30 de abril de 2018

Carlos Betancur lidera uma Movistar que está com o pensamento no Tour

(Fotografia: Movistar Team)
Há cinco anos, um jovem Carlos Betancur começava a confirmar as expectativas que tinham sido criadas com algumas boas exibições na Acqua & Sapone. A AG2R tinha razões para estar feliz com o seu reforço ao vê-lo terminar na quinta posição na Volta a Itália, depois do terceiro lugar na Flèche Wallonne e quarto na Liège-Bastogne-Liège. Mais um colombiano despontava, numa altura que Rigoberto Uran se ia afirmando - foi segundo nesse Giro - e um Nairo Quintana já deixava todos a pensar que se estava perante um ciclista de grande futuro. Porém, apesar de no ano seguinte ainda ter vencido o Paris-Nice, Betancur tornou-se num problema para a equipa francesa. Chegou ao ponto de nem avisar por onde andava, além de ser óbvio em algumas competições como se apresentava longe do ideal físico. Em Agosto de 2015, a AG2R terminou o contrato. Parecia que Betancur poderia cair no esquecimento, mas a Movistar acreditou que poderia reabilitá-lo.

Não "pegou" logo, mas ao longo de 2016, Betancur foi deixando mostras que talvez a aposta da Movistar não fosse perdida. No ano passado confirmou que o talento não desapareceu entre as atitudes que não se adequam para quem segue o profissionalismo nesta modalidade. No Tour foi 18º e foi à Vuelta com a oportunidade de lutar como quisesse, pelo que quisesse. Uma queda na sexta etapa deixou-o tão maltratado que até precisou de ser submetido a uma cirurgia ao rosto. Porém, ficou claro que Betancur não só tinha recuperado a confiança, como, mais importante, tinha recuperado a vontade de competir e ganhar ao mais alto nível.

Enquanto muito se discutia (e se discute) como iria funcionar o tridente Mikel Landa, Nairo Quintana e Alejandro Valverde, o colombiano não teve receio de se chegar à frente e dizer que também queria liderar numa grande volta em 2018. Com Andrey Amador a ser um forte candidato a regressar à condição de líder no Giro - isto se Landa não resolvesse ir a Itália -, depois de dois anos "tapado", primeiro por Valverde e depois por Quintana, a Movistar resolveu mesmo abrir as portas a Betancur, com Amador a ficar escalado para aquela que promete ser uma super equipa para a Volta a França.

Betancur viu assim o seu pedido ser atendido. Aos 28 anos vai liderar a Movistar no Giro, ainda que em seu redor vá estar uma equipa que varia entre a juventude e os mais velhos com pouca experiência em grandes voltas. Não há dúvidas que o director Eusebio Unzué tem as baterias todas apontadas para o Tour, Além dos quatro nome mencionados, também Marc Soler está na lista. O próprio Betancur poderá muito bem ser também chamado para reforçar ainda mais o bloco, pelo que se quer brilhar, é melhor aproveitar o Giro.

Não tem feito uma época de encantar e até abandonou na Volta à Romandia. Porém, regularidade é algo que não tem feito parte da carreira de Betancur, que se mostrar a vontade do Tour e Vuelta de 2017 e se estiver perto do seu melhor, é um sério candidato a meter-se no pódio... Isto se estiver muito bem na montanha, pois sofre do mal de outros excelentes trepadores: o contra-relógio.

De Betancur espera-se tudo e o colombiano espera que Rafael Valls (30 anos) possa ser o seu braço direito. Tal como Betancur já participou em oito grandes voltas e assinou pela Movistar na esperança de revitalizar a sua carreira. O argentino Eduardo Sepúlveda é outro dos reforços. Tem 26 anos e três Tours no seu currículo e a sua contratação levantou algumas dúvidas. Talvez não consiga colocar-se já no bloco que poderá rodear os principais líderes, mas em Itália tem a oportunidade de mostrar que tem lugar na Movistar.

Víctor De La Parte (31 anos e um Giro no currículo, em 2017) é conhecido do público português. Passou pela Efapel em 2014 e no ano passado chegou ao World Tour. Homem de trabalho por excelência, o que lhe falta de experiência em grandes voltas, ganha na que já tem na carreira. Rubén Fernández (27) esteve num Giro e duas Vueltas. É um ciclista talentoso, bom trepador, mas parece que falta... dar o clique. Antonio Pedrero (26) é mais um espanhol que a Movistar está a tentar tirar o máximo de potencial. Só esteve na Vuelta no ano passado, mas deverá assumir um papel importante na ajuda a Betancur quando chegarem as etapas de montanha.

Dayer Quintana (25) vive na sombra do irmão. Só em 2015 esteve no Giro, apesar de desde 2014 estar na Movistar. As comparações com Nairo são inevitáveis e o irmão está a anos-luz de Dayer, que tem novamente a oportunidade para tentar mostrar que merece um lugar na Movistar e não apenas por razões familiares.

Não é por acaso que se deixa Richard Carapaz para o fim. O equatoriano está a criar uma enorme curiosidade. Tem apenas 24 anos, mas já pouco duvidarão que se está perante um potencial ciclista de grande qualidade para as grandes voltas. Esteve na Vuelta, no ano passado, mas tal como a maioria dos ciclistas de uma Movistar sem líder definido, acabou por andar meio perdido. Vem de uma vitória na Volta às Astúrias, no domingo - Ricardo Mestre, da W52-FC Porto, ganhou a última etapa e foi terceiro na geral - e vai aparecer no Giro de confiança reforçada. Certamente que terá vontade de se mostrar e seria interessante vê-lo ter alguma liberdade. A ver vamos o que diz e faz Betancur, para perceber se Carapaz poderá ser um joker numa Movistar que está a pensar muito no Tour, mas não significa que não vá ao Giro à procura de dar algum tipo de luta.

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