9 de agosto de 2018

Estará a W52-FC Porto mesmo mais fraca?

(Fotografia: PODIUM/Paulo Maria)
É uma questão que tem estado algo em voga nesta Volta a Portugal. Comparativamente com o ano passado, a equipa de Nuno Ribeiro tem demonstrado algumas debilidades, principalmente a nível de uma coesão mais prolongada na etapa. Controla na perfeição a corrida, mantém os ritmos que quer, elevados ou não, mas Alarcón tem estado mais sozinho quando chega o momento da decisão. Claro que nesta fase, o espanhol chega e sobra para todos. Até agora, pelo menos.

A equipa de 2017 terá sido uma das melhores dos últimos anos. Porém, há desde logo uma grande diferença para esta temporada: a redução de ciclistas. Se para a Sky parece não ter feito grande diferença, na W52-FC Porto fez alguma e também nas restantes equipas portuguesas. De oito passámos a sete corredores. Raúl Alarcón, Ricardo Mestre, António Carvalho, Gustavo Veloso e Rui Vinhas são os repetentes. Quatro deles já ganharam a Volta a Portugal. Que luxo! Só falta António Carvalho e vontade não lhe falta de o fazer. Em todo o restante pelotão nacional só há mais um, Alejandro Marque, agora no Sporting-Tavira, mas que em 2013 estava precisamente na estrutura do Sobrado. Mestre venceu pelo Tavira em 2011.

Amaro Antunes realizou uma tremenda exibição em 2017. Ganhou na Torre e levou Alarcón praticamente à conquista da Volta naquele dia, que o espanhol selou no contra-relógio. O algarvio saiu para a CCC Sprandi Polkowice, sendo um trepador por excelência e um ciclista que se diferenciava da maioria em Portugal. Ir para o estrangeiro depois do que vez no ano passado, era quase inevitável. Foi mais do que um gregário, foi claramente uma segunda aposta se fosse necessário, pelo que não surpreendeu o segundo lugar na geral, além da camisola da montanha.

Depois havia Joaquim Silva. Que excelente ciclista! Passou por momentos difíceis, com quedas que quebravam a sua preparação, mas, em forma, é exímio e o trabalho que realizava era dos melhores que se via. Tal como Amaro, era claro que havia mais em Joaquim Silva do que um gregário. A Caja Rural foi buscá-lo e até o trouxe de regresso à Volta como líder. Infelizmente foi uma das vítimas do calor logo na primeira etapa. Tendo em conta as características de sobe e desce da Volta a Portugal, estes dois ciclistas fazem falta a qualquer equipa.

Mas não se minimize a importância de um Samuel Caldeira. Tem características mais de rolador, é um bom finalizador e um trabalhador incansável. Era normalmente dos primeiros a entrar em cena quando o bloco azul e branco ia para a frente do pelotão. Caldeira está a recuperar de lesão, por isso, nem opção foi para Nuno Ribeiro. Mas é uma voz experiente e tem estado a acompanhar a equipa.

Para reforçar a W52-FC Porto, Nuno Ribeiro foi buscar César Fonte. Ciclista já com várias Voltas feitas, que sabe o que é andar na frente, disputar vitórias ou trabalhar para outros. Foi uma boa contratação e tem feito uma  temporada forte. Contudo, e perante as inevitáveis comparações, César Fonte não faz esquecer Amaro, pois não tem estado junto a Alarcón até tão tarde nas etapas, como o algarvio fazia. Características diferentes, é certo, com Fonte a ser claramente nesta Volta um homem para o desgaste em prol da equipa e não um eventual plano B. Este ano, tal não existe na W52-FC Porto.

O segundo melhor classificado na geral é Ricardo Mestre e já está a 5:18. No que diz respeito a ajudar Alarcón está a fazer jus ao nome. É de facto um mestre no apoio e um daqueles ciclistas de que Nuno Ribeiro não quererá abdicar. E este corredor tem sido uma ajuda para o outro novo elemento da W52-FC Porto nesta Volta. João Rodrigues tem 23 anos e está há três na equipa. Tem estado num trabalho de evolução que em 2018 chegou ao ponto de ser testado ao mais alto nível em Portugal. Mas estando a fazer apenas a sua segunda Volta  - fez uma pelo Tavira em 2015 - falta-lhe experiência. Não é um elemento mais fraco, nada disso, pois tem cumprido com o que lhe era esperado, num trabalho incansável. No entanto, e com estas comparações, a experiência de Amaro Antunes e Joaquim Silva tinham necessariamente de fazer a diferença. Rodrigues começa agora a tornar-se num ciclista que ameaça vir a ser mais um dos imprescindíveis no trabalho para os líderes.

