3 de agosto de 2018

O dia foi da Aviludo-Louletano-Uli, mas o calor continua a ser protagonista

Alguns ciclistas até paravam para se refrescar, numa preciosa ajuda
dos bombeiros (Fotografia: PODIUM/Paulo Maria)
Trabalho exímio da Aviludo-Louletano-Uli. Primeiro e segundo classificado na etapa e um recado de Vicente García de Mateos aos críticos. Uma queda partiu o pelotão e, por momentos, Domingos Gonçalves chegou a ser dado como o novo líder, mas o ciclista da Rádio Popular-Boavista terá de procurar outra oportunidade, pois a amarela continua com Rafael Reis. Era de tudo isso que se deveria destacar da segunda etapa da Volta a Portugal. Mas não, o calor continua no centro das atenções e a corrida começa a ser notícia lá fora por este factor. Fazem-se comparações com o que aconteceu com o Tour Down Under, na Austrália, que perante condições idênticas optou por encurtar etapas. O martírio do tempo quente vai continuar rumo à etapa rainha da corrida no domingo.

Uma das recentes vitórias dos ciclistas foi a aplicação do protocolo de tempo extremo. Ao ser incluindo nos regulamentos da UCI, passou a prever que podem ser feitas alterações às corridas devido a questões de meteorologia. O frio e a neve têm sido das principais razões para a sua aplicação, mas o calor não lhe fica atrás. O Tour Down Under não consegue escapar às temperaturas muito altas em Janeiro e pelo menos nas últimas duas edições houve etapas encurtadas. Com mais de 40 graus, a organização tem optado por tentar salvaguardar a saúde dos corredores. É difícil agradar a todos, com uns a considerarem que devem ser canceladas, outros não se importam de enfrentar o calor. Noutras corridas já se chegou a anular tiradas e até a Volta a França não escapa a estas medidas. Na inesquecível tirada em que Chris Froome correu a pé pelo Mont Ventoux, os ciclistas não foram ao topo devido ao forte vento.

Na Volta a Portugal o ciclismo não tem parado... tirando quando alguns ciclistas ficaram debaixo das mangueiras dos bombeiros. As equipas redobraram ou mesmo triplicam os esforços para garantir que os seus corredores não sofrem de desidratação. Estes defendem-se como podem. Vão muito mais devagar (média pouco acima dos 30 quilómetros/hora) e aproveitam todas as mangueiradas para apanhar um verdadeiro duche frio. Merecem todo o respeito estes ciclistas porque a corrida não pára. A Associação de Ciclistas Profissionais (CPA, na sigla em francês) colocou no Twitter que ia pedir à organização da Volta para aplicar o protocolo de tempo extremo. "O organizador é responsável pela segurança e saúde dos ciclistas e não pode deixá-los competir nestas condições terríveis. Todos os ciclistas têm de ter os mesmos direitos e tratamentos", lê-se.

Já na quinta-feira, Tiago Machado chamou a atenção para o que os ciclistas estão a enfrentar e apelou para que se seguisse o exemplo do Tour Down Under, referindo mesmo que a RTP iria compreender. As transmissões televisivas têm um peso enorme, ainda mais quando é a Volta a Portugal que dá praticamente todo o protagonismo e retorno mediático aos patrocinadores das equipas portuguesas.

Foram 203,6 quilómetros entre Beja e Portalegre. Um ambiente tórrido, mas que mesmo assim só viu um ciclista sair de cena. O dinamarquês Louis Bendixen, da Team Coop, nem partiu e tornou-se assim na segunda desistência, depois do português Joaquim Silva (Caja Rural).

O dia do Louletano


 (Fotografia: PODIUM/Paulo Maria)
"Não está só o Porto e o Sporting nesta Volta. O Louletano também está." A frase é peremptória e é o sinal de ambição que sempre acompanha Luís Mendonça. Dois segundos lugares consecutivos. No primeiro ficou frustrado, agora foi como se tivesse ganho. Foi ele quem lançou o sprint, apanhou Domingos Gonçalves que tentou afastar-se da concorrência, mas depois foi Vicente García de Mateos quem aproveitou a roda para ganhar. Duas cartadas, dois ases. Perfeito para a Aviludo-Louletano-Uli que já tem a sua etapa. Falta a geral. Sim, o director desportivo, Jorge Piedade, quer ganhar a Volta com Mateos.

O espanhol foi terceiro há um ano. Quase ficou de fora desta edição devido a irregularidades no passaporte biológico. Foi o Tribunal Arbitral do Desporto quem levantou a suspensão, enquanto o processo ainda decorre. Mateos mandou calar. Os críticos, os detractores, fosse quem fosse que o esteja a colocar em causa. Mateos não se quis alongar nesses comentários. Só pensa em competir. Só pensa que a partir deste sábado começa a Volta, por assim dizer.

A montanha chega na chamada Etapa Vida, que irá passar por muitas das localidades mais afectadas pelos incêndios de 2017. Serão 177,8 quilómetros entre a Sertã e Oliveira do Hospital, com duas quartas categorias, duas terceiras e uma segunda, na Serra da Lousã, pelo que poderá haver uma nova classificação geral.

(Texto continua por baixo da imagem.)



Rafael Reis (Caja Rural) estará de amarelo, depois de provisoriamente ter perdido para Domingos Gonçalves. Uma queda a 500 metros da meta cortou o pelotão, mas ficaram dúvidas se antes já haveriam diferenças. Os comissários acabaram por optar dar o mesmo tempo a todos os que estavam no grupo. O líder da juventude e segundo à geral, César Martingil, ficou um pouco mal tratado, mas garantiu não ter nada partido. Mario Vogt (Sapura Cyling) manteve a camisola azul da montanha, o Sporting-Tavira não desarma da classificação colectiva, mas a dos pontos tem um novo líder: depois de dois segundos lugares, Luís Mendonça vai amanhã partir de verde.

Pode ver aqui as classificações.

O pontapé na roda

Merece o destaque, pois não é todos os dias que vemos um ciclista dar um pontapé numa roda de a fazer voar para longe. Quando se fizer um best of de maus tratos ao equipamento, o de Domingos Gonçalves tem de lá estar! Já com o pelotão lançado para começar a arrumar as suas peças para discutir a etapa, o campeão nacional de fundo e contra-relógio furou. Uma falha de comunicação fez com que o director desportivo, José Santos, não se apercebesse que o ciclista já tinha encostado e foi atrás de Filipe Cardoso que estava a recuar no pelotão.

Nas imagens é notório como Domingos gritou para o rádio ao ver o seu carro de apoio passar. Tirou ele a roda de trás e saiu remate! Foi Joaquim Andrade, da Vito-Feirense-BlackJack quem parou para o seu mecânico ajudar um potencial adversário para um final a que certamente a equipa também tinha pretensões. Um gesto extraordinário de fair play.

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