30 de novembro de 2017

O efeito Froome a que Dumoulin quer manter-se imune

Quem irá seguir o exemplo de Froome em fazer Giro/Tour em 2018?
(Fotografia: Team Sky)
A decisão de Chris Froome em atacar o Giro e Tour em 2018 poderá influenciar as escolhas de calendário de alguns ciclistas. A opção quebra com a habitual desde que a Sky chegou ao pelotão. A equipa britânica sempre jogou as melhores armas na Volta a França. Ir a Itália com o líder significa que lá estará em força, ou seja, não será uma corrida em que a Sky é "apenas" mais uma das equipas em prova. Será a equipa a bater, como acontece no Tour. Mas não, não significa que isso esteja a assustar os adversários. Pelo contrário, poderá mesmo levar alguns ciclistas a enfrentar Froome numa corrida que o britânico pouco conhece (só lá esteve em 2009 e 2010).

Na maioria dos casos, os calendários serão conhecidos durante o mês de Dezembro, outros em Janeiro. A grande questão neste momento é onde irá Tom Dumoulin enfrentar Froome. Muito antes de se considerar possível o britânico tentar a dobradinha Giro/Tour já em 2018, o holandês da Sunweb resolveu criar um suspense. Quando se conheceu o percurso da Volta a França, Dumoulin disse que não estava nada decidido quanto à sua presença no Tour. Ir a Itália tentar repetir a vitória seria plausível, mas esta surpresa de Froome poderá abanar um pouco o líder da Sunweb. Dumoulin afirmou que a decisão está feita, mas que não a irá anunciar antes de 5 de Janeiro, na apresentação da equipa. Será que está mesmo, ou há agora uma nova variável a ter em conta?

"Vou onde penso que terei mais hipóteses de ganhar. Não sinto necessariamente que as minhas hipóteses no Tour são melhores com o Froome a fazer o Giro. Não é necessariamente o melhor momento para mim fazer o Tour depois de ganhar o Giro", afirmou Dumoulin. Respostas evasivas, mas necessariamente Chris Froome deixou o holandês e outros ciclistas a pensar no que irão fazer. "É difícil dizer qual das corridas assenta-me melhor. Gosto dos dois percursos. Ambos têm um pouco de tudo, mas não são perfeitos. O Giro não é perfeito pela falta de quilómetros no contra-relógio e o mesmo acontece no Tour." Tornou-se claro que não se iria "arrancar" nada do ciclista quanto ao seu calendário. Dumoulin quer mostrar que está imune ao efeito que Froome no Giro e no Tour poderá ter em alguns corredores.

Tendo em conta que terá inevitavelmente de enfrentar o britânico. há que analisar bem os percursos e ver onde poderá ter vantagem. O Tour talvez leve vantagem. A questão física poderá pesar ainda mais a balança a favor de uma ida a França. Fazer as duas voltas é que parece não ser opção.

Tom Dumoulin quer manter-se imune ao efeito Froome que já se começa a sentir. Thibaut Pinot parece que se sentiu inspirado e também quer fazer novamente nas duas corridas. Em 2016 foi quarto em Itália, mas chegou cansado e em baixo de forma a França. O francês da FDJ disse ao Ouest France que aprendeu com os erros e que gostou muito de estar na Volta a Itália, ficando também bastante agradado com o percurso para 2018.

Quem poderá estar a recuar na decisão inicial é mesmo Mikel Landa. E eis um ciclista que muito se vai seguir em 2018. Passou parte da carreira a dizer que gostava muito do Giro, mas ao perceber que poderia ganhar o Tour na edição deste ano, disse adeus à Sky e assinou pela Movistar para ir a França como líder, não parecendo preocupado com a marcação de território que anda a ser feita por Nairo Quintana. Contudo, estará tentado a ir fazer frente a Froome, depois de ter sido seu companheiro, já em Itália.

O As escreve que Landa poderá estar tentado a ir ao Giro ao ver que alguns grandes nomes vão lá estar. E claro, que Froome é o principal e muito espera este ciclista pela oportunidade de enfrentar o britânico, depois de ter sido obrigado a estar ao seu lado, quando tanto queria obter um resultado para si próprio na última Volta a França.

A Volta a Espanha é quase uma certeza para Landa, até porque o seleccionador espanhol, Javier Mínguez, prefere que os ciclistas que irá eventualmente convocar para o Mundial tenham feito a corrida. E Landa quer mesmo estar em Innsbruck, na Áustria. Apesar de não parecer muito preocupado com a eventual rivalidade interna com Quintana, ir ao Giro poderia evitar desentendimentos que poderão causar mais mal do que propriamente traduzir-se em triunfos. O Tour estaria à sua espera em 2019.

Mauro Vegni, director do Giro, sonhava com um grande elenco para o Giro101 e parece que ao conseguir Froome, poderá seduzir ainda mais grandes nomes, com Fabio Aru a já ter confirmado a sua presença há uns dias. A corrida realiza-se de 4 a 27 de Maio, com o arranque inédito fora da Europa em Jerusalém, Israel.

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Apagão de Greipel e os heróis improváveis que salvaram a época da Lotto Soudal

Um gesto que se viu tão pouco este ano por parte de Greipel
(Fotografia: Giro d'Italia)
André Greipel eclipsou-se e a Lotto Soudal tremeu. Valeu que em alturas como estas, quando uma equipa tem ciclistas de qualidade, há sempre a possibilidade de surgirem uns heróis improváveis. Que o diga Tomasz Marczynski, o polaco que foi à Vuelta vencer duas etapas e ajudar a Lotto Soudal a recompor uma temporada mais discreta, muito porque o seu sprinter teve o seu pior ano desde 2007, altura em que era lançador de Mark Cavendish na T-Mobile. Mas a formação não teve só Greipel a render menos. Tony Gallopin passou mais um ano sem confirmar as eternas expectativas e tornou-se claro que o seu tempo na equipa belga tinha chegado ao fim. Com apenas uma vitória em 2017 e com uma Volta à França muito aquém - ficou fora do top 20 - o francês vai rumar à AG2R.

Porém, o que preocupa mesmo a Lotto Soudal é Greipel. Não é equipa para lutar por uma geral do Giro, Tour ou Vuelta e, por isso, não haverá grande preocupação com a saída de Gallopin, mas aposta tudo na vitória de etapas. E o alemão tem sido a grande referência. Só somou cinco triunfos, incluindo na Volta a Itália (até vestiu a camisola rosa por um dia) e no Algarve, onde ganhou também a classificação por pontos. Pior só mesmo em 2007 quando ganhou por duas vezes e desde 2011 que não somava menos de 10 triunfos. A chama apagou-se, o próprio não escondeu o desânimo: "Perdi completamente o meu instinto na bicicleta." Crónico vencedor de etapas nas grandes voltas, ganhava pelo menos uma nas que participava desde 2008. No Tour não deu para esconder mais que não tinha capacidade para fazer frente ao super Kittel e mesmo quando o rival alemão já não estava em prova, perdeu para Dylan Groenewegen nos Campos Elísios.


