29 de fevereiro de 2020

Tiago Antunes à procura de relançar a carreira na Efapel

Considerado um dos melhores jovens da nova geração em Portugal, a fase de sub-23 de Tiago Antunes ficou marcada por alguma instabilidade, com constantes mudanças de equipa e, em 2019, a falta melhores de resultados. O próprio admitiu que o ano passado não correu como desejaria, mas não desanimou. Optou por regressar a Portugal de forma a relançar a sua carreira para, no futuro próximo, dar novamente o salto para uma equipa estrangeira de qualidade.

A Efapel abriu as portas a Tiago Antunes, que assegurou não sentir qualquer frustração por não ter continuado lá por fora. Muito pelo contrário. Está motivado para alcançar bons resultados, como já ficou bem claro na Volta ao Algarve, quando tentou vencer a classificação da montanha. Mas o ciclista também está concentrado nas sua funções a pensar na equipa e deixou a garantia que a Efapel pode fazer frente à rival W52-FC Porto e conquistar novamente a Volta a Portugal.

"Encarei este regresso [a Portugal] com bons olhos e como uma oportunidade que me foi dada. Vou tentar fazer tudo para que, em vez de ser um passo atrás, serem dois passos à frente no próximo ano. É isso que espero desta experiência", afirmou ao Volta ao Ciclismo. "O ano passado não correu de todo como estava à espera e não obtive os resultados que queria. Decidi tentar relançar a minha carreira e achei que, correndo perto de casa, da família, teria mais oportunidades e sentir-me-ia melhor. Talvez seja melhor fazer um ano aqui e tentar obter resultados e depois pensar em dar o salto novamente. Sou jovem, tenho tempo", acrescentou.

Tiago Antunes começou a sua etapa como sub-23 na Sicasal-Constantinos, mas as suas exibições levariam o ciclista até Espanha, assinando pela Aldro Team de Manolo Saiz. Em 2018 mudou-se para o Centro Mundial de Ciclismo da UCI, contudo, o que parecia ao início ser uma oportunidade de ouro, acabou por ficar muito aquém do esperado. Ao perceber que afinal não teria acesso às corridas que lhe tinham sido apresentadas - a equipa não teria acesso directo, mas teria de esperar por convite - Tiago regressou à Aldro. Não ficaria muito tempo, pois a SEG Racing Academy propôs-lhe um estágio. Correu bem e Antunes ficou numa das melhores estruturas de sub-23 em 2019.


"A equipa está muito forte, o ambiente é fantástico e espero que possamos vencer a Volta a Portugal"

"Na época passado estive numa equipa de grande nível e a prova disso é que seis dos meus colegas estão no World Tour. Eu tenho noção que tenho qualidade e que sou bom, mas sei que na equipa onde estava havia ciclistas com muito mais qualidade", disse. Para o ciclista é importante encontrar alguma tranquilidade, depois de três anos de muitas mudanças: "Correr lá fora não é fácil. Passamos muito tempo longe da família e acho que aqui, estando mais perto das pessoas que me apoiam, tenho outra tranquilidade. A Efapel é das equipas com mais história e com mais estabilidade em termos de projecto. Acho que vai ser uma grande experiência."

Aos 22 anos (faz 23 a 9 de Abril), Tiago Antunes foi um dos reforços da Efapel, que em 2020 não se poupou na contratação de ciclistas. Tiago Machado, António Carvalho, César Fonte, Luís Mendonça, o colombiano Nicolas Saenz e o espanhol Gerard Armillas transformaram quase por completo o núcleo da equipa, que mantém Joni Brandão como líder e Sérgio Paulinho como importante voz de comando. Rafael Silva e Pedro Paulinho foram os outros dois "sobreviventes" de 2019, enquanto Diogo Almeida é um jovem de 18 anos que estará concentrado em adaptar-se à nova realidade como sub-23.

"A equipa está muito forte, o ambiente é fantástico e espero que possamos vencer a Volta a Portugal", salientou Tiago Antunes, que acredita que este grupo liderado por Rúben Pereira pode derrotar a W52-FC Porto. Apesar de querer estar presente na Volta, Antunes não esconde que pretende agarrar todas as oportunidades que lhe forem dadas durante a temporada: "Tenho corridas no calendário como o Troféu Joaquim Agostinho e a Volta às Astúrias, em que terei liberdade. Vou aproveitar."

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27 de fevereiro de 2020

O nome Euskaltel-Euskadi está de volta

© Fundación Euskadi
A sensação que fica é que a equipa está finalmente completa! A Euskaltel-Euskadi está mesmo de volta. Primeiro foi o regresso do projecto que trouxe à estrada as populares camisolas laranjas, mas agora também o nome é recuperado, com a Euskaltel a juntar-se à Fundação Euskadi, sete anos depois da equipa ter terminado. Mais um passo rumo ao próximo objectivo: estar novamente no World Tour.

Desde que surgiu no final dos anos 90 que a Euskaltel-Euskadi conseguiu o seu lugar na história do ciclismo. Não foi apenas pelos resultados - vitórias em etapas nas grandes voltas, segundo lugar no Tour com Samuel Sánchez, que foi ainda campeão olímpico -, mas muito pelas sua maneira de estar na modalidade. Primeiro optava por ter ciclistas oriundos do País Basco, ou com raízes naquela região. Segundo, a Euskaltel-Euskadi tinha uma forma de competir que era praticamente impossível não gostar. Os seus corredores atacavam, davam espectáculo, aquelas camisolas laranjas raramente passavam despercebidas. Pela equipa passaram alguns ciclistas que ganhariam o seu espaço no ciclismo espanhol e mundial e entre os últimos quando a equipa terminou estava Mikel Landa.

Numa altura em que as já era difícil esconder as dificuldades em manter a equipa na estrada, a Euskaltel-Euskadi abriu as portas a estrangeiros sem ligações ao País Basco. O português Ricardo Mestre teve a sua oportunidade ao mais alto nível nesta formação, mas foi uma experiência curta, pois foi precisamente no ano que ditou o final da estrutura basca. Mas influência da equipa no ciclismo ainda hoje está bem presente. Os irmãos Izagirre (Astana), Pello Bilbao (Bahrain-Merida), o veterano Mikel Nieve (Mitchelton-Scott), continuam a competir. Contudo, Landa acaba por ser a principal referência e foi um dos que decidiu recuperar o projecto basco de ciclismo.

O renascimento deu-se em 2018, com a subida ao segundo escalão a dar-se esta temporada. Ainda recentemente a Fundación-Orbea esteve na Volta ao Algarve e no ano passado passou pela Volta a Portugal, ainda como equipa Continental. E foi uma das melhores formações da prova, fazendo recordar os bons velhos tempos de ciclistas que não têm receio de arriscar para ganhar, animando e muito as corridas. E animaram e muito a Volta.

