31 de janeiro de 2019

Landa começa a época no hospital

(Fotografia: © Bettiniphoto.net/Movistar Team)
A época tinha praticamente terminado com uma queda grave. A começar a temporada com ambição de deixar para trás um 2018 muito abaixo das expectativas, Mikel Landa sofreu nova queda e no seu primeiro dia de competição do ano, acabou no hospital. Vai mesmo precisar de uma cirurgia. 2019 arranca mal para o espanhol da Movistar.

A cerca de 15 quilómetros da meta do troféu Trofeo Ses Salines, Campos, Porreres, Felanitx (176,9) - um dos quatro que compõem o Challenge de Maiorca -, uma queda que envolveu vários ciclistas numa subida, deixou Landa k.o. O ciclista não se levantou de imediato e foi transportado para o hospital. A confirmação do pior não demorou muito a chegar por parte da equipa. Landa partiu a clavícula direita. Irá regressar esta sexta-feira a casa em Álava, no País Basco, com a cirurgia a realizar-se num prazo de 48 horas.

No ano passado, outra queda deixou-o fora da Vuelta e já nada mais fez na temporada. Foi a 4 de Agosto na Clássica de San Sebastian, com Landa a fracturar uma vértebra. Apesar de ter recorrido a um médico especialista que já tinha tratado do tenista Rafael Nadal, do futebolista Santi Cazorla e até do rei emérito Juan Carlos, não conseguiu recuperar para competir na Volta a Espanha, regressando nas clássicas italianas de final de época. Não terminou nenhuma das seis em que participou.

O objectivo então era começar a pensar em 2019 e garantir que estaria a 100% para arrancar bem a temporada, com o Giro a ser, desta feita, a primeira grande volta do seu calendário, seguindo-se o Tour. Começar a época no hospital é rude golpe e, não estando ainda definido o tempo de paragem, Landa fica para já excluído das corridas espanholas para que estava escalado neste início de época.

Também Rasmus Iversen começou da pior maneira a época, naquela que estava a ser a sua estreia no World Tour, ao serviço da Lotto Soudal. O dinarmarquês de 21 anos também partiu a clavícula.

Alejandro Valverde, companheiro de Landa, foi quarto na corrida ganha por outro espanhol. Jesús Herrada (Cofidis) terminou com 11 segundos de vantagem sobre Guillaume Martin (Wanty-Groupe Gobert), Bauke Mollema (Trek-Segafredo) e Valverde.

José Gonçalves (Katusha-Alpecin) chegou a andar na fuga e fechou na 18ª posição, a 54 segundos de Herrada. Nelson Oliveira (Movistar) foi 43º, a 4:14 minutos e na sua estreia pela UAE Team Emirates, Rui Oliveira terminou na 54ª posição, a 5:05. Pode ver aqui a classificação completa, via ProCyclingStats.

De referir que Óscar Pelegrí, ciclista que esta ano vai representar a Vito-Feirense-PNB, está a competir pela selecção espanhola, tendo sido 37º, a 3:50.

Esta sexta-feira realiza-se o Troféu Andratx-Lloseta (172,4 quilómetros). Dos portugueses, só Nelson Oliveira repetirá a presença.


A brincadeira de que ninguém se está a rir

(Fotografia: Deceuninck-QuickStep)
O momento em que Iljo Keisse quis ter piada tornou-se num que não está a deixar ninguém rir-se. Bem pelo contrário. O que os responsáveis da Deceuninck-QuickStep tentaram enterrar com um pedido de desculpa, está a tornar-se num autêntico pesadelo, ao que não ajudou as declarações de Patrick Lefevere a insinuar que a rapariga que fez queixa na polícia de San Juan contra o ciclista, queria era dinheiro. Perante toda a publicidade negativa que está a rodear a equipa, os patrocinadores já reagiram. Ninguém está a rir-se.

A Deceuninck apareceu para salvar uma QuickStep que precisava de um patrocinador principal. Não estava em risco a continuidade da estrutura, mas ficaria a faltar uma maior estabilidade e poderio financeiro. O fabricante de janelas juntou-se a uma equipa que em 2018 somou 73 vitórias, ou seja, uma garantia que a exposição mediática seria enorme se os ciclistas de Lefevere mantivessem o ritmo de triunfos que foi muito alto no ano passado, mas tem sido quase sempre elevado em épocas anteriores. No entanto, ainda a temporada está a arrancar e a Deceuninck vê o seu nome envolvido em polémica. 

Não é de estranhar que o contentamento seja reduzido nesta altura, mesmo que Viviani e Alaphilippe já andem a somar vitórias. "Não concordamos com o que aconteceu. Este não é um comportamento que aceitamos. Há muita controvérsia em redor deste tema, mas esperemos que desapareça rapidamente", disse Jérôme de Bruycker, director de marketing na Europa da empresa, ao Cycling News. O site refere que haverá conversações entre a Deceuninck e os responsáveis da formação belga sobre o que aconteceu com Keisse.

Mas não é só o novo patrocinador que está desagradado com o que está a acontecer. A Specialized já há uns anos que fornece as bicicletas à equipa e, perante a reacção nas redes sociais à fotografia, afirmou: "A Specialized leva assuntos como este muito seriamente. Estamos a trabalhar com a equipa para reforçar as expectativas que temos para dos os ciclistas patrocinados pela Specialized."

No que foi apenas mais uma das muitas fotografias que certamente os ciclistas desta equipa já tiraram com adeptos, Iljo Keisse, de 36 anos, considerou que era um bom momento para simular um acto sexual com a jovem empregada do café, de 18. A rapariga fez queixa na polícia e Keisse pagou uma multa a rondar os 70 euros. Pediu desculpa, considerando o gesto "estúpido". A equipa começou por dizer que tinha sido uma brincadeira que não deveria ter acontecido, mas que não iria além de uma reprimenda ou multa, abrindo mais tarde a porta para uma eventual sanção. Mas manteve Keisse na corrida. Já a organização da Volta a San Juan, tomou a medida que ainda esperou ver a equipa ter: expulsou-o. O director da Deceuninck-QuickStep respondeu ameaçando tirar a equipa da prova e acusando então a rapariga de querer dinheiro, algo que a jovem desmentiu, afirmando mesmo que o assunto para ela estava terminado.

Perante a expulsão, no final da quarta etapa ninguém da equipa foi ao pódio, por alegadamente terem passado mal na parte final da tirada e não como forma de protesto. A Deceuninck-QuickStep foi multada em 500 francos suíços, cerca de 440 euros pela ausência.

