21 de abril de 2018

Valverde à procura de igualar uma lenda e já com a certeza que monumento quer atacar em 2019

(Fotografia: Twitter Movistar Team)
Perder a Flèche Wallonne para Julian Alaphilippe não desanimou nada um Alejandro Valverde determinado em fazer história quando se aproxima o 38º aniversário (a 25 de Abril). É altura de olhar para o próximo grande objectivo: ganhar pela quinta vez o monumento mais antigo, a Liège-Bastogne-Liège e assim chegar-se ao mítico Eddy Merckx. "É muito importante para mim. Estamos a falar de igualar uma lenda. Tenho muito respeito por ele. Igualá-lo daria a uma vitória no domingo uma especial dimensão", afirmou Valverde.

O belga venceu em 1969, 1971, 1972, 1973 e 1975. A última foi aos 29 anos. Vivem-se tempos bem diferentes e Valverde começou mais tarde a ganhar, mas não tem intenções de parar tão cedo: 2006, 2008, 2015 e 2017. O seu maior adversário chama-se Julian Alaphilippe, o francês que lhe tirou a possibilidade de conquistar uma sexta Flèche Wallonne, batendo o espanhol num muro de Huy onde ninguém há quatro anos descobria a forma de bater Valverde. "Eu sei há muito tempo que não sou imbatível", realçou ao jornal belga La Meuse.

O ciclista da Movistar admitiu que cometeu um erro que não poderia fazer com Alaphilippe: "Não me apercebi na altura, mas demorei demasiado tempo em reagir à aceleração do Julian. Com outro ciclista não teria sido um erro fatal, mas com o Julian foi. Tinha de recuperar muito espaço e quando vi que não conseguiria apanhá-lo, que rebentaria se chegasse a um metro dele, desacelerei."

Alaphilippe (Quick-Step Floors) já era um dos ciclistas candidatos a ser uma das figuras na semana das Ardenas e a conquista da Flèche Wallonne apenas lhe consolidou um estatuto merecido. O francês quebrou o enguiço de dois segundos lugares, atrás de Valverde, e o próprio confessou que tinha sido importante ganhar frente ao espanhol. Em 2015 foi precisamente o que aconteceu também na Liège-Bastogne-Liège, o francês não conseguiu bater o Bala.

Em dez participações, Valverde tem sete pódios, quatro no ponto mais alto. Alaphilippe conta apenas com duas participações, mas também tem apenas 25 anos. São de facto tempos diferentes ao de Merckx, em que os ciclistas apareciam mais cedo, mas também era quase inimaginável ver alguém com quase 38 anos a ganhar ao ritmo de Valverde. O espanhol pode muito bem estar perante uma espécie de entrega de testemunho nas Ardenas ao francês, mas não o quer fazer sem antes fazer um pouco mais de história.

E não será apenas Alaphilippe com quem se terá de preocupar. Vincenzo Nibali tem a Liège-Bastogne-Liège como objectivo para 2018. Já venceu um monumento de forma algo inesperada, a Milano-Sanremo, mas nesta fase na carreira, o italiano ganhou um novo fôlego para estas corridas, não se centrando tanto apenas numa ou duas corridas de três semanas. E que bem tem estado o líder da Bahrain-Merida. Seja em terreno que o beneficie ou não, tenta atacar, mexe nas corridas, dá espectáculo. Resultou na Milano-Sanremo e Nibali está desejoso por juntar mais um monumento ao currículo, pois conta ainda com duas Lombardias. Este ano experimentou a Volta a Flandres e, lá está, mesmo não sendo um terreno a que esteja muito habituado, tentou a sua sorte.

Para o ano haverá outro estreante. Valverde gostou da experiência do pavé na Através da Flandres (foi 11º) e já decidiu que quer estar na Volta a Flandres pela primeira vez na carreira. "Será um dos principais objectivos. Adoro correr no pavé e fiquei com a sensação que me dou bem, mesmo estando longe de ser um especialista", disse o espanhol.