De vez em quando lá escapava numa conversa o nome Euskaltel-Euskadi em vez de Fundación Euskadi, ou este ano, Fundación-Orbea. Os anos passaram, mas ver aquelas camisolas laranjas sempre trouxe à memória a equipa basca na sua era de sucesso na primeira década de 2000. A partir de Abril já pode escapar à vontade. O novo/velho nome será estreado na Volta ao País Basco, pois claro, que realiza-se entre 6 e 11 de Abril. Falta apenas a autorização da UCI, que já terá recebido o pedido de alteração.

Xabier Iturbe, presidente da empresa de telecomunicações, anunciou que o acordo é por quatro anos e já aponta a uma presença na Vuelta, esperando que seja possível receber um convite para a grande volta. "Queremos repetir a união de sucesso e trazer de volta o entusiasmo que gerava em todos os fãs", afirmou o responsável.

Para Landa, o sonho sempre passou por recuperar tudo o que era a Euskaltel-Euskadi, incluindo o nome. Agora quer continuar o projecto rumo ao World Tour e fica já um desejo: "Oxalá um dia me chamem para vir correr aqui." Mikel Landa tem 30 anos e nos próximos dois estará na Bahrain-Merida. Nunca foi de ficar muito tempo numa equipa e é de suspeitar (e muito) que não será na actual que irá ficar até ao final da carreira. Em Espanha já se fala de um Landa a fazer uma Volta a França com as cores da Euskaltel-Euskadi.

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26 de fevereiro de 2020

"Foi uma semana muito importante no Algarve"

Foi uma semana de intenso trabalho no Algarve para Nils Politt. Além da corrida, o alemão dedicou-se a fazer quilómetros, a pensar nas clássicas que se aproximam. Há um ano, Politt foi dos melhores ciclistas nesta fase da temporada, mas faltou-lhe uma vitória. Porém, ficar em segundo no Paris-Roubaix não foi razão para desanimar. Pelo contrário. Mais do que nunca, o ciclista acredita que pode ganhar, realçando que na Israel Start-Up Nation há um estado de espírito diferente daquele que existia na Katusha-Alpecin.

Depois de arrancar a sua época nas provas de um dia espanholas, Politt viajou até Portugal. No sul do país, ficou bem patente a sua dedicação em apresentar-se forte nas clássicas, com a primeira, Omloop Het Nieuwsblad, a realizar-se já este sábado. O alemão, de 25 anos, chegou a optar por pedalar do hotel em Portimão para a partida e depois de cortar a meta, regressou novamente na sua bicicleta. Fez isso, por exemplo, no segundo dia da Volta ao Algarve, quando o pelotão partiu de Sagres e terminou no Alto da Fóia. Além dos 183,9 quilómetros da etapa, o alemão fez mais cerca de 88 por abdicar do conforto do autocarro da equipa.

"Foi uma semana muito importante no Algarve. Penso que o trabalho ficou feito. Para evoluir [fisicamente] esta semana foi muito boa. Fiquei muito satisfeito nas etapas, mas também no contra-relógio. Saio daqui confiante para as próximas semanas", referiu Politt ao Volta ao Ciclismo, realçando como estava satisfeito com o seu tempo no contra-relógio, no qual foi nono, a 47 segundos de Remco Evenepoel (Deceuninck-QuickStep). O ciclista elogiou a corrida algarvia, considerando que as tiradas são boas, tanto por haver algumas com subidas e outras com uma quilometragem maior. E claro, há um pormenor que agrada a todos: "Está sempre bom tempo aqui!"

Para Politt, aproveitar o sol e as temperaturas bem amenas que marcaram a semana passada no Algarve, significou estar de olhos postos nos grandes objectivos que se aproximam. Porém, salientou que não tem intenção de se apresentar a 100% já este fim-de-semana, ou depois no Paris-Nice, pois quer apresentar-se no seu melhor daqui a um mês, quando arrancar o principal bloco de clássicas, como o monumento Milano-Sanremo, E3 BinckBank, Através da Flandres e claro, os dois monumentos a que mais aponta: Volta a Flandres e Paris-Roubaix. "Sinto-me muito, muito bem", garantiu.


"Os ciclistas estão motivados para ajudarem-se uns aos outros e isso faltou um pouco nos últimos dois anos na Katusha"

Em 2019, Politt esteve perto de surpreender em Paris-Roubaix. Foi com Philippe Gilbert até ao velódromo, onde acabou por ser batido pelo belga. O alemão não esconde que fica sempre alguma frustração, mas realçou que também passou a acreditar ainda mais que pode vencer. "Eu quero ganhar o Paris-Roubaix. Não sei se será este ano porque é muito difícil, mas sei que o que fiz nas clássicas no ano passado foi muito bom e espero repetir", afirmou. Contudo, não quer criar demasiada expectativa: "Não vou colocar muita pressão sobre mim mesmo. Sei que estou forte e que vou dar o meu melhor."

Depois de uma primeira fase de temporada em 2019 de muita qualidade - com destaque, além do segundo lugar em Roubaix, para o quinto na Volta a Flandres na semana anterior e o sexto na E3 BinckBank - Politt viveu uma situação mais tensa quando foi informado que a Katusha-Alpecin não tinha o futuro garantido. Era um dos ciclistas com contrato para 2020, mas tal não dava garantias com a saída de patrocinadores.

No entanto, o alemão disse que estava tranquilo. "Estava confiante que o assunto se ia resolver. Eu sabia os resultados que tinha tido. Sabia que ia encontrar uma equipa. Mas claro que para todos os membros do staff e para os ciclistas foi muito difícil. Não foi bom e espero não passar por nada igual na carreira. Mas tudo acabou bem e estou entusiasmado por competir esta época pela Israel Start-Up Nation", disse.

Na equipa que subiu de escalão ao comprar a licença da Katusha-Alpecin, ficando com maioria dos ciclistas que tinham contrato para esta temporada, vive-se um ambiente diferente da formação anterior: "Os ciclistas estão motivados para ajudarem-se uns aos outros e isso faltou um pouco nos últimos dois anos na Katusha. Todos aqui estão felizes. Essa felicidade está a ser motivadora para todos e facilita a nossa vida." Para Politt, isso também significa estar satisfeito com o apoio que acredita que terá dos seus companheiros nas corridas que se aproximam: "Tenho o apoio necessário. Estamos todos desejosos que comece a época de clássicas. Estão todos numa grande forma."

Recordou como o início de temporada está a ser positivo para a estrutura israelita, com duas vitórias conquistadas (uma etapa na Volta a San Juan, por Rudy Barbier, e na Volta a Antalya, por Mihkel Räim), esperando que André Greipel e Ben Hermans recuperem rapidamente das respectivas lesões. "Estamos a mostrar que somos fortes e isso é bom ver, porque também ajudar a fortalecer ainda mais a equipa", disse. Politt acredita que durante 2020 irá ver-se a Israel Start-Up Nation a lutar por bons resultados, reiterando a qualidade dos ciclistas que estão na equipa. "Vamos ver a Israel Start-Up Nation fazer umas boas corridas", assegurou.

