23 de agosto de 2018

Porte confirmado numa Trek-Segafredo à procura de resultados imediatos mas também de uma renovação

(Peter De Voecht/PNBettiniPhoto©2018)
Richie Porte vai continuar a sua demanda por uma Volta a França na Trek-Segafredo. Era o segredo mais mal guardado do mercado de transferências e foi confirmado a apenas dois dias do início da Vuelta, a última grande volta da BMC. O australiano nunca conseguiu colocar na estrada todo o potencial para lutar por uma grande volta, mas apesar de na Trek-Segafredo esperarem que os azares fiquem para trás, Porte ainda tem um último objectivo com a camisola da actual equipa: concretizar o desejo de dar mais uma corrida de três semanas à BMC, depois de Cadel Evans ter vencido o Tour em 2011.

Com a indefinição do futuro da equipa a arrastar-se até à Volta a França, Porte tinha avisado que não esperaria tanto tempo para decidir onde estaria a partir de 2019. Vai para outra equipa americana que está a precisar de uma renovação urgente. A aposta em Alberto Contador não resultou nas vitórias ambicionadas e o espanhol terminou a carreira ao final de uma época com a equipa. A Trek-Segafredo ficou sem um verdadeiro líder para as grandes voltas, com Bauke Mollema a não ser mais do que um possível top 10.

Porte não será uma renovação a pensar na juventude. O australiano fará 34 anos logo em Janeiro. O que a equipa procura para este papel específico é experiência. Alguém que possa trazer um resultado imediato, depois de um hiato que não pára de aumentar, desde que Chris Horner surpreendeu tudo e todos ao ganhar a Vuelta em 2013 aos 42 anos. A equipa era então a RadioShack-Leopard.

Andy Schleck terminou a carreira muito antes de ter chegado ao seu auge e tem sido uma incessante luta por encontrar alguém que possa de facto ser um candidato a ganhar um Giro, Tour ou Vuelta. Um muito jovem Bob Jungels chegou a fazer parte do plantel, mas mudou-se para a Quick-Step Floors. Contador fez sonhar. El Pistolero acabou por sair "apenas" com uma grande vitória de etapa no Angliru, mas sem Tour, nem Volta a Espanha. Porte preenche os requisitos para ser um forte candidato a ganhar uma grande volta, com o australiano a manter-se focado no Tour.

Porém, ainda na Sky, quando lhe foi dada a oportunidade de liderar um Giro, tudo o que podia correr mal, correu. Saiu da equipa britânica, para não ficar à espera de Chris Froome e poder também ele apostar no Tour. Começou com um quinto lugar ao serviço da BMC. Em 2017 parecia estar numa forma fenomenal. Caiu na nona etapa e abandonou. Este ano foi mais discreto, mas era novamente um favorito. A nona etapa foi novamente madrasta.

É por isso que aparece na Vuelta, apenas pela segunda vez na sua carreira - a primeira foi em 2012 - decidido a quebrar um enguiço nestas corridas, o que poderá servir de mote para a nova etapa na Trek-Segafredo. Parte como um dos principais favoritos e está na altura de finalmente se mostrar como candidato até final. Apesar de ser considerado um dos melhores voltistas, o facto é que nem um pódio tem para mostrar.

A questão na Trek-Segafredo passa agora por munir a equipa de homens fortes para ajudar Porte. Nos ciclistas já confirmados para 2019, a formação continua muito virada para as clássicas, mas com Porte garantido, poderá ser um incentivo para contratar os ciclistas necessários. Michael Gogl e Gianluca Brambilla - que está a ter um ano para esquecer - são os principais nomes de corredores de três semanas no plantel. A renovação de Bauke Mollema ainda não é certa, ficando a dúvida se o holandês estará disposto a abdicar novamente do seu papel líder, depois de ter passado para segundo plano com a presença de Contador. Porém, parece inevitável que perca protagonismo.

Giulio Ciccone (Bardiani CSF) é um dos nomes falados como reforço, assim como a potencial nova estrela colombiana Ivan Ramiro Sosa (Androni Giocattoli-Sidermec). Apesar da juventude, o italiano faz 24 anos em Dezembro e Sosa 21 em Outubro, seriam dois excelentes contratações, não só para o bloco de Porte, mas também, aí sim, a pensar numa renovação com ciclistas jovens. O australiano seria um "professor" muito interessante para dois corredores que estão entre as referências da nova geração. Sosa venceu esta quinta-feira a primeira etapa nos Alpes no Tour de l'Avenir (Volta a França do Futuro).

