1 de abril de 2018

Recital de Terpstra numa desunião que fortalece ainda mais a Quick-Step Floors

Terpstra ganhou o seu segundo monumento (Fotografia: Volta a Flandres)
Estavam todos mais do que avisados. A Quick-Step Floors era a equipa temida, com quatro ciclistas candidatos a ganhar e outros três de grande qualidade. No entanto, os adversários estiveram na Volta a Flandres a pensar em si, a controlar, por vezes a parecer terem mais medo do que os outros poderiam fazer, do que propriamente interessados em fazer algo. Quando a Quick-Step Floors mexeu - com um "incentivo" de Vincenzo Nibali - foi o filme de sempre: os restantes candidatos olharam para Peter Sagan. O eslovaco até tentou, mérito nisso. Mas foi tarde e completamente ineficaz. Os restantes pouco fizeram. Agradeceu a Quick-Step Floors. Foi perfeita e logo na primeira tentativa acertou. Niki Terpstra atacou a 30 quilómetros da meta, apanhou o trio da frente e lá foi ele.

Ganhar isolado é algo que sabe fazer tão bem. Não vence muito, mas o holandês tem um currículo de fazer inveja a muitos dos grandes nomes das clássicas. Este domingo juntou a Volta a Flandres ao Paris-Roubaix. Dois monumentos! Nem Peter Sagan, nem Greg van Avermaet, os dois principais nomes da actualidade das clássicas (juntamente com Philippe Gilbert), se podem gabar deste feito... Niki Terpstra também já tem duas Dwars door Vlaanderen (Através da Flandres), há pouco mais de uma semana conquistou o E3 Harelbeke e em provas por etapas tem o Eneco Tour, a Volta à Valónia e duas Voltas ao Qatar. E 2018 vai ser um ano que não irá esquecer, pois foi a terceira vitória em cinco semanas. Tudo começou no final de Fevereiro com o segundo triunfo na carreira no Le Samyn. Foi ainda três vezes campeão nacional.

21ª vitória esta temporada da Quick-Step Floors e sendo um conjunto que aposta muito forte nesta fase das clássicas - afinal é belga -, o director Patrick Levefere só viu os seus ciclistas deixar escapar a Gent-Wevelgem no seu país. Peter Sagan estragou os planos de Elia Viviani.

Terpstra era uma hipótese para a Flandres, Philippe Gilbert outra, Zdenek Stybar e Yves Lampaert mais duas. Que luxo! Há um ano Gilbert acelerou a mais de 50 quilómetros da meta e nunca mais ninguém o viu. Vitória épica. Desta vez foi uns quilómetros depois, mas a receita foi a mesma. A figura, desta feita, foi Niki Terpstra. 33 anos, oito na Quick-Step Floors. Não é dos ciclistas mais consistente em termos de resultados e desde que venceu o Paris-Roubaix, há quatro anos, que só de quando em vez apareceu. Agora está numa forma em tudo idêntica àquele 2014 e com a conquista da Flandres, ganhou novamente um lugar de destaque entre os candidatos para o monumento francês do próximo domingo.

Terpstra emocionou-se. Não escondeu como em criança via Roubaix e Flandres e sonhava em um dia lá estar. Em um dia vencer. Agora ganhou os dois míticos monumentos - desde Adrie van der Poel em 1986, que nenhum holandês não ganhava na Volta a Flandres - e ajudou a Quick-Step Floors a confirmar que pode ter perdido Tom Boonen, mas a retirada do belga apenas serviu para libertar todos os restantes ciclistas.

Deixou de existir um líder destacado e esta forma de haver espaço para todos lutarem por vitórias está a ser uma táctica perfeita. O Paris-Roubaix do próximo domingo fecha a fase das clássicas do pavé e ninguém parece encontrar forma de desestabilizar a estrutura belga. Para tal teriam de lutar com armas idênticas. E como nenhuma equipa tem o poderio da Quick-Step Floors, resta unir esforços entre rivais. Para isso terão de colocar os egos de parte e principalmente perceber que têm de trabalhar, mesmo com Peter Sagan, se quere discutir a vitória em Roubaix. Na Quick-Step Floors é a união que faz literalmente a força, contudo, ninguém esteve disponível na Flandres para se unir a adversários. Erro crasso.

Todos os líderes ficaram sozinhos, com a excepção da Sky. No entanto, optaram por tentar de quando em vez acelerar, mas sem ajudar quando outro o fazia. Sagan não está definitivamente disponível para levar ninguém na roda e, de repente, há quem nem consiga estar na discussão das corridas... O pior é que nem o tricampeão do mundo consegue. Nesta próxima semana haverá muito a pensar de como se irá encarar um Paris-Roubaix que ameaça ser chuvoso. A Quick-Step Floors volta a ser a grande candidata pelo seu todo. Os restantes terão de repensar se é individualmente que quererão enfrentar o pavé do Inferno do Norte.

A equipa belga colocou ainda Philippe Gilbert no pódio, com Mads Pedersen a ser o único do trio que esteve na frente que não perdeu o contacto com Terpstra quando este ultrapassou como se fosse de moto. Dylan van Baarle (Sky) e Sebastian Langeveld (EF Education First-Drapac) não são uns inexperientes neste tipo de corridas, mas foram banalizados por um irresistível Terpstra. 22 anos e Pedersen está a dar cada vez mais garantia a uma Trek-Segafredo que começa a não saber o que fazer com um John Degenkolb que mal se vê. Quando se vê.

Uma palavra para Wout van Aert. Na estreia na Volta a Flandres foi dos poucos que tentou mexer na corrida quando Terpstra saiu atrás de um surpreendente Vincenzo Nibali (o italiano quebrou logo a seguir, mas o 24º lugar é um excelente resultado para quem correu pela primeira vez nesta prova). Falta experiência ao jovem belga da Vérandas Willems-Crelan. Foi nono e tem todas as qualidades para um dia discutir a Flandres e o Paris-Roubaix.

A Quick-Step Floors fechou o top dez com Zdenek Stybar, mas há que referir o 13º classificado. É incrível como aconteceu tudo a Sep Vanmarcke (EF Education First-Drapac). Caiu, furou, teve problemas mecânicos e ainda assim foi juntamente com Wout van Aert e Sagan (sexto) quem mostrou querer fazer algo quando Terpstra já lá ia bem longe. Ao ver que ninguém ajudava, percebeu que o esforço era inglório.

Que venha o Paris-Roubaix. É uma corrida menos propensa a controlos como aconteceu na Flandres, pelo que jogar ao ataque é muitas vezes a melhor táctica. A Quick-Step Floors, que poderá apresentar exactamente o mesmo sete de Flandres, tem toda a vantagem para assumir esta forma de correr. Os adversários precisam de fazer mais do que olhar apenas para o que Peter Sagan e o escudeiro Daniel Oss fazem.

Quanto aos portugueses, Nelson Oliveira ainda chegou a aparecer no grupo principal, antes de este ficar reduzido aos principais candidatos. Foi 62º a 8:18 minutos. O colega da Movistar, Nuno Bico, abandonou, assim como José Gonçalves, da Katusha-Alpecin.

Classificação via ProCyclingStats.


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