergunta é como irá Evenepoel apresentar-se fisicamente depois de alguns adiamentos quanto ao seu regresso. Apesar de ser o dorsal 1 da equipa, é em Almeida que se centram as atenções para estar novamente na luta pela geral.

Evenepoel já garantiu que quer ajudar o português. Será um ver para crer. James Knox, Rémi Cavagna, Mikkel Honoré, Pieter Serry e o veterano Iljo Keisse serão homens importantes de apoio ao português, a que se junta... Fausto Masnada. O italiano não ganhou fãs em Portugal no Giro passado, quando as suas exibições pareceram serem mais centradas no seu objectivo pessoal, do que em sacrificar-se em prol de quem era "apenas" o líder do Giro.

Lista de inscritos, via ProCyclingStats.

1ª etapa: Turim-Turim (8,6 quilómetros)


»»Atitude muito pouco de Wolfpack««

Sam Bennett é o rei dos sprints na Volta ao Algarve

© João Fonseca Photographer

A velocidade com que o pelotão sprintou na Avenida Zeca Afonso até causa arrepios na pele. É simplesmente impressionante ver como alguns dos melhores do mundo se lançam naqueles metros finais e quando parece que é impossível ir mais rápido, Sam Bennett ainda tem mais uma mudança para meter! É certo que na televisão se vê bem melhor, mas é ao vivo que melhor se percebe e se sente o que é um sprint, dos riscos que os ciclistas correm... e da adrenalina!

Em Tavira, a tradição cumpriu-se. Houve fuga, pois claro, mas com uma Ineos Grenadiers a proteger o camisola amarela, Ethan Hayter, e com a Deceuninck-QuickStep a trabalhar para Bennett e a Bora-Hansgrohe para Pascal Ackermann (foi uma Volta ao Algarve longe do esperado para o sprinter alemão), não restava dúvidas como seria o final.

A equipa belga já se sabe: faz do sprint uma arte. E foi de tal maneira avassaladora que um dos melhores lançadores do pelotão, Michael Morkov, trabalhou para Bennett e depois aproveitou para ser terceiro. Danny van Poppel (Intermarché-Wanty-Gobert Matériaux) teve de se contentar com o segundo lugar, tal como em Portimão.

Para o irlandês significou a segunda vitória em dois sprints no Algarve e ficar muito perto de garantir a classificação dos pontos (camisola verde). E já são sete triunfos em 2021.

"Foi um dia mais difícil do que o esperado, sobretudo, pelo calor. Na semana passada treinava à chuva, com sete e oito graus e, por isso, não me senti muito bem ao longo da etapa. Na verdade, mesmo tendo competido no UAE Tour esta foi a primeira corrida do ano com calor a sério", referiu Bennett. Quanto ao sprint, explicou: "A aproximação à meta foi bastante rápida. As restantes equipas entraram com os seus líderes bem posicionados na última curva, não estava na posição ideal, mas o arranque do Michael [Morkov] abriu o espaço necessário e lançou-me para o sprint. É uma vitória importante mas devo-a aos meus colegas."

Também os portugueses repetiram a dose no top dez. Rui Oliveira (UAE Team Emirates) foi desta feita o melhor dos ciclistas lusos, com o oitavo lugar. Iúri Leitão (Tavfer-Meadinsot-Mortágua) ficou em nono, depois do espectacular quinto lugar na estreia na Volta ao Algarve.

Foi o dia mais longo (203,1 quilómetros entre Faro e Tavira), o mais quente (e mesmo bem quentinho), com os homens da geral a quererem evitar qualquer problema, já que no fim-de-semana há o contra-relógio de Lagoa e a etapa do Malhão. Iván Ramiro Sosa (Ineos Grenadiers) e Luís Fernandes (Rádio Popular-Boavista) ainda apanharam um susto ao ficarem envolvidos numa queda, mas sem consequências para a classificação geral, com ambos a continuarem entre os dez primeiros.

A etapa correu como era esperado. O sprint foi espectacular, mas agora o que mais se quer são as decisões finais, quando há três ciclistas empatados em tempo: Ethan Hayter (Ineos Grenadiers) - o camisola amarela e vencedor no Alto da Fóia - João Rodrigues (W52-FC Porto) - segundo na geral e líder da montanha - e Jonathan Lastra (Caja Rural). E entre o primeiro e o 19º - Sean Quinn (Hagens Berman Axeon), líder da juventude -, são 48 segundos a separá-los.

