(Fotografia: Twitter Volta aos Alpes) |
Há um ano, Michele Scarponi vencia, quebrando um péssimo momento da Astana, que ainda não tinha vencido em 2017. Vestiu a camisola da liderança e foi uma das figuras da corrida, numa altura em que se preparava para voltar a ser o chefe-de-fila no Giro. Dias depois, ainda mal tinha chegado a casa após a corrida, saiu para treinar e não mais voltou. Morreu vítima de atropelamento. "É [a vitória] mais especial devido às circunstâncias. Há um ano o Scarpa venceu esta etapa. Durante todo o ano ele tem estado no nosso pensamento. É uma honra vestir esta camisola [da liderança] em Itália, no seu país. Claro que a vitória é para ele e para a sua família", salientou Bilbao, que acrescentou: "Ele foi uma importante inspiração para toda a equipa."
Foram três anos na Caja Rural a trabalhar para conseguir regressar ao World Tour. Foi na Astana que Bilbao conseguiu dar os dois passos à frente que o próprio admitiu. Foi uma aventura bem-vinda, para sair do ambiente espanhol a que estava habituado, como então o próprio chegou a admitir. Bilbao chegou a uma equipa que tinha Michele Scarponi como um dos principais mentores dos mais novos, cuja experiência nunca se importava de partilhar. O italiano tinha um papel muito relevante nesse aspecto e era também por isso que, aos 37 anos, Alexander Vinokourov tinha completa confiança em Scarpa.
12 meses depois a Astana está transformada numa equipa ganhadora, não se concentrando tanto apenas nas grandes voltas. Naturalmente que contribui para isso ter perdido Fabio Aru, mas também porque os ciclistas encontraram uma diferente forma de retirar inspiração de Scarponi. Uma mudança de mentalidade que não hesitam em ligar ao italiano, mas claro que vai além disso. Vejamos o caso de Pello Bilbao.
Ir para uma equipa cazaque, com uma forma bem diferente de trabalhar de uma Caja Rural ou de uma Euskaltel-Euskadi, com ciclistas de várias nacionalidades - entra a questão do idioma - e com uma ambição e responsabilidade muito mais elevada, tudo isto obrigou a uma adaptação. No final da temporada passada, depois de ter sido dos ciclistas do World Tour que somou mais dias de competição, Bilbao não escondeu que precisou de alguns meses para se sentir completamente integrado. Prometeu mais e melhor para 2018 e eis a resposta vitoriosa, depois de um início de temporada animador, com destaque para o oitavo lugar na Volta ao País Basco.
Bom trepador, contra-relogista quanto baste e ainda um rolador que é melhor não dar muito espaço, como mostrou nesta primeira etapa da Volta ao Alpes, na chegada a Folgaria. Depois de ataques de Thibaut Pinot (FDJ), Fabio Aru (UAE Team Emirates), Chris Froome (Sky), Bilbao aguentou bem na subida, veio de trás para escapar a todos e com a ajuda da bonificação deixou os principais candidatos a 20 segundos ou mais.
Esta foi a vitória mais importante na sua carreira, tendo duas etapas na Volta à Turquia, uma na Volta a Castela e Leão, venceu a Klasika Primavera de Amorebieta em 2014 e o Tour de Beauce no ano seguinte. Sempre ao serviço da Caja Rural, onde encontrou liberdade que agora goza menos na Astana. Falta a afirmação numa grande volta, mas há um enorme ponto de interrogação de quando essa oportunidade chegará.
Vinokourov pode ter ficado furioso com saída de Aru e por este ter alegadamente avisado tarde de mais para se contratado um substituto. Porém, o director da Astana confia em Jakob Fuglsang e alimenta uma enorme esperança (e com razão) em Miguel Ángel López. A oportunidade de Bilbao é esta: ser um excelente escudeiro do colombiano no Giro. O espanhol já afirmou que o companheiro tem qualidade para aspirar a mais do que um top dez. Bilbao terá de começar por se mostrar assim e, aos 28 anos, ainda vai a tempo de conseguir um dia ter a sua liderança. Vários são os exemplos de gregários de luxo que recebem o prémio de ser um dia líderes. Contudo, sabe que tem de fazer por merecer.
O espanhol terá, para já, de ser um líder num bloco forte no apoio a "Superman" López e a verdade é que esta Astana tem tido muitas parecenças nas suas vitórias, inclusivamente com a deste domingo na Amstel Gold Race, por Michael Valgren. Nos momentos decisivos é das poucas equipas, senão a única, a ter mais do que um elemento presente no grupo da frente. Depois aposta na individualidade certa para o ataque final. Se conseguir níveis exibicionais colectivos idênticos no Giro, então a individualidade López (que grande ciclista que poderá estar a aparecer) será ainda mais um caso sério a ter em conta entre os candidatos, mesmo que na lista estejam Pinot. Aru, Froome, Tom Dumoulin... E é possível que se veja já um pouco dessa Astana na Volta aos Alpes, já que o colombiano está em prova. Bilbao e López podem vir a formar uma dupla muito interessante.
Pode ver aqui as classificações da primeira etapa da Volta aos Alpes, que conta com um português em prova: Amaro Antunes. O ciclista da CCC Sprandi Polkowice foi 28º, a 1:13 do vencedor.
»»Valgren a tornar o seu nome num dos grandes da Astana««
»»Astana perdeu Aru, está sem financiamento, mas reencontrou-se com as vitórias««
Sem comentários:
Enviar um comentário