31 de julho de 2019

A melhor resposta

(Fotografia: © Podium/Paulo Maria)
A melhor forma de responder à adversidade de ter ficado sem Raúl Alarcón era começar forte e a ganhar. Mas a melhor resposta da W52-FC Porto não se limita a essa reacção, mas também a ter sido Samuel Caldeira a vencer. É um ciclista muito importante nesta estrutura e há um ano foi ele a ficar de fora da Volta a Portugal por lesão. No seu regresso à corrida, não podia começar de forma mais auspiciosa.

Foram muitos os anos em que ficou perto de uma vitória na Volta, mas não a alcançava. Em 2017 finalmente quebrou o enguiço. Contudo, 2018 foi uma temporada difícil devido ao problema numa vértebra após queda, mas ressurgiu mais motivado em 2019, também pela ascensão a Profissional Continental da equipa do Sobrado. Ainda não tinha contribuído directamente para a lista de vitória dos azuis e brancos. Mas aí está ela, uma vitória com um bónus sempre muito desejado: esta quinta-feira, Samuel Caldeira estará de amarelo na Volta a Portugal.

O contra-relógio de Viseu tinha apenas seis quilómetros, mas a passagem pela zona histórica da bonita cidade era muito técnica e feita em parte em empedrado, ou noutro tipo de pedra, sempre bem mais escorregadia do que o alcatrão. Com curvas apertadas e ruas não muito largas, houve quem não arriscasse. Já Samuel Caldeira fez-se valer da sua constituição física, do seu poderio na pedalada e capacidade de manobrar a bicicleta, características distintas de um sprinter. Cedo fez o tempo que ninguém conseguiria bater: 7:28 minutos. O companheiro, Gustavo Veloso, ficou a centésimos de comprovar que está bem fisicamente, apesar de ter sido convocado para preencher a vaga deixada por Raúl Alarcón. O espanhol, vencedor das últimas duas edições, não recuperou de uma lesão na clavícula, contraída há cerca de cinco semanas no Grande Prémio Abimota.

Veloso demonstrou que, aos 39 anos, continua a ser um excelente contra-relogista, sendo um ciclista que nunca conseguiu a muito desejada terceira conquista na Volta a Portugal. No ano passado claudicou por completo e já não é visto como um claro candidato. Só a montanha revelará se Veloso ainda tem um último fôlego para lutar pela amarela. António Carvalho (quinto a quatro segundos) e Daniel Mestre (10º a oito) fizeram com que a W52-FC Porto colocasse quatro ciclistas no top dez, o que, diga-se não é nada de surpreendente, nem de novo. De referir que Veloso foi terceiro, pois na luta que se ganhou por centésimos, o jovem suíço (24 anos) Gian Friesecke, foi uma das figuras do dia, com a Swiss Racing Academy a dar mostras que não veio a Portugal para passear.

Entre candidatos

No prólogo era preciso não perder demasiado tempo, mas também havia que não arriscar, pois o mínimo de erro no contra-relógio de Viseu poderia resultar numa queda, por exemplo. Com algum cuidado, mas convictos em fazer um bom tempo, os que partiram para a Volta como os mais fortes candidatos, não ficaram com grandes diferenças. Joni Brandão demonstrou como evoluiu nesta especialidade e, sem afastar António Carvalho e Gustavo Veloso de uma possível candidatura à vitória final, foi o ciclista da Efapel que terminou com razões para sorrir. Foi oitavo a sete segundos de Caldeira.

Nas diferenças directas para Joni Brandão, João Rodrigues (W52-FC Porto) e Vicente García de Mateos (Aviludo-Louletano) ficaram a dois segundos. Edgar Pinto (W52-FC Porto) cumpriu a distância em mais cinco. Tiago Machado (Sporting-Tavira) poderá não estar totalmente satisfeito, mas 19 segundos ainda não são uma dor de cabeça, tal como os 21 de João Benta (Rádio Popular-Boavista). Já o campeão nacional de fundo, José Mendes (Sporting-Tavira), não teve o melhor dos dias, ficando a 31 segundos de Joni Brandão.

Entre os ciclistas de equipas estrangeiras, o colombiano Fabio Duarte foi uma desilusão. A equipa Medellin veio da China para Portugal, quase sem dar tempo para os ciclistas se adaptarem. Duarte perdeu mais de dois minutos, mas o veterano companheiro de equipa Óscar Sevilla (42 anos) parece não estar com problemas em mostrar-se na Volta.

Aqui ficam as diferenças de alguns dos ciclistas que olham para pelo menos o top dez, com Joni Brandão a ser a referência, reiterando que António Carvalho e Gustavo Veloso ficaram à frente do corredor da Efapel e são dois ciclistas a não menosprezar:

Joni Brandão (Efapel)
João Rodrigues (W52-FC Porto) a 2 segundos
Vicente García de Mateos (Aviludo-Louletano) a 2
Óscar Sevilla (Medellin) a 2
Alejandro Marque (Sporting-Tavira) a 4
Edgar Pinto (W52-FC Porto) a 5
Mario Gonzalez (Euskadi-Murias) a 12
Brice Feillu (Arkéa Samsic) a 14
Tiago Machado (Sporting-Tavira) a 19
João Benta (Rádio Popular-Boavista) a 21
José Mendes (Sporting-Tavira) a 31
Fabio Duarte (Medellin) a 2:09 minutos

1ª etapa: Miranda do Corvo - Leiria, 174,7 km


Apesar de ser um dia com final propício para os sprinters, a primeira etapa em linha começa logo com montanha e com uma primeira categoria na Serra da Lousã. Serão 19,2 quilómetros com uma pendente média de 4%, o que poderá provocar problemas a alguns ciclistas mais aptos a terrenos menos inclinados. É que depois, haverá mais duas quartas categorias a prejudicar uma eventual recuperação. E ainda antes do percurso ficar um pouco mais simpático, há mais uma segunda categoria pela frente. Isto tudo nos primeiros 100 quilómetros!

Miranda do Corvo recebe a partida às 12:50, junto à Câmara Municipal, com a chegada a Leiria a estar prevista por volta das 17:30, na Avenida Dr. João Soares.

»»Ciclistas a seguir... além dos da W52-FC Porto««

»»Raúl Alarcón de fora na W52-FC Porto. Luís Mendonça entra na lista da Rádio Popular-Boavista««

»»"Não vou mentir, não é que estivesse a ficar desmotivado, mas já eram muitos anos a ter os mesmos objectivos"««

Quem ganhou mais dinheiro na Volta a França

Bernal e Alaphilippe, dois dos ciclistas em destaque
(Fotografia: © ASO/Alex Broadway)
Foram distribuídos mais de dois milhões de euros em prémios na Volta a França. Se não se está a correr a pensar que se vai ganhar dinheiro, mas sim uma etapa ou uma camisola, também é verdade que ninguém fica indiferente aos valores, que no final são normalmente divididos por todos os membros de uma a equipa. Sem surpresa, a Ineos foi quem mais amealhou, sendo decisivo o factor camisola amarela. Ou seja, só a conquista de Egan Bernal valeu 500 mil euros. O segundo classificado fica com 200 mil e como foi outro ciclista da equipa, Geraint Thomas, significa que o final do Tour tem um peso enorme do tamanho da bolsa.