Ranking: 13º (5466 pontos)
Vitórias: 25 (incluindo uma etapa no Giro, quatro na Vuelta e uma na Volta ao Algarve)
Ciclista com mais triunfos: Tim Wellens (7)

Se a estatística dissesse tudo, então dir-se-ia que a Lotto Soudal fez uma temporada dentro do normal. Porém, há mais além dos número. Para uma equipa do estatuto e orçamento da belga, são precisas vitórias importantes. Valeu Marczynski, que aos 33 anos somava triunfos em provas secundárias quando esteve nos escalões inferiores, mas estava na equipa como homem de trabalho e nada mais. Dupla vitória na Vuelta é para não mais esquecer! Thomas de Gendt - que também ganhou no Critérium du Dauphiné - deu um toque de história ao tornar-se num ciclista a vencer etapas nas três grandes, enquanto Sander Armée (31) também apareceu para garantir então quatro vitórias para a Lotto Soudal na Vuelta. Mais um ciclista a conquistar a vitória mais importante da carreira, a única diga-se, de forma inesperada. Sim, é caso para dizer que a temporada ficou salva na Volta a Espanha.

Apesar dos 35 anos, a equipa não irá desistir de Greipel em 2018 e não seria descabido tentar que o alemão até apostasse um pouco mais nas clássicas. Porém, os responsáveis irão exigir mais de ciclistas que está na altura de elevarem o seu ciclismo a outro nível. Caso de Tim Wellens. Aparece aqui e ali, soma uma ou outra vitória - como no Giro no ano passado -, mas este belga de 26 anos pode e deve fazer mais. Ganhou sete vezes em 2017, mas demora a afirmar-se nas grandes corridas. Terá de assumir outra responsabilidade na equipa e não passar tanto tempo despercebido. Tem qualidade para muito mais.

A carreira de Tiesj Benoot tem sido gerida com muito cuidado e com razão. Eis um jovem de grande potencial e há que não precipitar. No entanto, já demonstrou que pode lutar por vitórias em corridas importantes, tanto em clássicas, ou mesmo em algumas por etapas. Mas é nas de um dia que a Lotto Soudal poderá tentar tirar mais partido no imediato do belga de 23 anos, que em 2017 deixou indicações que está pronto para assumir outra relevância na equipa. A chegada de Jens Keukeleire (Orica-Scott) vem reforçar o bloco de clássicas e em boa hora.

2017 foi um ano que soube a pouco para uma Lotto Soudal habituada a estar na ribalta. Será o fim de um ciclo com Greipel? Independentemente do que o ciclista faça em 2018, a equipa terá de preparar o futuro pós-Greipel e assim continuar a ser uma das mais fortes do pelotão, no que diz respeito a conquistas de etapas nos grandes palcos da modalidade.

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"Estava desesperado." Ciclista explica porque recorreu a substância proibida

(Fotografia: nuestrociclismo.com/Flickr)
Óscar Soliz foi um dos ciclistas que acusou positivo nos testes anti-doping realizados na Volta à Colômbia, em Agosto. O boliviano assumiu o acto que lhe poderá custar quatro anos de suspensão e possivalmente o final da sua carreira. Soliz admitiu que se sentia desesperado perante a situação de incerteza quanto ao futuro que estava a viver e acabou por ceder quando lhe foi oferecida uma substância, cerca de 20 dias antes da corrida começar. O ciclista irá defender-se perante a UCI para pelo menos tentar não receber a sanção mais pesada.

"Lamento muito pela minha equipa, pelo meu país, por ter cometido um erro e também por confiar em certas pessoas na Colômbia", afirmou Soliz ao jornal La Rázon. O ciclista acrescentou que ele é o único responsável do que aconteceu, garantindo que a Movistar Team América, com sede na Colômbia, não está envolvida, "nem tão pouco a culpa é de outras pessoas", frisou. Aos 32 anos, Soliz foi para a corrida a saber que a estrutura que representava há vários anos ia fechar portas. Explicou que não estava nas melhores condições de saúde e sentia ainda a pressão de nas últimas duas edições não ter terminado a competição.

"Estava desesperado e psicologicamente afectado com tudo o que estava a acontecer. Estava a passar um mau momento. A Volta à Colômbia era muito importante para mim", realçou.  Soliz procurava um bom resultado para tentar receber uma boa proposta de outra equipa e assim continuar a carreira. Foi oitavo, a 6:05 minutos do vencedor, o colombiano Aristobulo Cala. Esteve ainda perto de ganhar a nona etapa.

Soliz abdicou da contra-análise - a primeira detectou CERA, terceira geração de EPO -, querendo agora resolver o caso e assim saber como poderá prosseguir a sua vida. Porém, já vai fazendo planos que não incluem competir, mas não perde a esperança. "Vou continuar a apoiar as crianças no ciclismo e também vou dedicar-me a outras coisas. No entanto, vou continuar a treinar, tentar regressar e demonstrar que se pode", afirmou.

Para já ficará longe das corridas e a Bolívia fica sem um dos seus melhores ciclistas. A nível interno soma várias vitórias, tendo sido campeão de estrada e bicampeão de contra-relógio. Venceu onze etapas da volta do seu país e por uma vez a geral, em 2010. No ano passado viveu um dos momentos mais importantes quando foi chamado para representar a Bolívia nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, mas acabou por abandonar.


29 de novembro de 2017

E não é que Froome vai mesmo ao Giro!

Chris Froome quer juntar a camisola rosa à colecção
(Fotografia: Unipublic/Photogomez Sport)
Muito se tem falado de Chris Froome ir ao Giro. Parecia impossível dado o objectivo de entrar no exclusivo grupo de ciclistas que venceu o Tour por cinco vezes. Só lhe falta uma vitória. Nos últimos dois dias surgiram notícias que o britânico e a Sky estariam decididos a arriscar e ir à Volta a Itália. Esta quarta-feira, durante a apresentação do Giro101, eis que a Sky lança a bomba. Por mais que se tenha falado desta possibilidade, não deixa de ser uma surpresa. Chris Froome vai ao Giro para tentar ser o terceiro ciclista a ganhar as três grandes voltas de forma consecutiva. Nunca ninguém o fez no mesmo ano, mas Eddy Merckx fez entre 1972 e 73 e Bernard Hinault entre 1982 e 93. De recordar que a Vuelta realizava-se em Abril nessa altura.

Se se decidiu a ir ao Giro, é porque o quer ganhar e claro que entra na equação outro feito: a famosa dobradinha Giro/Tour. O britânico foi o primeiro a fazer Tour/Vuelta com a corrida espanhola na actual posição do calendário. Desde 1998 que ninguém consegue vencer em Itália e França no mesmo ano. Marco Pantani permanece como o último a alcançar o feito. Recentemente Alberto Contador tentou, ganhou o Giro, mas falhou por completo no Tour. Este ano, Nairo Quintana fez segundo em Itália e mal se viu em França... Agora o actor principal passa a ser Froome.

O britânico conta com duas passagens sem história na Volta a Itália. Em 2009 foi 35º e no ano seguinte foi excluído por se ter agarrado a uma moto. Regressa não como figura secundária da Sky, mas como a estrela maior das grandes voltas, como rei da Volta a França e que também já tem uma Vuelta. Era inevitável que tentasse eventualmente fechar o ciclo em Itália, mas colocando em risco um quinto Tour... Surpresa total! (Surpresa é a palavra que mais ocorre neste momento, mas estas reviravoltas inesperadas também contribuem para que tanto se goste desta modalidade!)

