22 de abril de 2018

Todos a olhar para Valverde e Alaphilippe e a Quick-Step ganhou com Bob Jungels

(Fotografia: Twitter Quick-Step Floors)
Se há algo que ficou bem claro nesta Liège-Bastogne-Liège é que esta Quick-Step Floors anda perto da perfeição como equipa e que o monumento mais antigo da história do ciclismo está desesperadamente a precisar de uma revitalização no seu percurso. Em 258 quilómetros apenas os últimos 30 serem de facto interessantes, é muito redutor  numa corrida desta magnitude. Valeu Bob Jungels que animou (e de que maneira) a fase decisiva, com a concorrência a marcar-se de tal maneira que as reacções acabaram por ser pouco assustadoras e bem controladas por um Julian Alaphilippe, que de principal candidato - a par de Alejandro Valverde - passou a um homem de trabalho, brilhante em "atrapalhar" a perseguição ao colega de equipa. A forma como o francês festejou ao cortar a meta e aquele abraço de Enric Mas a Jungels diz tudo: esta Quick-Step Floors é uma equipa por excelência. Quem não ganha festeja e emociona-se como se tivesse sido o vencedor.

Tantos perguntam se o ciclismo é um desporto colectivo. A Quick-Step Floors é um exemplo perfeito que sim. Ganha a individualidade, é certo, mas é o trabalho de todos que permite que nesta fase do ano já sejam 27 as vitórias, distribuídas por 12 ciclistas. E dois monumentos, nos quatro realizados (fica a faltar a Lombardia, a 13 de Outubro). Alaphilippe era o líder, ainda mais depois de ter ganho a Flèche Wallonne. Philippe Gilbert a outra carta a jogar (já venceu a Liège em 2011) e Bob Jungels acabava quase por ser um outsider. Mas nesta Quick-Step Floors, todos têm a sua oportunidade e um líder nunca é indiscutível. A corrida acaba por ditar quem vai lutar pelo triunfo.

Até foi Gilbert quem finalmente mexeu numa corrida até então a roçar um absoluto aborrecimento. Antes a subida que sempre marcou este monumento, La Redoute, passou-se sem história. Foi em Roche-aux-Faucons que as movimentações se tornaram decisivas. Bob Jungels colocou-se na frente e na descida ganhou vantagem sobre quem sobreviveu a estes ataques que partiram por completo um grupo que era então estranhamente grande.

Curiosamente, foi precisamente neste local que Andy Schleck atacou quando em 2009 venceu a Liège-Bastogne-Liège. Outro luxemburguês inscreve agora o seu nome na mítica corrida, que acabou por ter um final menos habitual comparativamente com os últimos anos, já que Jungels chegou isolado. Chegou a ter um minuto de vantagem, muito por culpa de atrás ninguém se entender e até deixarem Alaphilippe liderar o grupo e claro que o francês tirava sempre o pé do acelerador. Só por uma vez tentou ele próprio atacar, quando Jelle Vanendert (Lotto Soudal) chegou a reduzir a diferença para 20 segundos. Porém, o belga, que foi terceiro na Flèche Wallonne, quebrou e Alaphilippe abortou o seu ataque.

Jungels ficou mesmo com o monumento, com Michael Woods (EF Education First-Drapac p/b Cannondale) - atenção ao canadiano para o Giro - e Romain Bardet (AG2R) a fechar o pódio. Boa época de clássicas para o francês, tanto no seu país, como em corridas mais importantes. Tinha terminado em segundo na Strade Bianche e no Tour du Finistère, sendo nono na Flèche Wallonne. No início da temporada venceu a clássica de l'Ardèche Rhône Crussol.

Pequeno pormenor: os quatro monumentos já realizados foram todos decididos por ataques a alguns quilómetros da meta. Foi assim na Milano-Sanremo, por Vincenzo Nibali, repetiu-se a história na Volta a Flandres com Niki Terpstra e Peter Sagan escapou ao grupo de favoritos no Paris-Roubaix, ainda que no final tenha sido obrigado a fazer um sprint com Silvan Dillier.