Steven Kruijswijk, terceiro, ficou com 100 mil euros, mas a Jumbo-Visma teve mais ciclistas a contribuírem directamente para o mealheiro na Volta a França. Cada vitória de etapa, por exemplo, garantia 11 mil euros. A formação holandesa ganhou quatro. Andar de amarelo, mesmo que não se mantenha a camisola até final, rende 300 euros por dia. Mike Teunissen andou dois dias.

Mas neste aspecto é Julian Alaphilippe (Deceuninck-QuickStep) o rei: 14 dias de líder, ao que se juntou 20 mil euros por ter sido o ciclista mais combativo do Tour. Também ganhou duas etapas. De referir que quem veste a amarela e a ganha no final, recebe 500 euros por cada dia que a envergou, ou seja Bernal, deu mais uma ajuda ao bolo da Ineos.

A nível de etapas ganhas, a Lotto Soudal e a Mitchelton-Scott também somaram quatro cada uma, pelo que ajudou muito à sua "classificação" na tabela financeira. Já a Bora-Hansgrohe teve Peter Sagan a dar 25 mil euros pela conquista da camisola dos pontos, sendo que o eslovaco também venceu uma etapa. Porém, Emanuel Buchamann também contribuiu bastante, pois são dados prémios monetários até aos 20 primeiros da geral e das etapas. O alemão foi muito regular na montanha - tal como Sagan nos sprints - e terminou no quarto lugar.

O vencedor da classificação da montanha também ganha 25 mil euros (Romain Bardet, AG2R), o camisola branca da classificação da juventude 20 mil (mais um cheque para Bernal) e a melhor equipa leva 50 mil euros, prémio que ficou para a Movistar.

Entre os valores atribuídos estão, por exemplo, os 1500 euros para quem ganhou os sprints intermédios, mil para o segundo e 500 para o terceiro. Já nos prémios da montanha, dependeu da categoria. Uma especial rende 800 euros, de primeira categoria 650, segunda 500, terceira 300 e quarta 200. No entanto, há subidas que não podem ser equiparadas a todas as outras. O Tourmalet tinha de ser uma delas, mas também o foi o Col de l'Iseran, neste caso por ser o ponto mais alto do Tour, que é sempre premiado. Ambas as subidas renderam 5000 euros.

Aqui fica a "classificação financeira" nas contas feitas pelo site Cycling Weekly.

Ineos: 779,200 euros
Jumbo-Visma: 203,400
Deceuninck-QuickStep: 89,940
Bora-Hansgrohe: 159,050
Lotto Soudal: 134,760
Movistar: 132,470
Trek-Segafredo: 81,590
Mitchelton-Scott: 76,520
Bahrain-Merida: 71,890
Groupama-FDJ: 60,200
AG2R: 55,140
EF Education First: 41,710
Wanty-Groupe Gobert: 34,940
Sunweb: 31,310
CCC: 27,250
Astana: 24,250
UAE Team Emirates: 22,930
Arkéa Samsic: 22,800
Cofidis: 21,170
Dimension Data: 19,300
Katusha-Alpecin: 18,220

30 de julho de 2019

Ciclistas a seguir... além dos da W52-FC Porto

Volta a Portugal começa esta quarta-feira (Fotografia: © Podium/Paulo Maria)
A ausência de Raúl Alarcón dá um imediato destaque a uma equipa que tem dominado a Volta a Portugal nos últimos seis anos. A W52-FC Porto é notícia ainda antes da corrida começar e continua a ser a mais forte candidata a ser notícia quando a Volta terminar. Mas, ainda antes de se confirmar a ausência do vencedor das últimas edições, havia uma expectativa de ser uma edição um pouco mais competitiva e há um responsável para se pensar assim: Joni Brandão. A forma do líder Efapel tem-se traduzido numa época de muitas vitórias, além da equipa, na generalidade, apresentar-se mais forte do que em anos anteriores.

Haverá mais candidatos? O Sporting-Tavira aposta forte em Tiago Machado, com José Mendes a ser outra possibilidade, enquanto a Aviludo-Louletano espera que Vicente García de Mateos seja novamente candidato a pelo menos um pódio e conquiste alguma etapa. A luta pela geral poderá não ter uma lista extensa, mas há mais ciclistas a seguir nesta Volta, além da poderosa W52-FC Porto, que mesmo sem Raúl Alarcón, continua a apresentar um bloco muito forte e com mais do que um candidato a líder, como foi ontem aqui referido (pode ler o texto neste link).

De referir que além da saída de última hora da lista de inscritos de Alarcón, também Rinaldo Nocentini foi substituído por David Livramento no Sporting-Tavira. O colombiano Robinson Chalapud não vai participar pela equipa Medellin, depois de ganhar a Volta ao Lago Qinghai, na China. A formação sul-americana vai mesmo competir com menos um ciclista.

Joni Brandão (29 anos): Chega à Volta com seis vitórias esta temporada, das nove da Efapel. O regresso à equipa foi o que a carreira do ciclista precisava, depois de dois anos menos conseguidos no Sporting-Tavira, também marcados por um problema de saúde. Esses tempos difíceis estão para trás e Joni não vai à procura de estar novamente no pódio: quer ganhar. Duas questões: perante a boa forma já apresentada, o pico será mesmo na Volta? Se sim, então será um fantástico Joni, tendo em conta o que já fez esta época; vai a Efapel estar à altura de uma W52-FC Porto no apoio ao líder? É um conjunto equilibrado, com  Henrique Casimiro e Sérgio Paulinho, a mostrarem estarem bem no teste final que foi o Troféu Joaquim Agostinho (primeiro e terceiro classificado).

Vicente García de Mateos (30): Dois terceiros lugares, duas classificações dos pontos e etapas ganhas, três no ano passado. O espanhol da Aviludo-Louletano tem de estar entre os candidatos, ainda que 2019 não tenha sido um ano com exibições tão convincentes como em temporadas anteriores, principalmente a nível de discussão de vitórias. Porém, somou alguns top dez e o plano passou mesmo por apostar tudo na Volta  a Portugal. No mínimo é para repetir 2017 e 2018, mas na equipa algarvia sonha-se sempre com algo mais.

Tiago Machado (33): Nunca escondeu que gostaria de regressar a Portugal e tentar ganhar a Volta. Finda a carreira lá fora, escolheu o Sporting-Tavira para ser o líder, mas está longe de ser um ciclista ganhador e pouco tem aparecido na discussão das corridas. Ainda assim surge como número um da formação de Vidal Fitas, que conta com um motivado José Mendes (34). Sagrou-se campeão nacional pela segunda vez em Melgaço e está mais confiante. Poderá ser um plano B (ou mesmo A) muito viável, caso Machado não confirme o seu estatuto de líder na estrada. O Sporting-Tavira precisa desesperadamente de bons resultados. A relação com o clube de Alvalade poderá terminar no final desta temporada, na qual a equipa somou apenas dois triunfos. Além do título nacional, César Martingil venceu a Clássica da Primavera, em Março. Vitórias precisam-se!

