1 de março de 2020

Para Maria Martins não há impossíveis

© UCI/Federação Portuguesa de Ciclismo
Estávamos no final de 2018 quando aqui, no Volta ao Ciclismo, se tentou perceber um pouco melhor as complicadas contas para que Portugal conseguisse um apuramento inédito para os Jogos Olímpicos no ciclismo de pista. Então, no masculino, as exibições e a matemática eram animadoras e faziam acreditar que era mesmo possível. No feminino era improvável, mas não impossível. Nesse mês de Dezembro surgiu a oportunidade que Maria Martins e o seleccionador Gabriel Mendes esperavam. A partir de então, a jovem ciclista começou a escrever uma página importante na história e, menos de ano e meio depois, tornou-se na primeira a qualificar-se para uns Jogos Olímpicos nesta modalidade. Infelizmente, no masculino, as contas complicaram-se e apesar de um último esforço nos Mundiais de Berlim, Maria Martins vai sozinha até ao velódromo de Tóquio, para competir no omnium.

Não deixa de ser um resultado que premeia esta aposta no ciclismo de pista. Nos últimos anos vimos os gémeos Oliveira conquistar títulos e outras medalhas nos escalões jovens e também já em elite. Maria Martins tem sido a referência no feminino e esta semana juntou mais uma conquista histórica ao apuramento para os Jogos Olímpicos e à primeira medalha em elite nos Europeus. Conquistou o bronze nos Mundiais, na disciplina de scratch, também a primeira no feminino em elite. De referir que Maria tem apenas 20 anos.

O sonho de estar em Tóquio2020 começou então em Dezembro de 2018. Num rápido enquadramento, as provas na pista estão todas interligadas, ou seja, para se ir a um Mundial é preciso garantir a qualificação através das Taças do Mundo. O ranking para a qualificação olímpica tem em conta todas as provas, mais os Europeus. Ora naquele Dezembro, Maria Martins não tinha acesso directo às Taças do Mundo. Portugal era o quinto país de reserva, isto é, era preciso outras nações abdicarem da sua presença para que a selecção nacional fosse chamada. Para a Taça do Mundo de Londres foi isso que aconteceu.

Maria Martins é uma atleta de enorme ambição e talvez de uma dedicação ainda maior. Tendo em conta que está num país onde o ciclismo feminino continua a ter uma expressão muito reduzida - poucas equipas, poucas corridas - esta corredora tem remado contra essa maré, deixando bem claro que ninguém lhe diga que é impossível. Desde aquela Taça do Mundo em Londres que não restaram dúvidas: Maria Martins ia à luta. Os bons resultados sucederam-se, com a ciclista a aproveitar todas as portas que se foram abrindo para estar presente nas grandes competições. Em poucos meses, o apuramento olímpico passou de improvável a possível e é agora uma realidade.

Pódio de scratch: Jennifer Valente (EUA, prata), Kirsten Wild (Holanda, ouro)
e Maria Martins (Portugal, bronze)
© UCI/Federação Portuguesa de Ciclismo
A viagem até Berlim já foi feita sabendo que podia comprar o bilhete para Tóquio, mas nem por isso Maria Martins relaxou. Aliás, seria estranho se o fizesse. É uma ciclista que quer sempre mais. Depois de conquistada a medalha de bronze no scratch, no dia seguinte chegou a estar numa posição de pódio no omnium, que acabou por lhe escapar por oito pontos (foi quarta). Ainda assim, mais uma excelente indicação agora que se vai começar a olhar para os Jogos Olímpicos. De referir que o omnium é composto por quatro disciplinas: scratch (outra corrida, não a que conquistou o bronze), corrida tempo, eliminação e corrida por pontos.

Agora é esperar por Agosto, com o ciclismo de pista a ter o seu destaque entre os dias 2 e 9 desse mês. Até lá, Maria Martins vai agarrar - como sempre o faz - a oportunidade que lhe foi dada pela equipa britânica Drops, para se mostrar na estrada, depois de dois anos positivos na espanhola Sopela. A menina que começou a somar resultados promissores com as cores do Bairrada, está a caminho do momento por que tantos atletas ambicionam. Afinal, uma presença nos Jogos Olímpicos é sempre marcante e Maria Martins já fez história. Será sempre a primeira portuguesa a ter alcançado o apuramento no ciclismo de pista. Mas vai certamente à luta por mais!

Quanto aos homens, desde os Mundiais de 2019 que o apuramento começou a complicar-se. Os resultados de então ficaram aquém do esperado e, depois, não ajudou os problemas físicos dos gémeos Oliveira. Ivo falhou grande parte da temporada devido a uma grave queda, Rui está neste momento a recuperar de uma clavícula partida. Ainda assim, a selecção nacional lutou até ao fim. João Matias, Iuri Leitão e também César Martingil foram atletas que, durante este longo apuramento, trabalharam muito para alcançar o objectivo, que se sabia ser difícil dada a forte concorrência de outras selecções. Mas a Equipa Portugal nunca baixou os braços.

No lado masculino, o apuramento era apontado tanto ao omnium, como ao madison. Se se conseguisse nesta última disciplina seria perfeito, pois o omnium ficaria garantido. No entanto, apesar do esforço de Ivo Oliveira e Iuri Leitão nos Mundiais, em madison, foi a Irlanda que ficou com a vaga que Portugal procurava. É difícil esconder a sensação de desilusão, depois de tantos sucessos na pista dos portugueses. Após Tóquio será altura de pensar no novo ciclo olímpico rumo a Paris2024 e perceber-se se a aposta na pista é para manter.

Até lá, há que dar os parabéns a Maria Martins, pelo apuramento olímpico e pela medalha nos Mundiais de Berlim. Para esta ciclista não há impossíveis, apenas desafios.

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1 comentário:

  1. É isso mesmo: "Para esta ciclista não há impossíveis, apenas desafios."
    E está tudo dito! ;-)

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