27 de agosto de 2018

O final de uma equipa que quis ser auto-sustentável

(Fotografia: Karen M. Edwards/Facebook Aqua Blue Sport)
Há um ano a Aqua Blue Sport vivia um momento que parecia confirmar que tinha feito a aposta certa em criar uma equipa que pretendia ser auto-sustentável. A estrutura irlandesa tem como base o site de venda online de artigos de ciclismo. O convite para a Vuelta era por si só o ponto alto na época de estreia, mas a vitória de etapa foi um bónus algo inesperado, mas muito bem-vindo. Doze meses depois, não há razões para sorrir, apenas muitas preocupações. São 16 os ciclistas que ficaram esta segunda-feira a saber que estão sem contrato para 2019, além de todo um staff que inclui um português, o massagista Pedro Claudino, que fica agora sem trabalho.

A equipa justificou a decisão de terminar o projecto com a falta de convites para corridas importantes, o que dificulta a promoção da marca, essencial para uma estrutura que quis subsistir sem patrocínios, mas apenas tendo um negócio online como forma de ganhar dinheiro. "Este ano foi cada vez mais difícil de obter convites para corridas e reconhecimento dos organizadores em como o nosso projecto é único e bem suportado", lê-se no comunicado.

A falta de convite para a Volta a Espanha deste ano acabou por ser a gota de água, despoletando a fúria do director. "No ano passado não tínhamos história e conseguimos alguns convites fantásticos, este ano temos alguma história positiva e temos poucos ou nenhuns convites. Investi milhões neste desporto [...]. Sem corridas significa que não há tráfego no site, o que significa que não há vendas e, logo, não há financiamento para a nossa equipa", disse então Rick Delaney, quando os convites foram anunciados.

Apesar de ser mais do que expectável que a Aqua Blue Sport ficasse de fora dos eleitos para as quatro vagas disponíveis, as exibições de 2017, que contaram com uma vitória do austríaco Stefan Denifl, fizeram com que Delaney mantivesse a esperança. No entanto, com a subida de duas equipas espanholas ao escalão Profissional Continental, esperava-se que a Burgos-BH e a Euskadi-Murias se juntassem à Caja Rural na Vuelta. O quarto convite iria sempre para a Cofidis, que apesar de ser uma equipa francesa, a empresa é um dos grandes patrocinadores de ciclismo em Espanha e conta sempre com espanhóis na equipa.

As memórias da Vuelta de 2017 não foram todas boas. O autocarro foi vandalizado e parte ardeu. De Portugal, a então LA Alumínios-Metalusa-BlackJack enviou o seu para auxiliar a Aqua Blue Sport. Ao todo, o ano de estreia no ciclismo rendeu quatro vitórias, a primeira numa etapa na Volta à Suíça pelo ciclista que mais tarde viria a sagrar-se campeão americano: Larry Warbasse. É agora um dos corredores que se vê obrigado a procurar nova equipa, tal como Adam Blythe, talvez a principal figura da equipa, tendo chegado à estrutura como campeão britânico.

Quase todos os ciclistas terminavam contrato no final do ano, mas a expectativa poderia passar pela continuidade. Agora essa perspectiva deixou de existir. Só o irlandês Eddie Dunbar e o dinamarquês Casper Pedersen tinham contrato para 2019, mas o vínculo ficou agora sem efeito. É quase Setembro e para alguns poderá ser tarde para garantir uma equipa para o próximo ano.

A tentativa de salvação

Os problemas da Aqua Blue Sport já eram bem conhecidos, com Delaney a nunca esconder que a ausência de corridas com maior projecção estavam a prejudicar a equipa, que muito precisava de publicitar o site. A solução passou por tentar uma fusão com outra estrutura. No início de Agosto, a formação irlandesa anunciou que tinha adquirido a empresa Sniper Cycling, que detém a Verandas Willems Crelan. Teria sido uma jogada de mestre, já que isso significaria ficar com um dos ciclistas que mais se destacou nas clássicas do pavé e uma das grandes figuras do ciclocrosse: Wout van Aert.

Porém, não demorou muito a Sniper Cycling desmentir categoricamente a compra e as negociações chegaram ao fim sem sucesso. Sem se referir especificamente à equipa belga, a Aqua Blue Sport escreveu no comunicado de despedida: "Nas últimas semanas formámos a base de um acordo várias vezes, mas, infelizmente, o senso comum não prevaleceu."

No curto historial desta equipa irlandesa ficam então oito vitórias, até ao momento, e a participação numa grande volta. Apesar de anunciar o fim, não significa que ter uma equipa de ciclismo seja algo que seja eliminado dos objectivos futuros da empresa: "Vamos continuar a crescer e desenvolver a nossa plataforma de e-comércio www.aquabluesport.com para permitir que regressemos à estrada, algures no futuro."

Um dos pormenores sobre esta equipa que não será esquecido é a bicicleta. A equipa apostou num modelo, 3T Strada, que gerou alguma desconfiança, pois só tem um prato. Foi algo que levou os próprios ciclistas a precisarem de um período de adaptação.

A Aqua Blue Sport quis inovar, principalmente na forma de se auto-financiar, sem precisar de estar constantemente à procura de patrocinadores. Durou dois anos o desafio que tão rapidamente pareceu estar bem encaminhado, como se tornou num de pouca duração.


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