Luís Mendonça (33): Correu o risco de ficar de fora da Volta devido à utilização de uma substância no tratamento a um joelho. No entanto, a decisão da Autoridade Antidopagem de Portugal chegou a tempo de permitir que o ciclista da Rádio Popular-Boavista fosse inscrito. É um homem para caçar etapas. Tem trabalhado muito a montanha para não se limitar a discutir ao sprint, ainda que não seja ciclista para lutar pela geral. Esse será João Benta (32), tão habituado ao top dez, mas ainda à procura do pódio. Mendonça tem tendência a não passar despercebido, agora falta saber como irá apresentar-se Benta, ciclista sempre com potencial para fazer algo de nota.

João Matias (28): A sua estreia na Volta, há dois anos, ficou marcada por andar vários dias com a camisola da montanha. Uma surpresa, até para o ciclista, que entretanto dedicou-se à sua especialidade: tentar ganhar etapas mais ao sprint. Ainda não alcançou a vitória, mas em pouco tempo tornou-se num ciclista respeitado no pelotão e que não vira a cara à luta. Faz da determinação uma arma muito forte e a sua "escola" de pista também tem influência no ciclista que é hoje. Atenção a Óscar Pelegrí. É ciclista para entrar em fugas, adaptando-se bem a certas subidas, sendo mais uma opção para a Vito-Feirense-PNB.

Domingos Gonçalves (30): Regressou à Caja Rural, mas uma queda na Volta à Catalunha estragou-lhe parte da temporada. Está em contra-relógio para obter bons resultados e será precisamente nesta especialidade que poderá começar por apostar para tentar ganhar uma etapa (é bicampeão nacional, tendo o irmão, José,lhe "tirado" o título este ano), mas certamente que se verá Domingos em ataques e fugas, que há um ano foi uma táctica que lhe rendeu uma vitória em Boticas.

Mario Gonzalez (27): Nome conhecido do ciclismo nacional depois de três anos no Sporting-Tavira. O espanhol está agora na Euskadi-Murias e regressa com a possibilidade de procurar um resultado próprio e não ficar preso ao trabalho de gregário. Se passar bem a etapa da Torre, Gonzalez poderá entrar na luta por um top dez.

Fabio Duarte (33): Apesar da equipa Medellin contar com Óscar Sevilla, que aos 42 anos não pára de alcançar bons resultados, como o segundo lugar na China há três dias, ainda assim, não é o espanhol de quem mais se espera. Fabio Duarte foi considerado um colombiano de grande potencial, mas nunca conseguiu dar o salto para o mais alto nível do ciclismo. Ainda assim, na primeira metade da década ficou perto de ganhar etapas no Giro e na Vuelta. Se estiver bem é um ciclista a ter em conta, mas poderá ter o mesmo problema de Sevilla: acabou de chegar da China e mal teve tempo para se adaptar a Portugal.

Brice Feillu (34): É impossível deixar de fora este francês. É um vencedor de uma etapa da Volta a França, em 2009, num dia com final em Andorra. Tem muita experiência de grandes voltas, tendo feito sete Tours e um Giro, apesar de ter representado equipas do segundo escalão. Em 2011 esteve no World Tour ao serviço da Leopard Trek. Está numa fase de menos fulgor da carreira, mas não significa que não possa ir atrás de um bom resultado até porque conhece a Volta a Portugal. Será a sua terceira participação. Depois da estreia em 2008, o destaque vai para 2012, quando foi sexto na geral, a 1:57 minutos do vencedor David Blanco (Efapel). Então representou a Saur-Sojasun, vestindo agora as cores da Arkéa-Samsic, equipa que procura subir ao World Tour e que viu no último domingo Warren Barguil ser 10º no Tour. A Arkéa-Samsic não trouxe a sua melhor equipa, mas tem ciclistas a querer mostrar serviço.

Prólogo (31 de Julho): Viseu - Viseu, 6 km (contra-relógio individual)


A Volta a Portugal arranca com o habitual prólogo. Há sempre potencial de alguém perder alguns segundos, pelo que o objectivo passa muito por evitar percalços, mas não se pode ir com a mãos nos travões.


29 de julho de 2019

Raúl Alarcón de fora na W52-FC Porto. Luís Mendonça entra na lista da Rádio Popular-Boavista

(Fotografia: © Podium/Paulo Maria)
A W52-FC Porto deverá partir para a Volta a Portugal sem o vencedor das últimas duas edições. Raúl Alarcón não terá recuperado da lesão na clavícula e não terá assim a oportunidade de procurar o tri. No seu lugar entrará outro antigo vencedor, também por duas vezes: Gustavo Veloso. Apesar de, aos 39 anos, continuar a ser uma voz de comando na equipa, o espanhol não será o candidato à liderança. Edgar Pinto e João Rodrigues são os mais prováveis a ficar com o estatuto. Mas se há equipa cuja dor de cabeça não é a falta de bons líderes e manter um colectivo fortíssimo, é esta W52-FC Porto.

A ausência do espanhol ainda não foi confirmada oficialmente. O Jogo, JN e RTP avançaram com a notícia e no Facebook da Volta a Portugal foi colocada uma fotografia do ciclista com a frase: "Vamos ter saudades. As melhoras @r86.alarcon." Alarcón caiu durante o Grande Prémio Abimota, há cerca de cinco semanas, e fracturou a clavícula. Não ficou excluída a participação na Volta, mas o corredor de 33 anos sabia que estava num autêntico contra-relógio para não só recuperar da lesão, mas estar em condições físicas de disputar uma exigente Volta a Portugal. Alarcón até tinha prevista a participação na clássica do seu país Villafranca-Ordizia, na última quinta-feira, mas não competiu por não estar a 100%.

Esta terça-feira é dia de apresentação das equipas em Viseu, onde na quarta-feira arranca a 81ª edição da corrida mais ambicionada pelas equipas portuguesas. Mesmo que se confirme a ausência de Alarcón, a W52-FC Porto continua a partir como a favorita para conquistar a sétima vitória consecutiva. João Rodrigues tem apenas 24 anos, mas já demonstrou ser dono de uma maturidade que o coloca como um dos principais membros da estrutura do Sobrado. Começou a época com a oportunidade de liderar e na Volta ao Alentejo confirmou todo o seu potencial para a alta responsabilidade. Venceu a geral, depois de vestir a amarela no contra-relógio que ganhou.