Julian Alaphilippe já ganhou duas etapas, é o líder, Remco Evenepoel é o melhor jovem, mas a viagem à Argentina tornou-se num pesadelo mediático porque, a começar em Keisse, e a terminar nos responsáveis da equipa, as decisões e as palavras apenas agravaram a situação, quando esta deveria ter sido imediatamente resolvida quando a queixa foi feita. Agora a Deceuninck-QuickStep está obrigada a reagir, quando se tivesse agido, poderia ter evitado a polémica que nenhum patrocinador quer ver o seu nome envolvido.

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30 de janeiro de 2019

Keisse expulso da Volta a San Juan. Ciclistas da Deceuninck-QuickStep não foram ao pódio

(Fotografia: Deceuninck-QuickStep)
Expulso. Uma decisão mais do que esperada depois de Iljo Keisse ter simulado um acto sexual com uma rapariga que tinha pedido ao belga e a outros ciclistas da Deceuninck-QuickStep para tirar uma fotografia. O caso acabou na polícia e nos meios de comunicação social. O gesto levou a organização da Volta a San Juan a pedir uma sanção exemplar. A equipa não a deu, no imediato, pelo menos. A organização reagiu expulsando o ciclista, que não partiu para a quarta etapa da corrida argentina.

Pelo meio houve então uma ida à polícia após a queixa, uma multa que rondou os 70 euros (feito o câmbio) e um pedido de desculpa de Keisse pelo gesto "estúpido", como o próprio referiu. Da equipa veio uma tentativa de colocar um rápido ponto final: "Foi uma brincadeira que não deveria ter sido feita, mas uma que não vai além de um aviso ou multa." O comunicado foi citado pela Marca, ficando aberta a possibilidade de uma sanção interna.

A organização da Volta a San Juan fez-se valer do regulamento da UCI, que prevê que um ciclista deve comportar-se de forma conveniente, inclusivamente fora das corridas. A reacção à expulsão veio do director da equipa, Patrick Lefevere. "Se dependesse de mim, a equipa ia toda embora da Volta a San Juan. Estamos a rever o que os regulamentos da UCI dizem e depois decidiremos rapidamente se vamos começar ou não [a quarta etapa]", afirmou ao Het Laatste Nieuws.

A equipa continua em prova, Julian Alaphilippe continua na liderança e Remco Evenepoel é o melhor jovem. Ainda assim, ninguém subiu ao pódio após a quarta tirada, ainda que tenha sido garantido que não era uma forma de protesto. Foi explicado pelo responsável de marketing e comunicação da equipa, Alessandro Tegner, que Evenepoel e Álvaro Hodeg, terceiro classificado na etapa, não se sentiram bem na parte final da corrida e que foi decidido não irem ao pódio. Alaphilippe teve de ir realizar os testes anti-doping, mas não foi à conferência de imprensa. A equipa poderá ser multada, pois a presença no pódio é obrigatória.

Nas declarações referidas de Lefevere, o responsável chegou a insinuar que a rapariga que fez queixa na polícia contra Keisse queria dinheiro. Numa entrevista à Marca, a jovem de 18 anos, empregada no café onde estavam os ciclistas da Deceuninck-QuickStep, garantiu: "Não quero dinheiro. Os meus pais têm dinheiro e se eu trabalho, é por não querer pedir-lhes dinheiro. Não denunciei por dinheiro, mas sim por dignidade." Além do gesto de Keisse, a rapariga acusou ainda o ciclista de lhe ter tocado ao simular o acto sexual, algo que o belga de 36 anos desmentiu.

Para a jovem o caso está encerrado, assim como para a justiça argentina. Terá ficado para a Deceuninck-QuickStep?

O mal-estar está instalado por um gesto de facto estúpido e de enorme desrespeito por quem apenas quis tirar uma fotografia com ciclistas que são o rosto de uma das equipas mais populares do mundo, sendo eles próprios algumas das referências da modalidade actualmente. A decisão da organização da corrida não foi surpreendente, já a da equipa em adiar eventuais sanções, deixa mais uma vez a ideia que só interessa a competição e que tudo o resto pode ser adiado para uma altura mais conveniente. Foi assim com a Sky quando Gianni Moscon foi acusado de comentários racistas contra outro ciclista e repetiu-se agora com esta situação de Keisse.

Esta quinta-feira é dia de descanso na Volta a San Juan, o que até poderá ser algo bom para a Deceuninck-QuickStep ficar mais resguarda da atenção indesejada que o caso de Keisse atraiu. Tegner assegurou que a equipa vai manter-se em prova. Fernando Gaviria, UAE Team Emirates e ex-ciclista da formação belga, venceu a quarta etapa, a sua segunda, com Alaphilippe a manter a liderança conquistada no contra-relógio que venceu, tendo oito segundos de vantagem sobre o colombiano, naquela que também foi a sua segunda vitória na prova.

»»Sky suspende Moscon seis semanas e obriga ciclista a frequentar curso de consciencialização««

29 de janeiro de 2019

Ciclistas sem margem para falhar em 2019

(Fotografia: © Team Katusha-Alpecin)
Para alguns ciclistas todos os quilómetros feitos em 2019 serão ainda mais importantes do que o normal. Há quem venha de uma má temporada, há quem já some épocas abaixo do exigido. Numa modalidade com tanto talento sempre a aparecer, quando os resultados começam diminuir, o futuro poderá ser insensível a currículos ganhadores. A idade vai passando nuns, noutros o peso do dinheiro aumenta ainda mais a pressão para que apresente resultados (Marcel Kittel à cabeça, neste caso).

Aqui ficam cinco ciclistas que estão proibidos de falhar em 2019.

Marcel Kittel (30 anos, Katusha-Alpecin)
É inevitável o alemão surgir em primeiro lugar. A Katusha-Alpecin abriu os cordões à bolsa para contratar um ciclista que acreditava ser garantia de vitórias. Foram apenas duas no Tirreno-Adriatico e o resto de 2018 foi passado a dizer que era na próxima corrida que o sprinter iria aparecer ao seu melhor. Até fez exames médicos para tentar perceber se havia algum problema de saúde, como aconteceu no passado. Nada. Kittel acabou a época a dizer que nunca tinha feito uma recuperação completa da aparatosa queda no Tour, em 2017.

