13 de abril de 2018

Antes das Ardenas, os mais e menos de uma grande época de clássicas do pavé

(Fotografia: © Bora-Hansgrohe/Bettiniphoto)
Ponto final na fase do pavé, com as atenções a virarem-se para a semana das Ardenas, que arranca este domingo, antes das grandes voltas tomarem conta dos próximos meses de ciclismo. A época das clássicas tem o seu encanto especial e este ano não foi excepção, com um final épico em Roubaix por parte de Peter Sagan, mas infelizmente marcado pela morte do jovem Michael Goolaerts. Antes de virar definitivamente a página para as Ardenas, aqui ficam os mais e menos da temporada do pavé.

Os mais

Quick-Step Floors: Inevitavel começar pela super equipa. Que temporada de clássicas. Se a nível de número de vitórias a diferença não é grande para os anos anteriores, o destaque vai para o domínio nas corridas de um dia, principalmente na Bélgica. Se não fosse Sagan e a Quick-Step Floors tinha um pleno nas grandes corridas do país, mas escapou-lhe a Gent-Wevelgem. O destaque vai para Niki Terpstra, que ganhou a Volta a Flandres, depois de já ter conquistado E3 Harelbeke e Le Samyn. Rémi Cavagna, Álvaro Hodeg e Fabio Jakobsen apresentaram-se ao ciclismo com vitórias, Yves Lampaert confirmou credenciais, falhou Zdenek Stybar ter o seu triunfo, tendo o checo sido dos ciclistas mais importantes, muito consistente no trabalho e em ajudar outros, mas faltou-lhe uma merecida glória pessoal. A nível táctico a equipa esteve quase sempre perfeita, contudo, no Paris-Roubaix foi finalmente batida por um super Peter Sagan. E ainda não foi desta que Philippe Gilbert levou Roubaix.

Tiesj Benoot: Aquele quinto lugar na estreia na Volta a Flandres em 2015 parecia estar a começar a pesar no jovem belga. Finalmente Benoot comprovou o que se sabia que ele poderia dar e não só foi regular nesta fase das clássicas, como alcançou uma enorme vitória na Strade Bianche. No sterrato bateu a concorrência com uma exibição de força e classe. Nas corridas que se seguiram no pavé, foi sempre top dez, tendo terminado com um terceiro lugar na Brabantse Pijl, uma mostra para o que aí vem, já que Benoot vai atacar as Ardenas. "Saltou" o Paris-Roubaix precisamente a pensar nas três provas que aí vêm, o que não surpreende, pois apesar de ter capacidade para aguentar corridas de pavé, Roubaix é de uma dureza incomparável e a estrutura física de Benoot é bem diferente de um Sagan ou Avermaet. Fica para mais tarde na carreira, certamente. (Recorde aqui a vitória de Benoot na Strade Bianche)

Wout van Aert: Era um nome já conhecido no ciclocrosse. Afinal estamos a falar de um tricampeão mundial. Mas 2018 ficará também como o ano em que mostrou que pode ser um caso sério de sucesso na estrada, principalmente neste tipo de corridas. Sterrato, pavé, para Van Aert parecia estar quase tão confortável como qualquer um que pedala no melhor do alcatrão. O belga, de 23 anos, ganhou um estatuto que não se esperava tão cedo e a Vérandas Willems-Crelan teve um protagonismo que deve ter deixado os patrocinadores muito felizes. Terceiro na Strade Bianche, 10º na Gent-Wevelgem e oitavo na estreia na Volta a Flandres. Furou já perto do fim no Paris-Roubaix, mas ainda foi fechar 13º. 32º na Omloop Het Nieuwsblad e Danilith Nokere Koerse, 36º na Driedaagse Brugge-De Panne e só na Dwars door Vlaanderen as coisas não correram tão bem (83º). Tem mais um ano de contrato com a equipa, mas poucos acreditam que o cumpra. Para já vai continuar a dividir a sua carreira entre a estrada e o ciclocrosse, pelo que nos próximos tempos vamos vê-lo bastante menos, primeiro porque disse que ia tirar umas férias - não esquecer que já tinha feito a época de ciclocrosse - e depois porque na estrada deverá aparecer a partir de agora em algumas corridas menos mediáticas, pelo menos fora do centro da Europa.