O algarvio tem feito um trabalho de evolução na equipa, precisamente a pensar em assumir o papel de líder na Volta. E poderá ser já. Há um ano foi uma das revelações, ou talvez seja mais correcto dizer, uma das confirmações. Começou discreto para aparecer na fase mais importante da corrida, sendo decisivo para a vitória de Alarcón. Foi um gregário de luxo a mostrar que poderia ser mais no futuro próximo.

Edgar Pinto tem do seu lado a experiência. Aos 33 anos sabe bem o que é ser um líder na Volta a Portugal (e não só) e quando consegue afastar os azares, apresentando-se em boa forma é sempre um ciclista capaz de alcançar bons resultados. Trocou a Vito-Feirense-BlackJack pela equipa mais forte do pelotão nacional e terá assim acesso a um apoio que não teve há um ano.

O ciclista alcançou um importante quinto lugar na Volta à Turquia, em Abril, e no último teste para a Volta, no Troféu Joaquim Agostinho, foi 12º, depois do nono lugar nos Nacionais em Melgaço. Edgar Pinto nunca escondeu que o seu sonho era ganhar uma Volta e pode estar perante uma oportunidade única para lutar com condições que o colocam como forte candidato.

Mas a W52-FC Porto tem mais alternativas. Ricardo Mestre é mais um antigo vencedor da Volta e tem realizado uma época positiva, tendo ganho o Grande Prémio Jornal de Notícias. António Carvalho nem sempre prima pela regularidade nas suas exibições, mas se se apresentar ao nível de há dois anos, pode ser mais uma alternativa, se se apresentar a oportunidade Qualquer um pode ser líder e qualquer um é um excelente homem de trabalho numa equipa que se dá ao luxo de deixar de fora Rui Vinhas e Joaquim Silva, por exemplo.

Vinhas regressou há pouco tempo à competição após uma curta suspensão, devido um controlo anti-doping na última Volta ter detectado a substância betametasona. O ciclista venceu uma etapa no Troféu Joaquim Agostinho, mas ficou de fora das escolhas do director desportivo Nuno Ribeiro para a Volta que venceu em 2016. Já Joaquim Silva foi o escolhido para liderar a equipa na viagem à China, tendo terminado a Volta ao Lago Qinghai no sétimo lugar, corrida ganha pelo colombiano Robinson Chalapud, que estará em Portugal com a formação Medellin.

A W52-FC Porto terá ainda Daniel Mestre e Samuel Caldeira, dois ciclistas que vão procurar vitórias de etapas.

Luís Mendonça respira de alívio e vai à Volta a Portugal

(Fotografia: © João Fonseca Photographer)
O ciclista da Rádio Popular-Boavista foi suspenso preventivamente no final de Maio por ter acusado a mesma substância de Rui Vinhas. Tanto Luís Mendonça, como a equipa, explicaram que tal se deveu a uma lesão no joelho e que não havia qualquer irregularidade em causa.

Uma possível demora na investigação colocou em risco a presença numa Volta a Portugal em que Luís Mendonça tem estado a pensar desde o início do ano, mas a resolução do processo deu-se a tempo de ser inscrito. "São situações que nos podem custar uma carreira desportiva, onde se não formos fortes facilmente deitamos a toalha ao chão e tudo acaba", escreveu há uns dias na sua página de Facebook. "Foi um momento terrível de ser vivido, mas como se costuma dizer, o que não nos mata torna-nos mais fortes", acrescentou, salientando que sempre acreditou que se faria justiça.

Mendonça deixou a Aviludo-Louletano para ter um papel de maior liberdade na Rádio Popular-Boavista e vai à Volta focado em lutar por etapas, depois de uma temporada em que soma três conquistas: Taça de Portugal e uma etapa e geral do Troféu O Jogo.

Para a equipa de José Santos é igualmente um alívio, pois Luís Mendonça foi contratado precisamente para ir atrás de vitórias, preenchendo o lugar deixado por Domingos Gonçalves, que regressou à Caja Rural e que em 2018 venceu uma tirada na Volta.

No entanto, a equipa terá ainda João Benta para lutar por um lugar na geral, com Daniel Silva a ser outro corredor importante para a montanha. Afonso Silva foi o ciclista "sacrificado" para dar lugar a Mendonça na Volta.

Equipa: João Benta, David Rodrigues, Luís Gomes, Hugo Nunes, Daniel Silva, Luís Mendonça e Pablo Guerrero.


28 de julho de 2019

As equipas do Tour uma a uma

(Fotografia: © ASO/Alex Broadway)
Já pouco se esperava quanto a espectáculo no Tour, mas este foi o melhor dos últimos anos. Sendo a corrida mais importante quanto a grandes voltas, é altura de fazer balanços, celebrar o que correu bem e perceber o que correu mal. E há equipas a sair pouco felizes de França. A ordem no texto é a da classificação por equipas.

Movistar: O facto de constantemente vencer as classificações colectivas nas corridas de três semanas, demonstra como a equipa espanhola tem capacidade para ter constantemente ciclistas a terminar bem colocados. Porém, depois do sucesso do Giro, a Movistar regressou aos maus hábitos de sempre. Segundo ano a apostar no tridente, segundo ano com basicamente tudo a correr mal. Perante o poderio e os objectivos, vencer uma etapa - por Nairo Quintana - e ter colocado o tridente Quintana/Mikel Landa/Alejandro Valverde no top dez (6º, 8º e 9º), não apaga uma formação confusa, com demasiados a querer ser líder e pouco dados a ajudar companheiros. A juntar a isso, primeiro Quintana, depois Landa (que fez o Giro) não estiveram no seu melhor fisicamente. Mas destaque positivo para Nelson Oliveira. O português realizou novamente uma excelente Volta a França neste seu regresso, depois de duas edições afastado deste palco. É um ciclista que não falha na ajuda, ainda se intrometeu numa fuga e tentou a sorte na sua especialidade, o contra-relógio (11º). Terminou na 79ª posição, a 2:35:51 horas, mas o que importa é que cumpriu o seu trabalho e já tem um contrato por mais dois anos.

Trek-Segafredo: Richie Porte pode muito bem ter feito a sua despedida do Tour como líder. Ficou fora do top dez e só no contra-relógio mostrou alguma capacidade, que não repetiu na montanha. A equipa apostou tudo no australiano, nem levando John Degenkolb, que também não é garantia de nada nesta fase da carreira, mas há um ano ainda ganhou uma etapa. Valeu Giulio Ciccone. Depois da etapa e da camisola da montanha no Giro, o italiano andou dois dias de amarelo e não poderá ficar muito mais tempo em segundo plano, mesmo que Vincenzo Nibali esteja a caminho da formação americana.