O ciclista está obrigado a render as vitórias esperadas. Certamente mais do que duas. Acabaram-se as justificações de estar em adaptação à nova equipa ou de qualquer outro problema. Não será a primeira vez que o alemão terá de recuperar animicamente de um mau ano, mas com novos sprinters a aparecerem em força e a ganhar, Kittel tem um estatuto a defender no pelotão e só o poderá fazer se recomeçar a vencer. De referir que está no último ano de contrato.

Fabio Aru (28 anos, UAE Team Emirates)
2018 foi tão mau, que o italiano nem tentou justificar em desculpas. Assumiu a época que teve para esquecer, só querendo retomar o caminho que lhe parecia destinado quando fez pódio no Giro e venceu depois a Vuelta em 2015. Dizer que Aru já teve a sua melhor fase poderá ser um enorme exagero, tendo em conta a sua idade e como cada vez mais se vê os chamados voltistas (e não só) atingirem o auge já depois dos 30, o melhor Aru pode aparecer a qualquer momento.

Mesmo na Astana Aru estava por vezes em baixo rendimento, apesar do bom Tour de 2017. Parte da corrida, pelo menos. Na mudança para a UAE Team Emirates, basicamente tudo o que poderia correr mal, correu. Numa equipa que está a demonstrar ter um poderio financeiro crescente para contratar quem quer - a chegada de Fernando Gaviria é mais uma prova disso mesmo - Aru não se pode encostar ao facto de ter contrato até 2020. A equipa exige vitórias e um pódio numa grande volta tem de ser o objectivo. Para quem quis sair da Astana à procura de um contrato milionário, não há mais tempo para recuperar de mais falhas.

Tejay van Garderen (30 anos, EF Education First)
O americano já anda há algum tempo com este tipo de pressão. Com o final da BMC, conseguiu encontrar um porto de abrigo noutra equipa da casa, mas o facto de só ter recebido proposta para um ano de contrato, demonstra que a desconfiança é grande quanto ao que Van Garderen ainda poderá render.

Rigoberto Uran é o líder nas grandes voltas e o colombiano Daniel Martínez é a estrela em ascensão na EF Education First. Tejay van Garderen dificilmente escapará a um papel de gregário em certas provas, mas não foi contratado apenas para tal. Terá oportunidades e se não as agarrar, o americano que se acreditou vir a ser a referência desejada no ciclismo de um país a tentar recuperar a confiança perdida após o caso Lance Armstrong, pode estar perante o desafio que determinará se ainda tem espaço no World Tour para ser líder, ou se terá mesmo de render-se a um papel secundário.

Nairo Quintana (28 anos, Movistar)
O entusiasmo pelo pequeno colombiano resfriou já praticamente por completo. Há quatro/cinco anos, olhava-se para Quintana e via-se um ciclista que tinha tudo para ser um dos melhores voltistas da história, conquistando várias das três grandes. Tem o Giro e a Vuelta e as últimas duas temporadas ficaram marcadas por falhanços completos. Primeiro a tentativa da dobradinha Giro/Tour, que em nada terá ajudado na relação com o director da Movistar, Eusebio Unzué. No ano passado o Tour ficou muito aquém das expectativas, ao que se pode juntar um Mikel Landa, que também não pode estar muito tranquilo em 2019, já que não esteve ao nível desejado na época passada.

Qualquer coisa abaixo do pódio na Volta a França não será suficiente bom para Quintana em 2019 e terá de estar pelo menos na luta pela vitória. E ganhar a Vuelta terá de ser também um objectivo. Não faltam pretendentes a receber o colombiano, caso decida deixar a Movistar no final do contrato, mas mesmo para ter poder de negociação, Quintana terá de ser aquele ciclista de há quatro anos. O que entusiasmou tudo e todos. O que não ficava sempre à espera para ver o que os outros iam fazer, antes de também ele agir. Começou 2019 a mudar de treinador, num primeiro passo rumo às alterações que têm de ser feitas.

Mark Cavendish (33 anos, Dimension Data)
Já não se espera que o britânico volte a ser o sprinter implacável de outros tempos. Este pensamento não é novo e Cavendish provou a todos como estavam errados em dá-lo como ciclista acabado em 2016. Porém, tem sido um apagão quase total desde então, também muito por culpa do problema de saúde. A mononucleose já por duas vezes que o obrigou a ficar grande parte da época fora de acção, limitando-o quando compete.

A Dimension Data deu-lhe mais uma oportunidade ao renovar-lhe o contrato por uma temporada, muito também por respeito a um ciclista que foi tão importante quando a equipa subiu ao World Tour. Mas não será possível manter um corredor, com um salário alto, que é um líder que não ganha e quando essa é a sua principal função. Cavendish começou a época na Volta a San Juan, que decorre até domingo, sendo oitavo no seu primeiro sprint do ano, ganho por Fernando Gaviria, a referência da nova geração. 2019 será decisivo para se perceber se Cavendish ainda tem o que é preciso para conquistar algumas vitórias frente aos rivais, ou se o seu papel no ciclismo terá de mudar. Isto para não se falar tão cedo na época de uma possível retirada se não conseguir atingir o nível necessário.

Outros nomes

Realçou-se cinco ciclistas, mas estes não estão sós na pressão de terem de fazer bem mais e melhor. Já se referiu Mikel Landa, que pode não estar tão no centro da atenção como Quintana, mas também terá de apresentar mais resultados. Entre os voltistas, Louis Meintjes (Dimension Data) teve uma época idêntica a Aru, ou seja, nada correu bem. O regresso à equipa que o lançou, não correu bem, agora é preciso ser pelo menos aquele corredor a quem era quase natural fechar um top dez.

Matteo Trentin até foi campeão europeu, num título ainda longe de ser visto como uma grande conquista. Foi importante para o ciclista que não estava a ter um bom primeiro ano na Mitchelton-Scott, mas o italiano é o primeiro a dizer que 2019 tem de ser bem melhor.

Depois de vencer a etapa de Roubaix no Tour, um local tão simbólico para John Degenkolb, que já venceu o monumento francês, esperou-se que fosse o tónico que o alemão precisava para regressar ao topo. Na restante temporada mostrou um ciclista mais confiante, pelo que depois de ano e meio longe do que a Trek-Segafredo esperava dele, chegou o momento de estar na discussão das corridas, com destaque para as clássicas do pavé.

Há ainda Tony Martin. A passagem pela Katusha-Alpecin foi para esquecer. Aos 33 anos mudou-se para a Jumbo-Visma para tentar recuperar algum do prestígio perdido. Se apresentar-se bem melhor do que nas últimas temporadas, a equipa ganhará um homem importante no sonho de lutar por uma grande volta.

