4 de abril de 2018

Sonha vencer o Paris-Roubaix, estar no Tour e garantir que os pais nunca mais tenham de trabalhar

(Fotografia: © Quick-Step Floors)
Estava a poucos dias de celebrar 21 anos quando em Agosto Fabio Jakobsen recebeu um contrato de dois anos para em 2018 tornar-se profissional numa das melhores equipas do mundo. Perguntaram-lhe o que iria fazer com o primeiro ordenado: "Nada. Fiz um acordo comigo próprio que não haverá carros desportivos de luxo antes de me afirmar, para que os meus pais nunca mais tenham de trabalhar. Temos de nos lembrar daqueles que tornaram possível estar nesta situação na vida." Patrick Lefevere, director da Quick-Step Floors, valoriza muito o carácter de um ciclista e só esta resposta demonstra o do jovem Jakobsen que chegou ao World Tour com a dose certa de ambição e de humildade. Resultado: já ganha, já confirma o talento e já vai marcando o seu terreno para, quem sabe, a curto prazo, estar nas maiores corridas, com o Paris-Roubaix a dominar, para já, o sonho de lá vencer.

Salvo alguma mudança de última hora, Jakobsen ainda terá de esperar para estar no Inferno do Norte. Essa é uma corrida que a Quick-Step Floors aposta com as principais armas. Porém, a continuar a evolução que está a demonstrar, o jovem holandês estará brevemente a espreitar um maior protagonismo, numa equipa onde o difícil está a ser alguém não o ter. Até parece que já foi há muito tempo que um estreante Jakobsen confessava o nervosismo e ao mesmo tempo a adrenalina que sentia por preparar os sprints para Elia Viviani na Volta ao Dubai. Depois foi a Omã, mas quando arrancou a temporada nas clássicas belgas, Jakobsen não esperou para começar rapidamente a sua afirmação.

Após o 13º lugar no Le Samyn - ganho pelo compatriota e companheiro Niki Terpstra - e o quarto na Dwars door West-Vlaanderen - também ganho por um colega, o francês Rémi Cavagna -, Jakobsen venceu na Danilith Nokere Koerse. E de repente o seu nome saltava para a ribalta, mais um da Quick-Step Floors, ao que se junta o do colombiano Álvaro Hodeg. Ambos já se colocam numa posição para serem duas das revelações do ano. Mas hoje é dia de se falar do holandês, que voltou a vencer, agora na Scheldeprijs, também conhecida como a corrida de Marcel Kittel. O alemão havia vencido cinco vezes nos últimos seis anos, mas desta vez furou perto do fim e não teve força para reentrar no grupo da frente.

O jovem holandês considera que é a maior vitória da sua curta carreira, pois na Scheldeprijs esteve um pelotão bem mais competitivo do que na corrida em que se estreou a ganhar na Quick-Step Floors. Certo que muitas das principais figuras foram expulsas da corrida por terem atravessado uma passagem de nível quando a cancela já estava a fechar, mas só conta quem lá estava e Jakobsen foi o mais forte. "Não teria conseguido sem o incrível apoio dos meus colegas de equipa", salientou e com razão, pois foi mais uma demonstração de como todos trabalham para todos na Quick-Step Floors. Numa situação normal, poder-se-ia dizer que Zdenek Stybar seria o líder, mas o checo puxou e puxou para deixar Jakobsen na melhor posição para sprintar. É por isso que a formação belga tem 24 vitórias em 2018!

Nascido em Gorinchem, Jakobsen começou no ciclismo aos dez anos, mas só aos 14 é que percebeu que era mesmo o que queria fazer. Logo como júnior demonstrou um potencial que não passou despercebido no seu país e também na Bélgica. Em 2015 assinou pela SEG Racing Academy, projecto Continental holandês, e a Quick-Step começou a segui-lo com muita atenção. No ano passado, entre corridas de elite e de sub-23, Jakobsen somou nove vitórias, com destaque para uma etapa do Tour de l'Avenir, na clássica Rund um den Finanzplatz Eschborn-Frankfurt (ambas de sub-23), uma tirada na Volta à Normandia e ainda foi campeão nacional do seu escalão.

Quando garantiu a sua contratação, ainda a temporada de 2017 não tinha terminado, Patrick Lefevere destacou de imediato o talento e potencial de Jakobsen, acreditando que se está perante um ciclista que tem tudo se consagrar no topo da modalidade.

Para já está a mostrar os seus dotes de sprinter. Porém, numa entrevista no final do ano passado ao PEZ Cycling News, Jakobsen salientou como ainda não se consegue definir como ciclista. "Ainda estou a descobrir como sou como corredor. Sei que sprinto rápido e, por isso, tenho de me concentrar nisso. No entanto, ainda estou a evoluir como ciclista. Se consigo ganhar ao sprint, então é o meu objectivo, mas há uma grande diferença entre corridas de sub-23 e profissionais", referiu. Acrescentou que gosta de chegadas que até tenham uma ligeira subida, para assim poder colocar toda a sua potência no sprint.

Entretanto, já soma duas vitórias como profissional e ambas precisamente ao sprint. Contudo, como foi aqui escrito no início, se puder escolher uma corrida para ganhar é o Paris-Roubaix, mas uma presença na Volta a França é igualmente um objectivo. A Quick-Step Floors está a realizar o trabalho que normalmente faz com jovens como Jakobsen, pelo que teremos de esperar mais um pouco para ver se poderá eventualmente tornar-se, além de sprinter, num homem para as clássicas. Afinal tem apenas 21 anos e toda uma carreira pela frente.

Acabou de chegar ao World Tour e à super Quick-Step Floors, que vive a era pós-Boonen com um sucesso tremendo. Mas, nos meses em que está na equipa, Jakobsen assimilou na perfeição as ideias de Lefevere e tenta explicar o que actualmente mais se quer saber: qual o segredo para tantas vitórias. "Penso que é porque começamos a ganhar e todos começam a acreditar nisso [em ganhar]. Nós vamos sempre a todo o gás por um dos rapazes e é essa a força do grupo. Quando uma pessoa começa a ganhar, todos querermos começar a ganhar. É impressionante pertencer ao 'wolfpack'", realçou Jakobsen, depois de vencer a Scheldeprijs.

(Nota: 'Wolfpack' é a alcunha que a equipa deu a si própria e a tradução é alcateia.)

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