31 de agosto de 2018

Pelotão furioso com condições da estrada

Os últimos 20 quilómetros foram muito complicado
com quedas e furos (Fotografia: © PhotoGomezSport/La Vuelta)
Num dia, o helicóptero voou baixo de mais e provocou a queda de alguns ciclistas já depois da etapa terminar. Escusado será dizer que as críticas vieram de todo o lado. Mas o pior estava por acontecer. Os últimos 20 quilómetros da tirada desta sexta-feira provocaram a ira do pelotão. A estrada em mau estado e muito estreita causou vários incidentes. Michal Kwiatkowski foi dos mais afectados, mas a insatisfação não foi expressa apenas pela Sky.

"Não sei o que os organizadores estavam a pensar ao levarem-nos para estradas como aquela. Condições terríveis. Queriam quedas e tiveram-nas", afirmou Simon Yates (Mitchelton-Scott), um dos mais duros nas palavras. O australiano conseguiu chegar a são e salvo à meta em Pozo Alcón, mas um dos seus colegas, Damien Howson, foi um dos vários ciclistas a cair. "Foi muito perigoso", desabafou Yates, desiludido com a fase final do percurso da sétima etapa.

Sentimento partilhado por Daniel Martin. Além das quedas, os furos também foram um problema. O irlandês foi um dos azarados e perdeu 4:27 minutos. "Teria sido simpático limparem a estrada", disse Martin, referindo-se ao facto de haver muita gravilha, o que só contribuiu para a dificuldade dos ciclistas em manobrarem as bicicletas e para originar problemas mecânicos. "Eram estradas mesmo, mesmo más. Estivemos em boas estradas largas durante todo o dia e depois atiram-nos para isto. Foi o caos", salientou.

Em sete etapas, ainda ninguém abandonou na Vuelta, o que muito se deve ao tipo de estradas por onde o pelotão tem andado. Na sexta etapa houve um primeiro erro, com um obstáculo mal identificado a originar uma queda que envolveu vários ciclistas. Depois da meta em San Javier, Mar Menor houve então o incidente com o helicóptero. Ao voar demasiado baixo, a deslocação de ar que criou fez com que umas barreiras de plástico fossem, para o meio da estrada e houve quem não as conseguisse evitar, chegando mesmo a cair. Julien Duval (AG2R) foi um dos afectados, por exemplo e ficou incrédulo com a situação.

Porém, as condições da estrada da sétima etapa, resultou em mais problemas do que quase todos juntos até a este dia. Daniel Martin não hesitou em colocar o dedo na ferida: "É bonito para a televisão, mas não é bonito pedalar nelas."

Alejandro Valverde juntou-se ao coro de críticas: "O asfalto era mesmo mau. Estávamos avisados que ia ser complicado, mas foi mais difícil do que o esperado." O espanhol da Movistar acabou por beneficiar da queda de Kwiatkowski e com a bonificação do terceiro lugar na etapa, saltou para o segundo lugar, a 47 segundos de Rudy Molard (Groupama-FDJ). Valverde lamentou que o polaco tenha perdido tempo devido a uma queda, ficando , por outro lado, satisfeito que tanto ele como Nairo Quintanha tenham passado incólumes num final tão complicado. Ou quase. O colombiano da Movistar foi dos que furou, mas a rápida intervenção do companheiro Richard Carapaz - cedeu a sua bicicleta -, permitiu que Quintana perde-se pouco tempo e recuperasse posição no grupo principal.

Outro colombiano, Rigoberto Uran (EF Education First-Drapac p/b Cannondale) limitou-se a dizer que foi "uma zona muito complicada e há que contar com a sorte para não cair". Sorte que Kwiatkowski não teve. Nem ele nem os colegas Tao Geoghegan Hart e Sergio Henao. Os três caíram na mesma curva, com David de la Cruz a escapar. O polaco desceu de segundo para sexto, perdendo 25 segundos para Molard, estado agora a 1:06. Ainda assim, na Sky tenta-se ver o lado positivo. "Podia ter sido pior", disse o director desportivo Gabriel Rasch. "O Kwiato teve de mudar de bicicleta, mas felizmente os rapazes estavam mesmo atrás dele e deram-lhe uma rapidamente. O Sergio fez um trabalho extraordinário e quase conseguiram fechar a distância para o grupo da frente", acrescentou.

Mas não foi só Henao quem ajudou. Quando o colombiano ficou sem força, o próprio Kwiatkowski trabalhou no grupo e teve uma preciosa contribuição de Bauke Mollema (Trek-Segafredo) e Ilnur Zakarin (Katusha-Alpecin). Ambos acabaram também por não durar até ao fim e o holandês chegou mesmo a perder o contacto com este grupo.

Franceses brilham em Espanha

No Tour as coisas não correram muito bem para os ciclistas da casa, com excepção para Julian Alaphilippe (Quick-Step Floors) e Arnaud Démare (Groupama-FDJ), este último lá conseguiu uma etapa. Porém, na Vuelta, em três dias os gauleses viram um seu ciclista vestir a camisola da liderança - Rudy Molard -, depois Nacer Bouhanni (Cofidis) regressou às vitórias em grandes voltas, terminando com um jejum de quatro anos, e agora foi Tony Gallopin que terminou com um hiato igual ao do compatriota. As três equipas francesas na Vuelta já deixaram a sua marca.

Numa fase de ataques e contra-ataques, Gallopin tentou a sua sorte a três quilómetros do fim e foi feliz, frustrando um Peter Sagan (Bora-Hansgrohe) que ultrapassou as dificuldades, mas para ficar apenas em segundo. Bateu ao sprint Valverde, outro interessado em vencer, que no seu caso teria sido a segunda vitória.

O espanhol não só subiu ao segundo lugar, como ficou com a camisola dos pontos de Kwiatkowski, liderando ainda no combinado. Luis Ángel Maté mantém-se com a da montanha. A Astana é a primeira na classificação colectiva.

Os quatro ciclistas portugueses em prova perderam tempo para o grupo principal (Gallopin cortou a meta com cinco segundos de vantagem). Nos 185,7 quilómetros entre Puerto Lumbreras e Pozo Alcón, José Mendes (Burgos-BH) cortou a meta a 1:48 minutos do francês da AG2R, Tiago Machado (Katusha-Alpecin) a 5:40, Nelson Oliveira a 7:49 e José Gonçalves chegou a 15:11 do vencedor.

Pode ver aqui as classificações completas.

Oitava etapa: Linares - Almadén, 195,1 quilómetros

Vai ser um dia algo nervoso, muito porque se aproxima a primeira etapa que pode ser decisiva na Vuelta. Espera-se um final ao sprint, que tendo os últimos metros em subida, coloca Peter Sagan como favorito, mas a concorrência continuará a ser forte.

Os homens da geral quererão ter um dia o mais tranquilo possível numa Vuelta, pois no domingo terão de enfrentar La Covatilla, uma categoria especial, que chegará depois de uma subida de primeira, outra de terceira e ainda uma de segunda, com muito sobe e desce pelo meio. Serão ainda 200,8 quilómetros, sendo a segunda etapa mais longa da corrida. Mas primeiro há mais um dia para sobreviver.