Para terminar, Rui Costa. A lesão no joelho estragou-lhe grande parte da temporada. A renovação foi anunciada já tarde e de apenas um ano. O português, de 32 anos, tem um 2019 para demonstrar que tem lugar numa equipa que agora junta a ambição ao dinheiro para contratar os melhores. Para já, o ciclista quererá ter uma temporada sem azares e assim poder demonstrar a forma dos Mundiais de Innsbruck.

28 de janeiro de 2019

Rui Oliveira com estreia marcada no Challenge de Maiorca

(Imagem: UAE Team Emirates)
Depois de um início de 2019 passado na pista, com um título de campeão nacional de omnium e bons resultados nas Taças do Mundo da Nova Zelândia e Hong Kong, Rui Oliveira vai agora estrear-se na estrada com a UAE Team Emirates. Será o arranque da carreira no World Tour para o gémeo, depois do irmão o ter feito na Austrália e logo com uma subida ao pódio no Tour Down Under, com a equipa a ser a melhor nessa corrida. Rui Faz parte dos 12 ciclistas chamados para o Challenge de Maiorca, prova composta por quatro troféus. O campeão nacional de sub-23 está escalado para competir em dois.

O primeiro será já na quinta-feira, regressando depois à competição no último, no domingo. Aos 22 anos, Rui Oliveira estará já ao lado de duas das principais figuras da equipa, como Fabio Aru - que tem a Volta ao Algarve no seu calendário - e Alexander Kristoff.

Enquanto Ivo tem um calendário que inclui mais corridas por etapas, como a Volta à Romandia e a Volta à Noruega, por exemplo, Rui estará mais concentrados nas clássicas neste arranque de época, depois de um 2018 com bons resultados neste tipo de corridas ao serviço da Hagens Berman Axeon. A E3 BinckBank (novo nome da E3 Harelbeke) e a Através da Flandres estão no seu calendário.

A sua estreia será então nos 176,9 quilómetros no Trofeo Ses Salines, Campos, Porreres, Felanitx. Estará ao lado de Fabio Aru, Alexander Kristoff, Vegard Stake Laengen, Marco Marcato, Yousif Mirza e Manuele Mori.

Nos 159,6 quilómetros do Trofeo Palma, no domingo, a equipa será: Kristian Durasek, Alexander Kristoff, Vegard Stake Laengen, Marco Marcato, Manuele Mori e Rui Oliveira.

Pelo meio haverá outros dois troféus.

Trofeo Andratx Loseta (172,4 quilómetros): Kristian Durasek, Alexander Kristoff, Vegard Stake Laengen, Daniel Martin, Simone Petilli, Edward Ravasi e Aleksandr Riabushenko.

Trofeo de Tramuntana (140,1 quilómetros): Fabio Aru, Kristian Durasek, Daniel Martin, Yousif Mirza, Simone Petilli, Edward Ravasi e Aleksandr Riabushenko.

Quanto a Rui Costa, o campeão do mundo de 2013 também estará presente em Espanha, mas no velódromo de Palma de Maiorca, para testar a nova bicicleta de contra-relógio, a Colnago K.One, segundo anunciou a UAE Team Emirates. Rui Costa, Fabio Aru e Daniel Martin vão estar juntos já nesta terça-feira para realizar os testes. A estreia do ciclista português em competição está agendada para a Volta à Comunidade Valenciana, de 6 a 10 de Fevereiro.

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»»Os portugueses no World Tour««

27 de janeiro de 2019

André Greipel, o homem dos cinco continentes

(Fotografia: Twitter La Tropicale)
É difícil esconder aquela sensação que André Greipel saiu pela porta pequena da Lotto Soudal, depois de tantas e grandes vitórias na equipa belga. Aos 36 anos, o alemão considera que está mais do que a tempo de ter uma nova fase na já extensa carreira e em poucos dias com o equipamento da Arkéa Samsic já assinou um feito: é o primeiro ciclista a ganhar em todos os continentes.

Greipel foi a África começar a temporada e a vitória na sexta etapa da Tropicale Amissa Bongo, no Gabão, fechou esse ciclo de triunfos inédito. Em mais de 150 triunfos, a maioria foram na Europa, na Oceania foram 18 as etapas no Tour Down Under, na Austrália, além de duas vitórias na geral, na Ásia foi ganhar ao Qatar e a Omã e no continente americano é preciso recuar a 2009 para encontrar a sua única conquista, na extinta prova de um dia Philadelphia International Championship.

Talvez seja apenas um pormenor numa carreira que conta com 22 vitórias em grandes voltas, tendo em 12 consecutivas das que participou sempre ganho pelo menos uma tirada. Isto além de muitas outras conquistas em várias das mais importantes corridas mundiais por um ciclista que foi um lançador de luxo de Mark Cavendish e que conseguiu tornar-se numa referência no sprint.

Foram oito épocas na Lotto Soudal, que terminaram depois de uma difícil relação com o novo director Paul de Geyter - que entretanto já saiu da equipa belga -, com a Arkéa Samsic a aproveitar para contratar um ciclista que pode estar na recta final da sua carreira, que pode não ganhar tanto, mas tem sido garantia de sucesso, algo que a formação bem precisa depois de um 2018 muito aquém do esperado, principalmente pelo baixo rendimento de Warren Barguil.

Uma vitória já está. Servirá muito de motivação numa altura em que Greipel ainda tenta encontrar o melhor entendimento com o seu novo comboio de preparação do sprint, sempre a pensar que chegará o desejado convite para o Tour, corrida em que mesmo não sendo o sprint de outrora, continua a ser o grande palco onde Greipel merece estar.

O alemão venceu então os 110 quilómetros da sexta etapa (Bitam-Oyem) da prova no Gabão, numa corrida ganha pelo italiano Niccolò Bonifazio. O ciclista, de 25 anos, também desceu ao escalão Profissional, deixando a Bahrain-Merida, para tentar ter um maior destaque na Direct Energie. Quanto a André Greipel, viajará agora para Espanha para participar nos habituais troféus de início de época do país, antes de se concentrar em algumas clássicas, tendo o Paris-Roubaix no seu calendário.

Portugal sempre a melhorar e o pódio ficou tão perto

(Fotografia: Federação Portuguesa de Ciclismo)
Está a ser sempre a melhorar. As prestações dos ciclistas portugueses na pista continuam a atingir novos níveis nas Taças do Mundo. O destaque da participação da etapa de Hong Kong vai para o quarto lugar no madison, num resultado que tem tanto de bom, como de um pouco de frustrante, afinal dois pontos apenas separaram João Matias e Rui Oliveira do pódio. Mas também Maria Martins está a aproveitar muito bem as oportunidades que está a ter para competir nestas importantes provas. Foi sexta no omnium. 