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24 de fevereiro de 2020

Milano-Sanremo e Tirreno-Adriatico em risco. Volta a Itália preocupa

© Milano-Sanremo
As corridas italianas enfrentam o risco de cancelamento. O aumento de casos positivos de coronavírus no país já levou a que vários eventos tivessem esse destino, desde jogos de futebol (adiados) até ao Carnaval de Veneza que foi forçado a terminar no domingo e não na terça-feira, como é normal. A situação está a preocupar a RCS Sport, um dos maiores organizadores de corridas de ciclismo. O seu responsável admite que está preocupado, para já, com o Tirreno-Adriatico e com a Milano-Sanremo. Esta última prova tem parte do seu percurso a passar por uma das regiões que está a registar vários casos deste vírus. A Volta a Itália preocupa, mas só se disputa em Maio.

Com as autoridades italianas a tentarem controlar a situação, numa altura em que já foram confirmadas sete mortes, o director da RCS Sport aguarda por informações por parte do governo para tomar uma decisão, esperando que seja possível realizar as provas. "As preocupações iniciais que temos são com o Tirreno-Adriatico e, sobretudo, com a Milano-Sanremo, que estão programadas para daqui a um mês. Não há plano B. Se o governo decidir suspender os eventos desportivos em Milão e Lombardia teremos de cancelar as corridas", afirmou Mauro Vegni ao Corriere della Sera.

O responsável está actualmente na Volta aos Emirados Árabes Unidos e olha para o que está a acontecer no norte de Itália com alguma apreensão. Salientou que a Strade Bianche (7 de Março) não está em causa, por enquanto, pois a região da Toscana não está a ser afectada. O Tirreno-Adriatico está agendado para entre 11 e 17 de Março, com a Milano-Sanremo, marcada para dia 21. Milão recebe a partida da corrida e é uma das cidades com casos de coronavírus reportados.

"Não faz sentido alterar o início 20 ou 50 quilómetros. Esse percurso existe há 110 anos e não se pode improvisar em 20 dias. Perderia a sua essência", salientou Vegni. A primeira edição do monumento realizou-se em 1907 e só não se disputou em três anos, que coincidiram com a Primeira e Segunda Guerra Mundial: 1916, 1944 e 1945. Há umas semanas, a passagem pelo Poggio esteve em risco devido aos danos provocados pelo mau tempo. Esta situação acabou por ser resolvida a tempo de evitar que a subida fosse retirada do percurso.

Quanto ao Giro, Mauro Vegni mantém um discurso cauteloso, esperando que os casos possam começar a diminuir. A primeira grande volta do ano arranca a 9 de Maio em Budapeste, ficando três dias na Hungria. Dia 12 o pelotão estará em Itália. "Espero que o pico do coronavírus diminua. Por agora não posso dizer nada sobre a Volta a Itália, mas é claro que, se o alarme não diminuir, existe o risco da corrida não poder continuar", referiu Vegni.

Os primeiros casos de coronavírus foram detectados em Wuhan, na China e, dada a propagação, a Volta a Hainan foi adiada. Entretanto, a UCI decidiu adiar também as provas que estava agendadas para aquele país nos meses de Abril e Maio.

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23 de fevereiro de 2020

Fenómeno belga deixa marca na Volta ao Algarve

© João Calado/Volta ao Algarve
"Parabéns rapaz!" Remco Evenepoel certamente que não percebeu ou sequer ouviu as palavras de uma senhora cuja idade não a demoveu de estar umas horas à espera de saber quem seria o vencedor da Volta ao Algarve. Enquanto o belga se dirigia para o pódio, muitos foram os que o chamaram, aplaudiram, tentaram a fotografia, num ambiente espectacular em Lagoa. Todos os presentes tiveram a oportunidade de assistir a uma vitória de alguém destinado a grandes conquistas. E sim, um dia há-de ter significado dizer: "Eu vi o Evenepoel ganhar no Algarve". 

Se Evenepoel é visto na equipa como um fenómeno que aparece a cada 20 anos, então estamos perante um daqueles que marcará profundamente o ciclismo e que assim junta o seu nome a uma lista cada vez mais de luxo de vencedores da Algarvia. E as suas exibições são de alguém que pode evoluir ainda mais. Pode mesmo ser impossível não herdar a alcunha de "Canibal" do mítico Eddy Merckx.

Valeu a pena aguardar pelo "rapaz" em Lagoa. Assistiu-se a um contra-relógio canhão de Evenepoel, que derrotou o bicampeão do mundo da especialidade, Rohan Dennis. Mas é algo que vamos começar a ver cada vez mais. Este fenómeno da Deceuninck-QuickStep tem 20 anos, bate os melhores ao ataque em clássicas, ao ataque na montanha e também se pode dizer ao ataque no contra-relógio. Afinal, se se quer ser o melhor, há que vencer os melhores. Evenepoel é de topo, um perfeccionista, algo tímido na abordagem com os adeptos e sempre focado no que quer alcançar.

Este foi o melhor tempo neste percurso de Lagoa nas três últimas edição em que esta etapa ali se realizou, batendo o de Geraint Thomas em 2018 por dois segundos. 24:07 minutos para cumprir 20,3 exigentes quilómetros. Dennis (Ineos) o especialista-mor do momento ficou a dez segundos, Stefan Küng (Groupama-FDJ), vencedor há um ano em Lagoa, fez mais 19. Evenepoel é o campeão da Europa e ser o do mundo é apenas mais um título que se espera que um dia venha a conquistar.

Durante uns anos a Algarvia viu ciclistas consagrados vencerem. Geraint Thomas, Tony Martin, Richie Porte, Alberto Contador são exemplo disso. Agora, esta corrida está a ser um dos palcos do aparecimento da nova geração. Em 2019, Tadej Pogacar (UAE Team Emirates) começou no Algarve um trajecto de sucesso, agora Evenepoel - o mais novo a conquistar a Algarvia - está a continuar o seu, que também teve os primeiros sucessos na época passada. Dez vitórias como profissional, três nestes cinco dias, pois além do contra-relógio e da geral, Evenepoel venceu na Fóia. Mas há que realçar que vestiu ainda a camisola da juventude.

Duas corridas em 2020, duas vitórias. Em San Juan mostrou que não sabe correr sem ser para ganhar. Há um ano era Julian Alaphilippe que ia somando triunfos, agora é Evenepoel que vai tendo protagonismo na Deceuninck-QuickStep neste arranque de temporada. A equipa vai levar o belga ao Giro para o testar pela primeira vez numa grande. O ciclista já vai dizendo que estará em Itália para lutar por a única coisa que sabe: vitórias.

Mas a ascensão de Evenepoel, assim como a perspectiva que, mais cedo ou mais tarde, Alaphilippe poderá querer atacar a geral da Volta a França - principalmente depois de na edição passada ter andado tanto tempo de amarelo - levanta uma questão: vai a Deceuninck-QuickStep alterar um pouco a sua filosofia para apoiar estes dois ciclistas na geral? Para já, as clássicas e sprints continuam a ser o objectivo, com as gerais de corridas por etapas de uma semana a começarem a ganhar importância, com boa resposta dos ciclistas que têm de trabalhar. Para pensar nas provas de três semanas, será preciso mais.