Mads Pedersen: A forma como conseguiu manter Niki Terpstra no seu campo de visão enquanto todos os restantes nem pelo canudo viam o holandês na Volta a Flandres, impressionou. 22 anos e uma promissora carreira pela frente. O segundo lugar no monumento irá dar-lhe muito destaque e claro que poderá acontecer o mesmo que com Benoot, por exemplo. Ou seja, não comprovar de imediato o que se espera dele. É ainda muito jovem e o facto de contar com alguns abandonos e outros resultados mais discretos, demonstram que ainda há muito a aprender. Mas a Trek-Segafredo nem hesitou em dar-lhe mais dois anos de contrato, com os responsáveis a admitirem que ficaram surpreendidos com tão bom resultados tão cedo na carreira (pode ler aqui). Pedersen pode vir a ser uma das figuras das clássicas a curto prazo.

Peter Sagan: É um ciclista que tanto se elogia, como se começa a duvidar se está bem e depois faz uma exibição que cala tudo e todos. Venceu a Gent-Wevelgem, mas as restantes clássicas estavam a ser frustrantes. Daniel Oss é de facto um fiel escudeiro, mas a certa altura parecia ser curto. Criticou os adversários por não colaborarem com ele, alertando que assim a Quick-Step Floors continuaria a ganhar. Tom Boonen mandou-o estar calado, acusando-o de ser o eslovaco quem ia na roda dos outros. E não é que falou menos e ganhou em grande?! Que exibição no Paris-Roubaix! Também ajudou a sua equipa ter estado finalmente ao nível necessário, para que quando chegou o momento de ser o seu líder agir, fê-lo de uma forma que deixou todos a dizer que Sagan tinha sido simplesmente o mais forte. Este sim, é Sagan!

Os menos

Greg van Avermaet e a BMC: À primeira vista, a equipa americana tinha dos blocos mais fortes para as clássicas. A saída de Oss tinha sido rombo, mas a entrada de Jurgen Roelandts (ex-Lotto Soudal) parecia ser a substituição ideal. Mas não. A BMC não trabalhou tão mal como Avermaet chegou a insinuar, já que o próprio é que foi quem mais falhou. Porém, o bloco ressentiu-se da falta de Oss que costumava fazer o trabalho final de preparação para o líder. Roelandts foi algo inconstante. No entanto, é Avermaet que tem de analisar bem as suas exibições. Ataques sem sentido que o fizeram desperdiçar forças, má colocação em certas alturas e alguma falta de explosão. O belga acabou por ficar na sua própria sombra e depois de duas épocas brilhantes, ficou a zero.

Oliver Naesen: Por vezes parece que alguns ciclistas acabam vítimas do seu próprio ego. É essa a ideia que Naesen passou. Depois de ter sido uma das revelações em 2017, a expectativa era enorme sobre o belga de 27 anos, mas foi uma desilusão. Olhando apenas para os resultados, não foram maus. Quase sempre no top 20 ou top 10. Houve uns azares pelo meio, principalmente com quedas, contudo, a verdade é que Naesen pode ter terminado em lugares cimeiros, mas nunca conseguiu estar na disputa pela vitória. O ciclista da AG2R disse que preferia sacrificar alguns bons resultados para alcançar um triunfo, mas a sua táctica saiu furada. Valeu à equipa francesa - que tem vindo a apostar mais nesta fase da temporada - o surpreendente segundo lugar de Silvan Dillier no Paris-Roubaix.

Arnaud Démare: É inegável que tem qualidade para estas corridas. É também inegável que a FDJ se portou na maioria das vezes muito bem na protecção e colocação do seu líder. No entanto, ao francês falta colocar em prática a sua capacidade de sprinter para selar a vitória, o que é bem diferente quando se tem muitos quilómetros de muros e/ou pavé, do que quando se enfrenta etapas planas. A evolução é notória, mas a dúvida é grande sobre se será ele quem quebrará o jejum francês no Paris-Roubaix. Frédéric Guesdon foi o último a vencer o monumento, em 1997.

Alexander Kristoff e John Degenkolb: O norueguês da UAE Team Emirates até tinha começado bem a temporada no périplo pelas arábias. Estaria a reencontrar-se? Chegou a dar essa sensação, aparecendo bem colocado, ao lado dos mais fortes candidatos. Mas foi pura ilusão. Acabou por ter resultados discretos e volta-se a temer que o melhor de Kristoff já tenha mesmo passado. O mesmo acontece com o homem da Trek-Segafredo. Quanto ao alemão ainda há menos a dizer. Apareceu durante breves momentos em destaque no Paris-Roubaix, até foi 17º, mas foi uma péssima temporada de clássicas para John Degenkolb que vai começando a perder créditos na equipa, ainda mais com o aparecimento de jovens de talento, como foi o caso de Mads Pedersen e também poderá vir a ser o de Ryan Mullen. Aquele atropelamento na pré-temporada, em 2016, marcou Degenkolb, que nunca mais foi o mesmo.

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