(Fotografia: © ASO/Thomas Maheux)
Ineos: Não foi aquela equipa dominadora e até quebrou quase sempre cedo na montanha. Gianni Moscon foi erro de casting para o Tour, Michal Kwiatkwoski foi incansável na primeira semana e esteve demasiado cansado na segunda e terceira, Luke Rowe foi expulso após desentendimento com Tony Martin (Jumbo-Visma) e Wout Poels não esteve ao nível de outros anos. Porém, mesmo com Geraint Thomas e Egan Bernal a funcionarem com uma táctica algo estranha no Alpes, o colombiano acabou por impor toda a sua qualidade e com aquele que poderia ter sido o seu principal adversário a abandonar, Thibaut Pinot, não houve ninguém que aguentasse o ritmo de Bernal. Faltou-lhe a vitória de etapa, provavelmente tirada devido ao deslizamento de terras que interrompeu a tirada em que vestiu a amarela. Primeiro colombiano a vencer a Volta a França e tem apenas 22 anos. Thomas foi relegado para segundo lugar e esta Ineos está definitivamente em fase de mudança. Contudo, ganhou novamente e já são oito Tours em nove anos, com Bernal a ficar também com a classificação da juventude.

EF Education First: Faltou Daniel Martínez. O ciclista ficou de fora do Tour por lesão e fez alguma falta. Rigoberto Uran tem andado discreto esta temporada e não foi muito mais vistoso na Volta a França. Michael Woods cedo ficou afastado de um resultado para a geral e ainda tentou procurar a etapas, tal como Simon Clarke e Alberto Bettiol, mas sem sucesso. De Tejay van Garderen não se esperava muito, mas não teve tempo para se mostrar, pois antes dos principais momentos, caiu e foi para casa. Ficou cumprido o objectivo do top dez com Uran (7º, a 5:15 minutos), mas esta é uma equipa que também já pensa numa renovação e quer ver-se Martínez no Tour.

Bora-Hansgrohe: Peter Sagan pode não ser o ciclista de outros anos. Mas ganhou a sua etapa e tornou-se no recordista de camisolas verdes: sete. Porém, o Tour da Bora-Hansgrohe foi além do eslovaco, comprovando que o trabalho feito a pensar em classificações gerais está a dar frutos. Que excelente corrida de Emanuel Buchmann. A Alemanha tem novamente um ciclista para pensar em, talvez, lutar por um pódio no Tour, que nesta edição ficou a 25 segundos. Boa Volta a França de uma Bora-Hansgrohe que está a conseguir cada vez mais mostrar que é mais do que Sagan.

Groupama-FDJ: Se houve ano em que se acreditava que era mesmo possível um francês ganhar o Tour foi este. Thibaut Pinot alimentou esse sonho com Julian Alaphilippe (Deceuninck-QuickStep). Finalmente encontrou o equilíbrio entre a boa forma física e a capacidade mental para suportar a intensa pressão de correr em casa. Ganhou uma etapa, no mítico Tourmalet, e esteve exímio em todas as etapas nos Pirenéus. Mas não foi desta. Pinot sofreu uma ruptura muscular e abandonou em lágrimas nos Alpes, numa das imagens marcantes desta edição. Merecia pelo menos um regresso ao pódio e ficar-se-á sempre a pensar no que poderia ter sido a batalha com Bernal se tivesse em condições. Pinot admitiu que acreditava que poderia ganhar o Tour e espera-se que mantenha essa atitude e continue a acreditar. Este é um Pinot vencedor e tem um David Gaudu que pode muito bem evoluir também ele para um excelente voltista. Para já, é um braço direito de confiança.

(Fotografia: (Fotografia: © ASO/Thomas Maheux)
Jumbo-Visma: Não é preciso dizer muito. Quatro vitórias de etapa (Mike Teunissen, Dylan Groenewegen, Wout van Aert e o contra-relógio colectivo), dois dias de amarelo (Mike Teunissen), excelente trabalho de equipa que quebrou inclusivamente a Ineos, que foi coroado pelo pódio de Steven Kruijswijk. O holandês chegou finalmente a um lugar que lhe tinha escapado no Giro há uns anos, mas conseguiu no Tour. Foi uma corrida perto da perfeição da equipa holandesa. Perto, porque Wout van Aert caiu no contra-relógio e lesionou-se com gravidade e Tony Martin (está de volta a locomotiva de trabalho) foi expulso após desentendimento com Luke Rowe (Ineos).

AG2R: Apostar tudo num ciclista tem destas coisas. Romain Bardet falhou por completo. Não foi só no contra-relógio, como é habitual. A única coisa que se pode dizer é que Bardet nunca tinha estado tão mal, mas salvou-se a sua atitude. Poderia ter abandonado e pensado na Vuelta, por exemplo. Mas não. Ficou e foi à luta por uma etapa que não conseguiu, mas conquistou a camisola da montanha. Beneficiou um pouco das tiradas encurtadas devido ao mau tempo para segurá-la, sempre importante para os franceses. Porém, a equipa tem muito a pensar, tanto em centrar-se exclusivamente em Bardet e se não faria bem ao ciclista passar pelo processo de Pinot: afastar-se um pouco do Tour e apostar num Giro e/ou Vuelta.

UAE Team Emirates:  Faltou Fernando Gaviria, mas havia Daniel Martin, Rui Costa, Sergio Henao, Alexander Kristoff...  Porém, o melhor classificado acabou por ser o homem que foi ao Tour para apurar a forma para a Vuelta depois de ter sido operado à perna: Fabio Aru (14º, a 27:07). Rui Costa ainda procurou a etapa, mas não conseguiu entrar na discussão nos momentos decisivos. Depois de um Giro muito positivo da equipa, não foi um Tour auspicioso. Quanto ao português, lutou dentro do possível - ainda arranjou uma discussão com a Deceuninck-QuickStep por ter arrancado do pelotão com Julian Alaphilippe tinha parado para urinar -, mas não foi o Tour que o português precisava, numa altura em que está a procura da renovação de contrato ou de uma nova equipa. Foi 53º, a 1:59:02 horas.

Astana: Entre quedas e perda de tempo no corte na etapa dos "abanicos", Jakob Fuglsang continua a ter uma relação difícil com o Tour. Abandonou, mas desta Astana esperava-se ainda assim mais. Era equipa que, mesmo concentrada em proteger o líder, também tinha ciclistas para lutar por etapas. Tem sido uma temporada fortíssima da equipa cazaque, principalmente nas provas por etapas, mas o Tour não correu bem, depois de um Giro em que Miguel Ángel López também não foi feliz.

Mitchelton-Scott: Adam Yates falhou por completo. Para quem ambicionava o pódio, até o top dez ficou fora dos planos mal chegou a montanha. Porém, esta Mitchelton-Scott viu um Simon Yates corrigir o mau Giro com duas vitórias de etapas no Tour, entrando para o grupo de ciclistas com vitórias em todas as grandes voltas. Daryl Impey e Matteo Trentin também alcançaram triunfos. Não foi um Tour perfeito, mas com quatro vitórias de etapas, também não pode ser negativo, pelo contrário.