Agora é tempo de aproveitar e ver as exibições de Evenepoel, começando a imaginar o que poderá ser quando estiver pronto para defrontar Egan Bernal (Ineos) e Tadej Pogacar, por exemplo. Quis ser futebolista, até esteve na formação do PSV e foi internacional nas camadas jovens, mas o ciclismo foi a escolha de um atleta que vai marcar uma era.

João Almeida em destaque, Rui Costa falhou pódio

Evenepoel ganhou tendo a seu lado outro jovem ciclista, que foi essencial no trabalho realizado em todas as etapas em linha. João Almeida chegou ao World Tour e em dois meses já convence na Deceuninck-QuickStep. Protegeu os líderes (incluiu-se Fabio Jakobsen no sprints), respondeu a ataques, impôs ritmo... Um gregário de luxo, cujo trabalho foi reconhecido por todos na equipa. O campeão nacional de sub-23 de fundo e contra-relógio aproveitou para em Lagoa entrar no top dez (nono a 1:40 minutos do companheiro), ficando em segundo na juventude.

Rui Costa terminou fora do pódio. Uma pequena surpresa, com o ciclista da UAE Team Emirates a não conseguir ficar à frente de Miguel Ángel López. O português ficou a 53 segundos de Evenepoel, enquanto o colombiano fez um contra-relógio bem melhor do que o esperado, somando mais 38 segundos. Bons sinais para quem vai estrear-se no Tour. Com Daniel Martin (Israel Start-Up Nation) a ser um autêntico descalabro, López fechou terceiro, atrás de Max Schachmann (Bora-Hansgrohe). Martin deu o que se tem de chamar de trambolhão na geral: passou de segundo, com o mesmo tempo de Evenepoel após a etapa do Malhão, para 11º a 1:59 minutos. Sim, o belga quando que ultrapassou o irlandês no contra-relógio.

Enquanto Rui Costa foi o melhor português (quarto, a 56 segundos), Amaro Antunes foi o melhor entre as equipas nacional. O corredor da W52-FC Porto segurou o top dez por dois segundos sobre Daniel Martin e a 1:57 de Evenepoel. Tal como tinha ficado definido ontem, Dries de Bondt (Alpecin-Fenix) foi o rei da montanha (camisola azul) e Fabio Jakobsen ficou com a camisola vermelha dos pontos. Apesar de tantas vitórias no Algarve - Jakobsen venceu o sprint em Lagos - a Deceuninck-QuickStep ainda assim não cumpriu todos os objectivos. Queria ganhar todas as etapas!

De referir ainda a Ineos. Individualmente foi uma desilusão, pois nem Geraint Thomas, nem Michal Kwiatkowski estiveram ao nível de anos anteriores, sendo que ambos poderiam ganhar pela terceira vez a corrida. Rohan Dennis só apareceu no contra-relógio. Porém, a equipa fez o suficiente para conquistar a classificação colectiva, com menos 25 segundos que a UAE Team Emirates de Rui Costa e Ivo Oliveira.

A 46ª edição da Volta ao Algarve Cofidis (este ano ganhou um naming) finalizou com espectáculo e o único problema... falta um ano para a próxima!

Classificação via FirstCycling.




22 de fevereiro de 2020

"Não há muitos contra-relógios ao longo do ano e, especialmente, bons como este"

© João Calado/Volta ao Algarve
Este ano a Volta ao Algarve recuperou a versão de terminar em contra-relógio, mas mantém-se em Lagoa, que vai assim para o terceiro ano consecutivo a receber alguns dos melhores especialistas. O vencedor do ano passado está presente e com a ambição de ganhar mais uma vez, num contra-relógio que vê como perfeito tanto pelo percurso, como pelos adversários, ainda mais tendo em conta que se está numa fase tão inicial da época. Stefan Küng quer terminar a sua primeira corrida de 2020 com uma vitória e assim lançar uma temporada em que é impossível não pensar nos Jogos Olímpicos, sem esquecer que, mais do que nunca, toda a Groupama-FDJ acredita ser possível conquistar a Volta a França.

"Não há muitos contra-relógios ao longo do ano e, especialmente, bons como este. Ganhei no ano passado e conheço muito bem, pois já o fiz duas vezes. É um bom contra-relógio, de 20 quilómetros. Não é muito curto, não é muito longo, é perfeito para esta corrida por etapas", começou por dizer o ciclista suíço ao Volta ao Ciclismo. E explicou as características e como se deve enfrentar a etapa deste domingo em Lagoa: "É muito diversificado. Tem zonas rápidas, mas também zonas técnicas e algum sobe e desce. É um contra-relógio que me assenta bem, naturalmente!"

E continuou: "Acho que temos de ter muito cuidado com a gestão de esforço. Há umas subidas onde temos de ir o mais forte possível, mas não podemos exagerar porque corremos o risco de 'estourar'. Pode-se perder tempo crucial. Temos também a fase plana, mas se medirmos bem o nosso esforço podemos puxar sempre. É um contra-relógio que nunca dá para recuperar. Temos de estar sempre focados. São poucos segundos que separam os ciclistas no final. Temos de ir no máximo desde o princípio."

Dada a receita de como se enfrenta os 20,3 quilómetros da última etapa da Algarvia, Küng (26 anos) realçou como é positivo poder ter tão cedo na época um primeiro teste frente a alguns dos melhores especialistas. No Algarve estão presentes o bicampeão do mundo Rohan Dennis (Ineos), o campeão europeu Remco Evenepoel (Deceuninck-QuickStep) e o tricampeão mundial de sub-23 Mikkel Bjerg (UAE Team Emirates), só para numerar três, além de Küng, tricampeão suíço da especialidade.

"É precisamente o papel deste contra-relógio no Algarve, para testar, para perceber se o que se fez durante o Inverno foi o mais correcto"


"Não vai ser fácil ganhar, mas vou lutar por isso. Treinei muito durante o Inverno. Será um contra-relógio importante para se perceber como se está [fisicamente], se se fez o trabalho de casa durante o Inverno", salientou. Na sua primeira participação, em 2018, Küng foi terceiro, a 19 segundos de Geraint Thomas. O galês da Ineos também está na Algarvia. Há um ano, apenas dois segundos separaram Küng - desta feita o mais forte - da surpresa da prova, Soren Kragh Andersen (Sunweb), que não viajou até ao Algarve este ano.

O suíço considera também relevante o contra-relógio ser a última etapa e não a terceira, como aconteceu em edições recentes. Além do desgaste - ainda este sábado houve duas subidas ao Alto do Malhão - haverá também quem esteja a pensar muito mais na geral, enquanto Küng e Dennis, por exemplo, têm o contra-relógio como objectivo primordial da Volta ao Algarve. Evenepoel está com a camisola amarela e é daqueles ciclistas que quer sempre ganhar tudo.

Num ano sempre especial de Jogos Olímpicos, Küng não esconde que vai pensando em Tóquio, ainda que até 29 de Julho tenha muito com que se preocupar. "Isto agora vai ser muito rápido. Vamos começar as clássicas da Primavera, posteriormente haverá um tempo para ultimar pormenores e depois vem o Tour e logo a seguir Tóquio. É muito importante que se trabalhe as pequenas coisas durante o Inverno, para não se começar a temporada a pensar que há coisas por fazer. Se se começar a época com tudo preparado, então é prefeito. É precisamente o papel deste contra-relógio no Algarve, para testar, para perceber se o que se fez durante o Inverno foi o mais correcto", referiu.