30 de agosto de 2018

"Estou calmo. O que tiver de ser, será"

(Fotografia: © Gruber Images/EF Education First-Drapac p/b Cannondale)
O crescimento de José Neves em 2018 foi tal que até parece que foi há muito que admitiu que lhe tinha custado "um pouco sair da Liberty Seguros-Carglass". No entanto, na W52-FC Porto não só confirmou todo o seu valor, como o fez conquistando uma das principais corridas do calendário nacional: o Troféu Joaquim Agostinho. Oito meses depois de ter vestido pela primeira vez o equipamento azul e branco, trocou por um cor-de-rosa e verde. Tinha muitas expectativas para 2018, mas dar um salto tão grande, tão cedo, não deixou de ser algo inesperado. As exibições de José Neves, não só este ano, não passaram despercebidas lá fora e o ciclista está a estagiar na EF Education First-Drapac p/b Cannondale.

A equipa americana levou José Neves até à altitude da Volta ao Colorado. O ciclista português confessou que não foi fácil e quase meteu o pé no chão. Apesar de não se mostrar particularmente satisfeito com o resultado final, ficou numa positiva 48ª posição, a 15:19 do vencedor, Gavin Mannion (UnitedHealthcare). No contra-relógio, Neves comprovou um dos seus pontos fortes e durante mais de uma hora ninguém bateu o seu tempo, num pormenor que foi destacado no site da equipa, já que se tratava da estreia do jovem de 22 anos ao mais alto nível.

"[O resultado] foi mais ou menos", afirmou José Neves. "Integrei-me bem na equipa, os colegas foram porreiros. Falavam um pouco espanhol e conseguimos entender-nos", preferiu destacar. Ao Volta ao Ciclismo, o ciclista explicou que não foi fácil correr no Colorado devido à altitude e só pensa em fazer mais e melhor na próxima corrida. "Tenho de mostrar o meu valor lá fora e a ver se a experiência corre um pouco melhor na Grã-Bretanha, porque lá andei muito em altitude e não estava habituado. Mas fiz tudo o que me pediram e estão contentes comigo. Vamos ver se fico para o ano."


"O que me pedem tento fazer ao máximo, mesmo que fique quase a pé"

Houve um sorriso que não largou José Neves durante toda a conversa. "O sonho é mesmo ficar lá, mas estagiar já está a ser bastante bom", salientou o ciclista, que mostra-se tranquilo quanto ao futuro, não deixando transparecer qualquer ansiedade. Para Neves só o facto de estar numa equipa do World Tour, mesmo como estagiário, poderá significar a abertura de outras portas, seja essa na EF Education First-Drapac p/b Cannondale, ou noutra formação estrangeira. Contudo, revela de imediato o respeito que tem pela equipa que o levou para o profissionalismo, a W52-FC Porto. "Não, não estava à espera [de ir para uma equipa World Tour tão cedo na carreira]. Eu quero ir para fora, mas cá também me sinto bem. Vamos ver o que o futuro me reserva", referiu.

Foi através do seu empresário que conseguiu o estágio. Depois de uma primeira experiência no Colorado, será então na Grã-Bretanha (de 2 a 9 de Setembro) que irá estar ao lado de alguns dos grandes nomes do ciclismo mundial, como Christopher Froome, Geraint Thomas, Primoz Roglic, Julian Alaphilippe e muito mais. Nada de novo, já que na Volta ao Algarve já teve contacto com ciclistas deste nível, mas agora terá vestido o equipamento de uma equipa do World Tour.

"Estão a pedir-me para quando é preciso para trabalhar, trabalhar e para mostrar que tenho valor para lá estar. O que me pedem tento fazer ao máximo, mesmo que fique quase a pé. Foi o que aconteceu no primeiro dia no Colorado. Quase parei! Mas eles [responsáveis] ficaram contentes e o director desportivo depois disse para eu ir com calma, para recuperar para o contra-relógio", contou. Depois da Volta à Grã-Bretanha, José Neves terá ainda a oportunidade de se mostrar em algumas clássicas em Itália, em Outubro.


"Lá fora querem ciclistas completos porque as provas são todas discutidas nas montanhas e nos contra-relógios"

Se em Portugal não lhe falta nada para evoluir na equipa de Nuno Ribeiro, claro que na EF Education First-Drapac p/b Cannondale há grandes diferenças, não fosse uma equipa do escalão mais alto do ciclismo mundial: "É tudo diferente. Mais à grande. Tudo o que é preciso está lá. Um pequeno detalhe, se é preciso trocar qualquer coisa troca-se... Não se olha a custos, não se olha nada. Na comida se é preciso algo, vai-se buscar." Não esconde que se sentiu um pouco como um rei.

Pode não ter conhecido a principal estrela da equipa, Rigoberto Uran, ou Sep Vanmarcke, Pierre Rolland (que está de saída no final da temporada), Sacha Modolo... Mas esteve ao lado de um Taylor Phinney e também Hugh Carthy, Joe Dombrowski, Daniel Martínez e Nathan Brown. Neves contou ainda que conheceu o australiano Brendan Canty, apesar do ciclista não ter competido no Colorado, além de ficar a conhecer parte do staff. Não esconde que estar numa equipa que conta com grandes figuras da modalidade mexe com ele, mas não se deixa levar por ilusões.

"Estou calmo. O que tiver de ser, será. Se não ficar poderá aparecer outra oportunidade de ir para fora na mesma. É uma porta que se abriu. Lá fora querem contra-relogistas que passem bem a montanha, querem ciclistas completos porque as provas são todas discutidas nas montanhas e nos contra-relógios", disse. Tendo em conta as características de José Neves, perante a descrição, questionou-se se não é perfeito para o que procuram. "Tem dias", respondeu, muito bem disposto e naturalmente feliz pela fase que está a viver.

Neves é um dos três estagiários que a equipa americana está a testar. Além do português, foram chamados os australianos Cyrus Monk e James Whelan, corredores com características diferentes, mais a pensar nas clássicas.

Ruben Guerreiro assina pela Katusha-Alpecin

"Estou entusiasmado pelo próximo passo na minha carreira e sinto que a Katusha-Alpecin é a escolha certa." Ruben Guerreiro vai mudar de equipa, depois de dois anos na Trek-Segafredo. O ciclista português vai juntar-se a José Gonçalves em 2019, tendo como director geral outro compatriota, José Azevedo. É a quinta contratação de uma formação que está a ter um ano muito difícil (apenas cinco vitórias) e que para o futuro está a tentar encontrar o equilíbrio entre juventude e a experiência.

Aos 24 anos, Ruben Guerreiro é visto como um dos jovens de grande potencial. No entanto, a sua passagem pela Trek-Segafredo ficou muito marcada por problemas de saúde ou então quedas que foram interrompendo os bons momentos de forma que o campeão nacional de 2017 ia apresentando. Este ano, o ciclista espreitou a oportunidade de se estrear numa grande volta, mas acabou excluído do oito eleito para a Vuelta. Está a responder com excelentes prestações em França, como o quinto lugar na Bretagne Classic-Ouest-France.

"A Katusha-Alpecin sempre foi uma das minhas equipas preferidas. O antigo ciclista da Katusha, Purito Rodríguez, sempre foi um dos meus ídolos. Há também uma ligação portuguesa na equipa, o que me facilita, claro, mas, estou habituado a falar inglês depois de quatro anos em equipas americanas", recordou Ruben Guerreiro em declarações à sua nova formação. Antes da Trek-Segafredo lhe ter aberto as portas do World Tour, o corredor tinha evoluído na equipa de Axel Merckx, a actual Hagens Berman Axeon, onde estão os gémeos Oliveira, Ivo e Rui, e João Almeida.

Ruben é um ciclista para provas por etapas, mas também para certas clássicas. Como o próprio destaca, as Ardenas são um objectivo. "Devido a alguns problemas de saúde, nem sempre consegui mostrar do que sou capaz, mas vou fazê-lo no próximo ano. Quero ser um bom companheiro de equipa e ganhar", afirmou. À sua espera estará então José Gonçalves, mas ainda não é conhecido o futuro de Tiago Machado, que, tal como o gémeo de Barcelos, está na Volta a Espanha.