Classificações completas, via ProCyclingStats.

4ª etapa: Lagoa-Lagoa (20,3 quilómetros), contra-relógio individual



É o tradicional percurso onde em 2020 Remco Evenepoel venceu e garantiu a vitória na Volta ao Algarve. Desta feita o contra-relógio surge antes da etapa do Malhão, com as habituais dificuldades, num percurso técnico, com muitas fases de quebra de ritmo... mas com uma paisagem lindíssima que fica para quem está em casa a assistir apreciar.

Veja aqui a ordem de partida. O top dez - começa a ir para a estrada às 17:02.

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6 de maio de 2021

Ethan Hayter, mais um jovem ciclista a conquistar o Alto da Fóia

© João Fonseca Photographer
Ethan Hayter. 22 anos, um dos novos rostos da Ineos Grenadiers e o mais recente jovem a ganhar no Alto da Fóia. Tadej Pogacar e Remco Evenepoel foram os dois últimos vencedores. Agora junta-se o britânico - que chegou ao Algarve com bem menos mediatismo que os seus antecessores - confirmando a tendência recente de esta subida agradar aos mais novos do pelotão World Tour. Será que vai seguir o exemplo do esloveno e do belga que acabaram por ganhar a corrida?

Com Iván Ramiro Sosa a ser um mais natural candidato na equipa a vestir de amarelo (foi quinto, a nove segundos do companheiro), Hayter acabou por surpreender e não só fez uma excelente subida na Serra de Monchique, como ao sprint foi mais forte que... João Rodrigues. A W52-FC Porto ficou perto de vencer novamente na Volta ao Algarve, depois de Amaro Antunes ter conquistado o Malhão em 2017. A equipa portuguesa esteve ao ataque, colocando Samuel Caldeira na frente, depois controlou o grupo principal, assumindo esse papel principalmente depois da UAE Team Emirates ter perdido Rui Costa.

Com ambição à geral, o campeão do mundo de 2013 caiu na descida do Alferce e abandonou. João Rodrigues e Amaro Antunes (W52-FC Porto) assumiram o destaque entre os portugueses, com Luís Fernandes (Rádio Popular-Boavista) a terminar na nona posição, a 35 segundos de Hayter. Rodrigues ficou com o mesmo tempo, enquanto Amaro tem 30 segundos para recuperar. Boa prestação lusa na Fóia.

Mas Hayter não deixou que a festa fosse portuguesa. A Ineos Grenadiers em tradição na Volta ao Algarve. Então como Sky, venceu com Michal Kwiatkowski (2018), Geraint Thomas (duas vezes, 2015 e 2016) e Richie Porte (2021). Apesar desta feita ter viajado ao sul de Portugal sem nenhuma das principais estrelas, apostou em jovens que querem afirmar-se na equipa. Iván Ramiro Sosa já tem algum estatuto, mas está à procura de fortalecê-lo.

Apesar de Hayter estar de amarelo, Sosa não está fora da equação, com nove segundos de atraso, com Sebastián Henao a 20. A Ineos Grenadiers tem muitas armas para preparar a sua táctica no ataque a mais uma vitória na geral da Algarvia. Talvez não esperasse ter uma equipa portuguesa como rival, com a ProTeam espanhola, Caja Rural, a ter Jonathan Lastra também na luta. Terminou em terceiro, com o mesmo tempo do vencedor, enquanto a Arkéa Samsic ficou com Elie Gesbert a ambicionar o pódio (ou mais), pois são apenas quatro segundos para recuperar.

Ou seja, tudo completamente em aberto, para o contra-relógio de sábado, com Hayter a poder defender-se muito bem, já que tem escola de pista, com vários títulos conquistados nas camadas jovens. Hayter é um jovem que já estava a ser seguido pela Ineos Grenadiers. Estagiou na equipa em 2018, mas até entrar no plantel principal em Janeiro de 2020, esteve em equipas amadoras do seu país. E já venceu uma etapa e a classificação da juventude na Settimana Internazionale Coppi e Bartali, juntando agora a etapa na Volta ao Algarve.

"Na última descida [depois de subir a Pomba] fui prudente e atrasei-me um pouco, perdendo algumas posições. O meu colega de equipa Carlos [Rodriguez] trouxe-me novamente ao grupo e entrei na última subida bastante protegido. O Sebastián Henao impôs um ritmo forte, e o Iván Sosa ajudou e coube-me ir até ao final. Estava com esperanças de fazer uma boa corrida aqui no Algarve, mas confesso que me correu melhor do que esperava. Agora resta-me aguentar a liderança até onde puder", salientou um muito sorridente Hayter.

