11 de abril de 2018

"Está a ser espectacular!"

Chegar ao profissionalismo era um objectivo. Um sonho. No entanto, João Salgado pensava que, por agora, era o momento de enfrentar o desafio de passar ao escalão de sub-23. Por isso, o então júnior, até ficou um pouco em choque quando recebeu a proposta para "saltar" directamente para uma das principais equipas em Portugal. O professor José Santos abriu-lhe a porta da Rádio Popular-Boavista e quase que é escusado dizer que ao conversar com o jovem ciclista, não houve nada que retirasse o sorriso do seu rosto. Salgado sente que está a viver uma grande oportunidade, ainda mais para quem só começou na modalidade há quatro anos. O râguebi pode ter perdido um jogador, mas o ciclismo ganhou certamente um atleta de qualidade, com ambição, mas principalmente muito ciente do trabalho que tem a fazer, sem se deixar levar por ilusões só porque chegou tão cedo à elite. 

"Sem dúvida que foi uma surpresa. Foi o concretizar de um sonho em dois dias. Num estava à procura de uma equipa sub-23 e no seguinte deparo-me com isto. Foi um choque, mas ao mesmo tempo uma felicidade muito grande", contou João Salgado ao Volta ao Ciclismo. Inicialmente, o ciclista, de 18 anos, tinha previsto integrar a equipa de sub-23 que teria Rui Sousa como "comandante", mas o projecto acabou por não avançar. Contudo, a oportunidade de vestir a camisola do Boavista manteve-se, com Salgado a ter de optar se saltaria ou não a passagem pelo escalão de sub-23.

"Passou-me tudo pela cabeça. Vou... não vou.... Acabou por ser 'vou' porque posso evoluir mais. Tenho pessoas mais experientes na equipa e isso para a minha evolução é muito importante", explicou. O facto de já conhecer parte do staff, tendo em conta que pensava que ficaria na estrutura de sub-23, ajudou à decisão: "Foi tudo bem falado antes de aceitar e acho que foi uma decisão bem tomada."


"Somos os benjamins da equipa! E claro que brincam sempre mais connosco, mas somos corredores normais dentro da equipa e nos momentos importantes, eles estão lá para nos ajudar"

João Salgado estreou-se logo na Prova de Abertura Região de Aveiro e foi um teste de fogo para o jovem, acabadinho de chegar dos juniores, onde representava a ACR Roriz Seissa/KTEM-Bikeseven/Matias&Araújo/Frulact. Além de ter de enfrentar o pelotão profissional, teve de experimentar uma quilometragem mais elevada comparativamente com a do seu anterior escalão, perante um dia de vento muito forte. "Foi tentar aguentar-me o máximo possível e tentar acabar a corrida. Foi uma boa experiência", recordou, tendo terminado na 107ª posição a 19:23 do vencedor, Tiago Machado (Selecção Nacional). Seguiu-se a Clássica da Primavera (67º), ganha pelo companheiro Domingos Gonçalves, a Clássica Aldeias do Xisto (58º) e esteve ainda em Espanha, no Grande Prémio Miguel Indurain, que não terminou.

O director da Rádio Popular-Boavista tem dado várias oportunidades tanto a Salgado, como a Francisco Moreira, que vive precisamente a mesma situação do companheiro, eles que partilhavam a mesma equipa em juniores. "Somos os benjamins da equipa! E claro que brincam sempre mais connosco, mas somos corredores normais dentro da equipa e nos momentos importantes, eles estão lá para nos ajudar", afirmou Salgado, realçando como os colegas mais experientes têm sido um grande apoio, sempre dando as indicações necessárias durante as corridas e não só.

Por isso mesmo, João Salgado não hesita em dizer que a experiência está a correr muito bem. Aliás: "Está a ser espectacular! Tenho aprendido muito com o professor, com os ciclistas, com toda a equipa." O pior tem sido mesmo as distâncias que se vê agora obrigado a percorrer. "A quilometragem é sempre uma dificuldade. Acho que todos nós [que vêm dos juniores] sofremos um pouco com isso no início. Com treino e com trabalho as coisas tornam-se mais fáceis e está tudo a correr bem. Tenho-me adaptado bem", salientou. Quanto ao ritmo mais elevado, garantiu que está a cada vez mais habituado.

O râguebi era a opção desportiva de João Salgado. Contudo, depois de ter chateado os pais em casa, lá conseguiu apostar numa nova modalidade. "Perdemos um jogador de râguebi e ganhámos um ciclista! Acho que foi uma escolha bem feita", afirma, bem disposto. "Por causa da escola deixou de ser pouco compatível continuar no râguebi. Devido a outros colegas acabei por despertar o interesse no ciclismo. Chateei e chateei lá em casa e cá estou!"


"Nesta altura só quero trabalhar bem e evoluir e depois logo se vê. Eu já estou a viver um sonho"

Como qualquer jovem corredor, o sonho é um dia estar ao mais alto nível. Porém, prefere dar um passo, ou uma pedalada, de cada vez: "Nesta altura só quero trabalhar bem e evoluir e depois logo se vê. Eu já estou a viver um sonho." Referiu que o director desportivo pediu-lhe para que "sobretudo aproveitasse bem a experiência, que fosse aprendendo aos poucos e para dar sempre" o seu melhor. Destacou ainda como não lhe foi colocada qualquer pressão na obtenção de resultados. "Com o tempo espero que as coisas vão acontecendo e daqui a um ano quero estar a um bom nível. Para o ano já será diferente. Agora tenho de evoluir e aprender. Com calma", frisou.

Nestas idades, muitos são os ciclistas que ainda estão à procura de definir-se. Salgado considera que não é excepção. "É um pouco difícil de responder... Em júnior consegui destacar-me mais pelo trabalho de equipa, pelo que fazia ao longo das etapas em prol dos colegas, porque em termos de resultados nunca tive assim nada de especial. Sempre fui um ciclista combativo. Agora é tudo diferente. É um bocado começar o zero... O tempo o dirá", explicou. Salgado admitiu: "Estou a tentar perceber no que vou dar." E muito há a evoluir, como por exemplo: "Subir é o meu ponto fraco, neste momento, mas nada de muito grave."

É notório como João Salgado está a tentar viver ao máximo esta experiência, pois não esquece como há um ano estava preocupado, sem saber se conseguiria um lugar numa equipa sub-23. A porta grande abriu-se e chegou a uma de elite. Passando a mão orgulhosamente na camisola que veste da Rádio Popular-Boavisa, reitera como com apenas 18 anos está a viver um sonho, como conseguiu concretizar um objectivo, num tão curto espaço de tempo.

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