"Eu gostava da competição, mas estava a chegar a uma idade ou dava o salto para algo que fosse espectacular ou então... sentia que não estava a dar o clique com o passo à frente." Os convites não faltaram para continuar no ciclismo como atleta. Porém, Hélder Ferreira considerou que tinha chegado o momento de seguir outro rumo e aceitou o convite para integrar a equipa da Federação Portuguesa de Ciclismo. Não esconde que sente falta dos treinos, do ambiente de estágio, de estar com os companheiros, mas também não hesita em dizer o quanto está a gostar das novas funções, do quanto está a aprender agora que vive a modalidade que adora noutra perspectiva.
Considerou que seria "mais desafiante e mais enriquecedor" ter outra função na modalidade e passou a ser técnico da federação. "Estou mais na área do Ciclismo para Todos, apesar de gostar da competição e pretender ao máximo envolver-me nesse aspecto", explicou ao Volta ao Ciclismo. E tem marcado presença nas corridas. Agora fora da bicicleta, mas sem muito tempo para sentir a falta da competição. "Não tinha noção de algumas coisas. Na Volta ao Algarve, por exemplo, eu por vezes saía muito tarde do secretariado e fazia trabalhos que não fazia a menor ideia que eram feitos, como imprimir não sei quantos comunicados para a imprensa e muitas outras coisas. Não sabia que se tinha de fazer algumas funções", contou, admitindo que ganhou um novo respeito pelas organizações das provas.
"Se se quer que as coisas corram bem, há que ter muita preparação, há muito trabalho a fazer. Não é fácil! É necessário meios para fazer uma corrida, é necessário gente que saiba o que fazer... Eu ainda estou a aprender, mas já vejo a dificuldade que é pôr uma prova na estrada, ou uma de BTT", referiu. Acrescentou como agora está a conhecer pessoas que estão há muitos mais anos do que ele no ciclismo: "Eu andava de bicicleta e o resto passava-me um pouco ao lado."
"Tenho saudades de sair para treinar com os meus colegas, também de competir, do ambiente de estágio, dos jantares quando estávamos todos juntos... mas tudo passa"
Foi Sérgio Sousa - que no ano passado assumiu o cargo de director da federação depois de terminar a carreira de ciclista - que desafiou Hélder Ferreira. "Eu tinha a possibilidade de continuar [a competir]. Até tive o convite de um treinador com quem já tinha trabalhado e que gostava muito que eu fosse para o projecto dele. Tinha também a possibilidade de continuar no Louletano. Eles contavam comigo. Por acaso este ano até tinha algumas hipóteses em aberto. Mas pensei que era o momento certo para mudar e acho que fiz bem", salientou. A decisão nem se prendeu com questões financeiras. Hélder Ferreira considerou que simplesmente tinha chegado o momento de apostar em algo diferente "Iria sempre ter de mudar de tarefa no futuro e achei que agora era a altura certa."
A carreira de ciclista ficou assim terminada aos 26 anos (entretanto já fez 27), depois de quatro temporadas como profissional, três na Efapel e a última no Louletano-Hospital de Loulé. Fez três Voltas a Portugal e foi sempre um ciclista de confiança para os líderes que apoiou. Regressar é algo que considera difícil, até porque não se cansa de dizer que está mesmo a gostar do que agora faz, ainda mais por ter a oportunidade de realizar diferentes funções: "Estou numa fase de aprendizagem, vou passando por vários departamentos dentro da federação e acho que é útil conhecer as diferentes realidades que este organismo tem. É diferente, mas estou a gostar bastante."
No entanto, confessou: "Tenho saudades de sair para treinar com os meus colegas, também de competir, do ambiente de estágio, dos jantares quando estávamos todos juntos... mas tudo passa. Agora estou focado em tantas tarefas, em tanta coisa nova, que nem tenho tempo para pensar nisso!" Mas claro que apesar do muito trabalho, pedalar continua a fazer parte da sua vida.
Licenciado em Ciências do Desporto e com o mestrado em Treino de Alto Rendimento Desportivo, será que pensa em um dia enveredar pela carreira de treinador? "Gostava de experimentar, mas estou a viver muito o momento. Vou dando um passinho de cada vez. Quem sabe...", disse. "Agora estou a aprender a parte organizativa, como funciona a federação, não estou a fazer muitos projectos para o futuro. O dia de amanhã logo se vê", acrescentou.
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