Para os homens da geral, depois dos 182,8 quilómetros entre Sagres e Fóia, segue-se um fim-de-semana intenso com o contra-relógio de Lagoa (20,3 quilómetros), seguindo-se o grande final no domingo: Albufeira-Malhão (170,1 quilómetros).

Quanto às camisolas, Sam Bennett (Deceuninck-QuickStep) perdeu a amarela, mas manteve a verde dos pontos, João Rodrigues vestiu a azul da montanha, Sean Quinn (Hagens Berman Axeon) está a gostar de Portugal, pois é o melhor jovem (camisola branca) depois de no domingo ter ganho a Clássica da Arrábida. A Ineos Grenadiers além de liderar a geral com Hayter, é também primeira por equipas.

Classificações completas, via ProCyclingStats.

3ª etapa: Faro-Tavira (203,1 quilómetros)


Mas antes da atenção se centrar em quem vai ganhar a camisola amarela, os sprinters regressam à acção. Será a etapa mais longa da 47ª edição da Volta ao Algarve e o final em Tavira tem sido palco de sprints espectaculares. Por lá têm ganho ciclistas referência na especialidade, como Marcel Kittel, André Greipel e mais recentemente, Dylan Groenewegen.

Duas dificuldades para somar pontos para a camisola da montanha e três metas volantes, num dia que normalmente é feito a grande velocidade, apesar dos muitos quilómetros.

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5 de maio de 2021

Queda estraga planos a portugueses. Sam Bennett confirma favoritismo

© Federação Portuguesa de Ciclismo
Num sprint técnico, a alta velocidade - pois claro - com muitos ciclistas a procurarem a melhor posição, seja para discutir a vitória, seja para evitar surpresas, por vezes o pior acontece. A Volta ao Algarve tem mais um grande sprinter a inscrever o seu nome como vencedor de uma etapa. Contudo, a vitória de Sam Bennett (a sexta na temporada) acabou marcada por uma queda ainda antes dos três quilómetros finais, o que significou que quem ficou para trás, ficou com tempo para recuperar na geral. O companheiro do irlandês da Deceuninck-QuickStep, Kasper Asgreen, foi um dos afectados, assim como dois dos portugueses que apresentam melhor forma neste arranque de temporada por cá: Frederico Figueiredo (Efapel) e Tiago Antunes (Tavfer-Meadinsot-Mortágua).

Perderam 39 segundos, 1:01 minutos e 4:31 respectivamente, o que no caso dos dois ciclistas lusos poderá significar mudar o pensamento para procurar entrar em fugas e tentar disputar uma vitória de etapa, caso a queda não deixe consequências físicas. A etapa parecia até estar a ser relativamente calma, mas houve mais algumas quedas que foram a imagem de algum natural nervosismo neste tipo de finais.

Foram 189,5 quilómetros entre Lagos e Portimão, que este ano inverteram a recepção da partida e chegada. Carlos Canal (Burgos-BH), Jon Irisarri (Caja Rural-Seguros RGA), Gustavo César Veloso (Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel), Hugo Nunes (Rádio Popular-Boavista) e Cesar Nicolas Paredes (Louletano-Loulé Concelho) integraram a fuga, a Deceuninck-QuickStep cedo mostrou que mais uma vez está no Algarve para vencer. E alguma vez se viu esta equipa ir a uma corrida sem este objectivo?

O aumento de ritmo, o final que requeria muita atenção, aumentou o tal nervosismo no pelotão. Nos metros decisivos, Sam Bennett ainda viu Danny van Poppel (Intermarché-Wanty- Gobert Matériaux) cumprir o esperado e tentar chegar à primeira vitória do ano da equipa que subiu a World Tour em 2021. Mas o irlandês está simplesmente muito forte.

© João Fonseca Photographer
Na perspectiva portuguesa, o destaque vai para Iúri Leitão. Regressou a uma equipa portuguesa, representando a Tavfer-Meadinsot-Mortágua, agora na elite nacional. O campeão europeu de pista, no scratch, teve uma estreia auspiciosa na Volta ao Algarve. Quinto classificado! O vianense sempre diz que quer ser um sprinter, tem orientado a sua ainda curta carreira nesse sentido e aos 22 anos pode orgulhar-se que obteve um excelente resultado numa etapa ganha por um dos melhores sprinters do mundo.

