31 de agosto de 2018

Pelotão furioso com condições da estrada

Os últimos 20 quilómetros foram muito complicado
com quedas e furos (Fotografia: © PhotoGomezSport/La Vuelta)
Num dia, o helicóptero voou baixo de mais e provocou a queda de alguns ciclistas já depois da etapa terminar. Escusado será dizer que as críticas vieram de todo o lado. Mas o pior estava por acontecer. Os últimos 20 quilómetros da tirada desta sexta-feira provocaram a ira do pelotão. A estrada em mau estado e muito estreita causou vários incidentes. Michal Kwiatkowski foi dos mais afectados, mas a insatisfação não foi expressa apenas pela Sky.

"Não sei o que os organizadores estavam a pensar ao levarem-nos para estradas como aquela. Condições terríveis. Queriam quedas e tiveram-nas", afirmou Simon Yates (Mitchelton-Scott), um dos mais duros nas palavras. O australiano conseguiu chegar a são e salvo à meta em Pozo Alcón, mas um dos seus colegas, Damien Howson, foi um dos vários ciclistas a cair. "Foi muito perigoso", desabafou Yates, desiludido com a fase final do percurso da sétima etapa.

Sentimento partilhado por Daniel Martin. Além das quedas, os furos também foram um problema. O irlandês foi um dos azarados e perdeu 4:27 minutos. "Teria sido simpático limparem a estrada", disse Martin, referindo-se ao facto de haver muita gravilha, o que só contribuiu para a dificuldade dos ciclistas em manobrarem as bicicletas e para originar problemas mecânicos. "Eram estradas mesmo, mesmo más. Estivemos em boas estradas largas durante todo o dia e depois atiram-nos para isto. Foi o caos", salientou.

Em sete etapas, ainda ninguém abandonou na Vuelta, o que muito se deve ao tipo de estradas por onde o pelotão tem andado. Na sexta etapa houve um primeiro erro, com um obstáculo mal identificado a originar uma queda que envolveu vários ciclistas. Depois da meta em San Javier, Mar Menor houve então o incidente com o helicóptero. Ao voar demasiado baixo, a deslocação de ar que criou fez com que umas barreiras de plástico fossem, para o meio da estrada e houve quem não as conseguisse evitar, chegando mesmo a cair. Julien Duval (AG2R) foi um dos afectados, por exemplo e ficou incrédulo com a situação.

Porém, as condições da estrada da sétima etapa, resultou em mais problemas do que quase todos juntos até a este dia. Daniel Martin não hesitou em colocar o dedo na ferida: "É bonito para a televisão, mas não é bonito pedalar nelas."

Alejandro Valverde juntou-se ao coro de críticas: "O asfalto era mesmo mau. Estávamos avisados que ia ser complicado, mas foi mais difícil do que o esperado." O espanhol da Movistar acabou por beneficiar da queda de Kwiatkowski e com a bonificação do terceiro lugar na etapa, saltou para o segundo lugar, a 47 segundos de Rudy Molard (Groupama-FDJ). Valverde lamentou que o polaco tenha perdido tempo devido a uma queda, ficando , por outro lado, satisfeito que tanto ele como Nairo Quintanha tenham passado incólumes num final tão complicado. Ou quase. O colombiano da Movistar foi dos que furou, mas a rápida intervenção do companheiro Richard Carapaz - cedeu a sua bicicleta -, permitiu que Quintana perde-se pouco tempo e recuperasse posição no grupo principal.

Outro colombiano, Rigoberto Uran (EF Education First-Drapac p/b Cannondale) limitou-se a dizer que foi "uma zona muito complicada e há que contar com a sorte para não cair". Sorte que Kwiatkowski não teve. Nem ele nem os colegas Tao Geoghegan Hart e Sergio Henao. Os três caíram na mesma curva, com David de la Cruz a escapar. O polaco desceu de segundo para sexto, perdendo 25 segundos para Molard, estado agora a 1:06. Ainda assim, na Sky tenta-se ver o lado positivo. "Podia ter sido pior", disse o director desportivo Gabriel Rasch. "O Kwiato teve de mudar de bicicleta, mas felizmente os rapazes estavam mesmo atrás dele e deram-lhe uma rapidamente. O Sergio fez um trabalho extraordinário e quase conseguiram fechar a distância para o grupo da frente", acrescentou.

Mas não foi só Henao quem ajudou. Quando o colombiano ficou sem força, o próprio Kwiatkowski trabalhou no grupo e teve uma preciosa contribuição de Bauke Mollema (Trek-Segafredo) e Ilnur Zakarin (Katusha-Alpecin). Ambos acabaram também por não durar até ao fim e o holandês chegou mesmo a perder o contacto com este grupo.

Franceses brilham em Espanha

No Tour as coisas não correram muito bem para os ciclistas da casa, com excepção para Julian Alaphilippe (Quick-Step Floors) e Arnaud Démare (Groupama-FDJ), este último lá conseguiu uma etapa. Porém, na Vuelta, em três dias os gauleses viram um seu ciclista vestir a camisola da liderança - Rudy Molard -, depois Nacer Bouhanni (Cofidis) regressou às vitórias em grandes voltas, terminando com um jejum de quatro anos, e agora foi Tony Gallopin que terminou com um hiato igual ao do compatriota. As três equipas francesas na Vuelta já deixaram a sua marca.

Numa fase de ataques e contra-ataques, Gallopin tentou a sua sorte a três quilómetros do fim e foi feliz, frustrando um Peter Sagan (Bora-Hansgrohe) que ultrapassou as dificuldades, mas para ficar apenas em segundo. Bateu ao sprint Valverde, outro interessado em vencer, que no seu caso teria sido a segunda vitória.

O espanhol não só subiu ao segundo lugar, como ficou com a camisola dos pontos de Kwiatkowski, liderando ainda no combinado. Luis Ángel Maté mantém-se com a da montanha. A Astana é a primeira na classificação colectiva.

Os quatro ciclistas portugueses em prova perderam tempo para o grupo principal (Gallopin cortou a meta com cinco segundos de vantagem). Nos 185,7 quilómetros entre Puerto Lumbreras e Pozo Alcón, José Mendes (Burgos-BH) cortou a meta a 1:48 minutos do francês da AG2R, Tiago Machado (Katusha-Alpecin) a 5:40, Nelson Oliveira a 7:49 e José Gonçalves chegou a 15:11 do vencedor.

Pode ver aqui as classificações completas.

Oitava etapa: Linares - Almadén, 195,1 quilómetros

Vai ser um dia algo nervoso, muito porque se aproxima a primeira etapa que pode ser decisiva na Vuelta. Espera-se um final ao sprint, que tendo os últimos metros em subida, coloca Peter Sagan como favorito, mas a concorrência continuará a ser forte.

Os homens da geral quererão ter um dia o mais tranquilo possível numa Vuelta, pois no domingo terão de enfrentar La Covatilla, uma categoria especial, que chegará depois de uma subida de primeira, outra de terceira e ainda uma de segunda, com muito sobe e desce pelo meio. Serão ainda 200,8 quilómetros, sendo a segunda etapa mais longa da corrida. Mas primeiro há mais um dia para sobreviver.



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