Quando os adversários atacam, como fez Joni Brandão (Sporting-Tavira) na Serra da Estrela, a W52-FC Porto desfaz-se mais rapidamente do que no ano passado. Tivemos temperaturas acima dos 40 graus, o percurso é um pouco mais duro e esses são factores que se tem de ter em conta. Tem-se visto menos António Carvalho comparativamente com 2017, ele que era o último homem na montanha com Alarcón e agora foi Mestre quem apareceu nessa função. A ver vamos de Carvalho reaparece ao seu melhor nas duas difíceis etapas em linha que falta.

Mas se a W52-FC Porto está mais fraca, ainda assim, tem conseguido ser a equipa que controla uma corrida como a Volta a Portugal e que não teve receio de ir buscar a camisola amarela cedo na prova e de agora ter de a defender. É assim que Nuno Ribeiro mais gosta de agir e a equipa continua exímia nesse aspecto.

Por mais que se diga que a W52-FC Porto possa estar mais fraca, com a excepção de Joni Brandão, mais ninguém tem colocado verdadeiramente à prova a equipa. O Sporting-Tavira é quem mais se aproxima, mas ainda faltam uns degraus para lá chegar. Quem tem Frederico Figueiredo, tem garantias de um ciclista do melhor que há no nosso pelotão. E que bem tem estado a trabalhar para Joni Brandão, estando também ele no top dez. Mas falta mais força na montanha. Alejandro Marque tem andado por lá, mas quebra cedo.

A Aviludo-Louletano-Uli não tem tido David de la Fuente e Oscar Hernandez ao nível desejado. Por outro lado, Luís Fernandes tem estado muito activo no apoio a Vicente García de Mateos e é um dos gregários que mais tem trabalhado e bem. A Efapel está a ser uma desilusão, enquanto Edgar Pinto (Vito-Feirense-BlackJack) tem estado na frente e com a ajuda de um surpreendente Xuban Errazkin, líder da juventude. Na Rádio Popular-Boavista, Daniel Silva não tem o ritmo necessário após uma longa paragem, João Benta está no top dez, mas é uma equipa que deverá apostar muito em mais uma vitória de etapa, depois de Domingos Gonçalves ter vencido em Boticas, na sexta etapa.

(Fotografia: PODIUM/Paulo Maria)
Todos eles até têm conseguido ficar sozinhos com Raúl Alarcón. Mas com o espanhol tão forte, a W52-FC Porto tem feito o trabalho necessário para deixar o seu líder bem posicionado, confiando absolutamente que ele está à altura do desafio, mesmo quando fica isolado. Já ganhou duas etapas e não deixou ninguém de perigo escapar nas outras.

A W52-FC Porto está mais fraca? Ainda continua demasiado forte para a concorrência. E mesmo um Rui Vinhas tão limitado fisicamente depois do acidente com o carro de uma equipa, não se fica com a sensação de estar menos um ciclista. Não. Vinhas continua a ser uma mais valia preciosa dentro das limitações provocadas pelos ferimentos. O trabalho que a equipa faz pode estar a ser um pouco diferente e o facto de não liderar a classificação colectiva demonstra isso mesmo. Mas é primeiro na classificação que todos mais querem. No final, é isso que importa.

Santa Luzia sem fazer diferenças

Passou mais uma etapa e ficou tudo na mesma na geral. Os suspeitos do costume do top dez ficaram na disputa na subida final até ao bonito alto de Santa Luzia, em Viana do Castelo (165,5 quilómetros com início em Montalegre). Enrique Sanz deu um triunfo à Euskadi-Murias, com Daniel Mestre a ficar novamente a ver outro ciclista ganhar. O sentimento de frustração no ciclista e na Efapel deve estar a começar a crescer bastante.

Alarcón deixou os adversários atrás de si, mas todos com o mesmo tempo. Significa que na geral só Joni Brandão está a menos de um minuto (52 segundos), estando agora a apenas um ponto da camisola da montanha, que também é do espanhol. Mateos mantém a dos pontos e o Sporting-Tavira não larga a classificação por equipas.

Esta sexta-feira serão 147,6 quilómetros entre Barcelos e Braga, com duas terceiras categorias, uma de quarta e uma de segunda, já perto da meta. Um aperitivo para a etapa de sábado, com duas primeiras categorias a anteceder a mítica subida à Senhora da Graça (155,2 quilómetros).

Pode ver aqui as classificações.



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