1 de setembro de 2018

Movistar prepara ataque à liderança. Mas com quem?

(Fotografia: © PhotoGomezSport/La Vuelta)
Nem sequer estava a pensar em ganhar a etapa. Alejandro Valverde só queria estar bem colocado e evitar perder tempo, no dia que antecedeu o primeiro que irá demonstrar quem está de facto na luta pela camisola vermelha. Pelo rádio, recebeu instruções para que tentasse a segunda vitória de etapa. O staff que tinha chegado mais cedo à meta tinha explicado ao director desportivo que o final era mais difícil do que o esperado e ao jeito do espanhol. E lá foi Valverde. Nem Peter Sagan (Bora-Hansgrohe) lhe fez frente - foi outra vez segundo -, vendo o veterano ciclista ultrapassá-lo para vencer com autoridade. Duas vitórias de etapa na primeira semana para Valverde e com Nairo Quintana a evitar problemas de maior, a Movistar tem os seus dois líderes preparados para atacar a liderança.

Valverde bonificou 10 segundos e ficou a 37 de Rudy Molard. Quintana está a 1:14, mas a etapa de La Covatilla está marcada na sua agenda desde que foi anunciado que ia à Vuelta. É ao seu jeito e nem o próprio esconde que terá um importante teste pela frente, que tem "de passar com boa nota", como afirmou à rádio COPE. Mas por Espanha olha-se para Valverde. Afinal, é algo natural querer que um "ciclista da casa" vença a corrida. Porém, o Bala, como é conhecido, não se compromete com nada, apenas com um simples "vamos ver". "Amanhã [domingo] se verá o que poderá acontecer no resto da Vuelta. O Nairo encontra-se muito bem e um ou outro - oxalá estejamos os dois - vamos tentar estar ali [na disputa pela vitória]. A partir da Covatilla vamos começar a ver se nos centramos exclusivamente no Nairo ou se sigo por ali", salientou Valverde. E depois de duas vitórias de etapas, o ciclista de 38 anos acrescentou: "Tensão... nenhuma. Estou muito, muito tranquilo."

Esta postura do ciclista da Movistar deixa os espanhóis ainda mais entusiasmados. Valverde mostra-se calmo, confiante e está claramente em boa forma. Questionado porque não estava assim no Tour, Valverde respondeu que a diferença "é a cabeça, que está mais relaxada". É na Vuelta que se sente melhor. Até o actual líder, o francês Rudy Molard (Groupama-FDJ) aposta no espanhol para que na Covatilla apareça novamente ao seu melhor e lhe tire a camisola vermelha. Ainda assim, ficou o aviso de quem está a viver um momento que não esperava: "Vou tentar defendê-la."

Valverde assegurou que a equipa vai trabalhar tanto para ele, como para Quintana. Um tem um instinto matador que poucos se podem gabar no pelotão, o outro é um dos melhores trepadores, mas tem se deixado apagar com uma atitude defensiva, que o levaram a tornar-se num ciclista que se acreditava que venceria várias grandes voltas, em um que se desconfia que possa estar no topo quando a concorrência é forte.

A Covatilla vai colocar os homens da geral no seu lugar. É proibido falhar. A Movistar parte como favorita para ocupar a posição esperada de liderança, perante o forte bloco que tem, mas Simon Yates (Mitchelton-Scott) tem deixado indicações que está ao nível das duas primeiras semanas do Giro, durante as quais foi líder e de longe, o mais forte. Ion Izagirre (Bahrain-Merida) terá a oportunidade de dizer aos espanhóis que não precisam de olhar apenas para Valverde, ainda que a admiração por Bala vá além de querer uma vitória espanhola na Vuelta. Valverde é o ídolo máximo no país, sozinho, agora que Alberto Contador saiu de cena.

Emanuel Buchmann está a ter uma oportunidade de ouro de mostrar à Bora-Hansgrohe que podem contar com ele para as três semanas. Está a 48 segundos de Molard, Yates a 51 e Izagirre a 1:11 minutos. Tony Gallopin (AG2R) disse que queria lutar pela geral depois de vencer uma etapa. São 59 segundos para o compatriota e vamos perceber se está mais forte na alta montanha, que não era a sua especialidade.

O lote de candidatos a menos de dois minutos é grande, mas há um que foi dos azarados dos últimos dias e está a 2:50 minutos. Wilco Kelderman (Sunweb) tem de começar a recuperar tempo se quer chegar pelo menos ao pódio. A Vuelta ainda é longa e com muita montanha, mas há que não desperdiçar dias como o deste domingo.

Nona etapa: Talavera de la Reina - La Covatilla, 200,8 quilómetros


A segunda tirada mais longa da Vuelta tem uma primeira categoria para começar, seguida de uma terceira, uma segunda, depois muito sobe e desce até que o pelotão, provavelmente já algo reduzido nesta fase, chegará aos 9,8 quilómetros finais. La Covatilla (imagem em baixo) fica na província de Salamanca e a pendente média de 7,1% não é mais elevada porque a fase final passa de 11% para terminar abaixo dos 2%. Durante a subida também haverá umas curtas zonas de descanso. A pendente máxima será de 12%, sensivelmente ao segundo quilómetro.



Mas vamos recuar à primeira categoria: Puerto del Pico. É mais extensa, 15,3 quilómetros, mas menos dura, 5,5% de pendente média. No entanto, tem um quilómetro e meio final muito interessante, a 10% e 15%. É nestes momentos que se pensa em Contador e como seria ciclista para tentar um ataque de longe. Talvez sendo ainda tão cedo na Vuelta, mesmo El Pistolero tivesse mais calma, afinal é uma etapa muito longa e mesmo que na segunda-feira seja possível descansar, dificilmente se verão loucuras. Mas na La Covatilla espera-se muita acção.

Relativamente à classificação, tudo na mesma depois da oitava etapa entre Linares e Almadén (195,1 quilómetros). O único destaque foi para o reforço da liderança de Valverde nos pontos e no combinado. Molard (geral), Luis Ángel Maté (montanha) e Astana (equipas) lideraram antes de um dos dias mais esperados na Vuelta.

Entre os portugueses, Tiago Machado esteve na fuga do dia, mas apesar de ter sido aquele mais mais insistiu quando o pelotão se aproximava, o prémio da combatividade foi para um dos companheiros espanhóis de ocasião, Jorge Cubero (Burgos-BH).

O ciclista da Katusha-Alpecin foi apanhado a cerca de cinco quilómetros da meta e imediatamente desligou-se da corrida e iniciou a sua recuperação. Chegou a 6:44 minutos de Valverde. José Mendes (Burgos-BH) perdeu 1:38 minutos, Nelson Oliveira 1:53 - este domingo será um dia de muito trabalho na ajuda a Quintana e Valverde -, enquanto José Gonçalves ficou a 5:25.

Pode ver aqui as classificações completas.

A oitava etapa ficou ainda marcada pelo primeiro abandono. O companheiro de Gonçalves e Machado, o holandês Maurits Lammertink nem partiu devido a dores abdominais que o estavam a afectar há uns dias. A equipa até tentou brincar um pouco com a situação, garantindo que não foi devido ao bolo de aniversário. Lammertink celebrou na sexta-feira 28 anos. Desde 1996 que não se via nas grandes voltas um primeiro abandono acontecer tão tarde.

»»Pelotão furioso com condições da estrada««

»»A tentativa de redenção de Nacer Bouhanni««

Sem comentários:

Enviar um comentário