Em três participações, Maria Martins passou de um 16º lugar em Londres, para um sexto em Hong Kong, com um 12º pelo meio na Nova Zelândia. Maria Martins começou com um quinto posto no scratch, um sexto na corrida tempo e 11º na eliminação. A derradeira prova, a corrida por pontos, foi disputada a uma média de 48,265 quilómetros/hora. Maria Martins não somou qualquer ponto, mas ainda assim garantiu o melhor resultado de sempre no ciclismo de pista feminino de Portugal, numa Taça do Mundo. Terminou o concurso do omnium com 82 pontos.

A holandesa Kirsten Wild, campeã mundial da disciplina, venceu com 137 pontos, a francesa Laurie Berthon foi segunda, com 114 e a australiana Alexandra Manly fechou o pódio com 112. 

Apesar do próximo objectivo serem os Mundiais de Pruszkow, na Polónia, entre 27 de Fevereiro e 3 de Março, a qualificação para os Jogos Olímpicos está sempre presente na mente dos ciclistas. Por isso mesmo, o quarto lugar no madison da dupla Matias/Oliveira é ainda mais relevante. Os dois ciclistas realizaram uma excelente prova, tendo estado praticamente toda corrida em lugares de pódio. Só no último sprint a dupla acabou por cair para o quarto posto. A Equipa Portugal não conseguiu pontuar, finalizando a prova com 19 pontos, a apenas dois dos franceses Benjamin Thomas e Florian Maitre.

Os neozelandeses Thomas Sexton e Campbell Stewart foram os vencedores com 33 pontos, seguidos pelos australianos Sam Welsford e Kelland O’Brien, que somaram 29.

No sábado, João Matias havia alcançado outro bom resultado no scratch, um sexto lugar, enquanto na disciplina olímpica do omnium, Rui Oliveira teve um mau dia, ficando apenas no 19º posto.

Foram semanas intensas da selecção de pista, que agora espera por conhecer as quotas para os Mundiais, para assim Gabriel Mendes escolher os ciclistas que irão representar Portugal.

O regresso de David Rosa

Também no BTT Portugal teve um ciclista em acção este fim-de-semana. Foi o final de uma longa paragem para o atleta olímpico David Rosa, que não competia desde Maio do ano passado. Em Lanzarote, foi 17º no sábado, melhorando para 13º no domingo na prova espanhola.

"O David Rosa andou sempre no grupo da frente, em mais uma etapa de velocidade muito elevada para o BTT. Numa etapa mais longa do que a de véspera, as sensações do David já foram melhores, o que nos deixa optimistas para o que ainda falta de competição", afirmou o seleccionador Pedro Vigário, quando ficam a faltar duas etapas da prova.

Na estrada, mas pelas respectivas equipas, Ruben Guerreiro (Katusha-Alpecin) e Ivo Oliveira (UAE Team Emirates) estiveram na Cadel Evans Great Ocean Race, na Austrália. O campeão nacional de 2017 foi 15º, com o mesmo tempo do vencedor, o italiano Elia Viviani (Deuceninck-QuickStep). Já Ivo abandonou na sua segunda corrida do World Tour.


26 de janeiro de 2019

Um ano depois do atropelamento Vakoc está de volta

(Fotografia: © Sigfrid Eggers/Deuceninck-QuickStep)
Nem sempre é preciso ser o primeiro a cortar a meta para se conquistar uma grande vitória. Petr Vakoc alcançou algumas no último ano, todas longe do ciclismo, mas necessárias para que este domingo regresse à competição depois de um ano de incertezas. Por momentos nem sabia se voltaria a andar, quanto mais fazer novamente da bicicleta a sua vida. Quanto teve permissão para os primeiros treinos, fê-lo com uma bicicleta pendurada ao contrário numas escadas, para que pedalasse deitado! Tudo isto porque num estágio como tantos outros um condutor abalroou Vakoc e Laurens de Plus, tendo Bob Jungels escapado sem saber muito bem como, num dia que marcou a vida dos três corredores.

Foi o checo quem ficou em pior estado. As fracturas nas vértebras obrigaram a três operações cirúrgicas e uma longa recuperação, sem se saber se seria possível Vakoc continuar no ciclismo. Patrick Lefevere nunca abandonou o seu corredor. Em final de contrato e com a equipa a certa altura a precisar de aliviar a folha salarial devido à falta de um patrocinador principal para 2019, o director assegurou que Vakoc teria o seu lugar se recebesse luz verde para competir.

Um ano depois do acidente na África do Sul, Vakoc viajou até à Argentina para, na Volta a San Juan, retomar a sua carreira. O que lhe espera não sabe, mas não tem dúvidas que qualquer dor que sinta nas corridas, não será pior do que a que sofreu quando foi atropelado. Por tudo o que passou, Vakoc até disse que espera que possa ser um ciclista melhor do que era antes, realçando como sempre recebeu o apoio dos companheiros de equipa e dos responsáveis da agora Deuceninck-QuickStep.

"Vou estar definitivamente animado, mas também nervoso. Não sei bem o que esperar quando começar a andar rápido. Penso que o meu corpo irá habituar-se", conta Vakoc, num vídeo publicado pela equipa belga (pode ver em baixo, em inglês). Nele, o ciclista de 26 anos, recorda tudo o que viveu nos últimos 12 meses, referindo que o facto de ter partilhado a sua recuperação através de vídeos, servia não só para ele próprio se sentir motivado, mas também para que pudesse eventualmente ser uma inspiração para outras pessoas.

Contou ainda como o importante era focar-se no que podia fazer e não no que não podia. "Mentalmente estou definitivamente mais forte e penso que as dores que vou sentir nas corridas, não serão tão más como as que senti há um ano", disse.

Ciclista de clássicas, Vakoc parecia estar a caminho da sua afirmação, depois de duas temporadas muito positivas, principalmente a de 2016. Agora é passo a passo. Corrida a corrida. Depois da Argentina, seguirá para a Colômbia e o seu calendário irá sendo definido à medida que se for percebendo o seu estado físico.

Para já, e perante tanta perseverança, só se pode dizer: bem-vindo de volta Petr Vakoc!


