7 de abril de 2018

Bem-vindos ao Inferno do Norte. Sagan lidera a lista de perseguição à Quick-Step Floors

Sagan é um dos fortes candidatos, mas a concorrência é enorme
(Fotografia: © Bora-Hansgrohe-VeloImages)
Finalmente abrem-se as portas do Inferno do Norte! Uma vez por ano os ciclistas são transformados em guerreiros. Sofrem como não se sofre em mais nenhuma corrida. Arriscam muitas vezes uma época. O Paris-Roubaix é único, é emocionante. E se para quem o faz são 257 quilómetros de um esforço sem comparação, para quem assiste são cerca de seis horas do melhor que há para ver no ciclismo. Manter uma táctica é quase missão impossível, pelo que se há uma prova onde o instinto faz toda a diferença, é no Paris-Roubaix. E claro, quando se fala de sorte, então é raro não ouvir um corredor dizer o quanto precisa dela para ganhar ou até só para terminar O sofrimento é grande, a glória, essa coloca qualquer um dos vencedores num pedestal histórico apenas ao alcance de alguns eleitos.

Aqui construíram-se e constroem-se lendas. Os belgas Roger De Vlaeminck e Tom Boonen são os recordistas de vitórias e são dois exemplos de expoente máximo. Mas também aqui se alcançaram marcos únicos em carreiras que, de outra forma, se perderiam nas extensas estatísticas. Que o diga Mathew Hayman, que em 2016 deixou todos de boca aberta ao tirar o quinto triunfo a Boonen. Para os ciclistas que ano após ano fazem da temporada do pavé um dos objectivos da temporada, ganhar em Roubaix alimenta os sonhos do mais novo ao mais veterano (e voltamos a Hayman, que tinha 37 anos quando venceu).

Todos os cinco monumentos são importantes, mas há algo de épico que distingue a Volta a Flandres e o Paris-Roubaix. É entre estes que tanto se pergunta, qual é o preferido de cada um. As preferências ficam de parte quando se dá a partida. E este domingo é dia de se enfrentar pela 116ª vez aquela que é apelidada como a corrida do Inferno do Norte.

Dos 257 quilómetros, 54,5 serão de pavé. Parece que ainda não é desta que a chuva regressa, como se chegou a prever, e que simplesmente transforma o Paris-Roubaix em algo ainda mais incomparável. Porém, o mau tempo não larga a Europa e apesar do sol dos últimos dias ter ajudado a secar os sectores, muitos deles não estarão completamente marcados pelo pó, havendo ainda alguma lama para dificultar mais a passagem dos ciclistas. Todos os anos surgem imagens nos dias que antecedem a corrida do estado de alguns sectores e 2018 não foi excepção. A lama que cobria por completo alguns, já foi retirada.

Mais uma vez, o Eurosport permitirá seguir todas as pedaladas do Paris-Roubaix, com a transmissão a começar às 10:00. Há um ano foi "prego a fundo" desde o início, sendo impossível formarem-se fugas. Greg van Avermaet não só ganhou o seu primeiro monumento, como ficou com a marca daquele que demorou menos tempo a conclui-lo: 5:41:07 horas.

Tal como aconteceu há uma semana na Volta a Flandres, este é um ano atípico quanto a candidatos. Ninguém se destaca particularmente. Os nomes não variam, a questão é que é o colectivo da Qucik-Step Floors que é novamente o alvo a abater, com Philippe Gilbert a poder eventualmente receber alguma protecção (se tal for possível no caos que esta prova tem tendência a tornar-se). O Paris-Roubaix é um dos dois monumentos que lhe faltam. O outro é a Milano-Sanremo.


O mítico troféu (Fotografia: © Twitter Paris-Roubaix)
Apesar de ser um dos especialistas em clássicas, Roubaix nunca atraiu o belga. Pode parecer incrível, mas só o fez por uma fez, em 2007, tendo terminado na 52ª posição. Porém, surge 11 anos depois mais determinado que nunca a conquistar o Inferno do Norte. Niki Terpstra - que há uma semana ganhou na Flandres e foi primeiro em Roubaix em 2014 - e Yves Lampaert são cartas a jogar, com Zdenek Stybar desejoso de conseguir uma grande vitória que lhe vai escapando ano após anos. Em cinco participações alcançou dois segundos lugares, um quinto, um sexto e o pior foi um 110º em 2016.

E depois, os nomes do costume com o tricampeão do mundo à cabeça Peter Sagan (Bora-Hansgrohe) - será desta? -, Greg van Avermaet (BMC) - está uma sombra de si mesmo comparando com 2017 -, Sep Vanmarcke (EF Education-First-Drapac p/b Cannondale) - o crónico azarado -, Oliver Naesen (AG2R) - depois de uma grande temporada de clássicas em 2017, o belga não está a confirmar as expectativas - e Arnaud Démare (FDJ), que tenta ser o primeiro francês a vencer em Roubaix desde Frédéric Guesdon, em 1997, que era ciclista da FDJ.

Wout van Aert é aquele que é meio outsider, meio candidato pela fantástica temporada que está a fazer e será a última oportunidade para se mostrar ao mais alto nível, antes de "desaparecer" no calendário, da Europa Central, visto estar na Vérandas Willems-Crelan. Atenção a Edward Theuns (Sunweb). É um daqueles ciclistas que se está sempre à espera que um dia se chegue bem à frente. E porque não em Roubaix...

Jasper Stuyven tem estado em destaque pela Trek-Segafredo pela sua consistência, mas Mads Pedersen roubou as atenções com o segundo lugar na Volta a Flandres. John Degenkolb tem o dorsal um da equipa mais por respeito - e porque venceu em 2015 - do que por crença que faça algo. Está na altura do alemão se mostrar não vá a paciência começar a esgotar-se.

