18 de abril de 2018

Só um grande ciclista, um verdadeiro campeão, poderia bater outro. Até Valverde se rendeu a Alaphilippe

Fotografia: Twitter Flèche Wallonne)
Por momentos foi difícil distinguir qual era a principal notícia: Alaphilippe ganhou a Flèche Wallonne ou Valverde foi finalmente batido? No Twitter até houve quem usasse o bom humor para descrever o momento: "Última hora! Alejandro Valverde não ganhou a Flèche Wallonne" (@CafeRoubaix). Mas que não restem dúvidas. Só um grande ciclista poderia destronar o espanhol numa corrida na qual há quatro anos não dava hipótese, somando um total de cinco vitórias. Alaphilippe já tinha dois segundos lugares. Já chegava. Queria mais. "É um corredor muito bom e depois de dois segundos lugares, era a sua vez de ganhar." Palavras de Valverde, um senhor na hora da vitória e claramente também na derrota.

Mas falemos de Alaphilippe, o grande vencedor. E que corrida foi esta! Aquele quilómetro final no Muro de Huy foram de tirar a respiração. O francês cortou a meta, de cabeça baixa. Cansado? Não. Momentaneamente frustrado a pensar que tinha batido Valverde - e por uma distância de respeito -, mas era novamente o segundo. "Pensei que o Nibali ainda estava à frente na fuga. Depois o meu primo, que estava à minha espera na meta, disse-me que eu tinha conseguido [ganhar]", explicou o francês, então já com um sorriso de orelha a orelha.

Apesar da frustração dos dois segundos lugares e de há um ano ter falhado a corrida por problemas físicos, Alaphilippe salientou como sempre continuou a acreditar que com muito trabalho iria conseguir ganhar. "Eu precisava de uma vitória numa grande corrida e fazê-lo ganhado a minha primeira Flèche Wallonne, à frente do Valverde, é algo de muito especial", salientou.

E este é de facto um pormenor importante. Alaphilippe venceu e fê-lo deixando o ciclista que era dono e senhor desta corrida há quatro anos atrás de si. Parecia não haver forma de bater Valverde, pelo que para o francês é significativo ganhar com o espanhol em prova e não quando eventualmente não estivesse na corrida. Valverde escreveu uma história muito própria na Fèche Wallonne - é recordista de vitórias - e Alaphilippe escreve agora a sua, começando com a vitória sobre aquele que era o rei de Huy, o muro que Valverde dominava como ninguém. O rei tem agora um digno sucessor.

Sejamos justos, Alaphilippe não ganhou apenas porque soube atacar no momento certo e porque teve uma força impressionante para deixar para trás um Valverde que, por breves instantes, parecia que vinha em recuperação para mais um triunfo. Alaphilippe foi perfeito, mas antes houve todo um trabalho que envolveu mais equipas, além da sua Quick-Step Floors, que permitiu este desfecho.

Com a Movistar a controlar todas as operações de uma Flèche Wallonne mais dura que em anos anteriores na parte inicial, foi um Vincenzo Nibali (Bahrain-Merida) que voltou a abrir as hostilidades decisivas, tal como na Volta a Flandres. Então Niki Terpstra aproveitou a "boleia" para depois seguir sozinho para a vitória. Nesta quarta-feira, o italiano foi fantástico e aguentou mais tempo na frente, primeiro acompanhado por mais de 20 ciclistas, depois num grupo mais selecto. Cedeu pouco antes da terceira e última subida ao muro de Huy. Perante tanta confusão na perseguição, Alaphilippe nem viu que o italiano tinha encostado e seguia calmamente já sem pensar na vitória.

O ataque promovido por Nibali acabou por numa fase inicial contar com mais equipas, o que obrigou a Movistar a trabalho extra e solitário. Mikel Landa esteve muito bem, mas acabou por ser só ele quem ficou até mais tarde com Valverde. Todos atacaram a Movistar e aos poucos conseguiram quebrar a resistência da equipa espanhola, o que foi importante para expor o mais cedo possível Valverde.

Regressando à fase final, quando Nibali ficou para trás, com Tanel Kangert (Astana). Jack Haig (Mitchelton-Scott) e Max Schachmann (Quick-Step Floors) - sétimo classificado na Volta ao Algarve - entraram no Huy com menos de 15 segundos de vantagem. O colega de Alaphilippe parecia poder aguentar e ser ele a ganhar, mas aqueles 25/26% de pendente foram demasiado  para o alemão. Alaphilippe passou por ele quase de moto! Que determinação teve, ainda mais tendo em conta que pensava que ia ser segundo! Schachmann ficou em oitavo, mas o plano da Quick-Step Floors voltou a ser desempenhado na perfeição: 26 vitórias em 2018, a quarta para Alaphilippe (duas etapas na Volta ao País Basco e uma na Colombia Oro y Paz). O último francês a conquistar a Flèche Wallonne tinha sido Laurent Jalabert, em 1997.

Para Alaphilippe é uma tremenda motivação o que alcançou, ainda mais quando no domingo vai tentar o seu primeiro monumento, na Liège-Bastogne-Liège. Estas corridas das Ardenas pareciam destinadas a um dia serem conquistadas pelo francês, que aos 25 anos abriu assim a contagem. Para Alejandro Valverde, ser segundo não é uma desilusão, pois voltou a estar no pódio, como disse. Palavras de ocasião talvez, mas é certo que também ele ganha ainda mais motivação, pois não quer sair das Ardenas sem uma vitória. Conquistar a quinta Liège seria perfeito.

Nesta batalha especial entre duas gerações - Valverde celebra 38 anos a 25 de Abril -, Jelle Vanendert viu-se relegado para um segundo plano. Porém, o experiente ciclista belga da Lotto Soudal (33 anos) merece o destaque pela forma como subiu o muro de Huy para fechar um pódio totalmente inesperado para ele, ainda mais com Tim Wellens a ser um líder em boa forma.

É preciso falar de uma desilusão: Daniel Martin. Já com três pódios atrás de Valverde (dois segundos e um terceiro lugar) e outro ciclista que parece ter nas Ardenas uma vitória que lhe assentaria bem, a verdade é que esteve muito mal. Mesmo muito mal. Só cortou a meta quase dez minutos depois de Alaphilippe. Que início de época mais desapontante para o irlandês. Bem melhor esteve Rui Costa. O português andou sempre bem colocado, mas aquele Huy não o favorece nada. Ainda assim, um 19º lugar a 32 segundos é muito positivo. O melhor da UAE Team Emirates foi Diego Ulissi: 14º, a 25 segundos. Contudo, esta equipa começa a desesperar por vitórias.

O outro português em prova, Ruben Guerreiro (Trek-Segafredo) não terminou. O mesmo aconteceu com Daniela Reis (Doltcini-Van Eyck Sport) na corrida feminina, ganha por Anna van der Breggen. A holandesa da Boels-Dolmans - que no ano passado venceu as três corridas das Ardenas - conquistou pela quarta vez consecutiva a Flèche Wallonne. Alaphilippe pode ser o novo rei do muro de Huy, mas também há uma rainha.

Classificação via ProCyclingStats da Flèche Wallonne: 198,5 quilómetros entre Seraing e Huy.


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