Deceuninck-QuickStep: Mais uma equipa que não é preciso dizer muito. Elia Viviani e Julian Alaphilippe (duas) venceram etapas, mas o francês foi muito além disso e da camisola da montanha que venceu no ano passado:  14 dias de camisola amarelo. Por um lado não se acreditava que fosse possível Alaphilippe resistir, por outro, por França, lá se ia sonhando com um conto de fadas. Alaphilippe só quebrou na penúltima etapa de montanha e não segurou o pódio. Contudo, o quinto lugar, a 3:45, faz deste Tour excelente para o ciclista, que mais do que nunca irá pensar se quererá evoluir para voltista. O único senão da equipa chamou-se Enric Mas. Ambicionou alto e falhou. O próprio admitiu que a Volta a França foi uma lição, mas esperava-se um pouco mais, tanto na luta por um top dez e até na ajuda a Alaphilippe, que foi nomeado o mais combativo do Tour.

Wanty-Group Gobert: Equipa igual a si mesma. Andou na luta por etapas ao apostar em fugas, enquanto Guillaume Martin confirmou que merece dar o salto para uma equipa World Tour. Porém, houve mais um ciclista a destacar-se: Xandro Meurisse. Entre as Profissionais Continentais, a formação belga foi a mais activa, mesmo que continue a faltar a vitória de etapa, que não desiste de procurar.

CCC: Entrou em fugas, mas o ponto alto acabou por ser ver Greg van Avermaet subir ao pódio nas etapas belgas do arranque do Tour, por ter vestido a camisola da montanha. Foi pouco para a equipa polaca que precisa urgentemente de um homem para a geral.

Bahrain-Merida: Dylan Theuns ganhou uma etapa e um Vincenzo Nibali demasiado cansado após o Giro, não baixou o braços em também conquistar a dele. Conseguiu a fechar os Alpes. Não foi um Tour de grandes memórias para a Bahrain-Merida, mas dadas as limitações, ganhar duas etapas deixa os responsáveis satisfeitos. No entanto, há um problema a resolver. Rohan Dennis abandonou sem dizer nada a ninguém, no dia antes de um contra-relógio em que era candidato a vencer. Episódio negativo de indisciplina, que só prejudicou a equipa e a imagem do ciclista.

Dimension Data: Passou ao lado da Volta a França. A decisão de deixar Mark Cavendish de fora não foi consensual internamente, mas justificada pela forma física duvidosa do sprinter, que tantos problemas de saúde tem tido. Giacomo Nizzolo ainda tentou entrar nos sprints, mas não teve nível para os grandes nomes da especialidade. Edvald Boasson Hagen ainda tentou salvar a corrida em fuga, mas nesta Dimension Data nada se salvou, sendo um Tour à imagem da fraca temporada que está a realizar.

Cofidis: Também deixou um sprinter de fora: Nacer Bouhanni. Já se sabe que não se entende com o director da equipa, mas Christophe Laporte mal se viu e abandonou cedo devido a uma intoxicação alimentar. Ainda tentou entrar em fugas, mas foi um Tour aquém do que se esperaria de uma equipa que está a "namorar" uma licença World Tour.

Arkéa Samsic: André Greipel está definitivamente em fase descendente. Porém, Warren Barguil reapareceu. Desde que tinha deixado a Sunweb no final de 2017, depois de vencer duas etapas no Tour e a camisola da montanha, que o francês nunca mais tinha sido o mesmo. A conquista do título nacional, uma semana antes da corrida, deu-lhe novo impulso na carreira. Lutou por etapas e terminou em 10º, a 7:32. A equipa que estará prestes a garantir Nairo Quintana, viu Barguil responder muito bem e ainda tem um Élie Gesbert, ciclista de 24 anos, que vai começando a chamar a atenção.

Sunweb: Sem Tom Dumoulin, Michael Matthews foi o líder para ir procurar etapas ao sprint e lutar pela camisola verde dos pontos. O Tour não correu bem ao australiano e o foco foi para um dos jovens da equipa. O alemão Lennard Kämna teve liberdade para se mostrar e não a desperdiçou. 22 anos e sem medo de estar entre os melhores. Se Dumoulin sair da equipa, como tanto se fala, a Sunweb tem jovens em formação para deixar a estrutura a acreditar que pode ter um futuro promissor.


(Fotografia: © ASO/Thomas Maheux)
Lotto Soudal: Excelente Tour e Caleb Ewan já vai mostrando que foi a escolha certa para preencher a vaga de André Greipel. O australiano fez a estreia na Volta a França e ganhou três etapas, incluindo a mais ambicionada pelos sprinters: nos Campos Elísios. O australiano, de 25 anos, deixou a Mitchelton-Scott precisamente para poder estar no Tour e dificilmente voltará a ficar de fora, estando em boas condições físicas. Foi o rei dos sprints, pois foi o único a ganhar mais do que uma etapa desta forma. Além de Ewan, ainda tivemos o momento Thomas de Gendt. A habitual exibição solitária que deixa tudo e todos rendidos ao belga. Tim Wellens ainda andou grande parte do Tour com a camisola da montanha, mas os Alpes quebraram o ciclista.

Direct Energie: Tal como a Cofidis quer subir de escalão e dinheiro não falta para grandes contratações. Bem precisa de reforçar-se, tendo passado ao lado do Tour, o que para uma equipa francesa é ainda mais grave. O futuro poderá ser bem diferente, mas Lilian Calmejane, Anthony Turgis estiveram muito abaixo do exigível e Niki Terpstra esteve azarado, abandonando após queda, a segunda que lhe estraga a temporada, depois de ter acontecido o mesmo na Volta a Flandres.

Katusha-Alpecin: Terá o fantasma da equipa correr o risco de fechar no final da temporada afectado o rendimento dos ciclistas? É a última classificada e percebe-se porquê, pois foi uma Volta a França muito fraca. Ilnur Zakarin não lutou pela geral e ainda tentou ganhar etapas, mas não nunca preocupou ninguém. Nils Politt foi o mais activo na procura de pelo menos um triunfo, mas foi insuficiente. José Gonçalves teve uma estreia no Tour discreta. Pouco se viu do português, de quem se esperava mais depois de uma semana antes do arranque do Tour, em Melgaço, ter vencido o título nacional de contra-relógio e ter garantido que se sentia bem para a corrida francesa. Trabalhou para estar no pico de forma, mas não correu bem. Terminou na 128ª posição, a 3:47:15 horas de Bernal.

Classificações completas, via ProCyclingStats.




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27 de julho de 2019

A vitória de um país no início de uma era

(Fotografia: © ASO/Alex Broadway)
Chamavam-lhe o sueño amarillo. Durante os últimos anos foi um lema que acompanhou Nairo Quintana, o colombiano que se acreditava estar a caminho de se tornar no primeiro a vencer a Volta a França. Rigoberto Uran é um ciclista muito admirado no país, mas eram os resultados de Quintana que mais alimentavam o "sonho amarelo". Com Egan Bernal a vestir a camisola amarela, no público viu-se a bandeira colombiana com a inscrição, que no fundo alimentava o desejo de um país apaixonado pela modalidade, recheado de talentos e ansioso por dar outra imagem que não as suspeitas e casos de doping.