José Azevedo explicou a decisão de contratar Ruben Guerreiro: "Ele teve uns bons anos com o Axel, especialmente na Volta à Califórnia. Gosto do seu estilo de correr. É agressivo e sempre a tentar entrar em fugas. Nos momentos difíceis, ele não é alguém de se esconder ou de ficar na roda."

A lista de reforços da Katusha-Alpecin vai assim aumentando. Daniel Moreno é talvez a maior surpresa. Tem 35 anos e há seis que representa a Cofidis. Antes passou pela Saxo Bank e Astana. O italiano Enrico Battaglin (28 anos) deixa a Lotto-Jumbo para reforçar o bloco das clássicas da equipa de José Azevedo, sendo também uma opção para o sprint, ou para eventualmente dar uma ajuda a Marcel Kittel. O mesmo acontece com Jens Debusschere, belga de 29 anos que fez toda a sua carreira na Lotto Soudal. O jovem britânico Harry Tanfield (23) fará a sua estreia no World Tour. Representava a equipa do seu país Canyon Eisberg, do nível Continental, e também ele tem as clássicas como especialidade, sendo ainda um contra-relogista interessante. Ruben Guerreiro assinou por uma temporada.

A tentativa de redenção de Nacer Bouhanni

(Fotografia: © PhotoGomezSport/La Vuelta)
Qualquer dia é bom para ganhar, mas para Nacer Bouhanni, vencer nesta sexta etapa da Vuelta teria mais significado do que apenas regressar às grandes vitórias depois de uma temporada muito (mas mesmo muito) complicada. Menos de 24 horas antes do sprinter francês ser o mais forte em San Javier, Mar Menor, tinha sido divulgado que o ciclista teria batido no carro da equipa, o que teria resultado numa penalização de 30 segundos. Bouhanni e a equipa desmentiram, mas a melhor reacção viria mesmo na estrada. Há quatro anos que o sprinter não ganhava numa grande volta e há quase ano e meio que não vencia numa corrida World Tour.

"Tinha muita vontade de ganhar hoje depois dos falsos rumores que circularam sobre mim ontem", admitiu Bouhanni. O próprio ciclista referiu de imediato como é especial regressar às vitórias nas grandes voltas, precisamente naquela onde tinha vencido pela última vez, então ainda ao serviço da FDJ.fr. Mas num momento em que não escondeu alguma emoção, Bouhanni recordou como em 2017 uma queda quase lhe acabou com a carreira, com o ciclista até a considerar que poderia ter sido ainda mais grave: "No ano passado tive um acidente muito sério no Tour de Yorkshire. Não se deu muita importância, mas podia ter acabado com a minha vida e tive problemas de visão durante uma boa parte da temporada."

Os relatos de conflitos com os responsáveis da Cofidis não eram novidade, mas desta feita, a equipa assegurou que a penalização de 30 segundos se deveu a uma abastecimento fora do limite estipulado pela organização. Em comunicado garantiu ainda que Bouhanni tem toda a confiança nesta Vuelta.

Bouhanni não quis entrar em euforias, recusando dizer que está de regresso à sua melhor versão. "Foi uma temporada difícil e a pressão afectou-me muito. Senti-me humilhado, mas tinha de me redimir", afirmou, não escondendo a decepção que sofreu ao ficar de fora do Tour, com Christophe Laporte a ser o sprinter escolhido da Cofidis. O francês até disse que chegou a falar com outras equipas, mas o responsável máximo da Cofidis, Thierry Vittu, telefonou-lhe antes da Vuelta para lhe dar todo o seu apoio.

Esta foi a sexta vitória do ano para Bouhanni, mas falta saber se poderá ser aquela que inicie a sua redenção dentro de uma equipa na qual parece ter o seu espaço a diminuir desde que Cédric Vasseur assumiu a liderança. Primeiro o seu comboio foi reduzido, depois perdeu o estatuto de líder indiscutível, falharia o Tour, mesmo depois de ter conseguido algumas vitórias. Não ajudou ter desrespeitado ordens da equipa: deveria ter ajudado Laporte na primeira etapa da Route d'Occitanie, mas acabou por disputá-la e até ganhou, à frente precisamente do colega.

Vinte quilómetros de caos

Se até essa marca estava a cumprir-se quase todas as expectativas, menos a da velocidade, já que o vento de frente não ajudou nada, depois foi um caos. Uma queda abriu as hostilidades que o vento viria a ter um papel decisivo.  O pelotão partiu-se em vários grupos e Wilco Kelderman acabou por ser o mais prejudicado. O holandês da Sunweb perdeu 1:44 minutos, naquele que é um rude golpe nas suas aspirações, que passam por disputar a Vuelta. São 2:50 para Rudy Molard, o que deixa Kelderman numa posição em que não poderá ficar à espera de terceiros para tentar estar novamente na luta por um bom resultado.

Thibaut Pinot também perdeu tempo, cortando a meta no grupo de Kelderman. Tendo em conta que o francês disse que o objectivo principal na Vuelta era ganhar etapas, não se pode dizer que seja uma desilusão. Porém, um dia depois da Groupama-FDJ ver Rudy Molard vestir a camisola vermelha, não deixou de ser um contratempo ver Pinot cair na classificação geral, até porque ficou bem claro que continua a receber toda a protecção. Molard ficou sozinho na frente, com a equipa a tentar socorrer Pinot, sem sucesso.

Rafal Majka perdeu 3:05 minutos, entregando definitivamente a liderança da Bora-Hansgrohe a Emanuel Buchmann. A seu lado estava um Ilnur Zakarin (Katusha-Alpecin) que cada vez mais se vai enterrando na classificação geral.

Se o pelotão esperava que os 155,7 quilómetros entre Huércal-Overa e San Javier, Mar Menor pudessem ser mais tranquilos do que nos dias anteriores, mas não houve descanso para ninguém. Esta sexta-feira serão 185,7 quilómetros, com partida em Puerto Lumbreras e meta em Pozo Alcón.

Pode ver aqui as classificações completas. Não se verificaram mudanças nos donos das camisolas. Molard está vermelho, Michal Kwiatkowski (Sky) de verde (pontos), Luis Ángel Maté (Cofidis) regressou às fugas para reforçar a liderança da montanha, Alejandro Valverde (Movistar) tem a camisola do prémio combinado e a Astana é a primeira entre as equipas.



29 de agosto de 2018

O futuro incerto de Mark Cavendish

(Fotografia: Stiehl Photgraphy/Dimension Data)
A notícia dificilmente poderia ter chegado na pior altura. O vírus Epstein-Barr tem estado novamente a limitar Mark Cavendish, que vai parar por tempo indeterminado até recuperar a 100%. Já no ano passado o britânico sofreu com este problema, que na altura provocou mesmo uma mononucleose infecciosa. Com os resultados a escassearem, em final de contrato e com 33 anos, o futuro daquele que já foi considerado o melhor sprinter do mundo está muito incerto.

A Dimension Data anunciou que todo o calendário do ciclista foi cancelado. "Os resultados médicos indicaram que Cavendish tem estado nos últimos meses, sem saber, a treinar e competir com o vírus Epstein-Barr", lê-se no comunicado, que realça como o conselho médico foi de descanso para recuperar completamente. Sem um tratamento específico, Cavendish está dependente de como o seu corpo vai reagir à paragem. Pela frente tem pelo menos duas semanas a um mês de descanso total, mas o tempo poderá ser mais.

