3 de março de 2020

Nicolas Portal, o jovem director desportivo que marcou o sucesso da Ineos

© Team Ineos
Se tanto se fala de uma nova geração de ciclistas, que tão cedo está a conquistar grandes vitórias, também se tem de falar como um jovem director desportivo se tornou uma referência, numa equipa que marca profundamente o ciclismo mundial. Nicolas Portal foi um dos homens mais importantes por trás das vitórias de Chris Froome, Geraint Thomas e Egan Bernal na Volta a França. Também ele se tornou numa das figuras da estrutura britânica, admirado e respeitado e que, sem dúvida, teve um forte contributo na importância e sucesso que a Ineos conquistou.

Infelizmente é pela pior das razões que Portal se tornou notícia esta terça-feira. Quando na Ineos se discute o que fazer com um indisciplinado Gianni Moscon, ou se tenta perceber se Chris Froome irá recuperar a sua melhor forma, o anúncio da morte de Portal deixou todos na equipa, e no mundo do ciclismo em geral, em choque. Portal sofreu um ataque cardíaco na sua casa em Andorra. Tinha apenas 40 anos. Sem surpresa, as reacções vão muito além dos ciclistas da Ineos. A palavra choque surge em muitas delas.

Como ciclista, Portal obteve alguns resultados de nota, com destaque para a vitória numa equipa no Critérium du Dauphiné, em 2004. Então representava a equipa com que tinha chegado ao profissionalismo, a AG2R. Lá estagiou em 2001, assinando contrato no ano seguinte. Em 2006 mudou-se para a espanhola Caisse d'Espargne (actual Movistar). A época de 2009 ficou marcada por problemas de saúde. Uma arritmia cardíaca fez com que perdesse parte da temporada.

No ano seguinte, a Sky contratou o francês, que cumpriu o calendário, mas no final da temporada colocou um ponto final na carreira. O projecto britânico dava os seus primeiros passos e o Dave Braisford, o director da equipa, viu em Portal um potencial reforço de qualidade para a equipa técnica. Portal viu Bradley Wiggins vencer o Tour em 2012, mas foi como um muito jovem director desportivo que ajudou Chris Froome a ganhar a mítica corrida no ano seguinte e ainda por mais três vezes. Tudo o que se seguiu faz parte da história do ciclismo e o nome de Nicolas Portal ficará sempre ligado a alguns dos maiores sucessos da então Sky, agora Ineos.

Alguns ciclistas contam que Portal tinha algumas dificuldades em comunicar com os corredores naqueles primeiros tempos na nova função. Mas o tempo, a experiência, levou-o a tornar-se numa voz de comando na equipa, tanto dentro, como fora. Brailsford, por exemplo, é um homem que pouco fala publicamente. Portal não demorou a tornar-se como um porta-voz sempre que era "chamado" pelos meios de comunicação social, por exemplo.

Numa das suas últimas entrevistas, Portal foi questionado sobre precisamente a nova geração de ciclistas, como Egan Bernal e os mais que prováveis rivais Tadej Pogacar (UAE Team Emirates) e Remco Evenepoel (Deceuninck-QuickStep). Ao Cyclingnews realçou como além do talento natural, a tecnologia hoje existente permite que os jovens ciclistas tenham muito mais cedo a percepção do que podem ou não fazer, do que precisam de melhorar, de como gerir a sua evolução.

A Ineos foi uma equipa que se destacou precisamente por conseguir explorar o que tantas vezes se apelidou de ganhos marginais, actualmente algo muito trabalhado por todas as formações ao mais alto nível. Portal, o homem das tácticas, o homem que sempre incutiu confiança aos seus ciclistas, o nice guy do pelotão - como tantos o descrevem -, a voz de comando, deixa a Ineos e o ciclismo mais pobre com a sua morte precoce.

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