Na Colômbia, o triunfo de Egan Bernal é uma festa nacional. Viveram-se momentos tensos, daqueles que tanto se assiste quando as pessoas se reúnem em café, praças, seja onde for para assistir a um jogo de futebol. Na Colômbia reuniram-se nas ruas para ver Bernal. Para ver ciclismo. O El Tiempo partilhou uma galeria de fotografias, com crianças a chorar de alegria perante a conquista, tal como Bernal chorou quando vestiu a amarela.

(Fotografia: © ASO/Pauline Ballet)
"O triunfo não é só meu, é de toda a Colômbia", disse Bernal, com o Uran - que já foi segundo no Tour - a também dizer que a vitória é de todo um país. E se se perguntar a mais ciclistas colombianos, todos dirão o mesmo. O menino de oito anos que venceu a sua primeira corrida de BTT com um capacete tão grande que lhe tapava os olhos, entra para a história do ciclismo pela porta grande. Em dois anos no World Tour sabia-se que era inevitável ganhar um dia a Volta a França. A queda que o afastou do Giro, fechou uma porta, mas, realmente, pode sempre abrir-se outra.

É certo que durante muito tempo se pensou que Quintana também iria ganhar o Tour. Mas com Bernal foi diferente. Não foi só a sua capacidade física e técnica. Foi também a sua personalidade e forma de encarar um mundo tão competitivo como o ciclismo com apenas 21 anos (tem agora 22) que rapidamente conquistou tudo e todos. A sua maturidade torna-o o diferente de outros talentos da sua idade. Bernal é um dos mais novos a conquistar o Tour, numa altura em que o mais normal é ver ciclistas mais próximos dos 30 anos, ou mesmo com mais, a conquistar a mítica corrida. Jan Ullrich foi o mais novo em tempos recentes, pois tinha 23 anos quando venceu a sua única Volta a França em 1997.

No caso de Bernal acredita-se (e não só na Colômbia) que se iniciou uma era, que não deverá ficar apenas pelo Tour, mas claro, que a corrida francesa será sempre o grande objectivo. Se vai bater recordes, se vai dominar, o tempo o dirá, porque Bernal não está sozinho numa geração com mais talentos a amadurecer. Podem não estar a entrar no ciclismo de rompante como Bernal, contudo, o que espera ao ciclismo nas grandes voltas só pode ser bom, com este jovem colombiano como líder da geração, não fosse ele um vencedor do Tour tão novo.

Gesto de desportivismo de Thomas, numa passagem de testemunho
(Fotografia: © ASO/Alex Broadway)
E que ano tão diferente está ser. Em 2018, Grã-Bretanha venceu as três grandes voltas com três ciclistas diferentes: Chris Froome, Geraint Thomas (ambos da Sky, actual Ineos) e Simon Yates (Mitchelton-Scott). Em 2019 olha-se para o outro lado do Atlântico para ver um Equador que ainda se está a tentar perceber todo o potencial que por lá haverá para o ciclismo, mas já com Richard Carapaz (Movistar) a vencer o Giro, aos 26 anos. Na Colômbia conhece-se bem todo o potencial, com Gianni Savio, o director de uma equipa Androni caça-talentos, a trazer para a Europa alguns dos recentes nomes de sucesso, incluindo Bernal.

Até estava a ser um ano algo agridoce para os colombianos. Por um lado toda uma confirmação de jovens ciclistas a surgir no World Tour, por outro os casos de doping tomaram novamente conta das manchetes, arruinando, por exemplo, um dos projectos Profissionais Continentais que queria servir de trampolim para jovens colombianos, a Manzana Postobón. Mais ciclistas acabaram suspensos e Jarlinson Pantano (Trek-Segafredo) retirou-se ao ser acusado de utilizar EPO.

Estava-se entre a admiração do talento de Bernal, Daniel Martínez, Iván Ramiro Sosa, Sergio Higuita (e a lista continua) e a desconfiança de um problema que não larga o ciclismo colombiano. Mas não há nada como uma grande vitória para recordar a todos que são estes os momentos que são para recordar, são estes os momentos, as exibições de Bernal, a grande Volta a França a que se assistiu, que nos faz gostar tanto de ciclismo.


E para terminar...

Para terminar faltam 128 quilómetros de consagração para Egan Bernal. É altura de pedalar até Paris e celebrar, antes da etapa se tornar um pouco mais séria para quem ainda persegue uma vitória, principalmente os sprinters que sobreviveram ao inferno dos Pirenéus e Alpes para tentarem o triunfo na etapa mais desejada por este género de ciclista.



A penúltima etapa do Tour, este sábado, até fez recordar edições recentes, com poucas movimentações que de facto lançassem algum ataque sério a Bernal ou até pela luta pelo pódio. Bastou a Jumbo-Visma acelerar para deixar para trás um Julian Alaphilippe (Deceuninck-QuickStep) heróico, mas cujas as forças já o tinham deixado ao ficar sem a amarela no dia anterior. Era o que se previa, com Steven Kruijswijk a conquistar finalmente o seu pódio numa grande volta (a 1:31 minutos do vencedor) e Alaphilippe a aguentar o suficiente para fechar numa incrível quinta posição (a 3:45). Geraint Thomas (Ineos), o vencedor de 2018, fechou no segundo lugar, a 1:11 do companheiro.

Um eventual espectáculo mais interessante ficou comprometido quando a organização anunciou que a etapa de 130 quilómetros só teria 59,5. Mais uma vez o mau tempo e deslizamento de terras obrigaram a mudança de planos. Só se fez a última subida. Difícil, é certo, com 33 quilómetros de extensão em Val Thorens e pendentes quase sempre entre os 6 e 8%, quando não eram mais elevadas. Acabou por ser uma crono-escalada um pouco mais extensa com a Ineos desta feita a ter tudo perfeitamente controlado, com Wout Poels e Geraint Thomas sempre ao lado de Bernal.

A vitória ficou para um lutador Vincenzo Nibali. Pode ter sido obrigado a ir ao Tour pela Bahrain-Merida, mas a ser verdade, o italiano foi um profissional de nível e desde que percebeu que não iria lutar pela geral, nunca desistiu de procurar uma etapa, a sexta no seu palmarés.

Classificações completas, via ProCyclingStats.




26 de julho de 2019

Lágrimas, espectáculo e um deslizamento

(Fotografia: © ASO/Alex Broadway)
Que dia no Tour! Se o abandono de Thibaut Pinot já seria drama suficiente para a etapa, a meteorologia resolveu pregar uma partida bem diferente do calor das etapas desta última semana de corrida. No entanto, há um momento que marcará a Volta a França, já longe da estrada. É o momento em que Egan Bernal não aguenta mais e deixa-se levar pela emoção de algo tão especial, com que há muito sonhava. Aproveitando a vantagem de poder apresentar um vídeo com o texto, desta feita começa-se por mostrar como reagiu o colombiano ao dar a entrevista como líder do Tour e com a vitória a estar ali tão perto.