Sobre o desafiante percurso de Tóquio, de 44,2 quilómetros com muito sobe e desce, Küng realça como "será muito difícil e exigente", além de ter em conta que estará calor. "Vai ser preciso perceber como me sentirei quando lá chegar", disse, sabendo que se fizer a Volta a França até ao fim, terá apenas seis dias para recuperar da grande volta e de uma longa viagem até ao Oriente.

E no Tour não haverá tempo para relaxar, pois a Groupama-FDJ está cada vez mais crente que pode levar Thibaut Pinot à camisola amarela e assim o país ver novamente um francês a ganhar. Tal não acontece desde 1985, quando Bernard Hinault venceu. "Acho que especialmente o Thibaut Pinot viu no ano passado que podia ganhar. Percebemos que estando em boa forma, podemos lutar contra os melhores. Fizemos alguns erros. Por exemplo, perdemos muito tempo com os ventos cruzados, mas vamos aproveitar algumas das corridas por etapas até ao Tour para trabalhar estas coisas", afirmou.

Mas nem tudo depende da boa forma. Küng destacou como Pinot tinha estado fortíssimo nos Pirenéus, tendo vencido no mítico Tourmalet e depois, quando chegou aos Alpes, abandonou devido a uma lesão. "Como vimos em 2019, tudo muda muito rápido. Passa-se de praticamente um favorito, a estar fora da corrida. Isto é o ciclismo! Vamos fazer tudo para nos preparar, mas no final também precisamos de um pouco de sorte. Mas sim, acreditamos mais do que nunca", realçou.

Perfil do contra-relógio de Lagoa




Malhão deixa tudo por decidir mas a pender para Evenepoel

Se há algo que muito se tem ouvido pelo Algarve nos últimos dias é "isto até parece o Tour". Curiosamente, nem Miguel Ángel López, o vencedor no Malhão, nem Remco Evenepoel, o camisola amarela, estiveram na Volta a França (ainda), mas entendamos a expressão como o estarmos perante um pelotão que não fica a dever muito a grandes voltas. A sequência de nomes que se ouviu no Malhão numa fase de ataques, pode enganar o mais distraído, pensando que está a assistir uma grande corrida no estrangeiro. Mas não. A grande corrida, com os grandes nomes e um grande espectáculo está aqui bem perto. Cada vez mais o Algarve não só é palco das principais estrelas - mais experientes ou mais recentes -, como as exibições são emocionantes e justificam em pleno as muitas horas que tantas e tantas pessoas passaram nos 2700 metros do Malhão, por exemplo.

Com a camisola amarela em causa e distâncias de tempo muito curtas, Remco Evenepoel e a Deceuninck-QuickStep sabiam que era dia para controlar e defender... e eventualmente atacar, pois sabe-se que não é fácil segurar esse ímpeto natural do belga. Com o contra-relógio ainda pela frente - algo que não acontecia desde 2013, quando venceu Tony Martin - Evenepoel tem vantagem sobre a concorrência mais próxima, já que outros especialistas e também fortes na montanha, estão fora da luta pela amarela. Casos de Geraint Thomas (Ineos), para dizer um nome.

No Malhão era dia para os adversários tentarem ganhar segundos preciosos, para que os 20,3 quilómetros de Lagoa este domingo não sejam apenas os de consagração para Evenepoel. Tentativas não faltaram e até Vincenzo Nibali (Trek-Segafredo) resolveu aparecer em destaque, mas o ataque não passou de um teste que fez à sua própria forma, depois de dois estágios em altitude.

Daniel Martin (Israel Start-Up Nation) foi dos mais activos, com Rui Costa (UAE Team Emirates) a comprovar o bom arranque de temporada. Max Schachmann (Bora-Hansgrohe) esteve sempre muito atento ao camisola amarela, mas foi Miguel Ángel López que conseguiu definitivamente quebrar um pouco a resistência do grupo de candidatos. Um pouco, porque as diferenças entre o primeiro e quinto (Rui Costa) ficaram-se pelos cinco segundos.

Para o colombiano da Astana, o objectivo do dia até passou mais por vencer a etapa, pois ao não conseguir ser o mais forte na Fóia, López sabia que não seria no Malhão que se colocaria numa posição de ganhar a corrida. Só está a um segundo de Evenepoel, mas seria uma enorme surpresa se acabasse a Algarvia de amarelo. De referir que o Super-Homem do ciclismo está a preparar-se para fazer a estreia precisamente na Volta a França.

Em teoria, a emoção para o contra-relógio é muita. Martin e Schachmann têm o mesmo tempo que o belga da Deceuninck-QuickStep, Rui Costa está a três segundos. Porém, na prática, a vantagem está do lado do prodígio belga de 20 anos, que já é uma figura no esforço individual. Só não vai exibir a camisola de campeão da Europa, porque terá de vestir a amarela de líder da Volta ao Algarve. Além de ser candidato a vencer a prova, também já era um dos favoritos para vencer a etapa.

Daniel Martin tem dificuldades nesta especialidade, Rui Costa sabe defender-se e certamente que irá a fundo para chegar ao pódio, mas o favoritismo está quase todo do lado de Evenepoel. Quase porque Schachmann (26 anos) tem vindo a trabalhar o seu contra-relógio e a vitória nessa etapa da Volta ao País Basco em 2019 - corrida que acabaria por conquistar - foi um sinal da sua melhoria. Mas foi uma tirada de 11,3 quilómetros.

Evenepoel tem tudo para conquistar a 46ª edição e assim suceder a outro jovem talento, Tadej Pogacar (UAE Team Emirates), mas como o ciclismo não se faz de certezas antecipadas, o belga não poderá facilitar. Quem já pode relaxar um pouco é o companheiro Fabio Jakobsen, que tem a camisola vermelha dos pontos garantida.

Também a azul da montanha está entregue, com o belga Dries de Bondt a intrometer-se na fuga na etapa do Malhão para lutar por esta classificação, que teve um pretendente português. Tiago Antunes, da Efapel, bem tentou, mas será o ciclista da Alpecin-Fenix a subir ao pódio final em Lagoa. Mathieu van der Poel pode ter vindo ao Algarve para começar a ganhar ritmo para as clássicas, mas a sua equipa acaba por mostrar que tem mais ciclistas com ambição de aproveitar as oportunidades que lhes forem dadas.

Algarvios da W52-FC Porto mostraram-se

Um problema mecânico na etapa da Fóia afastou João Rodrigues de repetir a proeza de ficar no top dez da corrida, tal como em 2019. O ciclista da W52-FC Porto tentou no Malhão ter protagonismo e na primeira passagem estava destacado do grupo da fuga. Mas com a qualidade de ciclistas que estava de olhos postos na vitória na Algarvia ou na etapa, o vencedor da Volta a Portugal acabou por ver o seu esforço não ser compensado.  Outro algarvio da equipa, Amaro Antunes, assumiu novamente o protagonismo numa subida onde viveu um dos grandes momentos da sua carreira, quando venceu no Malhão em 2017. Esteve sempre com os candidatos, quebrando um pouco nos metros finais. Ficou a 14 segundos (sétimo).

