(Fotografia: Facebook Milano-Sanremo) |
Ser obrigado a abandonar a Volta a França devido a um adepto é algo que está a custar a Vincenzo Nibali aceitar. O pior já terá passado, com o italiano a recuperar de uma fractura na vértebra e até garantiu que irá marcar presença na Vuelta. Continua também com os Mundiais como um objectivo a cumprir. Porém, aquele dia no Alpe d'Huez marcou-o e Nibali afirmou que "o ciclismo tornou-se num circo". A Bahrain-Merida também não se conforma e ainda está a estudar a hipótese de seguir a via legal para procurar uma compensação pelos danos causados à equipa, que perdeu um ciclista que poderia ter alcançado um bom resultado na corrida mais importante e mediática.
"Têm de haver fãs, mas não assim. As pessoas bebem de mais e fazem qualquer coisa para aparecer na televisão", referiu Nibali, numa entrevista à Gazzetta dello Sport. "Com as pessoas no meio da estrada, muitas vezes com bandeiras, nós estamos a pedalar às cegas, sem conseguir ver por onde vamos e a rezar aos céus que as estradas estejam abertas à nossa frente", acrescentou. O ciclista de 33 anos, que já venceu as três grandes voltas e dois dos monumentos (Milano-Sanremo e a Il Lombardia, esta por duas vezes), salientou como "70% da visibilidade da equipa vem através do Tour". "Além dos danos à saúde, economicamente, qual é o valor dos danos sofridos?"
Esta é uma das questões que a Bahrain-Merida está a tentar responder. Responsabilizar a organização do Tour não é tarefa fácil, com as imagens a não demonstrarem ao certo o que aconteceu. Uma fita de uma máquina de um adepto ter-se-á enrolado na roda, provocando a queda de Nibali. A equipa, a ASO e a própria UCI têm estado em permanente contacto para aclarar a situação.
O italiano nem foi ao Giro porque acreditava que poderia estar perante uma última oportunidade para ganhar pela segunda vez o Tour. No Alpe d'Huez parecia estar bem e a preparar-se para atacar, quando foi atirado ao chão. Terminou essa etapa, mas não partiu no dia seguinte. "Se se pensar bem, é uma loucura. Eu estava imóvel no chão, com dores tremendas. Não precisava de muito mais e agora poderia nem me mexer", disse Nibali. Felizmente, o ciclista recuperou. Porém, recordou ainda como não foi só ele a sofrer com o comportamento incorrecto de alguns adeptos. "Ele nunca se queixa, mas parece-vos bem que o Froome seja agredido enquanto está a fazer o seu trabalho? Ele foi atingido mesmo antes da minha queda. Demasiadas vezes estamos a pedalar em situações de doidos", lamentou.
O comportamento dos adeptos esteve na ordem do dia na Volta a França, com a Sky e principalmente Chris Froome a serem o alvo da ira. No entanto, Nibali acabou por ser um dos mais afectados, num ambiente sempre muito intenso no Alpe d'Huez. A ida à Vuelta não será com o objectivo de ganhar, pois o desconforto físico ainda lá está: "Dói-me. Estou a ter problemas em rodar o meu peito para a direita, mas espero a situação melhore."
Nibali, tal como outros ciclistas - Richie Porte, por exemplo - vêem a Vuelta como uma forma de recuperar o ritmo perdido devido à queda e também testar-se fisicamente. Tudo a pensar nos Mundiais de Innsbruck, com o percurso austríaco a ser dos mais difíceis dos últimos anos, o que está a entusiasmar os trepadores. Nibali colocou no início da época como um dos objectivos a conquista da camisola do arco-íris, contudo, admite: "A minha condição é como se fosse Janeiro."
Muitos reforços para 2019
Vincenzo Nibali irá continuar a ser a figura principal da Bahrain-Merida no próximo ano, assim como Sonny Colbrelli. Porém, naquela que será a sua terceira temporada, a equipa quer dar mais um passo, rumo a tornar-se numa das mais importantes e, claro, vitoriosas do pelotão. Não surpreende, por isso, que o dinheiro esteja a fluir nas contratações. Em apenas 15 dias desde que é permitido anunciar os novos contratos, a Bahrain-Merida já confirmou cinco novas caras para 2019. Só da BMC vêm três: Dylan Teuns, Damiano Caruso e Rohan Dennis. Da Sunweb chega Phil Bauhaus e da Lotto Soudal, Marcel Sieberg. Estes dois corredores reforçam o bloco das clássicas, com Bauhaus a ser também uma alternativa para o sprint. Da CCC Sprandi Polkowice vem Jan Tratnik, um todo-o-terreno esloveno.
O jovem britânico Stephen Williams (22 anos), da SEG Racing Academy, entrou este mês como estagiário, mas já assinou para as próximas duas temporadas. É mais um ciclista para corridas por etapas, mas foi nono na Liège-Bastogne-Liège de sub-23, ganha pelo português João Almeida (Hagens Berman Axeon).
Os irmãos Izagirre ainda não renovaram, mas são dois ciclistas importantes dentro da equipa e foram eles quem tentaram salvar algo do Tour, depois do abandono de Nibali. Não é de surpreender que a Bahrain-Merida ainda faça mais alguma contratação, para reforçar tanto o bloco das clássicas, que se está a tornar num objectivo cada vez mais sério, ainda mais quando este ano conquistou o seu primeiro monumento, como apostar também forte na conquista de uma grande volta.
Sem comentários:
Enviar um comentário