Vamos então à pergunta da praxe nestes casos: pode Froome conquistar o Giro e o Tour no mesmo ano? Resposta: pode. Também Contador o podia, tal como Quintana. Quanto a características como ciclista, os três são diferentes, mas os três têm as necessárias para enfrentar o desafio. A pergunta mais importante acaba por ser: o que diferencia Froome dos outros dois corredores? Resposta: tem toda uma Sky preparada a pensar nele - e pode muito bem ter dois grupos de colegas de elevada qualidade (com um ou outro repetente), para cada competição - e beneficia ainda do facto de ter mais uma semana para recuperar do esforço. O Tour foi adiantado uma semana devido ao Campeonato do Mundo de Futebol. E uma semana pode fazer toda a diferença... Serão seis de "descanso" em vez das habituais cinco.

Falta saber onde fica Geraint Thomas. O britânico a quem foi dada a oportunidade de liderar a Sky no Giro em 2017, queria lá regressar na mesma posição depois do frustrante abandono devido a uma queda, provocada por uma moto da polícia mal parada. A Vuelta fica agora em aberto e talvez seja a solução para manter Thomas motivado, já que certamente estará em pelo menos numa das corridas ao lado de Froome.

E por falar em momentos azarados, a Sky não tem sido nada feliz na Volta a Itália. Em 2010, Bradley Wiggins até andou de rosa, mas duas quedas numa etapa custaram a liderança e a partir daí começou a pensar no Tour. Só em 2013 a equipa regressou com intenções de ganhar, novamente com Wiggins, agora como vencedor da Volta a França. Quando se fala de mau tempo no Giro, este ano foi um exemplo. Wiggins caiu mais do que uma vez e no contra-relógio furou. O britânico ficou inseguro e a descer com chuva até media dó! Abandonou.

Em 2015 foi Richie Porte quem apostou tudo em ganhar, na oportunidade que recebeu de correr sem ser gregário de Froome. O australiano começou por chamar a atenção por ter uma autocaravana de luxo só para ele. Mas a competir foi o descalabro. Começou com um furo, cuja a roda dada por Simon Clarke valeu-lhe uma penalização, porque o ciclista era de outra equipa. Noutra etapa foi apanhado numa queda e perdeu tempo. O contra-relógio foi para esquecer e na 15ª etapa, um abatido Porte perdeu 27 minutos. Abandonou.

A Sky contratou Mikel Landa para ganhar definitivamente o Giro. A prova de 2016 não teve muita história. Abandonou na 10ª etapa devido a uma gastroenterite. Este ano surgiu numa liderança partilhada com Thomas. Os dois foram afectados pela queda devido à moto. Landa continuou até final e anda ganhou uma etapa e classificação da montanha. Porém, era o Giro que queria conquistar. Vai Froome quebrar o enguiço? (Cá está outra pergunta.)

"Sabemos que será um feito significativo na era moderna ganhar o Giro e o Tour na mesma temporada, mas alcançámos coisas este ano que me dão confiança que posso apontar às duas corridas com sucesso", explicou Chris Froome. O ciclista da Sky recorda quando viveu em Itália no início da carreira, considerando que, de certa forma, estará a fechar um ciclo. O responsável da equipa, Dave Brailsford, salientou que tem uma enorme respeito pelo desafio que irá enfrentar com Froome e não deixou dúvidas que o objectivo é fazer história: conseguir uma dobradinha que parece impossível, ganhar três grandes voltas consecutivas... e depois a quarta, ganhando o quinto Tour com Froome, igualando Bernard Hinault, Eddy Merckx, Jacques Anquetil e Miguel Indurain.

Naturalmente que muito se vai falar também de quanto estará o britânico e a Sky a receber. Há dois dias foi avançado que Israel, que irá receber as três primeiras etapas, teria oferecido dois milhões de euros para convencer Froome e a Sky. Verdade ou não, uma das maiores referências do ciclismo estará à partida em Jerusalém. Aposta mais do que ganha no investimento feito pelo país em receber a Volta a Itália.

Teremos então o frente-a-frente desejado com Tom Dumoulin, a não ser que o holandês cause mais uma surpresa e não vá ao Giro. Esteve na apresentação na condição de último vencedor, mas não confirmou se irá repetir a presença em 2018. A acontecer o desejado embate, poderá então não ser no Tour, território de Froome, como se esperava, mas sim no território do ciclista da Sunweb. Se se juntar Mikel Landa, Ilnur Zakarin (já pensa mais no Tour, mas nunca se sabe), um Thibaut Pinot em forma, os irmãos Yates ou Johan Esteban Chaves, Vincenzo Nibali... Que elenco! Fabio Aru já confirmou, Louis Meintjes também. Outras grandes figuras vão centrar-se quase de certeza no Tour, até porque pensarão que, por uma vez, podem estar mais frescos fisicamente que o crónico candidato número um, Chris Froome...

À espera dos ciclistas no Giro estão oito finais em alto e dois contra-relógios individuais que somam 44,2 quilómetros: 9,7 a abrir e 34,5 na 16ª etapa. As três etapas nos Alpes prometem.

Há que marcar na agenda: Giro101, de 4 a 27 de Maio. Pode ser um ano histórico.

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Uma batalha nos Alpes para decidir um Giro que já é histórico

(Fotografia: Giro d'Italia)
A 100ª edição de uma grande corrida só por si já dá que falar. Os organizadores da Volta a Itália não quiseram perder o embalo e têm desde já um Giro101 muito mediático. Tudo começou há umas semanas com a confirmação que o arranque será em Israel. Nunca uma grande volta começou fora da Europa. Esta quarta-feira era dia para se conhecer o restante percurso e não faltam pontos de interesse. Mas, de repente, antes do final da cerimónia, surge a notícia que Chris Froome e a Sky confirmavam que iriam estar presentes. Fabio Aru, Vincenzo Nibali, Tom Dumoulin e Alberto Contador estavam em Milão e lá tiveram de comentar o que se tornou na notícia do dia.

Devido ao impacto imediato da decisão do britânico, até parece que não há mais nada para se falar sobre a Volta a Itália. Mas há. A começar que os sprinters não devem ter gostado muito do percurso. Sete etapas são talhadas para este tipo de ciclistas - não sendo todas necessariamente planas -, mas bem vão ter de sofrer nas restantes tiradas. Não segue o caminho da Vuelta, mas ainda assim em Itália aposta-se numa luta viva pela maglia rosa na maioria dos dias.

Haverá oito chegadas em alto, com seis etapas de alta montanha e outras tantas de média. Os três primeiros dias serão em Israel, com um prólogo de 9,7 quilómetros em Jerusalém. Devido à deslocação que será necessário fazer para regressar a Itália, o Giro começa a uma sexta-feira, dia 4, pois haverá um dia de paragem logo na segunda-feira. Catania recebe a partida da corrida "em casa". Na sexta etapa haverá uma subida ao Etna para começar a animar a montanha (esperemos que o vento não volte a limitar a táctica dos favoritos, como aconteceu em Maio último). Mas será o Monte Zoncolan que muito se vai aguardar (não só, claro). Os dois dias antes até serão bastante planos, coisa rara na 101ª edição, contudo, a 14ª etapa irá ser animada. Talvez não para decidir muito, ou mesmo nada na luta pela geral, mas com pendentes a atingirem os 20%, poderá alguém ter ideias de tentar ganhar algum tempo, principalmente se o contra-relógio não for o seu forte. Na 16ª haverá um de 34,5 quilómetros, que é pouco acidentado. Atenção que a 15ª etapa é um sobe e desce de respeito.