Quem também esteve muito bem foi Frederico Figueiredo (Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel). Depois do sétimo lugar na Fóia, terminou na 14ª posição no Malhão, a 14 segundos de Miguel Ángel López. Boas indicações do "senhor regularidade" do pelotão nacional, num ano em que assume sem discussão a liderança da equipa de Vidal Fitas.

Ao falar-se de portugueses, há que terminar com João Almeida. Mais um dia de trabalho essencial para Evenepoel, estando a revelar ser um aliado muito importante para o companheiro. Almeida está na sua primeira época no World Tour e as indicações começam a ser muito boas, ocupando a segunda posição na juventude que tem Evenepoel como líder, com 37 segundos de vantagem. Sem reconhecimento no pódio, certamente que não o faltará dentro da equipa quando este domingo a Volta ao Algarve terminar.

Almeida está à porta do top dez, sendo 12º a seis segundos do 10º, Frederico Figueiredo e até pode subir mais uns lugares. É campeão nacional de contra-relógio de sub-23 (e em linha), pelo que não é de afastar que consiga um lugar bem honroso e merecido.

5ª etapa: Lagoa-Lagoa (20,3 quilómetros)


Contra-relógio já conhecido, com algumas zonas técnicas e curtas, mas duras subidas que quebram o ritmo. O suíço Stefan Küng e o britânico Geraint Thomas venceram em 2019 e 2018, respectivamente.

Evenepoel é um dos favoritos, mas as atenções também se vão centrar muito em Rohan Dennis. O bicampeão do mundo nunca venceu um contra-relógio com a camisola do arco-íris vestida e tem estado muito discreto no Algarve. Será que poupou forças para Lagoa?

O primeiro a partir será David Livramento (Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel), às 13:04. O top dez vai para a estrada às 15:42, com dois minutos a separar os ciclistas, ou seja, Evenepoel, o último a sair, estará em acção às 16:00.

Classificação via FirstCycling.




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21 de fevereiro de 2020

Como se ganha no Malhão? Hugo Sabido explica

© Associação de Ciclismo do Algarve/Volta ao Algarve
Quando Amaro Antunes conquistou o Alto do Malhão em 2017, quebrou um longo jejum de vitórias portuguesas na marcante subida da Volta ao Algarve. O último havia sido João Cabreira em 2006, com Hugo Sabido a ter sido o rei do Malhão em 2005. Ambos conquistaram também a corrida. Na classificação geral, o jejum luso continua desde então. Amaro, um homem da casa, está novamente de baterias apontadas a uma subida que trata por tu. Sabido já terminou a carreira, mas recorda aquele 20 de Fevereiro como se estivesse a vivê-lo ou a ver todos os pormenores em imagens. E porque este sábado é dia de Malhão na quarta etapa da Algarvia, o antigo ciclista explicou também como fazer esta subida com os olhos postos na vitória.

Comecemos com um regresso ao passado. Primeiro o enquadramento. Hugo Sabido tinha trocado a equipa da Maia pela Paredes Rota dos Móveis-Beira Tâmega e, como recordou, o facto de ter o seu futuro para 2005 definido em Setembro, deu-lhe tranquilidade para começar a preparar a Algarvia em Novembro. Em 2004, Lance Armstrong tinha estado presente e a corrida portuguesa entrava numa fase em que atraía grandes nomes. Em 2005, o americano não veio, mas o pelotão contava com equipas do principal escalão. Sabido estava concentrado em lutar pela montanha, numa disputa com Fabian Wegmann (Gerolsteiner), mas no penúltimo dia, aconteceu algo um pouco insólito.

"Foi um ano atípico porque na etapa de véspera do Malhão muitos ciclistas foram eliminados ao chegarem fora do tempo máximo de controlo. Passávamos numa zona muito difícil, houve muitos ataques num pelotão que se tornou numa fuga numerosa, com cerca de 40 unidades. Depois ficou um grupo intermédio com cerca de 20 que se juntaram a nós na frente da corrida e os restantes chegaram fora do tempo limite. Foi uma controvérsia grande", explicou.

No dia do Malhão - última etapa -, um Hugo Sabido de 25 anos ocupava a 10ª posição, a 25 segundos do líder, Bernhard Eisel, então na Française des Jeux. "Estava cá a Discovery Channel, por exemplo, e colocou os homens todos na frente. Éramos três resistentes da minha equipa para o último dia, o que tacticamente deixou-nos um pouco na defensiva, tínhamos de esperar pela chegada no Malhão. Eu sabia da minha condição física, estava muito confiante", contou, com os companheiros de equipa a serem Virgílio Santos e José Rodrigues.

E continuou: "A aproximação ao Malhão é uma zona complexa, porque a estrada que antecede a subida final não é larga. Embora fosse um grupo mais restrito, a intenção era endurecer a corrida nos últimos 10 quilómetros, para que os atletas que estavam a disputar a geral chegassem com fadiga e para eu tentar fazer alguma coisa. Naqueles momentos sentimo-nos bem, mas não sabemos qual vai ser a reacção dos adversários."


© Associação de Ciclismo do Algarve/Volta ao Algarve
A acção final (não esquecendo que, tal como agora, subiu-se duas vezes o Malhão, com a segunda a coincidir com a meta): "Ao entrar na subida, um dos colegas já tinha feito o seu trabalho e o outro estava na frente do grupo. Deu o máximo e depois abriu. Houve um ataque na fase inicial do Héctor Guerra, da Liberty Seguros portuguesa. É uma fase muito íngreme, muito dura. Passado uns 500 metros alivia um pouco. Depois apanhamos uma recta que vai dar ao último quilómetro. Foi aí que desferi o ataque e passei o Héctor Guerra. Ganhei uma distância que me permitiu vencer a etapa e consequentemente a Volta ao Algarve."

Sabido cortou a meta no Alto do Malhão com 15 segundos de vantagem sobre José Luis Rubiera (Discovery Channel), com Guerra a cair para o quarto lugar, a 18 segundos. Eisel deu um trambolhão na geral e foi dos últimos, com Sabido a vestir a amarela. Stuart O'Grady (Cofidis, le Crédit par Téléphone) ficou 10 segundos e Rubiera a 20.

Os conselhos para subir o Malhão



"A abordagem inicial à subida é fundamental. Quando se vira aquela curva fechada à direita e se começa a subir, a colocação - se formos em grupo, por exemplo - dita muito o resultado. Depois também há os níveis de confiança. Se encararmos a subida como 'isto é muito duro, é muito inclinado, vai ser uma dificuldade imensa', será complicado. Mas se assumirmos essa fase inicial de modo positivo, a subida torna-se ligeiramente mais fácil do que é."

