3 de abril de 2018

Mads Pedersen, o ciclista que surpreendeu a própria equipa

(Fotografia: © Trek-Segafredo)
"Não estamos surpreendidos que ele o pudesse fazer, mas é uma surpresa que o tenha feito tão cedo." O director da Trek-Segafredo, Luca Guercilena não escondeu que o segundo lugar de Mads Pedersen na Volta a Flandres foi algo completamente inesperado. O dinamarquês acaba por se tornar na grande sensação desta fase das clássicas, a par de Wout van Aert (Vérandas Willems-Crelan ). Se o belga é cobiçado por muitas equipas do World Tour, Pedersen garantiu um lugar que pode começa a conquistar um lugar de destaque na Trek-Segafredo. E para dar tranquilidade e um voto de confiança ao jovem dinamarquês, a equipa renovou o contrato até 2020.

22 anos e um "futuro muito brilhante" pela frente. Pelo menos assim espera Guercilena, pois de sucessos fugazes está o ciclismo e o desporto em geral cheio. "Vê-lo exibir-se assim esta semana e especialmente ter ficado em segundo na Volta a Flandres, excedeu todas as expectativas. Era o que esperávamos daqui a uns anos, mas fazê-lo agora, aos 22 anos, é de prever um futuro muito brilhante, que estamos felizes por partilhá-lo com ele", salientou o responsável da Trek-Segafredo.

Guercilena refere-se também ao quinto lugar na Dwars door Vlaanderen (Através da Flandres), o que por si só já seria considerado um excelente resultado para o jovem ciclista. Antes tinha abandonado na E3 Harelbeke e na Gent-Wevelgem, pelo que não era visto nem como outsider para um pódio, ou sequer top dez na Volta a Flandres. Era, isso sim, um elemento para ajudar Jasper Stuyven. No final do monumento, quando Pedersen estava ao lado dos dois homens da Quick-Step Floors no pódio - Niki Terpstra, o vencedor, e Philippe Gilbert -, Dirk Demol admitia, ele também, a admiração por ver o seu ciclista naquele posto. "Quando se estava na linha de partida, havia 15 a 20 candidatos ao pódio e acho que ninguém estava a pensar no Mads", afirmou o director desportivo.

Além do segundo lugar, há que também destacar que Pedersen foi o único que ainda conseguiu manter Niki Terpstra à vista quando o holandês passou pelo trio que seguia na frente. Cortou a meta a apenas 12 segundos do vencedor e só o Paterberg fez com que não conseguisse colocar mais em sentido o corredor da Quick-Step Floors.

Para a Trek-Segafredo esta subida ao estrelato de Pedersen é muito bem-vinda, principalmente tendo em conta como aquele que deveria estar em destaque nesta fase da temporada está completamente apagado: John Degenkolb. Jasper Stuyven está a cumprir ainda que sem encantar. Contudo, para quem ainda tem na memória as exibições de Fabian Cancellara, ver Pedersen correr como fez na Flandres, deixa a equipa a respirar um pouco melhor. Não só Degenkolb está a ser uma tremenda desilusão - as duas vitórias nos troféus espanhóis no início de temporada não foram a confirmação do regresso do alemão ao seu melhor -, como a equipa só soma oito vitórias em 2018, apenas uma do escalão do World Tour. O segundo lugar no monumento soube a um pequeno triunfo.

Agora há que libertar Pedersen e já para o Paris-Roubaix o dinamarquês prometeu aos seus directores que podem contar com ele. Com o segundo posto na Flandres, Stuyven pode partir como líder, mas Pedersen não será apenas um homem de trabalho. É a última corrida do ano no pavé, pelo que a Trek-Segafredo até ganhou uma vantagem táctica com o aparecimento precoce do dinamarquês. E claro que não se pode ignorar que em júnior ganhou o Paris-Roubaix, foi vice-campeão do mundo e também conquistou a Gent-Wevelgem como sub-23. Neste escalão, venceu ainda uma etapa no Tour de l'Avenir em 2015.

A Trek-Segafredo foi buscar Pedersen à equipa alemã, do segundo escalão, Stölting Service Group. Antes, o dinamarquês evoluiu na estrutura da Cult Energy durante dois anos. No primeiro a equipa do seu país era Continental e no seguinte passou a Profissional Continental.

Claro que haverá precaução ao criar expectativas demasiado altas, demasiado cedo para Pedersen. Agora há que saber lidar com uma maior atenção dos seus adversários e principalmente lidar quando nem tudo correr tão bem. Mas não restam dúvidas que a equipa americana quer segurar um ciclista que está a ser apelidado de estrela em ascensão. "Quando contratámos o Mads no ano passado, obviamente que sabíamos que tinha muito potencial, que comprovou durante a sua primeira temporada, ao ganhar cinco corridas", salientou Guercilena. "Não restam dúvidas da sua força. Este ano continua na mesma e até elevou o seu nível, ganhando uma etapa na Austrália [na Herald Sun Tour] e realizou um contra-relógio muito sólido no final de um duro Tirreno-Adriatico [foi quarto]", acrescentou.

Pedersen parece feito para estas clássicas e fica desde já com o seu nome gravado como um dos ciclistas da nova geração a seguir. Há um ano foi 95º no Paris-Roubaix, na sua estreia na categoria de elite. Depois da fase das clássicas, a Trek-Segafredo levou-o ao Giro para o testar e o dinamarquês não desiludiu, tendo chegado ao fim. Foi campeão nacional, venceu também a volta do seu país e antes tinha conquistado a Tour du Poitou Charentes, em França.

"Estava feliz com a vitória no início da temporada, na Austrália, e a mostrar que estava num bom caminho para a primavera. E obviamente que estou orgulhoso dos resultados desta semana. Foi uma grande forma de começar, mas ainda sou jovem e tenho de ganhar experiência, por isso, espero que haja mais por acontecer. Por agora estou focado no Paris-Roubaix, a minha corrida preferida e talvez daqui a uns anos esteja à procura de uma vitória", afirmou o ciclista, ao ser anunciada a sua renovação de contrato. Pedersen revela estar com os pés bem assentes no chão, mas também ciente que tem o potencial necessário para continuar a ascender e afirmar-se no topo.


É provável que nos próximos meses Pedersen volte a um segundo plano até porque se entrará numa fase de temporada diferente, com a semana das Ardenas e cada vez mais direccionada para os voltistas. Mas Pedersen não mais estará no anonimato. Na Dinamarca já se fala de na Flandres haver um candidato a suceder a Rolf Sørensen, o último ciclista daquele país a lá vencer, em 1997. Mas isso só para o ano, quem sabe. No domingo, no Paris-Roubaix, certamente que será recordado que nenhum dinamarquês venceu no Inferno do Norte.

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