Um Bernal que sempre demonstrou tanta tranquilidade, sabendo gerir bem as emoções em fases tensas de corrida, seja como gregário ou como líder, vai ter um sábado de nervos. "Só quero passar amanhã e chegar a Paris", disse entre muitas lágrimas. Será pedir muito?

Aos 22 anos, Egan Bernal está tão perto de cumprir o destino. Ganhar a Volta a França parecia ser uma questão de tempo. Desde que chegou à Ineos em 2018 que se falava quando ganhará e não se ganhará. Não era o plano para 2019. Afinal era o Giro o seu objectivo, mas uma queda afastou-o da prova dias antes do seu arranque. Uma queda que poderá ter precipitado um momento histórico. No Tour iria para ajudar Chris Froome. No entanto, mais uma queda tirou um líder da Ineos de uma grande volta. Geraint Thomas tem o número um, mas não conseguiu reunir nem a crença, nem a atenção de uma maioria que olhava para Bernal como o ciclista principal da equipa britânica. Olhava para ele como o vencedor.

Quando se fala de talento, Bernal é um dos melhores exemplos. Junta-se a isso a dedicação e trabalho para desenvolver esse talento e ter o apoio de uma das melhores equipas do mundo (ainda a melhor no que diz respeito a grandes voltas) e não nunca demoraria muito a Bernal começar a ganhar nos maiores palcos. E no maior palco: o Tour.

Ainda não ganhou. Não se festeje antes de tempo. Um último momento de nervosismo no Tour aguarda Bernal e toda uma Colômbia. Basta ver o que aconteceu a Thibaut Pinot. Num instante, o melhor Tour da sua carreira terminou em lágrimas, estas de uma desilusão profunda. Uma ruptura muscular na coxa acabou com um sonho que poderia ter-se tornado realidade, mas nunca o saberemos: finalmente um francês ganhar o Tour e acabar com o jejum de mais de 30 anos. A espera continua...

Esperava-se uma etapa intensa, com muito espectáculo, pois era bem ao estilo do que já se assistiu de melhor na Vuelta. Poucos quilómetros, 126,5 quilómetros, com constante sobe e desce, uma categoria especial como o Col de l'Iseran, antes de uma última dificuldade mais curta, mas que tinha pouco ou nada de fácil. Foi tudo o que se esperava e um pouco mais, que era desnecessário.

A meteorologia adversa confirmou-se e a intensa chuva, que foi acompanhada com queda de granizo, contribuiu para um deslizamento de terra que deixou a subida para a meta impossível de se fazer (as impressionantes imagens podem ser vistas no vídeo do resumo da etapa no final do texto). Os ciclistas já desciam rumo ao local à subida para Tignes, quando a organização mando parar. Ninguém ficou contente até perceberem a gravidade da situação. Não havia outra opção. Os tempos para a classificação geral foram contabilizados no Col de l'Iseran, onde Bernal passou em primeiro. Mas não foi o vencedor da etapa. A decisão passou por não ser atribuída classificação na tirada, o que significa que ninguém beneficiou de segundos de bonificação.


(Fotografia: © ASO/Pauline Ballet)
Bernal parecia ir a caminho de uma etapa para não mais esquecer. Certamente que ficará na sua memória na mesma, mas merecia ter tido a oportunidade de cortar a meta e saborear o momento, mesmo que Simon Yates (Mitchelton-Scott) eventualmente aguentasse o ritmo do colombiano e ganhasse a etapa.

Mas a amarela é de Bernal. Julian Alaphilippe (Deceuninck-QuickStep) desta feita cedeu. Será uma das figuras do Tour, mas agora passa o foco para o colombiano. A neutralização da etapa até o ajudou, pois a diferença para Bernal ficou-se nos 45 segundos e manteve-se no pódio. Porém, Alaphilippe admitiu que não se vê a ainda discutir a vitória e percebe-se porquê ao se olhar para a etapa de montanha que falta. Não tem nada a perder e até poderá tentar, mas também poderá apostar antes em garantir um merecido lugar no pódio de Paris. A missão não será fácil, contudo, depois de tudo o que fez, nada parece impossível para o francês neste Tour.

Na Ineos acabaram-se as tácticas estranhas e as disputas internas. Geraint Thomas está a 1:11 minutos de Bernal, no terceiro lugar, e garantiu que fará tudo para que o companheiro faça história. Um ano depois, o galês poderá estar na posição de Froome: a ser o último vencer, mas a ver um companheiro ganhar, enquanto sobe ao último lugar do pódio.

Egan Bernal é o terceiro colombiano a vestir a camisola amarela no Tour, depois de Víctor Hugo Peña em 2003 (durante três dias) e Fernando Gaviria em 2018 (um dia). Mas mais importante, está a 130 quilómetros* pelos Alpes de, no domingo, ter o seu momento de consagração e um encontro com a história a caminho de Paris, para finalmente colocar um colombiano como o grande vencedor da Volta a França.

20ª etapa: Albertville - Val Thorens, 130 quilómetros (a etapa foi posteriormente encurtada após a publicação deste texto, ver mais baixo)*



Há muito que não se tinha um Tour tão incerto no vencedor até tão perto do final. Apesar de parecer muito difícil Egan Bernal deixar escapar a camisola amarela, a verdade é que as diferenças são boas, mas não permitem descansar. A luta de pelo menos alcançar um lugar no pódio pode provocar alguns sustos a uma Ineos que não dá garantias colectivamente (alguma vez se pensou dizer isto?), pelo que Thomas poderá ainda ter um papel importante na defesa de Bernal, caso o colombiano não consiga ele próprio eliminar qualquer tentativa de ataque.

Steven Kruijswijk (Jumbo-Visma) está a 1:23 minutos de Bernal, a 12 segundos de Thomas, com um discreto mas extremamente competente Emanuel Buchmann (Bora-Hansgrohe) a 1:50 da frente, a 39 segundos de Thomas. Segue-se Mikel Landa (Movistar) a já 4:30, ainda que a luta por um melhor lugar no top dez possa ajudar a animar a etapa.

A derradeira subida, uma categoria especial, tem 33,4 quilómetros de extensão. A fase mais difícil é logo nos primeiros, quando se ultrapassa os 9% de pendente, mas a restante é muito constante entre os 6% e 8%, com algumas zonas de descanso. Mas depois de tantos quilómetros, de um Tour que apostou na altitude (vão terminar a 2365 metros), as dificuldades até Val Thorens vão parecer intermináveis.

Classificações completas, via ProCyclingStats.

* Após a publicação deste texto, foi anunciado que, devido ao mau tempo, a penúltima etapa seria encurtada para cerca de 60 quilómetros, com passagem apenas na última subida. Aqui fica o gráfico.



Veja toda a acção do dia no vídeo em baixo.




»»Lutas internas, tácticas estranhas... E Alaphilippe continua de amarelo««

»»Ciclistas expulsos do Tour consideram decisão exagerada««