28 de agosto de 2018

"Ao longo da época todas as corridas foram cursos intensivos"

Não apontou a vitórias, nem a conquistas de camisolas que eram missões praticamente impossíveis. Porém, tal não significa que não houvessem objectivos e que a LA Alumínios não pudesse ter o seu papel de relevo dentro de uma Volta a Portugal. Com uma equipa sub-25 100% portuguesa, com apenas Nuno Almeida a saber o que é competir a este nível, os jovens ciclistas da equipa de Hernâni Brôco mostraram-se na corrida, aparecendo em muitas fugas. Os objectivos foram cumpridos, desde o de ganhar experiência, superar as dificuldades que encontraram e a mostrar a camisola, sempre importante na competição na qual há um maior mediatismo em todos os meios de comunicação social em Portugal.

Brôco é por isso um director desportivo satisfeito com o que foi alcançado tanto na Volta, como em geral na temporada de estreia deste projecto, numa altura em que já se está a preparar 2019. "Vamos continuar como sub-25. Em termos de preparar novos desafios, novos reforços, o Luís Almeida [responsável máximo da estrutura] quer apostar na juventude e numa equipa portuguesa. Eu respeito e compreendo. E a mim também me dá um prazer enorme trabalhar com jovens. Por isso aceito o desafio", salientou ao Volta ao Ciclismo. "Sem dúvida que para uma estrutura que partiu do zero, a experiência deste ano foi importante para limar algumas arestas da equipa, do staff, da entreajuda, para que todos se conhecessem melhor", acrescentou.

Como equipa Continental, ainda que sub-25, os ciclistas que há um ano estavam todos, menos Nuno Almeida, em estruturas sub-23, tiveram a oportunidade de competir em corridas mais importantes, como a Volta ao Algarve e a Volta a Portugal. Se a primeira lhes proporcionou a emoção de competir ao lado de alguns dos melhores do mundo, a segunda foi o cumprir de um sonho para muitos, que cresceram a ver a prova na televisão. Questionado se perante as naturais dificuldades da Volta a Portugal, ao que acresceu as temperaturas acima dos 40 graus, os seus corredores tiveram um curso intensivo de um nível mais elevado de ciclismo, Brôco foi peremptório na resposta: "Ao longo da época todas as corridas foram cursos intensivos. Acho que eles aprenderam muito com os erros que foram cometendo."


"É de louvar que, se calhar, fomos a equipa que fez mais estágios. O Luís Almeida sempre apostou em trabalho de equipa, estágios, treinos em conjunto durante a semana e penso que isso também se reflectiu na Volta"

Dos sete ciclistas que começaram a Volta em Setúbal, só Paulo Silva não chegou a Fafe, abandonado na penúltima etapa, da Senhora da Graça. Contudo, principalmente os primeiros dias não foram nada fáceis. "O calor foi um dos factores difíceis de superar, sem dúvida. Os carros chegaram a marcar 48 graus, houve médias de 46, temperaturas atípicas mesmo para a Volta a Portugal. Há sempre muito calor, mas estamos a falar de 37 graus de média! No entanto, o staff soube aconselhá-lhos na hidratação antes, durante e depois. Não tivemos baixas por esse factor. Com experiência do staff, os jovens conseguiram superar as dificuldades. Talvez por esse factor, ao longo da Volta, tenha feito diferença. Houve equipas que pagaram esse factor e nós conseguimos salvar-nos", explicou Hernâni Brôco.

Quanto ao abandono de Paulo Silva, o responsável considera que se tivesse mais experiência, talvez tivesse superado os problemas de saúde que o afectaram. "Passou um pouco mal a noite, com vómitos... Pagou o esforço de andar muitos dias em fuga. Todos sabiam que iam ter dias difíceis. O Paulo teve esse menos bom e não conseguiu superar, mas talvez se fosse um ciclista mais maduro, superava com certeza." Brôco falou da importância da parte psicológica dos atletas, que é também trabalhada com a experiência que vão adquirindo.

