2 de abril de 2018

"Não é fácil estar dois anos como profissional e ter de voltar a amador"

Em dois anos, Jacobo Ucha concretizou o sonho de ser ciclista profissional e chegou à equipa que tem dominado em Portugal. No entanto, viu as portas fecharem-se quando a W52-FC Porto reduziu o seu plantel e não encontrou espaço noutra formação de elite. Não hesitou e perante o desejo de continuar por cá, falou com José Rodrigues e assumiu um papel de diferente responsabilidade na Fortunna-Maia. Ter de voltar ao estatuto de amador não o desanima e o corredor espanhol mostra motivação em ajudar os companheiros, mas sem esconder o objectivo bem definido de regressar ao profissionalismo o mais rapidamente possível. Tem Raul Alarcón como exemplo e só pensa em mostrar-se para assim convencer um director desportivo a, quem sabe, contratá-lo ainda esta temporada.

"Não é fácil estar dois anos como profissional e ter de voltar a amador. Mas são coisas que acontecem no ciclismo. A vida dá muitas voltas e o ciclismo também. Não sabemos onde podemos estar amanhã", salientou ao Volta ao Ciclismo. Ucha olha para o compatriota que teve como companheiro em 2017 como mais uma motivação: "Temos o caso do Raul Alarcón, que no ano passado ganhou a Volta a Portugal. Ele passou pelo Pro Tour, em 2007 e 2008, e depois teve de voltar a correr em amador. Depois de tantos anos em Portugal, olha o grande ciclista que ele é."

A Rádio Popular-Boavista foi buscar Ucha já com a temporada a decorrer, em 2016, depois de evoluir na equipa de sub-23 da Caja Rural. O ciclista espanhol foi uma aposta forte principalmente no calendário do seu país. Mudou-se para a W52-FC Porto, mas acabou por não conseguir garantir um novo contrato. "Não ganhei nenhuma corrida, nem tive um resultado top, mas foi uma época de muito trabalho porque tivemos líderes como o Raul Alarcón, Gustavo Veloso, Amaro Antunes, Rui Vinhas... Era muita gente para quem tínhamos de trabalhar e foi uma época de sucesso. No entanto, não podemos ganhar todos numa equipa tão forte como a W52-FC Porto", referiu. Jacobo Ucha afirmou que a razão para não ficar na estrutura, deveu-se à diminuição de ciclistas por equipa nas corridas, imposta pela UCI, ou seja, nas prova nacionais, passaram de oito para sete: "Eram 14 na W52-FC Porto e este ano são 12. Não podiam ficar todos e tocou-me a mim."


"Às vezes as coisas não correm como queremos. Acho que tive oportunidades. Agora não estou numa equipa profissional, mas estou a trabalhar para voltar a estar"

Suspira quando se lhe pergunta se considera que teve as oportunidades que esperava nas duas equipas. Para Ucha, a questão prende-se mais com o não ter conseguido realizar boas performances em corridas em que se preparava para tal. "Há sempre oportunidades, mas nem sempre as corridas acontecem como queremos. Preparei o Grande Prémio Abimota muito bem. Cheguei ali tendo feito os meus melhores treinos. Na primeira etapa estavam 40 graus e deu-me um golpe de calor. Fiquei logo ali. Abandonei. Às vezes as coisas não correm como queremos. Acho que tive oportunidades. Agora não estou numa equipa profissional, mas estou a trabalhar para voltar a estar", frisou.

O ciclista contou que quando procurava definir o seu futuro, ligou ao amigo José Rodrigues e o director desportivo da Fortunna-Maia contratou o espanhol. "Estou feliz aqui. É um conjunto muito humilde. Não é uma equipa muito grande, mas não nos falta nada. Tenho bons companheiros e tenho confiança com o director. Penso que é uma equipa onde podemos evoluir bastante esta época", disse.

Quando assinou Rádio Popular-Boavista e depois pela W52-FC Porto, ambos os directores desportivos - José Santos e Nuno Ribeiro - realçaram a característica de ser um ciclista que trabalha bem em prol do colectivo, além, naturalmente, da qualidade como rolador e de saber defender-se na montanha. Na Fortunna-Maia, deixa o papel de homem de trabalho e assume a responsabilidade de guiar os seus jovens companheiros, alguns deles acabados de chegar do escalão de juniores. "Ainda não sabem, por exemplo, posicionar-se no pelotão, não sabem quando têm de atacar, quando têm de ir na roda... O meu trabalho nesta equipa também é um bocado falar com eles, levá-los para a frente da corrida, dizer-lhes quando comer, quando ir para a fuga ou não ir. Tenho mais experiência e é algo que tenho de fazer."

No entanto, estamos a falar de um ciclista que esta terça-feira celebra apenas o seu 25º aniversário: "Considero que sou uma pessoa que, apesar da idade, tenho muita experiência. Quando estive na Caja Rural, nos últimos dois anos era o mais velho da equipa e falava sempre com os mais novos. Não me sinto mal neste papel. Pelo contrário, sinto-me muito bem. Mais do que um líder, sou uma pessoa com experiência que sabe o que fazer, quando o fazer."


"Aqui posso fazer a minha corrida. Quando quiser atacar, ataco, quando quero estar no pelotão, estou no pelotão. Aqui posso fazer as coisas como quero"

Claro que numa perspectiva mais individual, Ucha não esconde que na Fortunna-Maia tem uma liberdade impensável na formação do Sobrado. "Aqui posso correr mais e tenho mais oportunidades. Na W52-FC Porto quase sempre tinha de trabalhar para outro. Aqui posso fazer a minha corrida. Quando quiser atacar, ataco, quando quero estar no pelotão, estou no pelotão. Aqui posso fazer as coisas como quero", confirmou.

Regressar ao seu país para competir é algo em que não pensou e não pensa. "O ciclismo em Espanha melhorou, mas é difícil passar a profissional", explicou. Acrescentou que as melhores hipóteses são para os ciclistas que estão nos sub-23 da Caja Rural, na equipa de Alberto Contador ou então no País Basco. "É mais fácil em Portugal", disse. "E depois já estou aqui há dois anos, conheço bem as corridas e as pessoas. Moro na Galiza [é de Porriño, Pontevedra] que fica perto. Era mais fácil para mim ficar cá."

Com o calendário nacional a ficar bastante ligeiro nos próximo dois meses, Jacobo Ucha aponta Junho como a fase em que quer apresentar-se na melhor forma. "O Grande Prémio JN vai ser um objectivo muito importante para mim e para a equipa. Sempre foi para mim e volta a ser. É no norte, no local da equipa. Gosto das etapas e conheço algumas zonas porque também treino no norte de Portugal. Tenho ganas de preparar a prova. Depois temos o Grande Prémio Abimota, os campeonatos Nacionais... Vai ser uma fase da época importante. Na Volta ao Alentejo faltou um pouco de ritmo, mas acho que para o JN vamos estar com força para fazer alguma coisa", garantiu.

Até lá vai manter-se atento a uma oportunidade que possa surgir para regressar ao profissionalismo. "Quem sabe se alguma equipa portuguesa possa precisar de um ciclista se tiver algum percalço." Porém, a Fortunna-Maia pode estar descansada que terá um Jacobo Ucha determinado a dar destaque à equipa, como o fez ao vencer a quarta e última etapa do Challenge 4 Días de Ourense Estaciones Vivas.

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