25 de janeiro de 2019

Convites para o Giro finalmente anunciados. Israel Cycling Academy está de novo entre as equipas eleitas

(Fotografia: Giro d'Italia)
Não estava fácil a decisão, com o anúncio a ser adiado cerca de uma semana. Finalmente os convites para a Volta a Itália foram revelados e não foram boas notícias para uma das equipas da casa, ainda que tenha sido um alívio para outra. Este é o último ano em que as organizações podem atribuir os quatro wildcards para as grandes voltas, pois a partir de 2020 só terão dois, com os restantes a serem automaticamente garantidos pelas duas melhores equipas Profissionais Continentais do ano anterior.

A RCS Sport resistiu à tentação, por assim dizer, de garantir que as quatro formações italianas participassem no Giro, não esquecendo que actualmente o país não tem nenhuma do World Tour. A Israel Cycling Academy voltou a ser uma das eleitas. Se há um ano não surpreendeu a escolha, tendo em conta que a corrida começou em Israel, já em 2019 a escolha estava longe de ser óbvia. Não encantou na edição passada - o melhor foi o segundo lugar de Rubén Plaza numa etapa e a presença em algumas fugas - e nem é das equipas mais fortes do segundo escalão. Porém, a conhecida ambição de subir ao World Tour em 2020 - fala-se da possibilidade de ficar com a Sky - e com a Wanty-Groupe Gobert e a Cofidis mais interessadas no Tour, os dois factores podem ter ajudado a candidatura da formação israelita. E sempre tem três italianos no plantel: Davide Cimolai, Riccardo Minali e Kristian Sbaragli.

A preterida foi a Neri Sottoli-Selle Italia-KTM, novo nome da Wilier Triestina-Selle Italia. Desde 2010 que a equipa não falhava um Giro, o que ajudava o peso do patrocinador e também a presença de Filippo Pozzato. O veterano ciclista retirou-se e a estrutura teve ainda de procurar por um novo patrocínio. Contratou Giovanni Visconti e Dayer Quintana, mas não convenceu a RCS Sport. Agora poderá passar pelo susto da Androni Giocattoli-Sidermec, que ao ficar de fora do Giro viu o seu futuro tremido, pois afinal, os patrocinadores italianos olham muito para a possibilidade de ver o nome numa das mais importantes corridas de ciclismo.

Gianni Savio começou a apostar tudo na Taça de Itália. Quem a vence, fica automaticamente com um convite para o Giro, ainda que não se saiba se a política irá manter-se em 2020. Assim a Androni Giocattoli-Sidermec assegurou nos últimos dois anos o seu lugar. A Nippo Vini Fantini Faizanè também viveu o mesmo problema, mas a parceria entre Itália e Japão deu alguma segurança à estrutura que vai agora regressar à Volta a Itália, o que não deixará de ser um alívio. Há um ano, a ausência do convite fez com que Damiano Cunego não pudesse cumprir o seu desejo de despedir-se na corrida que venceu em 2004.

A Bardiani-CSF fecha o lote dos quatro convites, não havendo surpresas neste caso. Mesmo quando dois ciclistas foram suspensos um dia antes do arranque do Giro100 e apesar do director da corrida, Mauro Vegni, até ter chegado a ameaçar levar a equipa a tribunal caso considerasse que haviam sido feitos danos à imagem do Giro, no ano seguinte, em 2018, atribuiu novamente um convite à equipa. É normalmente das mais activas, justificando a escolha.

A Volta a Itália realiza-se entre 11 de Maio e 2 de Junho, com início em Bolonha e final em Verona, ambos os dias com um contra-relógio individual.

Foram esta sexta-feira anunciados também os convites para outras corridas da RCS Sport, ficando a faltar a Lombardia. A 
Neri Sottoli-Selle Italia-KTM foi, de certa forma, compensada pela ausência no Giro e terá lugar garantido na Strade Bianche, Milano-Sanremo e Tirreno-Adriatico.

Strade Bianche (9 de Março): Neri Sottoli-Selle Italia-KTM, Nippo Vini Fantini Faizanè e a francesa Vital Concept-B&B Hotels.

Tirreno-Adriatico (13 a 19 de Março): Bardiani-CSF, Neri Sottoli-Selle Italia-KTM, Israel Cycling Academy, a francesa Cofidis e a russa Gazprom-Rusvelo.

Milano-Sanremo (23 de Março): Androni Giocattoli-Sidermec, Bardiani-CSF, Neri Sottoli-Selle Italia-KTM, Israel Cycling Academy, as francesas Cofidis e Direct Energie e a americana Novo Nordisk.



24 de janeiro de 2019

"Não é muito normal um belga estar numa equipa espanhola. É diferente e o diferente às vezes é bom"

(Fotografia: © Photo Gomez Sport/Movistar Team)
Um ciclista belga numa equipa de Espanha não é algo muito comum e o próprio Jürgen Roelandts deixa escapar uma pequena gargalhada quando se comenta isso mesmo. Porém, até há uma boa razão para o veterano ciclista ter escolhido a Movistar para prosseguir a carreira: é casado com uma espanhola! Mas no momento de decidir o seu futuro para 2019, houve outros pormenores que tiveram um peso bem maior, principalmente a oportunidade de ser de novo líder nas clássicas que mais gosta.

Apesar de Alejandro Valverde até querer estar na Volta a Flandres, Roelandts é rápido a dizer que se tem a camisola do arco-íris, então "merece a liderança" e o belga garantiu que será o primeiro a estar na ajuda ao campeão do mundo. Porém, Roelandts sabe que vai poder também ele discutir vitórias, depois de um ano "tapado" por Greg van Avermaet na BMC. "Aqui posso ter a oportunidade de estar nas corridas que gosto. Vou tentar [ser um líder para ganhar as clássicas]. Já fiquei perto em algumas ocasiões. Esta é uma boa equipa para mim. Vou ter hipótese de lutar por vitórias e vou ter ciclistas a apoiar-me", salientou ao Volta ao Ciclismo.

Nas dez temporadas que passou na Lotto Soudal, Roelandts subiu ao pódio na Volta a Flandres e Milano-Sanremo, mas também somou algumas vitórias como a conquista da Eurométropole, então uma corrida por etapas (2012). Na que acabou por ser uma curta passagem pela BMC, apenas um ano, o belga conquistou uma etapa na Volta à Comunidade Valenciana, além do contra-relógio colectivo. Com a equipa a passar por uma enorme indefinição até aparecer a CCC para salvar a estrutura, Roelandts procurou novamente uma formação onde pudesse ter protagonismo e a Movistar foi a escolha perfeita, pois bem precisava de reforçar o seu bloco para as clássicas.