É por isso que salientou como foi importante todas as condições que foram proporcionada aos corredores durante a temporada. "É de louvar que, se calhar, fomos a equipa que fez mais estágios. Começámos a preparar a época muito cedo. O Luís Almeida sempre apostou em trabalho de equipa, estágios, treinos em conjunto durante a semana e penso que isso também se reflectiu na Volta. Evoluíram muito. E nos circuitos também se vê isso, pois acompanham os melhores. Para eles é importante evoluírem em termos psicológicos, para acreditarem no valor deles", realçou.

Em Fafe a equipa teve direito a celebração com champanhe, pois mesmo sem vitórias, os objectivos foram cumpridos, apesar das muitas dúvidas que as três equipas portuguesas Continentais sub-25 têm levantado. Hugo Nunes, ciclista do Miranda-Mortágua, considerou que a prestação na Volta tanto da sua formação, como da Liberty Seguros-Carglass e da LA Alumínios foi "uma chapada de luva branca a toda a gente, mesmo às equipas profissionais". Brôco considera a expressão "forte, mas compreensível". "No início da época criticaram estas estruturas de sub-25. Eu estando numa, não percebia muito bem as críticas", afirmou. Reforçou que a LA Alumínios cumpre todos os requisitos legais e que nas corridas cumpriu com a sua função.

"Fomos um projecto um pouco diferente dos outros de sub-25, pois não tínhamos o objectivo de lutar por vitórias. Fomos crescendo ao longo do ano porque somos uma equipa muito jovem e com uma qualidade e experiência abaixo das outras. Mas fomos crescendo e chegámos à Volta e estivemos ao nível das outras estruturas de sub-25. Quanto aos restantes objectivos traçados para o resto da época, também estamos bastante satisfeitos", frisou o responsável.

Reitera que foi um desafio difícil dirigir a equipa, mas considera que os seus ciclistas "estavam muito bem preparados" para a Volta a Portugal. "Foi um ano complicado. Levar estes jovens a evoluir... assumo que foi um desafio difícil, mas foi enriquecedor para mim e para eles. Criámos um bom grupo. Além de ver que evoluíam fisicamente, conseguimos criar um grupo de trabalho muito importante e constituir praticamente uma família. Acho que isso é muito importante." E disse ainda: "Tentei transmiti-lhes os conhecimentos que tenho de ciclismo e da vida e penso que consegui."


"Foi uma experiência enriquecedora, mas também cansativa. O desgaste não é físico, mas é psicológico. Exige muito de nós, para que nada falte a eles. Foi um desafio interessante"

Foi o segundo ano fora da bicicleta e depois da passagem pela Sicasal-Constantinos-Delta Café - de onde vieram alguns dos ciclistas que estão na LA Alumínios -, aceitou o convite para liderar o novo projecto de um patrocinador há muito ligado ao ciclismo em Portugal. Foi a sua estreia na Volta como director desportivo e Hernâni Brôco falou de um "momento especial". "Todos os primeiros momentos são especiais e este marcou-me muito e fiquei e estou feliz por estar nestas novas funções", salientou.

Mas como foi estar na Volta a Portugal, dentro de um carro e não na bicicleta? "Foi uma experiência enriquecedora, mas também cansativa. O desgaste não é físico, mas é psicológico. Exige muito de nós, para que nada falte a eles. Foi um desafio interessante. Em termos pessoais, muitos perguntaram-me se tinha saudades. Não escondo que o prólogo deixou-me com aquela sensação de começar e de já estar na estrada", referiu.

Recordou que ao ver todos os seus ciclistas na estrada da Volta a Portugal, sentiu que o trabalho tinha sido feito para os levar até àquela importante e mais esperada fase do ano. Foi a Senhora da Graça que mais mexeu com ele, afinal sabe o que é vencer na mítica subida. Foi em 2011, precisamente com as cores da LA, então LA-Antarte. "Se calhar posso dizer que foi o momento mais feliz da minha carreira. Quando vi a Senhora da Graça... Claro que há sempre algo nervoso miudinho e a subida até ao alto mexe sempre comigo. Nos outros dias já estava preparado para o que ia acontecer, mas há sempre momentos especiais que nos fazem recordar os bons momentos da vida e do ciclismo."

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