A parte mental é muito importante, segundo Hugo Sabido: "Temos de abordar aquela subida descontraídos, no sentido que não é a fase inicial que vai decidir [a etapa]. A subida é inclinada o suficiente para as diferenças de velocidade não serem muitas. Mesmo que um atleta desfira um ataque na fase inicial, ele um pouco mais à frente não vai continuar com o mesmo ritmo. Se uma pessoa continuar com o mesmo ritmo controlado, consegue-se progressivamente ir ao encontro do atleta, isto se ele não fizer um ataque forte."

Aqui podem entrar os potenciómetros, que permite um ciclista perceber melhor o ritmo a imprimir. Claro que depois é essencial a forma: "Temos de ter capacidade física, mas há que não entrar em stress. 'Atacou e vou já reagir', não! Há que ter sangue frio, pensar bem antes de reagir."

Há ainda que ter em conta que serão duas passagens naquela subida. Sabido recordou que em 2005, foram feitas algumas diferenças na primeira passagem. Porém, para este sábado, se a fuga estiver controlada pelos favoritos, é possível que seja feita a uma velocidade mais confortável e os ataques ficarão guardados para a segunda ascensão.

A esperança num português e a aposta num belga

Sabido, agora com 40 anos, considera ser muito difícil ver um português de uma das equipas nacionais vencer a geral da Volta ao Algarve, mas claro que olha para a forma física de Rui Costa com expectativa, não afastando que o ciclista da UAE Team Emirates possa discutir o primeiro lugar. Está a dois segundos de Remco Evenepoel (Deuceninck-QuickStep).

Quando no início do século XXI alguns dos grandes nomes do ciclismo mundial começaram a escolher a Algarvia, Sabido acreditou que era possível a corrida crescer muito e 15 anos depois o pelotão é simplesmente de luxo.

Para terminar, a aposta de Hugo Sabido para o Malhão, que este ano não irá coroar o vencedor da corrida (há contra-relógio em Lagoa no domingo): Remco Evenepoel (Deceuninck-QuickStep), escolha feita antes do belga vencer no Alto da Fóia.

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Cees Bol mantém senda holandesa nos sprints

Mais um sprinter holandês a vencer na Volta ao Algarve e em Tavira. Dylan Groenewegen (Jumbo-Visma) venceu nas últimas duas edições nesta cidade, mas este domínio dos Países Baixos estende-se ao sprint de Lagos, com Fabio Jakobsen (Deceuninck-QuickStep) a ganhar este ano e em 2019 e novamente Groenewegen em 2018. Quem entra agora para a lista é Cees Bol, um jovem que alimenta muitas expectativas na Sunweb, numa fase em que a equipa está em reestruturação depois da saída de Tom Dumoulin.

Bol está a fazer a sua estreia na época na Algarvia e em Lagos já tentou intrometer-se na luta pela vitória, sendo sexto. Desta feita, apesar da Deceuninck-QuickStep ter trabalhado muito durante a etapa mais longa da corrida (201,9 quilómetros, entre Faro e Tavira) e da Alpecin-Fenix ter colocado Sacha Modolo na discussão, foi Cees Bol que arrancou nos últimos 200 metros para deixar todos a vê-lo pelas costas. Numa chegada com uma ligeira inclinação, foi pura potência o que aplicou Bol na sua bicicleta, no alto dos seus 1,94 metros. Modolo e Jakobsen não são exactamente pequenos (1,80 e 1,81 respectivamente), mas a estatura de Bol e restante compleição física, impressionam.

E não é a primeira vez que este ciclista mostra o seu potencial. Na acidentada 
Danilith Nokere Koerse (uma queda marcou a fase final da corrida) e na sétima etapa da Volta à Califórnia na temporada passada, já se tinha visto que este é um corredor que pode seguir a linha de sucesso de sprinters holandeses. Venceu ainda na Volta à Noruega e em 2020 a sua responsabilidade vai aumentar. A Sunweb não vai apostar tão forte nas gerais, ainda que continue a ter corredores que vão procurar bons resultados nessas provas: Sam Oomen e Wilco Kelderman, por exemplo. Porém, a saída de Tom Domoulin obrigou a equipa a regressar um pouco às origens.

Bol vai repartir os sprints com Michael Matthews (sem esquecer Nikias Arndt), enquanto continuará a sua "formação" nas clássicas do pavé, assumindo que tem uma preferência especial pelo Paris-Roubaix. Para já tem a Kuurne-Bruxelles-Kuurne no seu calendário e será um candidato, ainda mais depois do que fez esta sexta-feira em Tavira.

"Os meus colegas foram excepcionais ao colocarem-me numa boa posição para o sprint. Não foi uma etapa stressante, antes pelo contrário, até deu para aproveitar o sol. É a minha primeira corrida do ano e vencer dá-me confiança para os próximos objectivos. Na próxima semana correrei a Kuurne-Bruxelles-Kurne e, por isso, ganhar aqui é um sinal de que me encontro bem", salientou o holandês.

Aos 24 anos, Bol não está a ter uma ascensão meteórica, mas desde cedo que o seu potencial chamou a atenção. Esteve na equipa de desenvolvimento da Rabobank, passando depois pela SEG Racing Academy, uma das melhores equipas mundiais de sub-23, somando algumas vitórias nos escalões de formação. Apesar de se mostrar um ciclista descontraído, é ambicioso e está preparado para ser um dos rostos desta Sunweb.

A equipa marca assim o ponto na Algarvia, onde já viu Oomen a vencer a classificação da juventude em 2018 e há um ano, Soren Kragh Andersen foi uma das figuras da corrida, ao ser segundo no contra-relógio de Lagoa, Malhão e geral.

Em Tavira cumpriu-se o final esperado, com uma estreia a vencer na Algarvia, depois e Remco Evenepoel o ter feito na Fóia. O ciclista da Deceuninck-QuickStep manteve a camisola amarela, com Max Schachmann (Bora-Hansgrohe) a não deixar respirar o belga, quando o Malhão se prepara para receber uma etapa que, desta feita, não irá decidir a corrida. Ainda falta o contra-relógio de Lagoa, no domingo. Evenepoel é ainda o líder da juventude e da montanha, enquanto Jakobsen veste a camisola vermelha dos pontos.

4ª etapa: Albufeira-Alto do Malhão (169,7 quilómetros)



Picota regressa ao percurso depois da primeira etapa (aos 60 quilómetros) e juntamente com Barranco do Velho (104) e Alte (132,2) serão as terceiras categorias que vão começar a testar as forças e estratégias dos candidatos. Depois seguem-se as habituais duas subidas ao Alto do Malhão (segunda categoria), na Serra do Caldeirão. Serão 2,5 quilómetros, com inclinação média de 9,9%, com a principal diferença a ser a menor distância entre as duas subidas, que passará a ser de cerca de 20 quilómetros. Menos tempo para recuperar para os que perderem tempo na primeira ascensão. A partida será dada às 12:30 e a chegada ao Malhão deverá acontecer cerca das 17:00

Classificação via FirstCycling.