Alexander Kristoff (UAE Team Emirates), Dylan van Baarle (Sky), Edvald Boasson Hagen (Dimension Data), com uma das grandes curiosidades a ser o que poderá fazer Dylan Groenewegen, da Lotto-Jumbo. Na outra Lotto, a Soudal, Tiesj Benoot está a preparar as semana das Ardenas, pelo que Jens Debusschere e Jens Keukeleire deverão ser as apostas. Tony Martin aparece a liderar a Katusha-Alpecin, mas pelo que fez nas últimas duas edições (76º em ambas) e pelo que não tem feito na equipa suíça, é difícil olhar para o alemão como sequer um outsider.

Lançaram-se aqui uns nomes, mas uma das belezas destas corridas é que há tendência a aparecerem surpresas, como foi o caso de Pedersen na Flandres. Não esquecer que haverá dois portugueses: Nelson Oliveira e Nuno Bico, da Movistar. Nas duas últimas edições, Oliveira caiu e sofreu lesões que perturbaram as suas temporadas. No ano passado custou-lhe mesmo uma presença na Volta a França. E como curiosidade, Geraint Thomas (Sky) será o voltista presente, ele que admitiu que sente que é um regresso às suas origens, mas o objectivos são preparar o Tour, que tem no seu percurso alguns dos sectores de Roubaix.

O Percurso

Só aos 93,5 quilómetros surge o primeiro dos 29 sectores de pavé, mantendo-se o de Troisvilles para abrir as hostilidades. De recordar que estão classificados por estrelas, sendo os que têm uma os mais fáceis e os de cinco os mais difíceis. Estes serão três. Começa na Floresta de Arenberg, mas a confirmar-se o tempo seco, não deverá fazer muitas diferenças já que é ao quilómetro 162. Porém, servirá para deixar para trás alguns dos que vêm com poucas ou nenhumas intenções, ou então que não esteja em boas condições físicas.

No Mons-en-Pévèle (208,5 quilómetros) já não há margem para erros, muito menos no Carrefour de l'Arbre, quando estarão a faltar 17 quilómetros para o final. E mais uma razão porque está corrida é tão bela, é que um o sector de uma ou duas estrelas pode ser tão decisivo como um de quatro ou cinco. Há um ano Peter Sagan perdeu a possibilidade de disputar Roubaix, quando no duplo sector de Templeuve furou e viu a concorrência, nomeadamente Avermaet, ir irremediavelmente embora.

Sim, esta é daquelas corridas que não se desperdiçam as horas frente à televisão, para quem não tem a sorte de poder estar no local. Para trás ficam as guerras de palavras - este ano marcadas pela disputa Sagan/Boonen - e as intensas preparações para um dos grandes momentos do ano. Este domingo em Noyon, quando o pelotão estiver preparado para partir, nada do que se passou nas últimas semanas interessa, pois podem ser os 257 quilómetros da vida de um ciclista.

Antes de se terminar com a lista dos 29 sectores de pavé, algumas curiosidades: Albert Champion foi o mais novo a ganhar, tinha 20 anos em 1899; o mais velho foi o também francês Gilbert Duclos-lassalle, aos 38 anos (1993); o primeiro vencedor foi o alemão Josef Fischer (1896); a Bélgica é a nação mais vitoriosa (57), seguida pela França (30) e Itália (11); nos 54,5 quilómetros de pavé existem seis milhões de pedras; aquela que é entregue como troféu pesa uns meros 15 quilos! Mais uma: os últimos quatro vencedores estarão presentes, ou seja, Avermaet, Hayman, Degenkolb e Terpstra. De 2013 para trás, já todos se retiraram.

Sectores de pavé:

29-Troisvilles (km 93,5 - 2,2 km) ***
28-Briastre (km 100 - 3 km) ***
27-Saint-Python (km 109 - 1,5 km) ***
26-Quiévy (km 111.5 - 3,7 km) ****
25-Saint-Vaast (km 119 - 1,5 km) ***
24-Verchain-Maugré (km 130 - 1,2 km) **
23-Quérénaing (km 134.5 - 1,6 km) ***
22-Maing (km 137,5 - 2,5 km) ***
21-Monchaux-sur-Ecaillon (km 140,5 - 1,6 km) ***
20-Haveluy (km 153.5 - 2.5 km) ****
19-Trouée d'Arenberg (km 162 - 2,4 km) *****
18-Hélesmes (km 168 - 1,6 km) ***
17-Wandignies (km 174.5 - 3,7 km) ****
16-Brillon (km 182 - 2,4 km) ***
15-Sars-et-Rosières (km 185.5 - 2,4 km) ****
14-Beuvry-la-forêt (km 189 - 1,4 km) ***
13-Orchies (km 197 - 1,7 km) ***
12-Bersée (km 203 - 2,7 km) ****
11-Mons-en-Pévèle (km 208,5 - 3 km) *****
10-Avelin (km 214.5 - 0,7 km) **
9-Ennevelin (km 218 - 1.4 km) ***
8-Templeuve - L'Epinette (km 223,5 - 0,2 km) * e Templeuve - Moulin-de-Vertain (km 224 - 0,5 km) **
7-Cysoing (km 230,5 - 1,3 km) ***
6-Bourghelles (km 233 - 1,1 km) ***
5-Camphin-en-Pévèle (km 237,5 - 1,8 km) ****
4-Carrefour de l'Arbre (km 240 - 2,1 km) *****
3-Gruson (km 242,5 - 1,1 km) **
2-Hem (km 249 - 1,4 km) ***

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