Depois de uma época de clássicas (e não só) simplesmente brilhante, o director da Quick-Step Floors "atirou-se" às motos que estão nas diferentes funções de apoio às corridas. Patrick Levefere é célere em dizer que não é um mau perdedor e até apontou alguns dos problemas que ditaram que não colocasse nenhum dos seus ciclistas no pódio na Amstel Gold Race. No entanto, mostrou-se muito insatisfeito com o que diz ter sido uma ajuda que fez a diferença na decisão da corrida que abriu a Semana das Ardenas. Realçou não ser caso único e vai mesmo escrever ao presidente da UCI para expor a situação.
As motos estão assim envolvidas numa questão diferente. Desta feita não está em causa o eventual perigo que certas manobras ou o excesso deste tipo de veículos no pelotão possa causar, como alguns defendem, mas sim o facto de estarem de tal forma perto dos ciclistas, que acabam por lhes oferecer alguma protecção, ou seja criando cones de ar ou cone de aspiração.
"Não quero parecer mau perdedor, mas o papel das motos na corrida foi escandaloso. Isto aplica-se a outras provas além desta edição da Amstel Gold Race. Enquanto o Pieter Serry estava a esforçar-se ao máximo na frente do grupo de favoritos, a fuga continuava a seguir por causa do cone de ar criado pelas motos", salientou Patrick Lefevere ao jornal belga Dernière Heure. O director acrescentou que quando a diferença é menos de 20 segundos, então as motos devem estar atrás dos ciclistas que lideram a corrida. "Vou escrever uma carta ao presidente da UCI, David Lappartient, porque isto não pode continuar. São as motos que estão a decidir as corridas", realçou.
A Quick-Step Floor teve uma fase louca em que ganhou quase corrida sim, corrida sim, agora está numa espécie de pausa. O último triunfo foi a 7 de Abril, no fecho da Volta ao País Basco, com Enric Mas a dar a 25ª vitória à equipa belga. Três dias antes, Fabio Jakobsen venceu a Scheldeprijs. "Foi a primeira vez em algumas semanas que não tive ninguém no pódio numa clássica. Alaphilippe tentou duas vezes ir atrás de Valverde e isso deixou-o de pernas vazias. Philippe [Gilbert] ficou um pouco curto. Como acontece muito nesta corrida, tudo se decide um pouco com quem consegue manter mais tempo a calma. É muito difícil escapar ao controlo que certas equipas fazem na corrida", explicou Lefevere.
A Amstel Gold Race foi ganha por Michael Valgren (Astana), com Roman Kreuziger (Mitchelton-Scott) e Enrico Gasparotto (Bahrain-Merida) a fecharem o pódio. Julian Alaphilippe foi o melhor da Quick-Step Floors, ao terminar na sétima posição, a 19 segundos do vencedor. O francês irá ser uma das apostas para a Flèche Wallonne, que se realiza esta quarta-feira.
Esta questão das motos está longe de ser nova. Várias são as vezes que mesmo durante as corridas se vê ciclistas a pedir para as motos se afastarem ou então a tentarem aproveitar a colocação destas para procurar uma protecção de forma a poupar esforço, mas ter velocidade, o cone de ar. Há certas corridas em que a colocação das motos se torna ainda mais complicada e a Amstel Gold Race é uma delas. As estradas estreitas dificultam a convivência entre todos os veículos que compõem a caravana de uma prova de ciclismo. Pior é quando chove, ou então mesmo num Paris-Roubaix ou Strade Bianche, em que o pavé, a terra, a lama faz com que os ciclistas consigam por vezes ir mais rápido do que as próprias motos.
Lefevere é apenas e só um dos directores mais antigos, respeitado e carismático do pelotão, pelo que as suas declarações podem contribuir para dar outra atenção a este assunto, ainda que, e pelos exemplos dados, nem sempre é fácil conduzir uma moto no pelotão, mas também nem sempre as distâncias são cumpridas, o que leva aos tais desentendimentos, transmitidos em directo, com os ciclistas.
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