O percurso parece ter sido desenhado com o intento de manter a indefinição até às três etapas nos Alpes (18ª a 20ª). Em Prato Nervoso termina a primeira das decisões, num dia em que só no final haverá uma verdadeira dificuldade. Segue-se a que deverá ser a etapa rainha, com a Cima Coppi (ponto mais alto) no Colle delle Finestre (2178 metros). Quatro subidas em 181 quilómetros e o Finestre está só a meio (ver gráfico em baixo).



A 20ª etapa será longa, 214 quilómetros, mas serão os últimos 85 quilómetros que deverão centrar as atenções, caso a maglia rosa ainda esteja em jogo. Não são as subidas mais longas, nem de maior pendente (entre 10 a 15%), mas com a maioria dos 20 dias a serem testes atrás de testes, poder-se-á ter um final tão incerto como se de um contra-relógio final se tratasse, como aconteceu este ano.



No Giro100 não houve etapa de consagração, mas em 2018 regressa o dia para os sprinters resistentes tentarem subir ao derradeiro pódio. É Roma que receberá o circuito final (118 quilómetros) a 27 de Maio.

Etapas da 101ª edição da Volta a Itália: 3546,2 quilómetros
(os * indicam o grau de dificuldade da tirada)

1ª: Jerusalém-Jerusalém, 9,7 quilómetros (contra-relógio individual) ***
2ª: Haifa-Telavive, 187 *
3ª: Beersheba-Eilat, 229 *
Dia de descanso
4ª: Catania-Caltagirone, 191 ***
5ª: Agrigento-Santa Ninfa, 152 ***
6ª: Caltanissetta-Etna, 163 ****
7ª: Pizzo-Praia a Mare, 159 ****
8ª: Praia a Mare-Montevergine di Mercogliano, 208 ***
9ª: Pesco Sannita-Gran Sasso d’Italia, 224 ***
Dia de descanso
10ª: Pene-Gualdo Tadino, 239 ***
11ª: Assisi-Osimo, 158 ***
12ª: Osimo-Imola, 213 **
13ª: Ferrara-Nervesa della Battaglia, 180 **
14ª: San Vito al Tagliamento-Monte Zoncolan, 181 *****
15ª: Tolmezzo-Sappada, 176 ****
Dia de descanso
16ª: Trento-Roveretto, 34,5 (contra-relógio individual) ***
17ª: Riva del Garda-Iseo, 155 **
18ª: Abbiategrasso-Prato Nevoso, 196 ****
19ª: Venaria Reale-Bardonecchia, 181 *****
20ª: Susa-Cervinia, 214 *****
21ª: Roma-Roma, 118 *

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»»Um Tour para testar ainda mais Chris Froome e a Sky««

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Nibali cumpriu o mínimo exigido na equipa em que os petrodólares prometiam mais

(Fotografia: Giro d'Italia)
Numa outra situação poder-se-ia dizer que para uma equipa que foi construída do zero para entrar directamente no principal escalão do ciclismo, vencer uma etapa e fazer pódio no Giro, ganhar depois uma tirada na Vuelta e alcançar mais um pódio e ainda terminar a temporada a conquistar um monumento, seria uma época fantástica. E é claro que são excelentes resultados. Tomara a muitas equipas. Contudo, para quem chegou com milhões de petrodólares para entrar de rompante no World Tour, o certo é que a Bahrain-Merida ficou um pouco aquém da grandeza que quis ostentar, ou que pelo menos o seu patrão assim quis passar.

O xeque Nasser bin Hamad Al Khalifa queria uma equipa de ciclismo, aliciou o amigo Vincenzo Nibali a precisar de novos ares, depois de ver a relação com Alexander Vinokourov deteriorar-se na Astana, e contratou o muito experiente director, então na Lampre-Merida, Brett Copeland. Além dos milhões em causa para convencer Nibali a arriscar a carreira num projeto novo, também ajudou ter dado liberdade ao italiano de escolher a maioria dos seus companheiros. Nibali seria sempre o líder indiscutível. Em troca exigiam-se resultados.

Num misto de experiência e juventude, o plantel da Bahrain-Merida apresentou-se interessante: os espanhóis Ion Izagirre (que seria o segundo na hierarquia nas grandes voltas), Javier Moreno, Jon Insausti e o inevitável contingente italiano composto por exemplo por Valerio Agnoli, Manuele Boaro, Enrico Gasparotto, Giovanni Visconti e o veteraníssimo Franco Pellizotti, que cinco anos depois regressou ao World Tour, numa fase em que já pensava mais em terminar a carreira. Nibali levou ainda o irmão Antonio, com Janez Brajkovic, Ramunas Navardauskas, Kanstantsin Siutsou e Luka Pibernik a contribuir para um grupo de qualidade.


Ranking: 14º (5277 pontos)
Vitórias: 12 (incluindo uma etapa no Giro e uma na Vuelta e a Il Lombardia)
Ciclista com mais triunfos: Vincenzo Nibali (4)

Nibali não entrou em loucuras e deixou de parte o Tour (ou seja Chris Froome e a Sky) para estar presente no Giro100, opção perfeitamente justificável, tendo em conta a sua nacionalidade e o percurso passava pela sua Sicília. Chegou a Itália com uma pouco convincente vitória na Volta à Croácia e a Bahrain-Merida tentou apresentar uma união ao estilo Sky, mas também rapidamente se percebeu que era para durar pouco. Não ajudou Javier Moreno ser expulso da corrida por conduta imprópria (empurrou Diego Rosa, da Sky), mas ajudou Pellizotti continuar a ser um ciclista consistente e em boa forma, mesmo aos 39 anos. Foi difícil ver Nibali como verdadeiro candidato, mas ganhou na subida de Bormio, na etapa rainha, e fechou em terceiro. Ainda assim, por mais que se mostrasse feliz, ganhar o Giro era o objectivo e não se viu um ciclista com esse potencial. Claro que quando se recorda 2016... Também parecia a corrida estar mais do que perdida e Nibali acabou com a camisola rosa.

Uma das grandes curiosidades era Ion Izagirre. O espanhol deixou a Movistar para deixar o papel de gregário de Nairo Quintana ou Alejandro Valverde e poder ele ser líder. Ao contrário de Nibali, havia uma elevada expectativa para Izagirre no Tour. Não para ganhar, mas, de resto, tudo parecia possível. Nunca se conseguiu perceber, nem um bocadinho, o que valeria Izagirre como líder. Caiu no contra-relógio inaugural e a época terminou ali, em Dusseldorf, tal como a do antigo companheiro, Valverde.

A responsabilidade recaiu novamente toda em Nibali e em Espanha esteve melhor, mas tanto estava com toda a força, como numa subida mais inclinada e o italiano fraquejava. Ganhou uma etapa e só Chris Froome o bateu. Ainda foi depois até à Lombardia vencer pela segunda vez o último monumento do ano.

