19 de abril de 2018

"Tinha de decidir o que era o melhor para mim e decidi sair"

(Fotografia: Facebook Tiago Antunes)
A decisão foi muito ponderada e Tiago Antunes não tem qualquer dúvida que foi a mais correcta. O ciclista português tinha ingressado, no início do ano, no Centro Mundial de Ciclismo (CMC) da UCI, por onde passaram ciclistas como Chris Froome ou Jarlinson Pantano. No entanto, quatro meses depois, escolheu regressar à Aldro Team, equipa espanhola de Manolo Saiz, pela qual tinha feito duas corridas e tinha a porta aberta para representar em 2018. Não se arrepende por ter escolhido o CMC, apesar das competições prometidas afinal não se terem concretizado. Para o jovem português, mais um dos grandes talentos a despontar, é tempo de tirar partido do que aprendeu na Suíça e continuar a evolução rumo ao profissionalismo.

"O problema foi que ao início apresentaram-me um calendário que incluía muitas provas da UCI, como o Giro e outras corridas que me dariam oportunidades de competir com qualidade. O facto foi que não era bem assim. Eu pensava que a UCI tinha acesso directo a todas as corridas, mas afinal era por candidatura. Eles apresentaram-me o calendário que gostariam de fazer e não a que tinham acesso", explicou Tiago Antunes ao Volta ao Ciclismo. "Não me explicaram isso ou não quiseram explicar", acrescentou.

O corredor, de 21 anos, referiu que ficou com um calendário que não se adequou às suas características, pois as candidaturas para as provas desejadas não eram aceites. Depois de terminar a Liège-Bastogne-Liège de sub-23 - ganha pelo compatriota João Almeida (Hagens Berman Axeon) - anunciou a sua decisão. "Eu saí com acordo deles. Não saí a mal. Tinha de decidir o que era o melhor para mim e decidi sair", afirmou.


"Não me arrependo da decisão que tomei. Aprendi bastantes coisas [no CMC]"

Tiago Antunes disse ainda que também não queria prejudicar os objectivos da selecção nacional e perante todos os factores que pesou, falou com Manolo Saiz - antigo director da ONCE - e avisou que ia voltar: "Ele ficou muito contente!" Antes de tomar a decisão, o ciclista contou como ligou várias vezes a José Poeira, seleccionador nacional, falou com Delmino Pereira, presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo e também com os treinadores do CMC.

As coisas não decorreram como esperava, mas Antunes não considera que tenha sido uma má escolha ir para a Suíça, depois da passagem pela Sicasal-Constantinos-Delta Cafés: "Não me arrependo da decisão que tomei. Aprendi bastantes coisas. Vi outra realidade do ciclismo e convivi com miúdos de praticamente todo o globo. Havia da Ásia, América do Sul, Europa de Leste... Foi uma experiência enriquecedora para o futuro, sem dúvida." Realçou como mudar de treinadores tem o seu aspecto positivo, pois testou o seu corpo de forma diferente, além de viver e respirar ciclismo 24 horas por dia. Até as deslocações do local onde dormia para o velódromo, em Aigle, eram feitos de bicicleta citadina. "Acabava por fazer uns quilómetros extra", recordou, pois mesmo para as refeições era preciso ir ao velódromo.

A experiência no CMC da UCI era suposto durar até 15 de Junho e Manolo Saiz estava à espera do ciclista português, que acabou por ingressar mais cedo do que o previsto na Aldro Team. "Em princípio a Aldro seria o meu primeiro passo internacional", referiu Antunes, que sabia ter sempre lugar na formação espanhola. "A minha posição ficou salvaguardada na equipa. O Manolo sabia que o meu contrato com a UCI era de apenas seis meses, ou seja, ele ficou a esperar ansiosamente que eu regressasse. Eu disse-lhe que ia para a UCI, mas caso não encontrasse uma equipa de escalão superior, regressaria à Aldro. Ele foi sempre muito atencioso e sempre me apoiou durante estes meses. Foi um regresso natural", frisou.


"Se ele [Manolo Saiz] confia em mim e sendo meu manager, só tenho confiar nessas palavras e mostrar o meu valor"

A estreia será já no domingo, na Ridley-Memorial Momparler, sexta etapa da Taça de Espanha. Esta será uma competição em que Tiago Antunes continuará a participar, mas no seu calendário está também a prova francesa Ronde de l'Isard - que fará pela Aldro e não pela selecção - e o ciclista espera poder ir competindo também no seu país, com especial atenção para a Volta a Portugal do Futuro. "A Aldro esteve em 2017 e creio que este ano quer estar presente", disse.

Tiago Antunes pertence a uma geração que está cada vez mais a dar que falar: a de 1997. Nascidos neste ano temos nomes como Egan Bernal e Pavel Sivakov (actualmente na Sky), Bjorg Lambrecht (Lotto Soudal), Jhonatan Narvaez (Quick-Step Floors), Pascal Eenkhoorn (Lotto-Jumbo) e a mais recente revelação da Androni-Sidermec-Bottecchia, Iván Ramiro Sosa, que não deverá demorar muito a chegar ao World Tour. No início do ano, quando Antunes partiu para o CMC, Saiz disse que já tinha avisado a Astana, a Quick-Step Floors e a Katusha-Alpecin para estarem atentas ao ciclista português.

No entanto, Antunes não sente que este tipo de palavras lhe coloquem maior pressão. "Pelo Manolo já passaram muitos e muitos corredores e se ele confia em mim e sendo meu manager, só tenho confiar nessas palavras e mostrar o meu valor", salientou. "Estou concentrado principalmente nesta época. Quero tentar mostrar o melhor de mim. Não me sinto pressionado", assegurou.

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