Em 2017, o ciclista temeu que poderia ficar longe das corridas durante muito tempo, mas em três meses conseguiu estar novamente a competir e inclusivamente foi ao Tour. Com a actual temporada na recta final e já sem muitos objectivos, Cavendish terá ainda de se preocupar com a questão em qual equipa irá competir em 2019.

Depois de uma primeira época de muito sucesso na Dimension Data, com 10 vitórias, quatro no Tour, Cavendish apagou-se nas duas temporadas seguintes. Em 2017 e 2018 somou uma vitória apenas em cada temporada. Muito pouco para um dos ciclistas mais caros do pelotão. Nos primeiros meses deste ano, venceu uma etapa na Volta ao Dubai, mas depois sofreu uma série de quedas que também contribuíram para o seu fraco rendimento. Foi contra um carro que activou automaticamente os travões ao detectar ciclistas na Volta ao Dubai, caiu no contra-relógio colectivo que abriu o Tirreno-Adriatico, recuperou a tempo da Milano-Sanremo, onde foi contra uma divisória na estrada, fazendo um mortal antes de cair desamparado na estrada.

Porém, o problema do britânico ia, afinal, muito além de um arranque de época azarado. O ciclista explicou no comunicado que não se tem sentido como habitualmente a nível físico, apesar dos valores apresentados serem bons. "Senti que algo não estava bem", disse. Cavendish está satisfeito por agora conhecer o problema, comprometendo-se a regressar às corridas só quando estiver em perfeitas condições.

A Dimension Data tem uma decisão importante a tomar. A equipa tem sempre mantido o apoio ao seu ciclista, que em 2016 foi para a formação sul-africana como a grande estrela, no ano em que subiu ao World Tour. No entanto, com a baixa de rendimento de Cavendish, desceram também o número de vitórias. Este ano são apenas seis e na terça-feira Ben King quebrou o jejum de mais de um ano sem triunfos a nível do World Tour. Em 2017, por esta fase da temporada, a Dimension Data somava 23 dos 25 que viria a ter, mesmo com Cavendish já a perder influência. No primeiro ano no escalão máximo, somou 32 triunfos.

Uma renovação da equipa é algo essencial para recuperar o fulgor perdido. A culpa não é apenas de Cavendish, pois Louis Meintjes, por exemplo, regressou para ser a figura para as três semanas e noutras corridas por etapas, mas tem andado quase desaparecido. Steve Cummings está a ter um ano para esquecer. As contratações já estão a ser feitas, começando pelo dinarmarquês Michael Valgren (ciclista da Astana que este ano venceu a Omloop Het Nieuwsblad e a Amstel Gold Race), o compatriota Lars Ytting Bak (Lotto Soudal), o checo Roman Kreuziger (Mitchelton-Scott) e o suíço Danilo Wyss (BMC). Também está garantida uma jovem promessa norueguesa, Rasmus Tiller, da equipa Continental, Joker Icopal.

Se Cavendish perder o seu lugar na Dimension Data, permanecerá a dúvida se alguma equipa quererá fazer um investimento tão grande num ciclista que, infelizmente, já não oferece as garantias de outrora. E este problema de saúde será sempre mais um pormenor a ponderar, pois não tem cura e poderá voltar a afectar o ciclista. Mesmo que diminua as suas exigências salariais, o futuro de Cavendish é dos mais incertos no pelotão.

Vestiu a camisola vermelha e renovou contrato

(Fotografia: © Photo Gomez Sport/La Vuelta)
Ao contrário das outras etapas, o pelotão pareceu que desta vez estava com alguma pressa de terminar a etapa. Talvez tenha ajudado que a fuga tenha tido inicialmente 25 ciclistas, o que pode ter contribuído para um ritmo mais acelerado (41 quilómetros/hora de média). Porém, isso não significou que a Sky tivesse grande vontade de estar a controlar e muito menos a perseguir. Sem surpresa houve uma mudança no dono da camisola vermelha, num dos raros momentos em que se viu a equipa britânica a não querer estar com a camisola de líder. Rudy Molard, da Groupama-FDJ, subiu a uma posição que vai mudar o panorama das próximas etapas a nível táctico.

Na chegada à Sierra de la Alfaguara, na terça-feira, ficou claro que o bloco da Sky está a anos-luz do normal. Só David de la Cruz ficou no grupo da frente na subida final e nem esteve na ajuda a Michal Kwiatkowski. Antes, a equipa limitou-se a guiar o pelotão, sem nunca se preocupar em perseguir a fuga. Não significa que a equipa não queira lutar pela Vuelta, significa apenas que assume que não está tão forte como normalmente se apresenta e prefere guardar forças para uma fase mais decisiva da corrida. Não tendo de controlar, "só" precisa a partir de agora proteger Kwiatkowski e De la Cruz.

Quem quer apostar nas fugas terá ficado triste, pois com a postura da Sky, era provável que mais triunfassem. Porém, com a Groupama-FDJ tudo será diferente. Thibaut Pinot é o líder, ainda que tenha dito estar em Espanha para ganhar etapas. Mas ter Molard no primeiro lugar e inicialmente com 1:01 de vantagem sobre o polaco da Sky, deixa a equipa francesa numa posição inesperada e com uma oportunidade de ouro. Contudo, essa margem já foi reduzida para 41 segundos. O francês foi sancionado com 20 segundos por ter recebido abastecimento após o limite permitido.

Molard é um dos bons homens de trabalho que a Groupama-FDJ tem. O próprio diz que é um gregário e que estar com a camisola vermelha é um bónus, num dia em que teve liberdade. No entanto, a táctica poderá agora passar por tentar jogar um pouco com duas armas, tendo sempre Pinot pronto a assumir o papel que lhe é habitual. A questão prende-se com a condição física de ambos. Pinot falhou a última etapa do Giro devido a uma pneumonia e acabou por ficar fora do Tour. Será que está a 100%? O francês não tem falado muito sobre como a sua condição, mas está a 1:24 de Molard, ou seja, dentro da margem na qual estão quase todos os que estão pela disputa da geral.

Molard é um bom ciclista em provas por etapas e soma alguns pódios em corridas secundárias. Este ano conquistou a sua vitória mais importante ao vencer uma tirada no Paris-Nice. Está a menos de um mês de cumprir 29 anos e para acabar um dia que marcará a sua carreira, além de vestir a camisola vermelha a equipa anunciou a renovação de contrato por mais dois anos como Molard. Eis uma boa dose de motivação em tons de vermelho e de garantia de continuidade na equipa que representa desde 2017, depois de cinco anos na Cofidis.

Falta agora saber se está preparado para tamanha responsabilidade, como é liderar uma grande volta, quando a alta montanha regressar à Vuelta. Na quarta etapa tinha perdido cerca de três minutos para o grupo de Kwiatkowski. Recuperou-os e agora não será apenas um gregário, pelo menos até domingo, quando a etapa de La Covatilla colocar muito provavelmente no seu lugar quem de facto está na disputa pela Vuelta. Se Molard pode ser um outsider inesperado, ficaremos a saber nesse dia.

A Groupama-FDJ irá controlar as etapas de forma bem diferente da Sky, irá perseguir, irá tentar defender a camisola vermelha. Será o regresso à normalidade no pelotão, numa corrida que ganha outra indefinição não estando a Sky na liderança. Mesmo a postura de outras equipas poderá ser a partir de agora diferente.

