30 de agosto de 2018

"Estou calmo. O que tiver de ser, será"

(Fotografia: © Gruber Images/EF Education First-Drapac p/b Cannondale)
O crescimento de José Neves em 2018 foi tal que até parece que foi há muito que admitiu que lhe tinha custado "um pouco sair da Liberty Seguros-Carglass". No entanto, na W52-FC Porto não só confirmou todo o seu valor, como o fez conquistando uma das principais corridas do calendário nacional: o Troféu Joaquim Agostinho. Oito meses depois de ter vestido pela primeira vez o equipamento azul e branco, trocou por um cor-de-rosa e verde. Tinha muitas expectativas para 2018, mas dar um salto tão grande, tão cedo, não deixou de ser algo inesperado. As exibições de José Neves, não só este ano, não passaram despercebidas lá fora e o ciclista está a estagiar na EF Education First-Drapac p/b Cannondale.

A equipa americana levou José Neves até à altitude da Volta ao Colorado. O ciclista português confessou que não foi fácil e quase meteu o pé no chão. Apesar de não se mostrar particularmente satisfeito com o resultado final, ficou numa positiva 48ª posição, a 15:19 do vencedor, Gavin Mannion (UnitedHealthcare). No contra-relógio, Neves comprovou um dos seus pontos fortes e durante mais de uma hora ninguém bateu o seu tempo, num pormenor que foi destacado no site da equipa, já que se tratava da estreia do jovem de 22 anos ao mais alto nível.

"[O resultado] foi mais ou menos", afirmou José Neves. "Integrei-me bem na equipa, os colegas foram porreiros. Falavam um pouco espanhol e conseguimos entender-nos", preferiu destacar. Ao Volta ao Ciclismo, o ciclista explicou que não foi fácil correr no Colorado devido à altitude e só pensa em fazer mais e melhor na próxima corrida. "Tenho de mostrar o meu valor lá fora e a ver se a experiência corre um pouco melhor na Grã-Bretanha, porque lá andei muito em altitude e não estava habituado. Mas fiz tudo o que me pediram e estão contentes comigo. Vamos ver se fico para o ano."


"O que me pedem tento fazer ao máximo, mesmo que fique quase a pé"

Houve um sorriso que não largou José Neves durante toda a conversa. "O sonho é mesmo ficar lá, mas estagiar já está a ser bastante bom", salientou o ciclista, que mostra-se tranquilo quanto ao futuro, não deixando transparecer qualquer ansiedade. Para Neves só o facto de estar numa equipa do World Tour, mesmo como estagiário, poderá significar a abertura de outras portas, seja essa na EF Education First-Drapac p/b Cannondale, ou noutra formação estrangeira. Contudo, revela de imediato o respeito que tem pela equipa que o levou para o profissionalismo, a W52-FC Porto. "Não, não estava à espera [de ir para uma equipa World Tour tão cedo na carreira]. Eu quero ir para fora, mas cá também me sinto bem. Vamos ver o que o futuro me reserva", referiu.

Foi através do seu empresário que conseguiu o estágio. Depois de uma primeira experiência no Colorado, será então na Grã-Bretanha (de 2 a 9 de Setembro) que irá estar ao lado de alguns dos grandes nomes do ciclismo mundial, como Christopher Froome, Geraint Thomas, Primoz Roglic, Julian Alaphilippe e muito mais. Nada de novo, já que na Volta ao Algarve já teve contacto com ciclistas deste nível, mas agora terá vestido o equipamento de uma equipa do World Tour.

"Estão a pedir-me para quando é preciso para trabalhar, trabalhar e para mostrar que tenho valor para lá estar. O que me pedem tento fazer ao máximo, mesmo que fique quase a pé. Foi o que aconteceu no primeiro dia no Colorado. Quase parei! Mas eles [responsáveis] ficaram contentes e o director desportivo depois disse para eu ir com calma, para recuperar para o contra-relógio", contou. Depois da Volta à Grã-Bretanha, José Neves terá ainda a oportunidade de se mostrar em algumas clássicas em Itália, em Outubro.


"Lá fora querem ciclistas completos porque as provas são todas discutidas nas montanhas e nos contra-relógios"

Se em Portugal não lhe falta nada para evoluir na equipa de Nuno Ribeiro, claro que na EF Education First-Drapac p/b Cannondale há grandes diferenças, não fosse uma equipa do escalão mais alto do ciclismo mundial: "É tudo diferente. Mais à grande. Tudo o que é preciso está lá. Um pequeno detalhe, se é preciso trocar qualquer coisa troca-se... Não se olha a custos, não se olha nada. Na comida se é preciso algo, vai-se buscar." Não esconde que se sentiu um pouco como um rei.

Pode não ter conhecido a principal estrela da equipa, Rigoberto Uran, ou Sep Vanmarcke, Pierre Rolland (que está de saída no final da temporada), Sacha Modolo... Mas esteve ao lado de um Taylor Phinney e também Hugh Carthy, Joe Dombrowski, Daniel Martínez e Nathan Brown. Neves contou ainda que conheceu o australiano Brendan Canty, apesar do ciclista não ter competido no Colorado, além de ficar a conhecer parte do staff. Não esconde que estar numa equipa que conta com grandes figuras da modalidade mexe com ele, mas não se deixa levar por ilusões.

"Estou calmo. O que tiver de ser, será. Se não ficar poderá aparecer outra oportunidade de ir para fora na mesma. É uma porta que se abriu. Lá fora querem contra-relogistas que passem bem a montanha, querem ciclistas completos porque as provas são todas discutidas nas montanhas e nos contra-relógios", disse. Tendo em conta as características de José Neves, perante a descrição, questionou-se se não é perfeito para o que procuram. "Tem dias", respondeu, muito bem disposto e naturalmente feliz pela fase que está a viver.

Neves é um dos três estagiários que a equipa americana está a testar. Além do português, foram chamados os australianos Cyrus Monk e James Whelan, corredores com características diferentes, mais a pensar nas clássicas.

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