28 de agosto de 2018

Cada um por si nesta Vuelta

(Fotografia: © A.S.O.)
Ver uma fuga triunfar na quarta etapa não é habitual numa grande volta. E chegar a ter 10 minutos de vantagem é algo ainda mais inesperado. Mas mais do que ser mais uma prova de como a Vuelta é diferente do Giro e Tour, foi uma demonstração como os blocos das principais equipas estão desgastados, o que poderá muito bem significar que sempre que os momentos de decisão chegarem, será cada um por si entre os chefe-de-fila.

A Sky fez o que lhe competia, tendo em conta que tem a camisola vermelha da liderança. Mas a sua postura foi tão diferente do normal para a equipa britânica, que quase nem parecia a Sky. Esteve na dianteira do pelotão, contudo, não fez uma perseguição, nem sequer um controlo da fuga. A passividade foi tal que Benjamin King até foi líder virtual com mais cerca de quatro minutos de vantagem para Michal Kwiatkowski. No final, houve alguma normalidade, quando mais equipas assumiram a frente do pelotão, principalmente com a intervenção da Lotto-Jumbo, para preparar a subida final. A diferença caiu, mas não o suficiente para tirar a Benjamin King a vitória mais importante da sua carreira.

Houve um bloco de nota. O da Lotto-Jumbo. A equipa holandesa está cada vez mais a querer ter protagonismo nas grandes voltas, com Steven Kruijswijk e George Bennett a terminarem com os restantes favoritos, num claro assumir que estão na Vuelta para lutar por um bom resultado. Perante o que se está a ver, tanto os estes dois ciclistas, como outros, terão no pensamento a vitória. E porque não? Nem a Movistar está a assustar, sendo a equipa que, teoricamente, teria o bloco mais forte. O trabalho da Lotto-Jumbo permitiu a que pelo menos não houvessem surpresas na geral, como ter King de vermelho.

Na derradeira subida de primeira categoria (Sierra de la Alfaguara), a segunda do dia, os ataques só apareceram muito perto do fim dos 12 quilómetros (161,4 no total da tirada que começou em Vélez-Málaga). As boas notícias são que Simon Yates (Mitchelton-Scott) está novamente em boa forma e que a Bora-Hansgrohe tem o alemão Emanuel Buchmann preparado para assumir mais responsabilidade, ainda que Rafal Majka tenha ficado também na frente. Yates e Buchmann ganharam uma distância suficiente para se colocarem nos lugares de  pódio a dez e sete segundos de diferença de Kwiakwoski, respectivamente. Mesmo sem uma Sky forte e sem grande ajuda de um David de la Cruz, talvez a pensar mais em fazer a sua corrida, o polaco manteve a camisola vermelha.

Além de se perceber que os blocos não terão a mesma influência que num Giro e Tour, a quarta etapa serviu para juntar mais alguns ciclistas à lista dos que já estão fora da luta pela geral e dificilmente entrarão sequer no top 10. A Richie Porte (BMC) e Vincenzo (Nibali) acrescenta-se agora Ilnur Zakarin (Katusha-Alpecin) - caiu na terceira etapa e os problemas no ombro e joelho fizeram-no perder mais de cinco minutos para os restantes candidatos (mais de oito para King) -, Bauke Mollema (Trek-Segafredo) - cortou a meta quase 12 minutos depois de King, desperdiçando a última oportunidade para manter a confiança da equipa para as três semanas, se é que ainda havia alguma hipótese - e Michael Woods (EF Education First-Drapac p/b Cannondale) não vai repetir o sétimo lugar de 2017.

O início desta Vuelta está a ser uma prova de eliminação, mas a lista de candidatos continua extensa e interessante. Se nos próximos dias o percurso poderá ser um pouco mais simpático, o muito sobe e desce poderá continuar a fazer as suas vítimas, até que no domingo surja uma das etapas mais esperadas da corrida, com a chegada na La Covatilla, uma categoria especial para talvez fazer uma maior selecção de candidatos.

Se os blocos não melhorarem com o decorrer da Vuelta, será mesmo cada um por si entre os líderes. Mesmo dentro de algumas equipas poderão surgir rivalidades: Michal Kwiatkowski/David de la Cruz (Sky) e Alejandro Valverde/Nairo Quintana (Movistar). A convivência entre Kruijswijk/Bennett e Buchmann/Majka deverá ser mais pacífica, com a corrida a definir quem poderá ser o número um.

Um suspiro de alívio para a Dimension Data

Tem sido mais uma temporada muito complicada para a equipa sul-africana. As vitórias escasseiam, a sua maior estrela dá mostras de já não conseguir ter um novo regresso aos grandes momentos - Mark Cavendish só soma um triunfo em 2018 - e há mais de um ano que a Dimension Data não ganhava numa corrida do World Tour.

O último triunfo tinha sido a 21 de Julho de 2017, então com Edvald Boasson Hagen a conquistar a 19º etapa do Tour. Quando Benjamin King - que venceu a classificação da montanha na Volta ao Algarve - partiu para a fuga do dia, estava longe de pensar que terminaria com uma vitória. Claro que quando um ciclista arrisca ir para a frente da corrida, espera que seja desta que o pelotão não conclua com sucesso a perseguição. Mas nas grandes voltas são poucas as fugas que triunfam, ainda mais nos primeiros dias. Por isso, King admitiu que só no último quilómetro acreditou que poderia mesmo ganhar.

No sprint com o cazaque da Astana, Nikita Stalnov, o americano foi claramente o mais forte. É apenas a sexta vitória da equipa este ano e não salvando a temporada, serve para pelo menos a Dimension Data suspirar um pouco de alívio. É que na luta pela geral há que juntar mais um nome que não está a deixar boas indicações: Louis Meintjes já tem 3:10 minutos de atraso para Kwiatkowski.

Pode ver aqui as classificações completas. Luis Ángel Maté (Cofidis) integrou novamente a fuga e reforçou a liderança na montanha, com Kwiatkowski a ser ainda o líder dos pontos. Já por equipas, a Astana destronou a Sky.

Quanto aos portugueses, todos perderam tempo. José Mendes (Burgos-BH) cortou a meta 7:45 minutos depois de Benjamin King, Tiago Machado (Katusha-Alpecin) 13:12, Nelson Oliveira 17:05 e José Gonçalves (Katusha-Alpecin) 18:35.

Quinta etapa: Granada-Roquetas de Mar, 188,7 quilómetros

Quando se olha para o final pensa-se em Vincenzo Nibali. Com 12:33 de atraso, o italiano da Bahrain-Merida já terá liberdade para algum ataque. O único problema é que não tem estado nada bem quando o terreno inclina para cima e terá de passar uma segunda categoria antes da longa descida até à meta, que será antecedida por cerca de 10 quilómetros em plano.

Se não for Nibali, é dia para quem desce bem procurar a vitória de etapa e talvez fazer alguma diferença na classificação. Noutra perspectiva, Quintana, por exemplo, esperará ter a ajuda de Valverde para não perder tempo. Não há descanso nesta Vuelta.


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