E ninguém melhor do que um belga para ter esse papel, sendo um ciclista que, pela sua nacionaldiade, cresceu e viveu sempre no ambiente deste tipo de provas, a maioria marcadas pelo pavé. "A Movistar não fez muitos pontos nestas corridas [em 2018] e espero que com a minha experiência possa ajudar, que também ensinar alguns dos mais novos e assim conquistar alguns pontos", referiu.

Aos 33 anos está assim numa equipa que confessou há muito admirar e que afirmou que há algum tempo que gostaria de representar. Disse apreciar a mentalidade espanhola e também os equipamentos da Movistar! "Não é muito normal um belga estar numa equipa espanhola. É diferente e o diferente às vezes é bom", frisou.

Com uma carreira tão extensa, Roelandts já esteve ao lado de bons ciclistas, mas será a primeira temporada com um campeão do mundo como companheiro. "Bom, já estive ao lado do Cadel Evans quando ele foi campeão [em 2009], mas foi só um mês! Vai ser especial estar com o Valverde. E é óptimo que ele vá à Volta a Flandres mostrar a camisola arco-íris", realçou, reiterando que, como apesar de também ele ter ambição no monumento, irá apoiar o espanhol, se assim tiver de ser. Quanto à referência a Cadel Evans, o australiano mudou-se para a BMC no ano seguinte a conquistar o título mundial.

Casado com uma espanhola, apesar de Roelandts viver na Bélgica, são muitas as viagens para o país da sua nova equipa, para visitar a família da esposa. Porém, também faz mais uns quilómetros até Portugal. O Algarve faz parte do seu roteiro para treinar no Inverno. Terá um português como companheiro de equipa e as primeiras impressões de Nelson Oliveira foram positivas, com Roelandts a considerar que "é um bom rapaz".

Roelandts vai iniciar a temporada no final de Janeiro, nos habituais troféus que abrem a época em Espanha, seguindo depois para a Volta à Comunidade Valenciana. Só depois vai então começar a concentrar-se no seu grande objectivo: as clássicas do pavé. Numa Movistar tão concentrada em conquistar as provas por etapas e desejosa de regressar às vitórias numa grande volta, Roelandts espera poder dar destaque à equipa também nas corridas de um dia e assim ganhar um lugar de destaque na estrutura e, talvez, convencer o director Eusebio Unzué a renovar-lhe o contrato para 2020.

»»"Vamos ver se consigo dar um passo mais à frente e que surja a tão desejada vitória [no contra-relógio]"««

»»"É este o meu sonho, é isto que quero fazer na minha vida e vou lutar para o realizar"««

UCI conclui processo contra Van der Sande: "Infelizmente fui inicialmente retratado como um ciclista dopado"

(Fotografia: © Photo News/Lotto Soudal)
Terminou o pesadelo de Tosh Van der Sande. A UCI encerrou o processo que envolvia o ciclista belga, que deu positivo por uma substância que, apesar de ser permitida, tinha de ser relatada aquando do teste anti-doping. A Lotto Soudal suspendeu de imediato o corredor, mas já o readmitiu e vai rapidamente regressar à competição, na Ruta del Sol, entre 20 e 24 de Fevereiro.

Van der Sande esteve na prova de pista Seis Dias de Gent, em Novembro, e um teste identificou a presença de uma substância que está presente num spray nasal Sofrasolone, segundo explicou então a Lotto Soudal. Em causa estará a prednisolona, que não sendo proibida, o ciclista tem de alertar que recorreu a um produto que a contém quando faz o teste. O belga referiu que escreveu a substância errada no formulário, o que deu desencadeou a investigação.

Ao ser informado pela UCI do positivo, Van der Sande alertou a Lotto Soudal - o belga competiu por conta própria na prova - e, perante a tolerância zero quando ao doping, a equipa suspendeu-o de imediato. Apesar de ser uma substância que permitiria que o ciclista pudesse continuar a competir normalmente enquanto decorresse o processo, a Lotto Soudal não hesitou em afastar Van der Sande, numa postura bem diferente de um exemplo recente, como o de Chris Froome.

Van der Sande enviou o necessário à UCI para explicar as razões do positivo e o organismo aceitou as justificações. Poucas horas depois do seu empresário dizer que esperava uma decisão o mais tarde em Fevereiro, afinal foi bem mais rápida. A Lotto Soudal que foi célere a afastar o ciclista, também não hesitou em readmiti-lo e retomar o trabalho normal de preparação de início de temporada.

Para o belga, de 28 anos, é um alívio o processo estar concluído, mas lamenta que tenha sido logo rotulado de dopado. "Infelizmente fui inicialmente retratado como um ciclista dopado, quando só tinha de fazer uma declaração sobre como aquela substância em particular foi encontrada na minha urina. Foi meramente um erro administrativo", explicou num comunicado.

A Lotto Soudal referiu que a UCI decidiu não acusar o ciclista, dando o processo como encerrado. "A equipa foi notificada que a explicação dada pelo ciclista foi considerada admissível e que não seria iniciado um procedimento disciplinar", lê-se na nota publicada pela formação.

Van der Sande tem feito toda a sua carreira profissional ao serviço da Lotto Soudal, que representa desde 2012. É principalmente um homem de trabalho, pronto para ajudar na preparação de um sprint, de entrar em acção em clássicas, ou em provas por etapas. Tem contrato até 2020.


23 de janeiro de 2019

Sporting-Tavira na Argentina com muita experiência e com bicicletas de travão de disco

O Sporting-Tavira não só mudou um dos seus líderes, como também vai mudar as bicicletas. A equipa algarvia é a primeira no país a passar para os travões de disco, que vão assim chegar ao pelotão português. Vidal Fitas realça como é um sistema que pode trazer vantagens e não antevê problemas, como por exemplo, no momento de ter de trocar rapidamente de rodas. De partida para a Argentina, é o arranque para uma nova temporada com novas caras e a ambição de quebrar o domínio da W52-FC Porto.