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20 de fevereiro de 2020

"[A Uno-X] é uma equipa especial e está a crescer muito rapidamente"

O sonho do dono da equipa é chegar alto. Já o director desportivo acredita que é possível dar o salto para o World Tour, mas agora há que consolidar o projecto como ProTeam. Pela primeira vez a Noruega tem uma equipa no segundo escalão mundial. É um país que tem um campeão do mundo, Thor Hushovd, Alexander Kristoff venceu monumentos e foi campeão da Europa, Edvald Boasson Hagen é dos ciclistas mais importantes do país, com vitórias importantes e todos eles ganharam em grandes voltas. Mas falta uma equipa de nível superior. A Uno-X Development tem orgulho em manter a palavra desenvolvimento no nome, pois é isso que, para já, se quer concentrar. Ou seja, em formar jovens ciclistas que façam crescer uma modalidade muito apreciada no país, mas ainda com um número reduzido de praticantes, a nível profissional.

"Eu costumo dizer que o ciclismo é um desporto ainda jovem na Noruega. Eu fui ciclista durante os anos 90 e a modalidade era muito pequena [no país]. Depois tivemos o Thor [Hushovd] campeão mundial em 2010 e nessa altura tornou-se muito popular em termos de acompanhamento do público. A partir daí tivemos equipas Continentais e agora esta equipa ProTeam, que será importante para manter as pessoas interessadas no desporto", realçou  ao Volta ao Ciclismo Stig Kristiansen, o director desportivo da estrutura.

O convite para a Volta ao Algarve foi recebido com muita satisfação pela equipa, que assim teve a oportunidade de colocar os seus ciclistas no pelotão com formações do World Tour. Mas também na Noruega esta participação criou entusiasmo, como comprovou a aposta na transmissão televisiva. "É um dos desportos mais transmitidos na televisão. Normalmente é através do Eurosport, mas este ano o canal público, quando soube que vínhamos aqui, comprou os direitos. É uma nova dimensão. Temos sempre um ciclista com sucesso, como o Kristoff ou Edvald. Agora as pessoas podem relacionar-se com toda uma equipa norueguesa e conhecer-nos muito bem", afirmou o responsável.

Kristiansen salientou como enquanto existem milhares de crianças no futebol, mas o ciclismo tem uma realidade muito diferente. "Temos 150 ciclistas de elite na Noruega que fazem ciclismo como desporto principal", mas rapidamente acrescenta: "A nível de popularidade [de adeptos] é grande e o trabalho feito nas escolas e entre os juniores está a ser muito bem feito." Ou seja, o paradigma pode estar a mudar e a Uno-X quer ter o seu papel. A média de idades na equipa é de apenas 21,2 anos e Kristiansen espera continuar a formar ciclistas que possam dar o salto.

Dos que iniciaram o projecto em 2017, houve quem já desse o salto, com o destaque recente a ser Tobias Foss (22 anos), vencedor do Tour de l'Avenir em 2019 e contratado pela Jumbo-Visma. Esta aposta em jovens é para manter: "É para isso que estamos aqui. Tomamos conta dos ciclistas que temos e vamos encarar ano a ano. Penso que isso será um ponto essencial na equipa para se dar o próximo passo, se essa for a intenção." O plantel conta com 22 ciclistas, cinco dinamarqueses e os restantes de nacionalidade norueguesa.

Para Kristiansen é cedo para pensar no World Tour, não escondendo que é o desejo do dono, que detém a Uno-X, uma rede de bombas de combustível na Noruega. Contou que foi Jens Haugland quem quis patrocinar uma equipa e que não foi alguém à procura do seu patrocínio. "Foi uma forma algo contrária de agir comparativamente como as equipas normalmente trabalham", disse. A estrutura já existia, mas como Ringeriks-Kraft, de 2010 a 2016. No imediato, o importante é consolidar a formação nórdica no segundo escalão, antes de pensar dar o salto para o World Tour. "Temos o financiamento para isso e não vou dizer que não é uma boa ideia. Mas ir para o World Tour é um passo muito maior e, por isso, vamos ficar como ProTeam durante alguns anos. Mas que nunca se diga nunca! É uma equipa especial e está a crescer muito rapidamente", frisou.

Apesar da juventude, não significa que não haja experiência. Daniel Hoelgaard é a prova disso mesmo. É o mais velho de três irmãos e assinou pela Uno-X depois de quatro anos na Groupama-FDJ. Tem 26 anos e Kristiansen acredita que tem muito para dar. "Ele é importante. Dá-nos uma segurança maior para ajudar os mais jovens. Ele conhece o jogo do sprint, tem essa mentalidade do World Tour e é sempre bom para os mais novos que estão a aparecer ter alguém com quem aprender."

Hoelgaard é um dos ciclistas presentes na Algarvia, tal como Andreas Leknessund, um corredor mais para a montanha. O director desportivo espera vê-los a alcançar o top dez nas etapas das suas características. O primeiro foi nono em Lagos, o segundo subiu bem a Fóia, não ficou nos dez primeiros, mas o 27º posto a 2:01 do vencedor Remco Evenepoel (Deceuninck-QuickStep), foi um bom resultado, tendo em conta o forte pelotão que está na Algarvia. "Aqui temos sprints, subidas e neste último aspecto talvez seja para o Andreas Leknessund. Ele tem 21 e sabemos que ele não é um Chris Froome, mas vamos dar o nosso melhor para dar luta, assim como com outros jovens", disse o director desportivo.

Depois da Volta ao Algarve, Kristiansen gostaria de continuar por Portugal: "É um país bonito. Podemos andar de bicicleta na Noruega nesta altura do ano, mas estão três graus e a chover! Aqui está muito bom." Não é só pela meteorologia, pois o objectivo passava por estar novamente na Volta ao Alentejo, tal como em 2019 (quando a equipa era Continental), aproveitando para competir antes na Clássica da Arrábida: "Queríamos cá estar outra vez, mas não recebemos um convite [para a Alentejana]. Talvez para o ano, vamos tentar."

Portanto, terminado o contra-relógio de Lagoa no domingo, a Uno-X fará as malas e a equipa prepara-se para competir em algumas corridas importantes do calendário mundial, como as clássicas Kuurne-Bruxelles-Kuurne, Le Samyn e Danilith Nokere Koerse. O responsável destacou também o convite para a Volta aos Alpes, considerando que será mais um ponto alto da Uno-X nesta primeira época como ProTeam. "É um calendário com exigência para os nossos ciclistas e é bom para eles experimentarem, como aqui no Algarve, competir com as equipas World Tour", frisou.

O responsável admitiu que, dada a juventude dos seus ciclistas e ao pouco contacto com a elite mundial até ao momento, por vezes, ficam impressionados quando estão ao lado de estrelas da modalidade. "Acontece isso nas primeiras vezes, quando estão no hotel e vêem o Mathieu van der Poel e no pelotão têm o Philippe Gilbert ao lado deles... Mas eles habituam-se. Faz parte do desenvolvimento."

Para terminar ficou a garantia que a Uno-X é uma equipa a seguir: "Temos bons ciclistas. Vamos tentar obter resultados e correr de forma honrada sempre que colocámos o dorsal."