Mas primeiro há a Liège-Bastogne-Liège que terá uma concorrência interessante por parte da dupla da Lotto Soudal Tim Wellens/Tiesj Benoot. Na Flèche Wallonne, Jelle Vanendert acabou por surpreender e ser ele a entrar no pódio, mas a equipa belga aposta muito forte nesta corrida. Ganhar a Strade Bianche com Benoot foi fantástico, mas falta um triunfo numa das principais clássicas belgas, pois a Brabantse Pijl (por Wellens) sabe a pouco. Houve um desentendimento após a Flèche Wallonne, com Wellens a criticar o colega por não o ter ajudado, mas já veio pedir desculpa a Vanendert.

Na Astana teremos um Michael Valgren num momento extraordinário da carreira. O dinamarquês vem de uma sensacional vitória na Amstel Gold Race e abriu a época das clássicas do pavé com a conquista da Omloop Het Nieuwsblad. Estamos a falar de um ciclista que como sub-23 venceu duas vezes a Liège-Bastogne-Liège dessa categoria - e que este ano foi conquistada pelo português João Almeida -, pelo que se sente muito à vontade neste terreno. Não lhe dêem um centímetro, pois tem sido fatal.

A Sky parte com um trio que se pode esperar tudo e pode não dar em nada. Não está a ser uma época de clássicas auspiciosa para a equipa britânica. Michal Kwiatkowski, Geraint Thomas e Wout Poels são nomes a ter em conta, mas sem o favoritismo de outras edições. Romain Bardet (AG2R), Warren Barguil (Fortuneo-Samsic) e Rigoberto Uran (EF Education First-Drapac p/b Cannondale) estarão presentes, tal como Tom Dumoulin. Será uma boa oportunidade para perceber como está o holandês da Sunweb, que estará mais concentrado em aparecer bem no Giro, mas um monumento... é um monumento. Porém, poderá ser Michael Matthews a principal aposta da equipa, caso confirme o regresso à boa forma.

Depois de ver Daniel Martin na Flèche Wallonne quase custa colocá-lo como sequer um outsider. Mas todos têm maus dias e o irlandês tem uma grande oportunidade para se redimir e a UAE Team Emirates bem agradecia. Foi segundo no ano passado, mas já conta com uma vitória em 2013, enquanto Rui Costa foi terceiro em 2016. E o português poderá ser mesmo a principal aposta da equipa, em parceria com Diego Ulissi, se Martin voltar a falhar. Rui Costa esteve a bom nível na Flèche Wallonne, sempre bem colocado, mas aquele muro de Huy não é definitivamente para ele. Já a Liège-Bastogne-Liège assenta-lhe bem e o português gosta muito desta corrida.

Ruben Guerreiro será o outro português em prova. O ciclista da Trek-Segafredo também gosta desta corrida e na de sub-23 fez um terceiro lugar em 2016. Terá como líder Bauke Mollema, pelo que veremos se terá alguma liberdade. Nas senhoras, Daniela Reis voltará a estar presente ao serviço da Doltcini-Van Eyck Sport.

Pode ver aqui a lista de inscritos para a 104ª Liège Bastogne-Liège.

Quanto ao percurso, o monumento mantém-se fiel ao habitual, mas muito se tem falado que nas próximas edições poderão haver novidades. Mas neste domingo, nos 258 quilómetros entre Liège e Ans, as maiores dificuldades concentram-se principalmente nos últimos 100 quilómetros. Côte de Pont (aos 168 quilómetros, mil metros a 10,5%) e Ferme Libert (180, 1200 metros a 12,1%) podem servir para abrir algumas hostilidades, ou poder-se-á esperar pelas próximas dificuldades. Rosier (198, 4400 a 6%) e Maquisard (211, 2500 a 5%). Uma das novidades é a La Redoute surgir um pouco mais cedo na corrida, isto é, a 36 quilómetros de meta (2000 metros a 8,9%). Sobram depois Roche-aux-Faucons (a 19 quilómetros do fim, 1300 metros a 11%) e Saint-Nicolas (a seis da meta, 1200 a 8,6%).


A Liège-Bastogne-Liège é o monumento mais antigo da história do ciclismo. A primeira edição foi em 1892, ganha pelo belga Léon Houa, que também venceu nos dois anos seguintes. Apesar de ter mais edições, 116, o Paris-Roubaix teve a sua estreia em 1896. Valverde, Martin, Poels (2016), Simon Gerrans (2014) e Philippe Gilbert (2012) serão os ciclistas que já ganharam esta corrida que estarão em prova neste domingo.


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