Quando José Neves foi apresentado como o reforço da W52-FC Porto não se pode dizer que tenha sido uma surpresa a equipa que tem dominado o ciclismo nacional nos últimos anos ter assegurado um dos ciclistas de futuro mais promissor. No entanto, se não tem dúvidas quanto à sua escolha e de todos os dividendos que pode tirar dela na sua carreira, o corredor alentejano não esconde que sair da Liberty Seguros-Carglass não foi uma decisão fácil, ainda mais sabendo que a equipa iria subir ao escalão Continental.
"Custou-me um pouco sair da Liberty Seguros-Carglass e era para continuar lá. Só que não havia possibilidade de haver três atletas de elite e já tinha a proposta da W52-FC Porto há algum tempo. Decidi aceitar", contou ao Volta ao Ciclismo. José Neves é a prova como há lugar para algum sentimentalismo no desporto ao mais alto nível, mas, naturalmente, que é o profissionalismo que se sobrepõe e a W52-FC Porto está a tornar-se num verdadeiro trampolim para alguns ciclistas. Rafael Reis, Joaquim Silva e Amaro Antunes são os casos mais recentes de corredores que estão agora em equipas Profissionais Continentais (Caja Rural para os dois primeiros e CCC Sprandi Polkowice para o algarvio).
José Neves valoriza precisamente o facto de ao ter de deixar uma equipa na qual se sentia muito bem, que fosse então por aquela que tem sido fortíssima nos últimos anos. "Está a ser uma experiência motivadora e enriquecedora para o meu percurso. Estou a gostar bastante e integrei-me bem na equipa. Os meus colegas são espectaculares", salientou o ciclista de 22 anos.
Era um corredor que já estava debaixo de olho já algum tempo pelas exibições que ia fazendo, mas 2017 foi o ano em que ficou claro que estava preparado para mais. José Neves conquistou pela segunda vez o título de campeão nacional de contra-relógio de sub-23 e ganhou a Volta a Portugal do Futuro, sendo ainda quinto no Troféu Joaquim Agostinho. Mas fica uma palavra para quem o ajudou a tornar-se numa das principais esperanças do ciclismo nacional: "Devo muito aos dois chefes da Liberty Seguros-Carglass por tudo o que me ensinaram, pela oportunidade que me deram. Gostei muito de lá estar."
"[Nuno Ribeiro] disse-me para estar bem no início da época, para mostrar-me e continuar a evolução, para assim ter possibilidade de ingressar no ciclismo lá fora"
Se tivesse ficado na equipa agora Continental, ainda que sub-25 (só pode ter dois ciclistas profissionais, que são César Martingil e Gaspar Gonçalves), a liberdade para procurar resultados seria outra. Porém, na W52-FC Porto terá uma exposição maior e o discurso de Nuno Ribeiro parece indicar que, por agora, é altura de deixar José Neves continuar a sua evolução. "Aqui tenho de fazer o que me mandam. Falámos um pouco e ele [o director desportivo] disse-me para estar bem no início da época, para mostrar-me e continuar a evolução, para assim ter possibilidade de ingressar no ciclismo lá fora. Mas sem grande pressão", garantiu.
As qualidades de contra-relogista estão lá e prontas a ser aprimoradas. Como trepador já demonstra boa capacidade. Mas será que há algo que José Neves considere ser importante melhorar rapidamente? A resposta sai que nem um disparo: "A técnica e a postura na bicicleta." Quanto a corridas, o ciclista ainda desconhece ao certo o seu calendário, mas considera que a Volta a Portugal, por exemplo, não é algo essencial já este ano. "Se não for já, não fico preocupado. Tenho tempo", disse, adiantando que talvez possa estar nas clássicas de início de temporada, como a Arrábida e Aldeias do Xisto, esperando ainda por saber se será escolha para a Volta ao Alentejo.
Porém, agora há que pensar na Volta ao Algarve. José Neves passou na Fóia a mais de dois minutos do vencedor, Michal Kwiatkowski (Sky), contudo, é terceiro na classificação da juventude, a 2:51 de Sam Oomen (Sunweb), Como bicampeão nacional de contra-relógio de sub-23, é inevitável que se o queira ver na sua especialidade, competindo onde estão alguns dos melhores do mundo, como o quatro vezes campeão mundial Tony Martin, o campeão europeu Victor Campenaerts, alguns campeões nacionais, a começar pelo português, Domingos Gonçalves (Rádio Popular-Boavista) e Nelson Oliveira (Movistar), que conta com quatro títulos. "Vamos ver como vão estar as pernas. Vou dar o meu melhor", limita-se a dizer sobre a etapa desta sexta-feira em Lagoa, pois prefere pensar na corrida como um todo e mostrar o seu valor em todas as tiradas, sem se concentrar em demasia apenas na do esforço individual.
O objectivo para a Algarvia é simples, por assim dizer: "É tentar fazer um bom lugar. Treinei bem para estar bem." E quem sabe, possa estar na luta pela classificação da juventude, até porque Sam Oomen está com alguns problemas no joelho, pelo que apesar da distância actual, nada está fechado, numa corrida que termina com dupla passagem no Malhão, no domingo.
Sem comentários:
Enviar um comentário