Regressando à Liège, Valverde procurava igualar Eddy Merckx com cinco vitórias, mas desta feita nem no top dez ficou (13º, a 51 segundos). Ainda tentou um ou outro ataque, mas no grupo simplesmente ninguém se entendia o suficiente para perseguir seriamente Jungels. Daniel Martin foi dos mais insatisfeitos. Depois de uma Flèche Wallonne em que ficou para trás, sendo uma enorme desilusão a forma que apresentou, o irlandês mostrou que teve um mau dia na quarta-feira e esteve muito activo na Liège. Um furo a oito quilómetros acabou com a sua corrida. Levou as mãos à cabeça e tinha razão para tal. Cortou a meta a 2:41 minutos (18º). 15 segundos depois chegou Rui Costa (22º). O português não conseguiu manter-se no grupo dos favoritos quando começaram as movimentações a 30 quilómetros do final. A UAE Team Emirates mostrou intenções ao liderar o pelotão durante muito tempo, mas no final saiu frustrada.

Domenico Pozzovivo veio de um segundo lugar na Volta aos Alpes para um quinto na Liège. Este italiano na Bahrain-Merida está a prometer para o Giro, tal como Davide Formolo (Bora-Hansgrohe), que foi sétimo. Tom Dumoulin (Sunweb) ainda tentou, mas claramente não se apresentava com o objectivo de vencer (15º). É difícil perceber como estará para o arranque da corrida que ganhou há um ano. E na perspectiva de quem foi à clássica a pensar um pouco na preparação para o Giro, Chris Froome terá gostado do que viu sobre Sergio Henao, mas já deve estar preocupado com o Wout Poels que teve uma semana das Ardenas para esquecer.

Ruben Guerreiro (Trek-Segafredo) era o outro português em prova, tendo abandonado. O mesmo sucedeu com Daniela Reis (Doltcini-Van Eyck Sport), na corrida feminina, ganha novamente por Anna van der Breggen. A semana das Ardenas pertence ao Women's World Tour desde o ano passado, quando o calendário começou, e a holandesa só falhou a vitória na última Amstel Gold Race, que, no entanto, foi ganha pela colega da Boels-Dolmans, Chantal Blaak.


Para Bob Jungels é a vitória mais importante da carreira. Porém, já venceu uma etapa no Giro no ano passado, em Bergamo, além de ter conquistado a classificação da juventude em 2016 e 2017. É quatro vezes campeão nacional de estrada e três de contra-relógio. A Quick-Step Floors vai apostar no ciclista de 25 anos no Tour, com o objectivo mínimo de o meter no top dez.

Mudança de percurso

Se tirar o muro de Huy da decisão da Flèche Wallonne poderia originar uma revolução, já tirar o final da Liège-Bastogne-Liège de Ans será uma mudança bem-vinda para a maioria. Desde 1992 que este monumento está preso a um percurso muito idêntico. As pequenas mudanças, como por exemplo este ano a subida de La Redoute surgiu um pouco mais afastada da meta, não têm oferecido um maior entusiasmo à corrida.

No próximo ano é possível que o final da La Doyenne regresse a algo mais tradicional antes de se fixar em Ans. A diferença é que será uma aproximação à meta em plano. A Liège-Bastogne-Liège irá assim chamar outro tipo de ciclistas, além dos trepadores. Nomes como Peter Sagan ou Greg van Avermaet podem muito bem colocar esta prova no seu calendário. As subidas ganharão outra importância. Favorecerá ataques daqueles que não quererão um sprint. Pelo menos na teoria, a Liège-Bastogne-Liège poderá tornar-se mais "movimentada".

Mas é só para 2019. Esta época terminaram as emoções fortes desta fase das clássicas. Agora é tempo de entrar definitivamente em contagem decrescente para o Giro, a primeira grande volta do ano, que começa dia 4 de Maio, em Jerusalém, Israel.





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