A vez da EF Education First-Drapac p/b Cannondale suspirar de alívio

(Fotografia: EF Education First-Drapac p/b Cannondale)
Um dia depois da Dimension Data ter quebrado um enguiço de mais de um ano sem vitórias no World Tour, foi a vez da formação americana fazer o mesmo. Simon Clarke fechou com chave de ouro uma etapa em que a fuga triunfou. O último triunfo em corridas do principal calendário havia sido na Volta a França, quando Rigoberto Uran venceu a nona etapa, no dia 9 de Julho. de 2017.

Foi apenas a quinta vitória da temporada para a EF Education First-Drapac p/b Cannondale, que sofreu uma enorme desilusão quando Rigoberto Uran abandonou o Tour, depois de há um ano ter sido segundo. O colombiano está na Vuelta para ganhar, mas a vitória de Clarke retira alguma pressão de uma equipa a precisar desesperadamente de uma grande conquista. O australiano bateu ao sprint Bauke Mollema (Trek-Segafredo) e Alessandro de Marchi (BMC), um trio que se formou na frente à medida que o grande grupo de fugitivos se foi desfazend. Rudy Molard, o novo líder, cortou a meta oito segundos depois. O pelotão chegou a 4:55 de Clarke.

Para o australiano há um sentimento ainda mais especial por vencer na Vuelta. Foi nesta grande volta que se estreou em corridas de três semanas em 2012 e ganhou uma etapa, então ao serviço da Orica GreenEDGE, actual Mitchelton-Scott. Clarke só pensa agora em regressar à sua função de estar ao lado de Uran, pois se a questão de um triunfo de etapa está resolvido, a equipa quer colocar o seu líder pelo menos no pódio em Madrid.

Nelson Oliveira (Movistar), Tiago Machado e José Gonçalves (Katusha-Alpecin) terminaram np pelotão. José Mendes (Burgos-BH) perdeu 6:11 minutos para Clarke.

Pode ver aqui as classificações completas. Atenção à geral, que no momento em que o texto é publicado ainda não está corrigida. São 41 segundos entre Molard e Kwiatkowski e não 1:01, devido à sanção que o francês sofreu.

Depois de fazer uma sondagem no Twitter se deveria ou não entrar pelo quarto dia consecutivo na fuga, Luis Ángel Maté "descansou", mas o ciclista da Cofidis continua como líder da montanha. Michal Kwiatkowski (Sky) vai vestir a camisola verde dos pontos que estava a "emprestar" a Alejandro Valverde (Movistar) enquanto foi líder da geral. O espanhol vai envergar a  do prémio do combinado e a Astana é primeira por equipas.

O regresso dos sprinters

A etapa entre Granada e Roquetas de Mar (188,7 quilómetros) teve uma segunda categoria já perto do final que retiraria a oportunidade aos sprinters. Porém, a fuga também foi quem triunfou, até porque a Quick-Step Floors a não quis fazer a perseguição sozinha, quando a etapa de hoje é bem melhor para o seu chefe-de-fila. Esta quinta-feira será bem diferente. É uma etapa para os sprinters, que tem duas terceiras categorias para ultrapassar, um terreno pouco plano, mas na Vuelta é assim. A equipa belga terá desta feita a ajuda da Groupama-FDJ para controlar a fuga, com Elia Viviani a espreitar a sua segunda vitória na corrida, mas com Peter Sagan (Bora-Hansgrohe), Nacer Bouhanni (Cofidis) e Giacomo Nizzolo (Trek-Segafredo - foi segundo há dois dias), por exemplo, a querem tentar impor-se ao sprinter que mais ganha este ano.

Serão 155,7 quilómetros entre Huércal-Overa e San Javier, Mar Menor.



28 de agosto de 2018

"Ao longo da época todas as corridas foram cursos intensivos"

Não apontou a vitórias, nem a conquistas de camisolas que eram missões praticamente impossíveis. Porém, tal não significa que não houvessem objectivos e que a LA Alumínios não pudesse ter o seu papel de relevo dentro de uma Volta a Portugal. Com uma equipa sub-25 100% portuguesa, com apenas Nuno Almeida a saber o que é competir a este nível, os jovens ciclistas da equipa de Hernâni Brôco mostraram-se na corrida, aparecendo em muitas fugas. Os objectivos foram cumpridos, desde o de ganhar experiência, superar as dificuldades que encontraram e a mostrar a camisola, sempre importante na competição na qual há um maior mediatismo em todos os meios de comunicação social em Portugal.

Brôco é por isso um director desportivo satisfeito com o que foi alcançado tanto na Volta, como em geral na temporada de estreia deste projecto, numa altura em que já se está a preparar 2019. "Vamos continuar como sub-25. Em termos de preparar novos desafios, novos reforços, o Luís Almeida [responsável máximo da estrutura] quer apostar na juventude e numa equipa portuguesa. Eu respeito e compreendo. E a mim também me dá um prazer enorme trabalhar com jovens. Por isso aceito o desafio", salientou ao Volta ao Ciclismo. "Sem dúvida que para uma estrutura que partiu do zero, a experiência deste ano foi importante para limar algumas arestas da equipa, do staff, da entreajuda, para que todos se conhecessem melhor", acrescentou.

Como equipa Continental, ainda que sub-25, os ciclistas que há um ano estavam todos, menos Nuno Almeida, em estruturas sub-23, tiveram a oportunidade de competir em corridas mais importantes, como a Volta ao Algarve e a Volta a Portugal. Se a primeira lhes proporcionou a emoção de competir ao lado de alguns dos melhores do mundo, a segunda foi o cumprir de um sonho para muitos, que cresceram a ver a prova na televisão. Questionado se perante as naturais dificuldades da Volta a Portugal, ao que acresceu as temperaturas acima dos 40 graus, os seus corredores tiveram um curso intensivo de um nível mais elevado de ciclismo, Brôco foi peremptório na resposta: "Ao longo da época todas as corridas foram cursos intensivos. Acho que eles aprenderam muito com os erros que foram cometendo."


"É de louvar que, se calhar, fomos a equipa que fez mais estágios. O Luís Almeida sempre apostou em trabalho de equipa, estágios, treinos em conjunto durante a semana e penso que isso também se reflectiu na Volta"

Dos sete ciclistas que começaram a Volta em Setúbal, só Paulo Silva não chegou a Fafe, abandonado na penúltima etapa, da Senhora da Graça. Contudo, principalmente os primeiros dias não foram nada fáceis. "O calor foi um dos factores difíceis de superar, sem dúvida. Os carros chegaram a marcar 48 graus, houve médias de 46, temperaturas atípicas mesmo para a Volta a Portugal. Há sempre muito calor, mas estamos a falar de 37 graus de média! No entanto, o staff soube aconselhá-lhos na hidratação antes, durante e depois. Não tivemos baixas por esse factor. Com experiência do staff, os jovens conseguiram superar as dificuldades. Talvez por esse factor, ao longo da Volta, tenha feito diferença. Houve equipas que pagaram esse factor e nós conseguimos salvar-nos", explicou Hernâni Brôco.

Quanto ao abandono de Paulo Silva, o responsável considera que se tivesse mais experiência, talvez tivesse superado os problemas de saúde que o afectaram. "Passou um pouco mal a noite, com vómitos... Pagou o esforço de andar muitos dias em fuga. Todos sabiam que iam ter dias difíceis. O Paulo teve esse menos bom e não conseguiu superar, mas talvez se fosse um ciclista mais maduro, superava com certeza." Brôco falou da importância da parte psicológica dos atletas, que é também trabalhada com a experiência que vão adquirindo.

