29 de agosto de 2018

O futuro incerto de Mark Cavendish

(Fotografia: Stiehl Photgraphy/Dimension Data)
A notícia dificilmente poderia ter chegado na pior altura. O vírus Epstein-Barr tem estado novamente a limitar Mark Cavendish, que vai parar por tempo indeterminado até recuperar a 100%. Já no ano passado o britânico sofreu com este problema, que na altura provocou mesmo uma mononucleose infecciosa. Com os resultados a escassearem, em final de contrato e com 33 anos, o futuro daquele que já foi considerado o melhor sprinter do mundo está muito incerto.

A Dimension Data anunciou que todo o calendário do ciclista foi cancelado. "Os resultados médicos indicaram que Cavendish tem estado nos últimos meses, sem saber, a treinar e competir com o vírus Epstein-Barr", lê-se no comunicado, que realça como o conselho médico foi de descanso para recuperar completamente. Sem um tratamento específico, Cavendish está dependente de como o seu corpo vai reagir à paragem. Pela frente tem pelo menos duas semanas a um mês de descanso total, mas o tempo poderá ser mais.

Em 2017, o ciclista temeu que poderia ficar longe das corridas durante muito tempo, mas em três meses conseguiu estar novamente a competir e inclusivamente foi ao Tour. Com a actual temporada na recta final e já sem muitos objectivos, Cavendish terá ainda de se preocupar com a questão em qual equipa irá competir em 2019.

Depois de uma primeira época de muito sucesso na Dimension Data, com 10 vitórias, quatro no Tour, Cavendish apagou-se nas duas temporadas seguintes. Em 2017 e 2018 somou uma vitória apenas em cada temporada. Muito pouco para um dos ciclistas mais caros do pelotão. Nos primeiros meses deste ano, venceu uma etapa na Volta ao Dubai, mas depois sofreu uma série de quedas que também contribuíram para o seu fraco rendimento. Foi contra um carro que activou automaticamente os travões ao detectar ciclistas na Volta ao Dubai, caiu no contra-relógio colectivo que abriu o Tirreno-Adriatico, recuperou a tempo da Milano-Sanremo, onde foi contra uma divisória na estrada, fazendo um mortal antes de cair desamparado na estrada.

Porém, o problema do britânico ia, afinal, muito além de um arranque de época azarado. O ciclista explicou no comunicado que não se tem sentido como habitualmente a nível físico, apesar dos valores apresentados serem bons. "Senti que algo não estava bem", disse. Cavendish está satisfeito por agora conhecer o problema, comprometendo-se a regressar às corridas só quando estiver em perfeitas condições.

A Dimension Data tem uma decisão importante a tomar. A equipa tem sempre mantido o apoio ao seu ciclista, que em 2016 foi para a formação sul-africana como a grande estrela, no ano em que subiu ao World Tour. No entanto, com a baixa de rendimento de Cavendish, desceram também o número de vitórias. Este ano são apenas seis e na terça-feira Ben King quebrou o jejum de mais de um ano sem triunfos a nível do World Tour. Em 2017, por esta fase da temporada, a Dimension Data somava 23 dos 25 que viria a ter, mesmo com Cavendish já a perder influência. No primeiro ano no escalão máximo, somou 32 triunfos.

Uma renovação da equipa é algo essencial para recuperar o fulgor perdido. A culpa não é apenas de Cavendish, pois Louis Meintjes, por exemplo, regressou para ser a figura para as três semanas e noutras corridas por etapas, mas tem andado quase desaparecido. Steve Cummings está a ter um ano para esquecer. As contratações já estão a ser feitas, começando pelo dinarmarquês Michael Valgren (ciclista da Astana que este ano venceu a Omloop Het Nieuwsblad e a Amstel Gold Race), o compatriota Lars Ytting Bak (Lotto Soudal), o checo Roman Kreuziger (Mitchelton-Scott) e o suíço Danilo Wyss (BMC). Também está garantida uma jovem promessa norueguesa, Rasmus Tiller, da equipa Continental, Joker Icopal.

Se Cavendish perder o seu lugar na Dimension Data, permanecerá a dúvida se alguma equipa quererá fazer um investimento tão grande num ciclista que, infelizmente, já não oferece as garantias de outrora. E este problema de saúde será sempre mais um pormenor a ponderar, pois não tem cura e poderá voltar a afectar o ciclista. Mesmo que diminua as suas exigências salariais, o futuro de Cavendish é dos mais incertos no pelotão.

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