Para estes ciclistas segue-se a tirada de Tavira na sexta-feira, mas antes... Fóia! Com Sagres a ser o palco do arranque (12h45, partida simbólica), depois da meta volante em Aljezur, a primeira dificuldade surge ainda antes dos 50 quilómetros, com a subida de Marmelete. Sempre em terreno de sobe e desce, serão os últimos 30 quilómetros que vão testar o pelotão. A meta coincide com um prémio de montanha de primeira categoria, a subida de Monchique até à Fóia (7,5 km com 7,3% de inclinação média).

Porém, a 6,2 quilómetros do início da subida da Fóia os atletas passarão pela Pomba, subida de segunda categoria com 3,6 quilómetros e uma pendente média de 8,2%. A terceira categoria, em Alferce (5,7 km a 6,2%), a 26,4 quilómetros da chegada marca o arranque da fase dura da jornada.

Quanto às camisolas, Sam Bennett vestirá a amarela de líder da geral, sendo também dona da verde (pontos), que irá ser envergada por "empréstimo" por Danny van Poppel. Jon Irisarri (Caja Rural) foi o primeiro na única subida categorizada do dia e fica assim com a azul da montanha, enquanto o melhor jovem (camisola branca) é Jarrad Drizners, australiano da Hagens Berman Axeon. A UAE Team Emirates de Rui Costa e dos gémeos Oliveira lidera por equipas.

Classificações completas, via ProCyclingStats. Sérgio Paulinho (LA Alumínios-LA Sport) e Edwin Ávila (Burgos-BH) foram os primeiros abandonos da prova.

2ª etapa: Sagres-Fóia (182,8 quilómetros)



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4 de maio de 2021

Volta ao Algarve espera por um novo vencedor

© João Calado
Sete equipas World Tour. Um pouco menos, é certo, do que estava previsto para Fevereiro quando a Volta ao Algarve se preparava para um recorde de presenças de equipas do principal escalão, ou seja, 16 das 19. Mau serem sete? Nem pensar! Tendo em conta que a pandemia e as restrições obrigaram a tirar a Algarvia do seu calendário normal, que tanto agrada às grandes equipas e a ciclistas de renome, não seria fácil ter um pelotão idêntico a edições recentes. Porém, mesmo coincidindo com o início do Giro, podemos esperar uma corrida interessante. Este ano os sprinters a destacam-se mais, mas garantido está que na geral haverá um novo vencedor, pois não há nenhum antigo campeão em prova na 47ª edição.

Então temos: AG2R Citroën, Bora-Hansgrohe, Deceuninck-QuickStep, Groupama-FDJ, Ineos Grenadiers, Intermarché-Wanty-Gobert Matériaux e UAE Team Emirates (lista completa de inscritos no final do texto). Com a excepção da primeira, as restantes formações têm sido presença habituais. Quanto a portugueses, teremos o trio da equipa dos Emirados Árabes Unidos: Rui Costa e os gémeos Oliveira (Ivo e Rui). João Almeida (Deceuninck-QuickStep) que em 2020 foi tão importante na vitória de Remco Evenepoel, estará novamente no Giro à procura da rosa, com o belga a regressar à competição depois de uma longa recuperação, precisamente na Volta a Itália, que arranca no sábado.

Em Portimão, primeira etapa esta quarta-feira, e em Tavira, na terceira, Sam Bennett (Deceuninck-QuickStep) é talvez o maior favorito, mas vai ter concorrência. Porém, destaca-se ainda Fabio Jakobsen, que sabe o que é ganhar na Algarvia. Como se sabe continua o seu processo de recuperação física, pelo que não é candidato a vitórias. Mas será óptimo vê-lo depois do que aconteceu na época passada na Polónia. 

A Bora-Hansgrohe espera que Pascal Ackermann reencontre-se com a melhor forma. O alemão tem sido muito inconstante. Contudo, quando aparece bem... Em 2021, Ackermann está a zero. Bennett tem cinco triunfos. Na Intermarché-Wanty-Gobert Matériaux também se espera que Danny van Poppel possa dar uma alegria. A equipa subiu este ano a World Tour, tem sido muito activa, principalmente nas clássicas, mas falta uma vitória. Marc Sarreau (AG2R) é um sprinter tem sido um sprinter em boa forma na primeira fase da temporada, mas também ainda não ganhou.