É por isso que salientou como foi importante todas as condições que foram proporcionada aos corredores durante a temporada. "É de louvar que, se calhar, fomos a equipa que fez mais estágios. Começámos a preparar a época muito cedo. O Luís Almeida sempre apostou em trabalho de equipa, estágios, treinos em conjunto durante a semana e penso que isso também se reflectiu na Volta. Evoluíram muito. E nos circuitos também se vê isso, pois acompanham os melhores. Para eles é importante evoluírem em termos psicológicos, para acreditarem no valor deles", realçou.

Em Fafe a equipa teve direito a celebração com champanhe, pois mesmo sem vitórias, os objectivos foram cumpridos, apesar das muitas dúvidas que as três equipas portuguesas Continentais sub-25 têm levantado. Hugo Nunes, ciclista do Miranda-Mortágua, considerou que a prestação na Volta tanto da sua formação, como da Liberty Seguros-Carglass e da LA Alumínios foi "uma chapada de luva branca a toda a gente, mesmo às equipas profissionais". Brôco considera a expressão "forte, mas compreensível". "No início da época criticaram estas estruturas de sub-25. Eu estando numa, não percebia muito bem as críticas", afirmou. Reforçou que a LA Alumínios cumpre todos os requisitos legais e que nas corridas cumpriu com a sua função.

"Fomos um projecto um pouco diferente dos outros de sub-25, pois não tínhamos o objectivo de lutar por vitórias. Fomos crescendo ao longo do ano porque somos uma equipa muito jovem e com uma qualidade e experiência abaixo das outras. Mas fomos crescendo e chegámos à Volta e estivemos ao nível das outras estruturas de sub-25. Quanto aos restantes objectivos traçados para o resto da época, também estamos bastante satisfeitos", frisou o responsável.

Reitera que foi um desafio difícil dirigir a equipa, mas considera que os seus ciclistas "estavam muito bem preparados" para a Volta a Portugal. "Foi um ano complicado. Levar estes jovens a evoluir... assumo que foi um desafio difícil, mas foi enriquecedor para mim e para eles. Criámos um bom grupo. Além de ver que evoluíam fisicamente, conseguimos criar um grupo de trabalho muito importante e constituir praticamente uma família. Acho que isso é muito importante." E disse ainda: "Tentei transmiti-lhes os conhecimentos que tenho de ciclismo e da vida e penso que consegui."


"Foi uma experiência enriquecedora, mas também cansativa. O desgaste não é físico, mas é psicológico. Exige muito de nós, para que nada falte a eles. Foi um desafio interessante"

Foi o segundo ano fora da bicicleta e depois da passagem pela Sicasal-Constantinos-Delta Café - de onde vieram alguns dos ciclistas que estão na LA Alumínios -, aceitou o convite para liderar o novo projecto de um patrocinador há muito ligado ao ciclismo em Portugal. Foi a sua estreia na Volta como director desportivo e Hernâni Brôco falou de um "momento especial". "Todos os primeiros momentos são especiais e este marcou-me muito e fiquei e estou feliz por estar nestas novas funções", salientou.

Mas como foi estar na Volta a Portugal, dentro de um carro e não na bicicleta? "Foi uma experiência enriquecedora, mas também cansativa. O desgaste não é físico, mas é psicológico. Exige muito de nós, para que nada falte a eles. Foi um desafio interessante. Em termos pessoais, muitos perguntaram-me se tinha saudades. Não escondo que o prólogo deixou-me com aquela sensação de começar e de já estar na estrada", referiu.

Recordou que ao ver todos os seus ciclistas na estrada da Volta a Portugal, sentiu que o trabalho tinha sido feito para os levar até àquela importante e mais esperada fase do ano. Foi a Senhora da Graça que mais mexeu com ele, afinal sabe o que é vencer na mítica subida. Foi em 2011, precisamente com as cores da LA, então LA-Antarte. "Se calhar posso dizer que foi o momento mais feliz da minha carreira. Quando vi a Senhora da Graça... Claro que há sempre algo nervoso miudinho e a subida até ao alto mexe sempre comigo. Nos outros dias já estava preparado para o que ia acontecer, mas há sempre momentos especiais que nos fazem recordar os bons momentos da vida e do ciclismo."

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Cada um por si nesta Vuelta

(Fotografia: © A.S.O.)
Ver uma fuga triunfar na quarta etapa não é habitual numa grande volta. E chegar a ter 10 minutos de vantagem é algo ainda mais inesperado. Mas mais do que ser mais uma prova de como a Vuelta é diferente do Giro e Tour, foi uma demonstração como os blocos das principais equipas estão desgastados, o que poderá muito bem significar que sempre que os momentos de decisão chegarem, será cada um por si entre os chefe-de-fila.

A Sky fez o que lhe competia, tendo em conta que tem a camisola vermelha da liderança. Mas a sua postura foi tão diferente do normal para a equipa britânica, que quase nem parecia a Sky. Esteve na dianteira do pelotão, contudo, não fez uma perseguição, nem sequer um controlo da fuga. A passividade foi tal que Benjamin King até foi líder virtual com mais cerca de quatro minutos de vantagem para Michal Kwiatkowski. No final, houve alguma normalidade, quando mais equipas assumiram a frente do pelotão, principalmente com a intervenção da Lotto-Jumbo, para preparar a subida final. A diferença caiu, mas não o suficiente para tirar a Benjamin King a vitória mais importante da sua carreira.

Houve um bloco de nota. O da Lotto-Jumbo. A equipa holandesa está cada vez mais a querer ter protagonismo nas grandes voltas, com Steven Kruijswijk e George Bennett a terminarem com os restantes favoritos, num claro assumir que estão na Vuelta para lutar por um bom resultado. Perante o que se está a ver, tanto os estes dois ciclistas, como outros, terão no pensamento a vitória. E porque não? Nem a Movistar está a assustar, sendo a equipa que, teoricamente, teria o bloco mais forte. O trabalho da Lotto-Jumbo permitiu a que pelo menos não houvessem surpresas na geral, como ter King de vermelho.

Na derradeira subida de primeira categoria (Sierra de la Alfaguara), a segunda do dia, os ataques só apareceram muito perto do fim dos 12 quilómetros (161,4 no total da tirada que começou em Vélez-Málaga). As boas notícias são que Simon Yates (Mitchelton-Scott) está novamente em boa forma e que a Bora-Hansgrohe tem o alemão Emanuel Buchmann preparado para assumir mais responsabilidade, ainda que Rafal Majka tenha ficado também na frente. Yates e Buchmann ganharam uma distância suficiente para se colocarem nos lugares de  pódio a dez e sete segundos de diferença de Kwiakwoski, respectivamente. Mesmo sem uma Sky forte e sem grande ajuda de um David de la Cruz, talvez a pensar mais em fazer a sua corrida, o polaco manteve a camisola vermelha.

Além de se perceber que os blocos não terão a mesma influência que num Giro e Tour, a quarta etapa serviu para juntar mais alguns ciclistas à lista dos que já estão fora da luta pela geral e dificilmente entrarão sequer no top 10. A Richie Porte (BMC) e Vincenzo (Nibali) acrescenta-se agora Ilnur Zakarin (Katusha-Alpecin) - caiu na terceira etapa e os problemas no ombro e joelho fizeram-no perder mais de cinco minutos para os restantes candidatos (mais de oito para King) -, Bauke Mollema (Trek-Segafredo) - cortou a meta quase 12 minutos depois de King, desperdiçando a última oportunidade para manter a confiança da equipa para as três semanas, se é que ainda havia alguma hipótese - e Michael Woods (EF Education First-Drapac p/b Cannondale) não vai repetir o sétimo lugar de 2017.

