30 de agosto de 2018

A tentativa de redenção de Nacer Bouhanni

(Fotografia: © PhotoGomezSport/La Vuelta)
Qualquer dia é bom para ganhar, mas para Nacer Bouhanni, vencer nesta sexta etapa da Vuelta teria mais significado do que apenas regressar às grandes vitórias depois de uma temporada muito (mas mesmo muito) complicada. Menos de 24 horas antes do sprinter francês ser o mais forte em San Javier, Mar Menor, tinha sido divulgado que o ciclista teria batido no carro da equipa, o que teria resultado numa penalização de 30 segundos. Bouhanni e a equipa desmentiram, mas a melhor reacção viria mesmo na estrada. Há quatro anos que o sprinter não ganhava numa grande volta e há quase ano e meio que não vencia numa corrida World Tour.

"Tinha muita vontade de ganhar hoje depois dos falsos rumores que circularam sobre mim ontem", admitiu Bouhanni. O próprio ciclista referiu de imediato como é especial regressar às vitórias nas grandes voltas, precisamente naquela onde tinha vencido pela última vez, então ainda ao serviço da FDJ.fr. Mas num momento em que não escondeu alguma emoção, Bouhanni recordou como em 2017 uma queda quase lhe acabou com a carreira, com o ciclista até a considerar que poderia ter sido ainda mais grave: "No ano passado tive um acidente muito sério no Tour de Yorkshire. Não se deu muita importância, mas podia ter acabado com a minha vida e tive problemas de visão durante uma boa parte da temporada."

Os relatos de conflitos com os responsáveis da Cofidis não eram novidade, mas desta feita, a equipa assegurou que a penalização de 30 segundos se deveu a uma abastecimento fora do limite estipulado pela organização. Em comunicado garantiu ainda que Bouhanni tem toda a confiança nesta Vuelta.

Bouhanni não quis entrar em euforias, recusando dizer que está de regresso à sua melhor versão. "Foi uma temporada difícil e a pressão afectou-me muito. Senti-me humilhado, mas tinha de me redimir", afirmou, não escondendo a decepção que sofreu ao ficar de fora do Tour, com Christophe Laporte a ser o sprinter escolhido da Cofidis. O francês até disse que chegou a falar com outras equipas, mas o responsável máximo da Cofidis, Thierry Vittu, telefonou-lhe antes da Vuelta para lhe dar todo o seu apoio.

Esta foi a sexta vitória do ano para Bouhanni, mas falta saber se poderá ser aquela que inicie a sua redenção dentro de uma equipa na qual parece ter o seu espaço a diminuir desde que Cédric Vasseur assumiu a liderança. Primeiro o seu comboio foi reduzido, depois perdeu o estatuto de líder indiscutível, falharia o Tour, mesmo depois de ter conseguido algumas vitórias. Não ajudou ter desrespeitado ordens da equipa: deveria ter ajudado Laporte na primeira etapa da Route d'Occitanie, mas acabou por disputá-la e até ganhou, à frente precisamente do colega.

Vinte quilómetros de caos

Se até essa marca estava a cumprir-se quase todas as expectativas, menos a da velocidade, já que o vento de frente não ajudou nada, depois foi um caos. Uma queda abriu as hostilidades que o vento viria a ter um papel decisivo.  O pelotão partiu-se em vários grupos e Wilco Kelderman acabou por ser o mais prejudicado. O holandês da Sunweb perdeu 1:44 minutos, naquele que é um rude golpe nas suas aspirações, que passam por disputar a Vuelta. São 2:50 para Rudy Molard, o que deixa Kelderman numa posição em que não poderá ficar à espera de terceiros para tentar estar novamente na luta por um bom resultado.

Thibaut Pinot também perdeu tempo, cortando a meta no grupo de Kelderman. Tendo em conta que o francês disse que o objectivo principal na Vuelta era ganhar etapas, não se pode dizer que seja uma desilusão. Porém, um dia depois da Groupama-FDJ ver Rudy Molard vestir a camisola vermelha, não deixou de ser um contratempo ver Pinot cair na classificação geral, até porque ficou bem claro que continua a receber toda a protecção. Molard ficou sozinho na frente, com a equipa a tentar socorrer Pinot, sem sucesso.

Rafal Majka perdeu 3:05 minutos, entregando definitivamente a liderança da Bora-Hansgrohe a Emanuel Buchmann. A seu lado estava um Ilnur Zakarin (Katusha-Alpecin) que cada vez mais se vai enterrando na classificação geral.

Se o pelotão esperava que os 155,7 quilómetros entre Huércal-Overa e San Javier, Mar Menor pudessem ser mais tranquilos do que nos dias anteriores, mas não houve descanso para ninguém. Esta sexta-feira serão 185,7 quilómetros, com partida em Puerto Lumbreras e meta em Pozo Alcón.

Pode ver aqui as classificações completas. Não se verificaram mudanças nos donos das camisolas. Molard está vermelho, Michal Kwiatkowski (Sky) de verde (pontos), Luis Ángel Maté (Cofidis) regressou às fugas para reforçar a liderança da montanha, Alejandro Valverde (Movistar) tem a camisola do prémio combinado e a Astana é a primeira entre as equipas.



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