O que faltou então à Bahrain-Merida? Faltou mostrar um maior protagonismo e não ficar tanto na expectativa, faltou apostar mais noutras corridas e não centrar-se tanto nas grandes voltas, pois tinha plantel para tal e faltou principalmente estar no Giro ou na Vuelta para ganhar. Apesar dos pódios, Nibali nunca convenceu que poderia bater Tom Dumoulin ou Nairo Quintana em Itália, ou Froome em Espanha. Mantém-se aquele estigma que ganha quando os melhores não estão... Não é justo que tal marque a sua carreira, mas Nibali tem de conseguir bater os grandes nomes da actualidade.

Não fica esquecido uma das estrelas do ano para a equipa: Sonny Colbrelli. Finalmente deu o salto mais do que merecido para o World Tour, depois de muito ajudar a que se falasse da Bardiani-CSF. A etapa no Paris-Nice, prova do principal calendário, foi um momento marcante para o sprinter de 27 anos. Ainda conquistou mais dois triunfos em 2017 e apresentou algumas exibições interessantes. Porém, ficou a sensação que Colbrelli pode fazer mais, mas sofrerá com o facto das atenções centrarem-se em Nibali e depois em Izagirre. Colbrelli tem potencial para estar na luta em algumas clássicas, contudo, terá de desenvolver ainda mais a sua capacidade de trabalhar sozinho pelo melhor posicionamento. Já o fazia na Bardiani-CSF, mas é muito diferente ter de o fazer quando tem pela frente Peter Sagan ou Greg van Avermaet. Nos sprints tem uma missão difícil perante os actuais dominadores da especialidade. Será uma pena (e desperdício) se a Bahrain-Merida não tirar maior partido de Sonny Colbrelli.

Em 2018 chegarão ciclistas que poderão ser importantes para Nibali e para Izagirre, que contará com o seu irmão Gorka. A Movistar perde mais um ciclista de qualidade. Domenico Pozzovivo (AG2R) procura um novo desafio, ainda que vá perder protagonismo, enquanto da Eslovénia chega Kristijan Koren (Cannondale-Drapac) e Matej Mohoric. E este último poderá revelar-se ser uma grande contratação. A UAE Team Emirates abriu os cordões à bolsa para garantir Fabio Aru, Daniel Martin e Alexander Kristoff, mas deixou sair este jovem de 23 anos com um potencial ainda por perceber na totalidade. Venceu uma etapa na Vuelta e andou bem em toda a prova. Como trepador demonstra capacidade para evoluir e tornar-se num caso sério de competitividade, precisando de trabalhar o contra-relógio, onde também revela ter margem de manobra para, pelo menos, se defender bem. Pode ser um ciclista para o futuro se o xeque Nasser bin Hamad Al Khalifa quiser de facto construir um projecto sólido e duradouro.

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28 de novembro de 2017

Um ano com Scarponi no pensamento e com as vitórias a escassearem

(Fotografia: Facebook Astana)
Em tempos foi uma toda poderosa equipa. Mas os tempos são outros e mesmo sendo uma estrutura com um orçamento bem folgado, a Astana vive uma fase de algum descrédito. As grandes figuras não querem ficar, outras não querem ir para lá. Ainda assim, entrou em 2017 com um conjunto de ciclistas preparados a lutar por corridas. Fabio Aru estava determinado em ganhar o Giro100, Miguel Ángel López passou grande parte da temporada a recuperar de uma fractura na perna feita no final de 2016, mas apontava nem que fosse à Vuelta. Jakob Fuglsang teria a oportunidade de liderar no Tour e depois haveria um Dario Cataldo, um Oscar Gatto, Tanel Kangert, Luis Leon Sanchez e Alexey Lutsenko, entre outros, que poderiam sempre conquistar alguns triunfos. Porém, cedo ser percebeu que esta Astana teria dificuldade em impor-se como outrora, mas esse acabou por ser o menor dos problemas.

A época começou difícil, teve o pior momento possível em Abril e apesar de umas poucas alegrias, acabou novamente mal. O arranque não poderia ser mais desesperante, os meses passaram e vitórias... nem vê-las. O foco estava no Giro100 e em Aru, até que o líder caiu durante um treino e a recuperação ia ser demorada. Alexander Vinokourov, director da equipa, bem podia levar as mãos à cabeça. Nestes momentos sabe sempre bem ter um ciclista como Michele Scarponi. Apesar da veterania, era claro que a experiência poderia ser uma mais valia e Scarpa deu a resposta ao vencer na primeira etapa da Volta aos Alpes. Estávamos a 17 de Abril. Um pequeno suspiro de alívio por parte da Astana. Estaria a época a compor-se? Cinco dias mais tarde o ciclismo sofreu uma perda enorme. Scarponi foi atropelado ao treinar perto de casa. Morreu e deixou um vazio no pelotão. E deixou uma Astana sem rumo para a Volta a Itália.

Entre lágrimas e vontade de homenagear o seu companheiro, os ciclistas da Astana partiram para o Giro apenas com a responsabilidade de tentar aquela vitória de etapa que pudessem dedicar a Scarponi. Foram só oito corredores, pois Vinokourov não quis substituir o líder. O número um da equipa era para Scarpa e para Scarpa ficou. Muito lutaram os homens da Astana, mas o triunfo desejado só chegaria a 9 de Junho no Critérium du Dauphiné. Jakob Fuglsang aparecia num momento crucial: venceu duas etapas e a geral da competição vista como a que dá as indicações para o Tour. Não só libertou a equipa da pressão da falta de vitórias, como finalmente era feita a homenagem a Scarponi. E finalmente a Astana entrou um pouco mais nos eixos.


Ranking: 15º (5018 pontos)
Vitórias: 18 (incluindo uma etapa no Tour, três na Vuelta, duas e a geral no Critérium du Dauphiné)
Ciclista com mais triunfos: Jakob Fuglsang e Miguel Ángel Lopez (4)

A emoção da ausência de Scarponi esteve sempre presente. Era inevitável. No entanto, surgiram outros problemas devido à mudança de calendário de Aru. Falhando o Giro, passou para o Tour, onde o dinamarquês tinha recebido garantias que seria líder. Fuglsang (32 anos) reagiu conquistando o Critérium du Dauphiné e falou-se de uma liderança partilhada com o italiano. Naturalmente que ninguém acreditou. Na estrada o dinamarquês tentou manter-se junto dos candidatos, mas acabaria por abandonar. Entretanto, Aru ganhou uma etapa e até andou de amarelo. Problemas de saúde prejudicaram o seu final na Volta a França e nem ao pódio conseguiu subir. Ainda assim, o quinto lugar foi positivo. Já o 13º na Vuelta, nem por isso.

Mas não foi grave, pois em Espanha reapareceu Miguel Ángel López. O pequeno colombiano, que tanto está a entusiasmar pela forma aguerrida de competir, ganhou duas etapas. Foi oitavo na geral e agora espera-se que evite acidentes na pré-temporada para que apareça em grande em 2018. É que a Astana bem precisa. Lutsenko também venceu uma etapa.

A felicidade de concluir a última grande volta com algum destaque esfumou-se bastante rápido. Depois de Vincenzo Nibali sair no final de 2016, foi Fabio Aru quem bateu com a porta. Era um desfecho mais do que anunciado, mas Vinokourov disse que foi apanhado de surpresa e até ameaçou processar o italiano. Defende que ficou sem alternativas para contratar porque Aru avisou tarde que não renovaria, o que prejudica a equipa para 2018. E de facto a equipa fica orfã de um líder. Falou-se de Nairo Quintana, mas este não quebrou contrato com a Movistar, Mikel Landa não quis regressar e Rigoberto Uran preferiu continuar na Cannondale-Drapac, futura EF Education First-Drapac powered by Cannondale.