O português Ruben Guerreiro, mais um jovem, tem vindo a ser preparado para as corridas por etapas e até estava previsto estrear-se este ano na Vuelta. O sonho ficou adiado, aguardando-se também por conhecer se o futuro do campeão nacional de 2017 passará pela Trek-Segafredo.

A outra contratação já confirmada da Trek-Segafredo é a de Matteo Moschetti, o jovem da Polartec-Kometa (equipa da Fundação Alberto Contador), sprinter e com características para as clássicas.

De recordar que a BMC deixará de patrocinar a actual estrutura, mas a polaca CCC já assegurou a continuidade do projecto. A marca de bicicletas irá aliar-se à Dimension Data em 2019.

Uma surpresa

Se a contratação de Richie Porte por parte da Trek-Segafredo já era falada há algum tempo, a ida de Niki Terpstra para a Direct Energie foi uma surpresa. A saída do holandês da Quick-Step Floors tinha sido adiantada pelo próprio director da equipa belga. Sem um patrocinador principal para 2019, Patrick Lefevere admitiu não ter dinheiro para corresponder às exigências financeiras de Terpstra. Aos 34 anos é um novo fôlego na carreira, depois de oito anos na estrutura belga.

A Direct Energie quer estar no escalão World Tour em 2019 e Terpstra foi contratado para mostrar todas as suas credenciais nas clássicas do pavé. É um daqueles ciclistas que, por vezes, pouco se vê, mas que, de repente, alcança grandes vitórias. Um Paris-Roubaix e uma Volta a Flandres comprovam isso mesmo, num currículo que pode não colocá-lo como um dos ciclistas mais memoráveis, mas Terpstra é um dos melhores que há no pavé.

A Quick-Step Floors irá perder também Laurens de Plus para a Lotto-Jumbo, que no próximo ano será apenas Jumbo.

Para onde vão os irmãos Izagirre?

Ouvir a Bahrain-Merida dizer que não irá corresponder às exigências de ordenado dos irmãos Izagirre até parece estranho tendo em conta que é uma das equipas com maior força financeira e que apostava muito nos irmãos. A sua renovação era o passo mais esperado, contudo, o próprio director, Bret Copeland, confirmou que não irá acontecer Mas, salvo alguma reviravolta de última hora, a única certeza é que Gorka e Ion vão para outra equipa. O último esteve dois anos na Bahrain-Merida, já Gorka só por lá ficará em 2018.

A UAE Team Emirates foi dada como o possível destino, mas nos últimos dias, alguns meios de comunicação social espanhóis dão como certa a ida para a Astana. Tal como a Trek-Segafredo, também a equipa cazaque estava à procura de homens para liderar a equipa nas corridas de três semanas. Com a saída de Fábio Aru e com Jakob Fuglsang a não ser um candidato que consiga estar ano nível de Chris Froome, Geraint Thomas, Tom Dumoulin ou Romain Bardet, era esperado que Alexander Vinokourov abri-se os cordões à bolsa para garantir um reforço forte. Podem ser dois. Se há equipas financeiramente tão ou mais abonadas que a Bahrain-Merida, estas são duas delas, certamente, mesmo com os problemas de financiamento estatal que afectou a Astana no início de temporada, entretanto já resolvido.

Ambos passaram parte da carreira como gregários de luxo na Movistar. Ion ia liderar a Bahrain-Merida no Tour em 2017, mas caiu e abandonou logo no contra-relógio inaugural. O que podem os irmãos Izagirre fazer como líderes é algo que ainda não se percebeu por completo, já que este ano estiveram na ajuda a Vincenzo Nibali no Tour, até este abandonar. Depois assumiram-se como caça-etapas. Na Vuelta terão novamente o italiano na equipa, só que Nibali ainda não está completamente recuperado da fractura na vértebra, pelo que os Izagirre poderão ser chamados a algo mais naquela que poderá ser a sua despedida da Bahrain-Merida, no que a provas de três semanas diz respeito.

Se forem para a Astana, juntar-se-ão a um Miguel Ángel López a crescer como voltista e que poderá em breve ser um dos principais ciclistas de três semanas. Até lá, a experiência dos Izagirre será importante para os tais resultados imediatos, como acontece com a contratação de Porte por parte da Trek-Segafredo.


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