(Fotografia: Burgos-BH) |
"A lesão foi mais grave do que se esperava. Foi fractura na clavícula, mas foi a que já tinha partido. Partiu em várias partes e para não correr o risco de acontecer outra vez, o período recomendado foi de seis semanas sem sair à estrada. Nas primeiras três não pude fazer mesmo nada", explicou José Mendes, que na quinta-feira terá nova avaliação médica que espera que seja positiva, para assim deixar os rolos e iniciar a recuperação de forma na estrada. "Não sei quanto tempo vou precisar para estar com uma condição mínima para competir. Duas, três, quatro semanas..." O ciclista referiu que "todo o trabalho de pré-época foi por água a baixo" por causa da queda e que acabou por perder corridas em que queria muito estar na melhor forma, como foi o caso da Volta à Catalunha e ao País Basco, ambas do World Tour, a Volta a Castela e Leão e também não estará na Volta às Astúrias, que se realiza este fim-de-semana.
"Agora vou ter de me concentrar num único objectivo. A Volta a Espanha. É uma corrida que eu gosto e se tudo correr bem posso chegar lá e fazer uma boa prova, como já fiz no passado", salientou José Mendes ao Volta ao Ciclismo, satisfeito por saber que o objectivo da equipa foi garantido. "Nós estávamos convencidos que teríamos o convite. A época estava a ser planeada nesse sentido, mas, como é óbvio, eu não ia só concentrar-me só num objectivo", afirmou. A queda mudou-lhe os planos, mas José Mendes está determinado em retribuir a confiança que lhe foi e é dada pelos responsáveis da Burgos-BH, primeiro com a contratação e agora com o apoio nesta fase em que teve de estar parado: "Acolheram-me de forma fantástica. Eles estão a apoiar-me [nesta fase]. Não me colocaram pressão nenhuma. O importante é recuperar."
"Ao fim destes anos não tiveram tanta consideração como eu pensaria que iriam ter, mas compreendo perfeitamente que a este nível não podemos ter anos menos bons"
José Mendes disse estar a viver "um ano de transição" depois de cinco na Bora-Hansgrohe, antiga NetApp-Endura, mas considera que não deu um passo atrás. "Custou-me um pouco sair da Bora-Hansgrohe. Ao fim destes anos não tiveram tanta consideração como eu pensaria que iriam ter, mas compreendo perfeitamente que a este nível não podemos ter anos menos bons", realçou. "A verdade é que as coisas não me saíram como eu desejava e como a equipa desejava, tendo em conta o nível em que a Bora-Hansgrohe agora está", acrescentou. No entanto, como o próprio afirmou, "há que andar para a frente e continuar a trabalhar" e é isso que José Mendes quer fazer na Burgos-BH.
Depois de consolidar a estrutura no escalão Continental, a equipa espanhola subiu de categoria em 2018, com José Mendes e o russo Matvey Mamykin (ex-Katusha-Alpecin) a serem as contratações mais sonantes, mas também está um ciclista conhecido do pelotão português: Jesus Ezquerra, que esteve duas épocas no Sporting-Tavira. "Em termos de condições não está ao nível de uma Bora-Hansgrohe, ou de outra equipa do World Tour, mas é natural. Já estava à espera. Mas é verdade que tenho outras coisas na Burgos-BH que não tinha na Bora. É uma equipa mais simples, mais familiar. Tem pequenos detalhes que me fazem sentir um pouco mais relaxado", frisou.
E o ciclista, que esta terça-feira celebra o seu 33º aniversário, considera que a Burgos-BH tem todas as condições para continuar a evoluir, sendo que, para já, tem um projecto para quatro anos. "Nota-se que a equipa está a caminhar para melhorar agora que está na nova categoria: É natural que nestes primeiros tempos haja coisas a afinar. Na Bora foi igual, até quando passou a World Tour. Penso que a Burgos-BH tem condições para crescer e para se consolidar nesta categoria Profissional Continental."
"Eu dei prioridade em manter-me no escalão Profissional Continental porque assim poderia ter acesso à Volta à Espanha e a outras provas do World Tour, coisa que, infelizmente, nenhuma equipa portuguesa neste momento pode dar"
Uma das diferenças é a forma de estar nas corridas, com a equipa a querer mostrar-se, principalmente para garantir o convite para a Vuelta, que entretanto já recebeu: "A equipa prefere ter mais visibilidade do que esperar para ter um bom resultado, mas penso que com o decorrer da época vamos mudando a forma de correr. Neste início de temporada queremos mostrar que estamos presentes, somos agressivos, queremos estar nas fugas, atacar nas partes finais das etapas e os resultados às vezes não aparecem porque há esse desgaste extra, mas penso que as coisas estão a correr bem".
Sem espaço na Bora-Hansgrohe, Mendes queria garantir que continuava a carreira pelo menos no segundo escalão, o que excluía um regresso a Portugal, onde representou a LA Alumínios-Antarte, Liberty Seguros e o Benfica. "Eu dei prioridade em manter-me no escalão Profissional Continental porque assim poderia ter acesso à Volta à Espanha e a outras provas do World Tour, coisa que, infelizmente, nenhuma equipa portuguesa neste momento pode dar. Eu gostaria sinceramente que um dia pudesse regressar a Portugal e estar numa equipa que pudesse participar nesse calendário", explicou.
A Bora-Hansgrohe faz parte de um passado que não esquecerá, ainda mais porque foi com a equipa que esteve no World Tour e fez o Tour, Vuelta e no ano passado o Giro, um momento que considera ter sido o melhor de 2018, pois permitiu-lhe "fechar" a presença nas corridas de três semanas, como ambicionava. Porém, agora só está concentrado em recuperar da lesão e regressar o mais cedo possível à melhor forma e às corridas.
E claro, quando se fala de objectivos, os nacionais são sempre um para um ciclista que durante um ano vestiu orgulhosamente a camisola de campeão nacional, depois de a conquistar em 2016. "Todos os anos, em melhor ou pior condição física, estou presente. Só não fui quando nasceu o meu filho e foi muito perto da corrida. Eu faço sempre questão de estar presente", assegurou. Europeus, Mundiais também estão no seu horizonte e quer trabalhar para merecer a confiança do seleccionador José Poeira, não escondendo que gostaria de estar em Innsbruck, na Áustria, no próximo mês de Setembro.
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