Restou ao responsável cazaque admitir o óbvio: aos 23 anos, Superman López, como é conhecido, vai mesmo assumir papel de líder, com Fuglsang a ter uma nova oportunidade, só não se sabe em qual das três grandes voltas. Porém, o dinamarquês poderá ver um Jan Hirt passar-lhe rapidamente na hierarquia, já que é um ciclista que poderá em pouco tempo alcançar bons resultados, tendo em conta o que fez no Giro ao serviço da CCC Sprandi Polkowice. Omar Fraile (Dimension Data) será um homem com características para lutar por etapas e talvez uma ajuda interessante ao jovem López. Davide Villella (Cannondale-Drapac) será uma opção forte para as clássicas, Magnus Cort Nielsen (Orica-Scott) é ciclista para mexer com corridas e procurar surpreender. Espera-se ainda que após um ano a adaptar-se ao World Tour, o espanhol Pello Bilbao possa começar a ser uma opção mais séria para lutar pela geral das provas por etapas.

Certo, é que a Astana não poderá continuar a um nível tão baixo. O Critérium du Dauphiné, as etapas no Tour e Vuelta são sempre triunfos importantes. Mas para quem sempre assumiu querer ganhar as mais importantes corridas, passar meses sem vitórias e passar quase ao lado da discussão de algumas das principais provas... É normal que Vinokourov se sinta frustrado e vai exigir (e de que maneira) muito mais aos seus ciclistas em 2018.

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Oito ciclistas testaram positivo na Volta à Colômbia

Soliz terminou na oitava posição a Volta à Colômbia
(Fotografia: Luis Barbosa/Wikimedia Commons)
O jovem Róbinson López não foi o único ciclista a ser apanhado com uma amostra anómala durante a Volta à Colômbia, que se realizou de 1 a 13 de Agosto. Mais sete corredores testaram positivo e estão todos provisoriamente suspensos até ser conhecido o resultado da contra-análise, caso a peçam. Os testes foram realizados depois de recolhida informação que levou à suspeita de irregularidades, segundo explicou a UCI em comunicado.

Além de López, na lista surgem agora Luis Alberto Largo Quintero (Sogamoso-Argos-Cooservicios-Idrs, 27 anos, 24º classificado), Edward Fabian Diaz Cardenas (EPM, 23, 36º), Jonathan Felipe Paredes Hernandez e Fabio Nelson Montenegro Forero (ambos da Ebsa-Indeportes Boyaca, 28 e 35º/35 e 84º), Luis Camargo Flechas (Supergiros, 39, 34º) e Oscar Soliz Vilca (Movistar Amateur Team). O boliviano, de 32 anos, foi quem terminou na melhor posição, conquistando um oitavo posto. A estes ciclistas foi detectada uma hormona de crescimento, enquanto a Juan Carlos Cadena Sastoque (Depormundo-m Bosa-ramguiflex, 88º) acusou um esteróide. As amostras de sangue foram recolhidas entre 1 e 2 de Agosto, com excepção da de Soliz, que foi retirada no dia 11 e foi de urina.

Esta é uma situação delicada para um país que tem estado em franca expansão nos últimos anos. A aposta que tem sido feita na modalidade tem permitido que bons ciclistas não só cheguem ao mais alto nível, como sejam algumas das actuais referências. Róbinson López, de 21 anos, o primeiro caso a ser divulgado pelos meios de comunicação local, compete na Boyacá Es Para Vivirla, equipa da terra de Nairo Quintana, que não só ajuda, como também chega a treinar com os jovens que a representam.

López estava de malas feitas para a Europa, onde em 2018 iria representar a equipa Continental da Unieuro Trevigiani-Hemus 1896, mas o acordo ficou de imediato sem efeito. "Uma pessoa aconselhou-me muito mal e, aparentemente, deu-me umas vitaminas que tomei sei saber no que me estava a meter. Não sabia que estas supostas vitaminas eram uma substância proibida. Não era a minha intenção consumir algo proibido", garantiu o ciclista ao Ciclo21. López acusou CERA, também chamada de EPO de terceira geração e arrisca uma sanção que poderá chegar aos quatro anos de suspensão.



27 de novembro de 2017

Sky muda para o branco. E Froome, muda para o Giro por dois milhões?

Froome com o equipamento para 2018 (Fotografia: Team Sky)
Aumentam os rumores, aumentam as teorias, aumenta o suspense. E Chris Froome ajuda. Na sua conta de Twitter partilhou uma mensagem do Giro sobre o contra-relógio inaugural em Israel. Já se sabe que o grande objectivo de carreira do britânico é ganhar o quinto Tour e possivelmente um sexto. Assim seria o recordista. É o grande objectivo do ciclista e também da Sky. Mas será que dois milhões de euros são suficientes para mudar as ideias de Froome e de Dave Brailsford, responsável máximo da equipa?

A Sky apresentou esta segunda-feira o equipamento para 2018 e até há novidades, com a equipa a abandonar o tradicional preto. Momento sempre importante a nível de marketing. Contudo, quando na quarta-feira se vai conhecer ao pormenor o percurso do Giro e quando surgiu a notícia que Froome estará mesmo muito tentado a estar presente, a camisola branca passou para segundo plano num ápice.

Resumindo o que se tem passado nas últimas semanas. A organização da Volta a Itália anunciou que Israel irá receber os três primeiros dias da corrida, numa decisão inédita: nunca uma das grandes voltas começou fora da Europa. O director, Mauro Vegni, não escondeu que queria ter Chris Froome na partida em Jerusalém e afirmou que tudo faria para convencer o britânico. O ciclista da Sky já em 2017 sentiu uma pequena tentação em ir até ao Giro, mas estava (e está) demasiado concentrado em alcançar a histórica marca dos cinco Tours. Já só falta um, pelo que ir a Itália em 2018 parece algo fora de questão. Talvez em 2019, caso consiga o penta. Vegni foi insistindo. Defende que Froome tem de vencer as três grandes corridas de três semanas e só lhe falta o Giro.

Recentemente Fabio Aru confirmou que irá atacar a Volta a Itália (de 4 a 27 de Maio) e Espanha no seu primeiro ano como ciclista da UAE Team Emirates. Aproveitou para desafiar Froome a estar também na prova do seu país. O britânico e a Sky estão formatados para a Volta a França. Foi para vencer esta competição que a equipa nasceu. Ganhar este ano a Vuelta foi mais um objectivo pessoal a que Froome se propôs, já que estava cansado dos segundos lugares. Porém, a prova espanhola realiza-se depois da francesa. Logo, ganhar o Tour e perder a Vuelta não seria grave. Ganhar o Giro e depois falhar no Tour é algo inconcebível para Froome e para a Sky. Em França é para estar novamente de amarelo nos Campos Elísios em 2018.