O início desta Vuelta está a ser uma prova de eliminação, mas a lista de candidatos continua extensa e interessante. Se nos próximos dias o percurso poderá ser um pouco mais simpático, o muito sobe e desce poderá continuar a fazer as suas vítimas, até que no domingo surja uma das etapas mais esperadas da corrida, com a chegada na La Covatilla, uma categoria especial para talvez fazer uma maior selecção de candidatos.

Se os blocos não melhorarem com o decorrer da Vuelta, será mesmo cada um por si entre os líderes. Mesmo dentro de algumas equipas poderão surgir rivalidades: Michal Kwiatkowski/David de la Cruz (Sky) e Alejandro Valverde/Nairo Quintana (Movistar). A convivência entre Kruijswijk/Bennett e Buchmann/Majka deverá ser mais pacífica, com a corrida a definir quem poderá ser o número um.

Um suspiro de alívio para a Dimension Data

Tem sido mais uma temporada muito complicada para a equipa sul-africana. As vitórias escasseiam, a sua maior estrela dá mostras de já não conseguir ter um novo regresso aos grandes momentos - Mark Cavendish só soma um triunfo em 2018 - e há mais de um ano que a Dimension Data não ganhava numa corrida do World Tour.

O último triunfo tinha sido a 21 de Julho de 2017, então com Edvald Boasson Hagen a conquistar a 19º etapa do Tour. Quando Benjamin King - que venceu a classificação da montanha na Volta ao Algarve - partiu para a fuga do dia, estava longe de pensar que terminaria com uma vitória. Claro que quando um ciclista arrisca ir para a frente da corrida, espera que seja desta que o pelotão não conclua com sucesso a perseguição. Mas nas grandes voltas são poucas as fugas que triunfam, ainda mais nos primeiros dias. Por isso, King admitiu que só no último quilómetro acreditou que poderia mesmo ganhar.

No sprint com o cazaque da Astana, Nikita Stalnov, o americano foi claramente o mais forte. É apenas a sexta vitória da equipa este ano e não salvando a temporada, serve para pelo menos a Dimension Data suspirar um pouco de alívio. É que na luta pela geral há que juntar mais um nome que não está a deixar boas indicações: Louis Meintjes já tem 3:10 minutos de atraso para Kwiatkowski.

Pode ver aqui as classificações completas. Luis Ángel Maté (Cofidis) integrou novamente a fuga e reforçou a liderança na montanha, com Kwiatkowski a ser ainda o líder dos pontos. Já por equipas, a Astana destronou a Sky.

Quanto aos portugueses, todos perderam tempo. José Mendes (Burgos-BH) cortou a meta 7:45 minutos depois de Benjamin King, Tiago Machado (Katusha-Alpecin) 13:12, Nelson Oliveira 17:05 e José Gonçalves (Katusha-Alpecin) 18:35.

Quinta etapa: Granada-Roquetas de Mar, 188,7 quilómetros

Quando se olha para o final pensa-se em Vincenzo Nibali. Com 12:33 de atraso, o italiano da Bahrain-Merida já terá liberdade para algum ataque. O único problema é que não tem estado nada bem quando o terreno inclina para cima e terá de passar uma segunda categoria antes da longa descida até à meta, que será antecedida por cerca de 10 quilómetros em plano.

Se não for Nibali, é dia para quem desce bem procurar a vitória de etapa e talvez fazer alguma diferença na classificação. Noutra perspectiva, Quintana, por exemplo, esperará ter a ajuda de Valverde para não perder tempo. Não há descanso nesta Vuelta.


27 de agosto de 2018

O final de uma equipa que quis ser auto-sustentável

(Fotografia: Karen M. Edwards/Facebook Aqua Blue Sport)
Há um ano a Aqua Blue Sport vivia um momento que parecia confirmar que tinha feito a aposta certa em criar uma equipa que pretendia ser auto-sustentável. A estrutura irlandesa tem como base o site de venda online de artigos de ciclismo. O convite para a Vuelta era por si só o ponto alto na época de estreia, mas a vitória de etapa foi um bónus algo inesperado, mas muito bem-vindo. Doze meses depois, não há razões para sorrir, apenas muitas preocupações. São 16 os ciclistas que ficaram esta segunda-feira a saber que estão sem contrato para 2019, além de todo um staff que inclui um português, o massagista Pedro Claudino, que fica agora sem trabalho.

A equipa justificou a decisão de terminar o projecto com a falta de convites para corridas importantes, o que dificulta a promoção da marca, essencial para uma estrutura que quis subsistir sem patrocínios, mas apenas tendo um negócio online como forma de ganhar dinheiro. "Este ano foi cada vez mais difícil de obter convites para corridas e reconhecimento dos organizadores em como o nosso projecto é único e bem suportado", lê-se no comunicado.

A falta de convite para a Volta a Espanha deste ano acabou por ser a gota de água, despoletando a fúria do director. "No ano passado não tínhamos história e conseguimos alguns convites fantásticos, este ano temos alguma história positiva e temos poucos ou nenhuns convites. Investi milhões neste desporto [...]. Sem corridas significa que não há tráfego no site, o que significa que não há vendas e, logo, não há financiamento para a nossa equipa", disse então Rick Delaney, quando os convites foram anunciados.

Apesar de ser mais do que expectável que a Aqua Blue Sport ficasse de fora dos eleitos para as quatro vagas disponíveis, as exibições de 2017, que contaram com uma vitória do austríaco Stefan Denifl, fizeram com que Delaney mantivesse a esperança. No entanto, com a subida de duas equipas espanholas ao escalão Profissional Continental, esperava-se que a Burgos-BH e a Euskadi-Murias se juntassem à Caja Rural na Vuelta. O quarto convite iria sempre para a Cofidis, que apesar de ser uma equipa francesa, a empresa é um dos grandes patrocinadores de ciclismo em Espanha e conta sempre com espanhóis na equipa.

As memórias da Vuelta de 2017 não foram todas boas. O autocarro foi vandalizado e parte ardeu. De Portugal, a então LA Alumínios-Metalusa-BlackJack enviou o seu para auxiliar a Aqua Blue Sport. Ao todo, o ano de estreia no ciclismo rendeu quatro vitórias, a primeira numa etapa na Volta à Suíça pelo ciclista que mais tarde viria a sagrar-se campeão americano: Larry Warbasse. É agora um dos corredores que se vê obrigado a procurar nova equipa, tal como Adam Blythe, talvez a principal figura da equipa, tendo chegado à estrutura como campeão britânico.

Quase todos os ciclistas terminavam contrato no final do ano, mas a expectativa poderia passar pela continuidade. Agora essa perspectiva deixou de existir. Só o irlandês Eddie Dunbar e o dinamarquês Casper Pedersen tinham contrato para 2019, mas o vínculo ficou agora sem efeito. É quase Setembro e para alguns poderá ser tarde para garantir uma equipa para o próximo ano.

A tentativa de salvação

Os problemas da Aqua Blue Sport já eram bem conhecidos, com Delaney a nunca esconder que a ausência de corridas com maior projecção estavam a prejudicar a equipa, que muito precisava de publicitar o site. A solução passou por tentar uma fusão com outra estrutura. No início de Agosto, a formação irlandesa anunciou que tinha adquirido a empresa Sniper Cycling, que detém a Verandas Willems Crelan. Teria sido uma jogada de mestre, já que isso significaria ficar com um dos ciclistas que mais se destacou nas clássicas do pavé e uma das grandes figuras do ciclocrosse: Wout van Aert.