Portanto, esta quarta-feira e sexta a não perder os sprints, que na Algarvia tendem mesmo a acontecer. As fugas nestas etapas mais planas não têm tido sucesso. Temos depois Fóia (quinta) e Malhão, que, depois de em 2020 ter sido o contra-relógio a fechar a corrida, recupera o estatuto de local da consagração, no domingo. Favoritos? É impossível não olhar para Iván Ramiro Sosa. O colombiano da Ineos Grenadiers tem no Algarve uma boa oportunidade para vencer uma corrida, sendo que este ano já conquistou o Tour de la Provence. Normalmente "tapado" para o papel de liderança, Sosa já mostrou que está disposto e preparado para aproveitar todas as oportunidades que a equipa lhe dá.

Rui Costa sabe o que é fazer pódio no Algarve (2014, com a camisola de campeão do mundo) e tem estado de olhos postos numa vitória em 2021, mas terá mais um jovem ciclista como possível rival. Lennard Kämna tem aos poucos ganho destaque na Bora-Hansgrohe, com etapas ganhas na Volta a França e Critérium du Dauphiné, além de um conjunto de exibições de luxo. Aos 24 anos pode no Algarve começar a assumir-se mais como líder para gerais e assim dar mais um passo na sua evolução, acompanhada com expectativa pelos adeptos, que procuram uma nova referência no ciclismo além do sprint ou contra-relógio. Já agora, Kämna foi campeão do mundo desta especialidade de sub-23.

ProTeams

Bingoal Pauwels Sauces WB (Bélgica), Burgos-BH, Caja Rural, Kern Pharma e Euskaltel-Euskadi (Espanha), Arkéa Samsic e Delko (França), Rally Cycling (EUA) procura contrariar um normal favoritismo que possa ser dado às equipas World Tour. Contudo, sabem que este é um pelotão que permite ambicionar a bons resultados. Alguma atenção a José Manuel Díaz da Delko. O espanhol conquistou a Volta à Turquia e tem como director desportivo um senhor do ciclismo português que conhece bem o Algarve: José Azevedo.

Continentais

Nas equipas portuguesas, olha-se sempre para um Amaro Antunes que sabe o que é vencer no Malhão, mas nunca deixou de sonhar em conquistar a geral. O algarvio, tem uma W52-FC Porto sempre com equipa forte. O único senão do vencedor da Volta a Portugal do ano passado, é que só tem um dia de corrida, na Clássica Aldeias do Xisto.

Com um pelotão internacional com menos estrelas, será interessante ver se haverá equipas portuguesas com mais ambição, do que apenas ganhar rodagem para a restante temporada. Referência para Frederico Figueiredo (Efapel) e Tiago Antunes (Tavfer-Measindot-Mortágua) que começaram muito bem 2021.

Além das nove portuguesas, há ainda a americana Hagens Berman Axeon, que no domingo venceu a Clássica da Arrábida, com Sean Quinn e conta com dois jovens ciclistas lusos: Pedro Andrade e Diogo Barbosa. São dois atletas com cujos apelidos não enganam: o primeiro é filho de Joaquim Andrade e o segundo de Cândido Barbosa. Estão numa equipa que já colocou Ruben Guerreiro, os gémeos Oliveira, João Almeida e André Carvalho no World Tour.

Pode não ser a Volta ao Algarve de outras temporadas, mas continua a ter um bom pelotão, que lhe ajuda a manter-se como das melhores corridas da ProSeries (segundo escalão) e interesse não irá certamente faltar. E uma coisa é certa: haverá um novo vencedor em 2021.

1ª etapa: Lagos-Portimão (189,5 quilómetros)

Apenas uma terceira categoria como principal dificuldade, para decidir o primeiro dono da camisola da montanha. Lagos é desta feita o ponto de partida, mas apesar da inversão de papéis das duas cidades algarvias, o resultado deverá ser o mesmo: sprint. A etapa arranca às 12h40 (partida simbólica) e a chegada está prevista para depois das 17 horas.

De recordar que não é permitido público na partida e na chegada durante os cinco dias de prova.


NOTA: Por motivos profissionais, este ano não será possível fazer o acompanhamento da Volta ao Algarve como aconteceu em edições recentes. Ainda assim, devido à paixão pelo ciclismo e por esta corrida será feito o possível para acompanhar todas as incidências e, claro, escrever. Em breve será possível retomar um pouco a normalidade também no Volta ao Ciclismo. Agradeço a compreensão e o continuo apoio para continuar este projecto.

Clique na imagem para ver a lista de inscritos.