Regressando ao dinheiro. O jornal holandês De Telegraaf e o site Cycling Weekly avançaram que estão a decorrer negociações com o ciclista e com a equipa e que o sim ao Giro estará próximo. E Israel estará a ter um papel importante. Segundo o Cycling Weekly, para receber o Giro terão sido enviados 10 milhões de euros para os cofres da RCS Sport, empresa que organiza a prova. Os responsáveis israelitas querem aproveitar o Giro para fazer uma enorme campanha turística em prol do país. Claro que ter Froome, a maior estrela das grandes voltas - agora que já não partilha esse estatuto com Alberto Contador, que se retirou -, seria absolutamente perfeito se se pensar no impacto mediático que um ciclista como o britânico tem. E para seduzir Froome terão sido oferecidos dois milhões de euros (não incluídos nos 10 referidos), valor que a ser verdade será superior ao que Lance Armstrong terá recebido em 2009.

Froome não estará na apresentação em Milão. Fabio Aru, Vincenzo Nibali e Tom Dumoulin, vencedor este ano, estarão. Como sempre, há uma enorme curiosidade em conhecer o percurso de mais uma grande volta, depois de ter sido anunciado o do Tour. No entanto, está visto que a novela será se Froome estará ou não à partida em Jerusalém. Depois haverá outros episódios que irão além da competição, com muitas organizações humanitárias a apelarem à RCS Sport para cancelar as três etapas em Israel. É impossível ignorar a questão política que rodeia esta decisão de levar a Volta a Itália até àquela zona do globo. Muito se vai falar do Giro101...

O equipamento! A Castelli já tinha apresentado uma camisola branca especial para a última Volta a França. A recepção tanto da equipa, como de muitos fãs foi boa e eis que o tradicional preto ficará em 2018 de parte, menos nos calções, que mantêm a cor. A faixa azul com o nome da equipa não é novidade. Mantém-se as pequenas riscas que sinalizam as vitórias da equipa e que tantos memes originaram na internet quando o equipamento de 2017 foi apresentado. Os ciclistas terão ainda os seus nomes nas costas.


Bons ciclistas a ficarem cada vez melhor, mas falta mais equipa à Lotto-Jumbo

Parte do sucesso da época da Lotto-Jumbo passou pela Volta ao Algarve
A Lotto-Jumbo precisa de um Steven Kruijswijk ao nível do Giro de 2016, precisa de um Robert Gesink que se deixe de inseguranças e coloque na estrada o talento que se sabe que tem, mas os anos vão passando e o holandês ameaça ser um ciclista que passou ao lado de uma grande carreira. Mas se nenhum dos dois se apresentar como o líder que a equipa quer e precisa para as grandes voltas, então abram alas a George Bennett, um neozelandês que este ano confirmou que pode e deve ser aposta. Podem também abrir mais as portas a Primoz Roglic. Este esloveno melhora de ano para ano. A Lotto-Jumbo pode não ter o mediatismo de outras equipas, até pode estar muito em baixo no ranking, mas mantendo alguns dos ciclistas que tem, muitos e bons resultados podem estar a chegar. Porém, precisa de mais equipa, mais apoio para aqueles que estão em condições de lutar por grandes vitórias.

Estamos a falar de uma formação que normalmente consegue que um ou dois ciclistas seja colocado como candidato ou, pelo menos, outsider numa clássica, num sprint, ou a um top dez. Foi uma equipa que ganhou o ano inteiro e 10 das 26 vitórias foram em provas do World Tour. Venceu duas etapas no Tour, incluindo nos Campos Elísios, que para um sprinter é como ganhar a Volta a França. Dylan Groenewegen demonstrou que está pronto para se debater com os grandes nomes com frequência. Jos van Emden também ganhou a última etapa, mas no Giro. Estamos a falar de um dia em que o vencedor da geral é quem mais atenção recebe, mas é uma subida ao pódio num momento de grande aparato mediático. O patrocinador fica sempre muito feliz. Nos Campos Elísios então, fica extasiado.

Quando se fala de atenção mediática, Victor Campenaerts foi o campeão, pois pedir a uma rapariga para sair com ele durante um contra-relógio do Giro mereceu bastante destaque... e uma multa da organização. A equipa também não gostou, mas os fãs adoraram nas redes sociais. Um momento de descontracção, numa temporada muito séria da Lotto-Jumbo.


Ranking: 16º (4846 pontos)
Vitórias: 26 (incluindo uma etapa no Giro, duas no Tour e a geral da Volta ao Algarve)
Ciclista com mais triunfos: Dylan Groenewegen (8)

A formação holandesa tem bons ciclistas, como os referidos e pode-se acrescentar mais alguns como Lars Boom, que regressou à estrutura depois de dois anos na Astana, e Juan José Lobato. O problema da Lotto-Jumbo é apresentar um conjunto forte que não deixe as suas figuras demasiado isoladas quando o apoio é essencial. Aquela exibição de Kruijswijk na Volta a Itália de 2016 - estragada pela queda que muito provavelmente lhe tirou uma vitória mais do que merecida - poderia e deveria ter servido de mote para fortalecer a formação. No entanto, foi mantida uma táctica de esperança que o holandês pudesse repetir a exibição individual e ter um pouco mais de sorte. Nem no Giro, nem noutra corrida. Não aconteceu. Kruijswijk é para já um ciclista que teve uma oportunidade de ouro que não agarrou e vai caindo na lista de candidatos e mesmo de outsiders. O nono lugar na Vuelta é animador, mas ficou a mais de 11 minutos de Chris Froome.

George Bennett poderá "roubar" o estatuto de líder. Surpreendeu (um pouco) com uma vitória na Volta à Califórnia, apareceu bem no Tour, onde entusiasmou (e muito), mas acabou por abandonar. Já na Vuelta apareceu longe da forma ideal. O 10º lugar na Volta a Espanha do ano passado e as exibições em 2017 começam a dar a indicação que a Lotto-Jumbo tem um ciclista para discutir mais do que o top dez. Mas precisa de ter uma equipa mais forte em seu redor. Os bons resultados da Lotto-Jumbo podem tornar-se em grandes resultados se houver esta aposta, que não passando por contratações, pode passar pela mudança de mentalidade em alguns dos ciclistas de trabalho.

Há que recordar que esta estrutura é a sobrevivente da famosa Rabobank, que ao retirar o o seu nome, criou dificuldades aos responsáveis em aguentar os melhores ciclistas. Surgiu a Belkin, mas foi com como Lotto-Jumbo que regressou a total estabilidade e aos poucos esse trabalho começa a dar os seus frutos. Os jovens ciclistas estão a tornar-se corredores maduros e de qualidade comprovada. A época não foi explosiva, mas foram dados passos importantes para 2018. Mas novamente: é necessário ganhar consistência colectiva.

Primoz Roglic foi dos mais ganhadores. Venceu na Volta a França, em Serre-Chevalier, juntando assim mais uma etapa numa grande volta, depois do contra-relógio no Giro de 2016. Foram seis vitórias esta temporada e claro que se tem de destacar a conquista da Volta ao Algarve. Foi ainda medalha de prata no contra-relógio dos Mundiais de Bergen. Está feito um especialista em corridas de uma semana. Aos 28 anos quer mostrar-se também nas de três. George Bennett tem 27. Uma dupla que pode ser de sucesso.

Para 2018 a Lotto-Jumbo mantém a maior parte dos ciclistas, apostando em reforçar-se com três jovens. Danny van Poppel (24 anos) deixa a Sky para procurar outro protagonismo numa equipa que aposta mais em ciclistas com as suas características. Os americanos Neilson Powless (21, Axeon Hagens Berman) e Sepp Kuss (23, Rally Cycling) são mais duas apostas para o futuro, mas não próximo.