Porém, não demorou muito a Sniper Cycling desmentir categoricamente a compra e as negociações chegaram ao fim sem sucesso. Sem se referir especificamente à equipa belga, a Aqua Blue Sport escreveu no comunicado de despedida: "Nas últimas semanas formámos a base de um acordo várias vezes, mas, infelizmente, o senso comum não prevaleceu."

No curto historial desta equipa irlandesa ficam então oito vitórias, até ao momento, e a participação numa grande volta. Apesar de anunciar o fim, não significa que ter uma equipa de ciclismo seja algo que seja eliminado dos objectivos futuros da empresa: "Vamos continuar a crescer e desenvolver a nossa plataforma de e-comércio www.aquabluesport.com para permitir que regressemos à estrada, algures no futuro."

Um dos pormenores sobre esta equipa que não será esquecido é a bicicleta. A equipa apostou num modelo, 3T Strada, que gerou alguma desconfiança, pois só tem um prato. Foi algo que levou os próprios ciclistas a precisarem de um período de adaptação.

A Aqua Blue Sport quis inovar, principalmente na forma de se auto-financiar, sem precisar de estar constantemente à procura de patrocinadores. Durou dois anos o desafio que tão rapidamente pareceu estar bem encaminhado, como se tornou num de pouca duração.


Viviani o melhor sprinter? De 2018, certamente

(Fotografia: La Vuelta)
Missão cumprida. Uma oportunidade, uma vitória. Elia Viviani não desperdiçou uma das poucas etapas que os sprinters podem tentar aparecer numa Vuelta maioritariamente montanhosa. Aliás, o italiano e restantes adversários, ainda tiveram de enfrentar dificuldades, incluindo uma primeira categoria logo nos primeiros quilómetros. Foi saber sofrer e recuperar o máximo de forças possível para gastar num sprint em que Viviani foi simplesmente forte de mais para qualquer concorrência. Peter Sagan até pode não estar no seu melhor, mas o que Viviani fez hoje em Alhaurín de la Torre, o domínio que demonstrou, não é novo nesta época. Tem sido um ano fantástico de um sprinter que tinha mesmo muito mais para dar do que a Sky estava a permitir.

Quando a Quick-Step Floors anunciou a contratação do ciclista de 29 anos, o que significou a quebra de contrato com a equipa britânica - só terminava em Dezembro de 2018 -, logo se pensou que o seu papel seria para ser o sprinter nas corridas em que Fernando Gaviria não estaria. Marcel Kittel teve receio de ficar em segundo plano para o argentino e preferiu sair depois de uma época de sucesso (14 vitórias, cinco no Tour), Viviani não se preocupou com estatuto. Segundo plano? Quem não gostaria de estar na posição do italiano nesta fase da temporada: 16 vitórias, 17 se se contar com um contra-relógio por equipas. Fernando Gaviria soma nove!

Na Sky viu-se constantemente relegado a uma luta pelos sprints sem ajuda de companheiros, ou com muito pouca. É um ciclista que até sabe explorar o trabalho de outros para se colocar bem no pelotão, mas ter uma Quick-Step Floors dedicada a ele, fez toda a diferença. A sua melhor temporada tinha sido a de 2017, com 10 vitórias. Mas mais do que os números, este ano ganha muito e em grandes corridas, com destaque para Giro e agora a Vuelta (o Tour ficou para Gaviria - duas etapas). Com o triunfo em Alhaurín de la Torre são cinco etapas em grandes voltas (mais a camisola dos pontos em Itália), com Viviani a fazer a sua estreia a vencer na corrida espanhola, naquela que é a sua segunda participação (a primeira foi em 2012, ao serviço da Liquigas-Cannondale). E há que não esquecer que é o campeão italiano.

"Não sei se sou o melhor sprinter. Não posso ser eu a avaliar isso, mas sou o que mais ganha este ano", afirmou Viviani após a vitória na terceira etapa da Vuelta, 178,2 quilómetros que começaram em Mijas. O italiano não entra em discussões se é ou não um dos melhores do mundo. É certamente um sprinter de enorme qualidade e que este ano está claramente entre os melhores. As vitórias colocam-no mesmo como o melhor. Um sprinter de "segundo plano" de luxo numa equipa na qual os ciclistas têm tendência a mostrar a sua melhor versão e quando saem, muito se debatem para a recuperar (que o diga Kittel).

Fez-se a comparação com o companheiro Gaviria, mas o segundo sprinter que mais ganha este ano é Dylan Groenewegen. O holandês da Lotto-Jumbo soma 12 triunfos (dois no Tour e dois na Volta ao Algarve, por exemplo). Os outros principais sprinters do pelotão têm metade ou menos das vitórias de Viviani: Arnaud Démare (Groupama-FDJ) nove, André Greipel (Lotto-Soudal) seis, Christophe Laporte (Cofidis) seis, Nacer Bouhanni (Cofidis) cinco, Alexander Kristoff (UAE Team Emirates) cinco, Caleb Ewan (Mitchelton-Scott) três, Marcel Kittel (Katusha-Alpecin) duas, Mark Cavendish (Dimension Data) apenas uma. Peter Sagan pode não ser o chamado sprinter puro, mas não deixa de ser dos melhores da actualidade. Tem oito triunfos, que inclui um monumento, o Paris-Roubaix, e três etapas no Tour.

A contagem de Viviani continua, tal como a da Quick-Step Floors: 58 vitórias e ganhou novamente nas três grandes voltas. Aconteça o que acontecer a Viviani no futuro, mantenha ou não este ritmo impressionante de triunfos, esta sensacional temporada ninguém lhe tira, no ano em que comprovou que podia ser muito mais ao que estava reduzido.

A luta pela geral começa agora

Se uma subida de terceira categoria em Caminito del Rey conseguiu fazer alguns estragos, principalmente eliminando Richie Porte (BMC) e deixando também Vincenzo Nibali (Bahrain-Merida) longe da discussão muito cedo na corrida, então o que poderá fazer uma chegada em alto de primeira categoria na quarta etapa?

Com uma Vuelta com potencial para ser muito aberta, sem um Chris Froome como favorito crónico e com muitos e bons candidatos, então, mesmo sendo tão cedo na corrida, há que aproveitar oportunidades para, pelo menos, começar a testar adversários e potencialmente criar-lhes desde já problemas se não estiverem bem nestes primeiros dias.

Serão 161,4 quilómetros entre Vélez-Málaga e Alfacar, Sierra de la Alfaguara. A primeira dificuldade, também uma primeira categoria, começa aos 51 quilómetros e vai até aos 67, mas a maior acção deverá ficar guardada para os 12 finais. É uma daquelas etapas na qual ninguém ganha uma grande volta. É apenas a quarta. Mas alguém poderá perdê-la. Michal Kwiatkowski (Sky) prometeu que irá defender a sua camisola vermelha de líder, ultrapassada que está a desilusão de dois segundos lugares nas duas primeiras tiradas. Tem 14 segundos de vantagem sobre Alejandro Valverde (Movistar) e 25 sobre Wilco Kelderman (Sunweb). O polaco lidera também nos pontos, com Luis Ángel Maté, espanhol da Cofidis, a vestir a camisola da montanha. A Sky é primeira na classificação por equipas. De recordar que na Vuelta não há uma camisola para o melhor jovem.

Os quatro portugueses em prova, Nelson Oliveira (Movistar), José Mendes (Burgos-BH), Tiago Machado e José Gonçalves (Katusha-Alpecin) terminaram a terceira etapa integrados no pelotão. Pode ver aqui as classificações completas.