Esse tem sido o discurso de Tiago Machado desde que foi anunciado como reforço do Sporting-Tavira. Mas, para já, é altura de ganhar forma e tentar começar bem a temporada. Depois do Gabão em 2018, a equipa viaja esta quinta-feira para competir na Volta a San Juan, corrida argentina que vai contar com um lote de ciclistas muito fortes, principalmente ao nível do sprint. Peter Sagan (Bora-Hansgrohe), Fernando Gaviria (UAE Team Emirates) e Mark Cavendish (Dimension Data) são alguns de cabeça de cartaz, juntando-se nomes que partem como candidatos à vitória na geral, como Nairo Quintana e Richard Carapaz (Movistar), Julian Alaphilippe (Deuceninck-QuickStep) e Tiesj Benoot (Lotto Soudal). Estará ainda presente a sensação dos Mundiais de Innsbruck, com Remco Evenepoel (Deuceninck-QuickStep) a ter estreia marcada como profissional na Argentina, depois de ter ganho praticamente todas as provas de juniores em que participou em 2018.

O director desportivo do Sporting-Tavira considera importante que a equipa esteja numa corrida que terá uma cobertura mediática maior do que a do Gabão. Na corrida africana, Rinaldo Nocentini venceu duas etapas e lutar por vitórias na Argentina é algo que está nos planos. Porém, não é o principal objectivo.

"Essencialmente, o que pretendemos é ganhar ritmo competitivo para podermos depois, no início de época em Portugal, apresentar uma melhor condição do que aquela que estamos agora. No entanto, não quer dizer que, se a nossa condição der para tentar disputar a corrida ou uma etapa, não o façamos. É a primeira corrida do ano e nós não sabemos como vamos estar em relação aos nossos adversários. Essa é sempre a incógnita nesta altura. Sabes como estás, mas não sabes como estão os outros", salientou Vidal Fitas ao Volta ao Ciclismo.

O seis eleito prima pela experiência: Tiago Machado, José Mendes, Rinaldo Nocentini, Alejandro Marque, Aleskandr Grigorev e Nicola Toffali. Os dois primeiros estão de regresso a Portugal depois de vários anos a competir no estrangeiro, com presença nas três grandes voltas. Oito das nove épocas de Tiago Machado no pelotão internacional foram passados no World Tour. Aos 33 anos regressou com a ambição de lutar por vitórias, sendo o novo rosto da liderança, depois de Joni Brandão ter optado por voltar à Efapel.

(Fotografia: KTM)
A outra grande novidade para 2019 é a adopção de bicicletas com travão de disco. O Sporting-Tavira troca as Jorbi pelas KTM Revelator Lisse Prestige e seguirá a tendência que já se tem visto no World Tour. Apesar de continuar a não ser consensual entre os ciclistas a utilização deste sistema de travagem, a maioria das marcas já aposta nele.

"Praticamente, em 2019, todas as grandes marcas internacionais estão a optar por esta solução. Esta marca propor-nos isso. Em 2018, a Trek e a Specialized, por exemplo, praticamente já só tinham modelos equipados com este tipo de sistema de travagem. Do que sei, este ano, a maior parte delas também tem essa solução, portanto, se isto é uma realidade dos próximos anos, quanto mais cedo começarmos a trabalhar nela, mais cedo nos adaptaremos ao que temos de nos adaptar", explicou.

Vidal Fitas realçou que há vantagens, como a maior eficácia numa descida, por exemplo. Porém, há ainda um pouco a aprender. "Uma coisa é andar no BTT e outra é no pelotão e se ter de trocar de rodas e essas coisas todas. Há actuações que início podem correr mal, mas quanto mais cedo nos adaptarmos, mais cedo conseguimos pôr isto a funcionar", salientou. E precisamente sobre a questão de mudança de roda, que tantas vezes é essencial que decorra de forma célere, o responsável não acredita que será um problema: "É uma questão de prática, de ter as coisas mecanizadas para um novo sistema. Não estou a ver que demore assim tanto tempo. Os encaixes são fáceis. É uma questão de mecanizar bem as coisas. Não vai ser por aí que as coisas não funcionarão."

Sete etapas para todos os gostos

A Volta a San Juan realiza-se de domingo a domingo (de 27 de Janeiro a 3 de Fevereiro), com um dia de descanso na quinta-feira, 31 de Janeiro. A presença de sprinters tão importantes como os que escolheram a Argentina nesta fase inicial da temporada, tem razão de ser. Só duas etapas serão claramente para trepadores (quarta e sexta), além do curto contra-relógio de 12 quilómetros no terceiro dia.

Há um ano, a corrida teve um vencedor surpresa, com o homem da casa Gonzalo Najar (Sindicato Empleados Públicos de San Juan) a bater nomes como Rafal Majka, Tiesj Benoot e Jarlinson Pantano, por exemplo. Contudo, o ciclista de 25 anos testou positivo por CERA e terminou a época a ser suspenso por quatro anos, com a vitória a ser atribuída ao então segundo classificado, o veteraníssimo Óscar Sevilla (Medellin).

Aos 42 anos, o espanhol estará de regresso para tentar novo triunfo. A Medellin será uma das nove equipas Continentais, onde se inclui o Sporting-Tavira: Equipo Continental Municipalidad de Pocito, Asociacion Civil Mardan, Agrupacion Virgen De Fatima, Municipalidad de Rawson Somos Todos, Start Team Gusto, Team Beltrami Tsa-Hopplà-Petroli Firenze e Biesse Carrera.

Do escalão Profissional Continental estarão presentes a Androni Giocattoli-Sidermec, Neri Sottoli-Selle Italia-KTM, Nippo Vini Fantini Faizanè, Caja Rural e Israel Cycling Academy. O pelotão fica completo com as selecções da Argentina, México, Chile, Cuba, Brasil, Uruguai e Peru.

Etapas:

  • 1ª etapa: San Juan-Pocito (159,1 quilómetros)
  • 2ª etapa: Chimbas-Peri Lago Punta Negra (160,2)
  • 3ª etapa (contra-relógio individual): Pocito-Pocito (12)
  • 4ª etapa: San José de Jáchal Valle Fértil-Villa San Agustín (185,8)
  • 31 de Janeiro (quinta-feira): dia de descanso
  • 5ª etapa: San Martín-Alto Colorado (169,5)
  • 6ª etapa: Autódromo El Villicúm-Autódromo El Villicúm (153,5)
  • 7ª etapa: San Juan-San Juan (141,3)

Equipa do Sporting-Tavira em 2019: Frederico Figueiredo, David Livramento, Rinaldo Nocentini, Alejandro Marque, Aleskandr Grigorev, Valter Pereira, Nicola Toffali, Alvaro Trueba, Tiago Machado (Katusha-Alpecin), José Mendes (Burgos-BH), César Martingil (Liberty Seguros-Carglass), Ricardo Martins, Diogo Ribeiro e Rúben Simão (os três do Sporting/Tavira/Formação Eng. Brito da Mana).

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