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26 de novembro de 2017

"Gostaria de pensar que a medalha irá mudar alguma coisa"

Luís Costa é um dos atletas que este ano trouxe medalhas internacionais para Portugal. O paraciclismo esteve em destaque e a medalha de bronze no Campeonato do Mundo dá ainda mais motivação a um paraciclista que apenas em 2013 começou a competir e que agora aponta alto para os Jogos Paralímpicos de Tóquio. Luís Costa tem até uma história de sacrifício para conseguir estar ao mais alto nível, ao que se junta o acidente de moto que levou à amputação da perna. Mas não é neste discurso que este atleta se centra. A vontade, o trabalho, a ambição de querer mais e melhor marcam as palavras de um atleta que quer acreditar que a modalidade está a desenvolver-se, ainda que a um ritmo mais lento do que esperava.

Em Agosto, Luís Costa teve o culminar de uma época estruturada a pensar no Campeonato do Mundo, na África do Sul. A 31 desse mês, no percurso de 23,3 quilómetros de Pietermaritzburg, o paraciclista português conquistou a medalha de bronze no contra-relógio na classe H5, ficando a 47 segundos do vencedor, Alessandro Zanardi, antigo piloto de automóveis, a quem as pernas foram amputadas após um grave acidente durante uma corrida em 2001. Dois dias depois, foram uns centímetros que o separaram de subir novamente ao pódio na prova de fundo. A medalha foi um resultado histórico, já que foi o melhor de sempre do paraciclismo português a nível internacional.

"Gostaria de pensar que a medalha irá mudar alguma coisa, mas se calhar a única coisa que irá mudar é que a Federação Portuguesa de Ciclismo vai ter mais um trunfo para apresentar ao responsável pelo fornecimento das verbas", salientou Luís Costa ao Volta ao Ciclismo. O paraciclista considera que "a população tem memória curta", ainda que muitos jovens que seguem a sua carreira não esqueçam a sua conquista. "Poucos adultos sabem, dos empresários ligados ao ciclismo ninguém sabe e até os clubes de ciclismo pouco me ligam. Se calhar, nesse aspecto, nada mudou", lamentou.

"Tinha muita confiança em chegar às medalhas, pois foram meses de trabalho muito sério e profissional"

Mas Luís Costa não é de se lamentar. Opta por apelar às equipas Continentais portuguesas para investirem no paraciclismo, como aconteceu em 2017 com o Sporting-Tavira (a formação que representa) e LA Alumínios-Metalusa-BlackJack, por exemplo. "Nós somos cerca de 30. Acho que haveria lugar para dar apoio a todos. Seria giro as equipas pegarem na modalidade. Pelo menos divulgavam mais e se calhar surgiriam mais apoios dirigidos ao paraciclismo", afirmou.

(Fotografia: Federação Portuguesa de Ciclismo)
Recua-se aquele final de mês de Agosto na África do Sul. "Tive uma semana atribulada. Quando cheguei e montei a bicicleta, as mudanças não funcionavam. Tive uma avaria eléctrica e só metia algumas. A 48 horas do contra-relógio... Fiquei muito stressado!", contou Luís Costa. E como um azar nunca vem só: "Ainda assim fui fazer o reconhecimento do percurso na esperança de resolver o problema mais tarde. Meia hora depois de começar, atropelo um atleta americano, andei às cambalhotas e fiquei com os cromados riscados. O nível de stress subiu ainda mais." Perante isto: "Pensei que se conseguisse resolver o problema, só podia mesmo ganhar uma medalha... Isto estava a correr tão mal!" Hoje sorri quando recorda, mas só a 24 horas do contra-relógio é que conseguiu fazer o mesmo, pois foi quando a bicicleta ficou em condições.

"Cheguei com a convicção de mostrar que a aposta que a Federação fez em mim este ano valeria a pena. Sentia-me em condições. Treinámos para aquele percurso, que era muito acidentado. Tinha muita confiança em chegar às medalhas, pois foram meses de trabalho muito sério e profissional", realçou. Não hesita, portanto, em considerar 2017 "um ano excelente a todos os níveis". "Foi espectacular! Foi uma grande realização pessoal!"

O acidente de moto foi há 14 anos, mas só uma década depois Luís Costa optou pelo paraciclismo. Até então, apesar de gostar de ciclismo, nunca tinha praticado. Preferia o atletismo. O ginásio foi a escolha inicial, mas para "um rapaz do campo", como se descreve, estar fechado entre paredes não era para ele. "Agora sou viciado nisto [no paraciclismo]. Não faço apenas pelas medalhas. Faço isto porque gosto. Mesmo que não ganhasse nada, faria na mesma", garantiu.

Recordou as palavras da esposa que acabaram por ser uma premonição. "Ela disse-me: 'Isto é para levar a sério. Estamos em 2013 e em 2016 tens os Jogos no Rio de Janeiro e tu vais lá. Faz o favor de treinar a sério.' E ela tinha razão. Um ano depois estava qualificado." Agora está concentrado em Tóquio2020: "Depois do bronze no Campeonato do Mundo é natural pensar que vou lá chegar em condições de lutar por medalhas."


"Tenho fé que nos próximos cinco talvez cheguemos a um nível comparável ao do resto do mundo"

Até lá, e apesar de ter já ter conseguido um estatuto como atleta que lhe permite ter uma maior flexibilidade de horários, de forma a poder treinar durante o dia e não de madrugada, Luís Costa irá continuar a conciliar o desporto com a profissão. É inspector da Polícia Judiciária e fala do sacrifício dos primeiros tempos em que se aventurou pelo paraciclismo. "Antes só conseguia treinar de madrugada, ainda de noite, ao frio e à chuva. Agora só tenho o frio e chuva!" Dormia uma ou duas horas, mas o esforço acabou por ser recompensado quando começou a obter bons resultados.

No entanto, a realidade é que não se vive do paraciclismo, mas Luís Costa considera que, apesar de todas as dificuldades e da falta de visibilidade por a modalidade não aparecer nos meios de comunicação social, o desporto está a desenvolver. "Confesso que tinha esperança que fosse mais rápida. Não há divulgação", afirmou. A nível competitivo, Luís Costa referiu como os prémios das medalhas já são os mesmo e como os valores das bolsas vão começar a aproximar-se em 2018. "Vai levar algum tempo, mas tenho fé que nos próximos cinco talvez cheguemos a um nível comparável ao do resto do mundo."

Luís Costa é desde já uma referência do paraciclismo nacional e já trabalha para em 2018 somar mais sucessos internacionais, rumo aos Jogos de Tóquio. Afinal, foi precisamente uns Jogos Paralímpicos que o inspiraram a experimentar a modalidade. "O que me atraiu foram os Jogos de Londres. Eu seguia o Alessandro Zanardi, que por coincidência destacou-se na minha classe. Vi-o correr em Londres e lembrei-me do acidente dele. Pensei: 'Ele é amputado como eu... Se calhar está aqui algo que eu posso fazer.' Fiz uma pesquisa na internet e seis meses depois estava a competir contra ele", lembrou. E em Agosto último, Luís Costa ficou ao lado do italiano no pódio.

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