7 de agosto de 2017

"Não se ganha a Volta na Senhora da Graça, mas com um dia mau pode-se ficar fora da decisão"

Chega cedo, chega a dia de semana e chega com os favoritos à espera de começarem a mostrar-se. Volta sem Senhora da Graça não é Volta. Pode não ser dos locais mais decisivos para determinar um vencedor, mas por lá já se perderam algumas Voltas. É precisamente para esse risco que alerta Sérgio Paulinho.

Sendo apenas a quarta etapa, ainda há muitas dificuldades noutras tiradas que poderão ter um factor de desequilíbrio maior. Porém, o Monte Farinha não é para ser feito a pensar noutros dias. Os seus 8,5 quilómetros são de uma pendente entre os 7 e 9%, mas mais perto do final, estão 10,5% à espera dos ciclistas. Ser a dia de semana deixou muitos adeptos desiludidos, pois nem todos estão de férias em Agosto. É afinal uma tradição para muitas pessoas daquela zona do país (e não só) irem ver o pelotão passar, passando o dia (às vezes até estão lá antes) com os piqueniques, um pouco de álcool, muita festa e, claro, há quem aproveite para experimentar subir até à Senhora da Graça de bicicleta.

Se ser a uma terça-feira vai prejudicar a etapa a nível de público, logo se verá, contudo, para os ciclistas a responsabilidade é a mesma de sempre. "Não se ganha a Volta na Senhora da Graça, mas com um dia mau pode-se ficar fora da decisão", salientou Sérgio Paulinho ao Volta ao Ciclismo. O líder da Efapel admite que há muito que não passa pela icónica subida, que só por uma vez não fez parte do percurso da Volta a Portugal, em 1983, desde que se estreou na edição de 1978. De regresso a Portugal depois de 12 temporadas no estrangeiro, Paulinho vai viver novamente a emoção de estar numa subida talvez com o melhor ambiente a nível de pessoas a apoiar. Esteve nas três grandes voltas e noutras corridas importantes, mas será diferente enfrentar um ambiente destes como líder. "Com o público a torcer por ti, dá muito mais motivação e orgulho. Tanto eu como os outros ciclistas do pelotão nacional estamos ansiosos porque é uma etapa espectacular e mítica da Volta a Portugal", referiu.

Sérgio Paulinho está a ter um arranque de Volta a Portugal dentro das expectativas. Fez um bom prólogo e está no top dez (ocupa a sexta posição, a 20 segundos do líder Raúl Alárcon). Esta segunda-feira, a subida à Serra de Bornes (segunda categoria) e algum calor provocaram um natural desgaste, pelo que a Senhora da Graça será um teste ainda maior. Foi um gregário de luxo e esteve ao lado de Alberto Contador em algumas das principais vitórias do espanhol. Agora é um líder numa Efapel que procura regressar aos triunfos da Volta, depois de David Blanco o ter feito em 2012. "Acho que estou preparado para ser um líder. Durante a época demonstrei isso mesmo, estando quase em todas as corridas junto dos melhores. Por isso, sinto-me preparado para liderar a Efapel nesta Volta a Portugal", salientou. No dia em que Contador anunciou a carreira, Paulinho considera que o ciclismo ficará a perder.

Foram meses de intenso trabalho com a preocupação de a nível físico garantir que poderá estar sempre a um ritmo elevado, já que agora não há mais o objectivo de trabalhar uma parte da etapa e depois poupar-se para os dias seguintes. Também houve uma preocupação a nível psicológico, com Sérgio Paulinho a realçar a importância do director desportivo, Américo Silva, e dos restantes colegas para que esteja agora preparado para lutar pela Volta.

O facto de ter estado tantos anos afastado de Portugal, este regresso à Volta provoca sempre algum nervosismo, mas nada que o perturbe. Olha para a W52-FC Porto como a formação que é a principal rival, mas a Efapel dá-lhe garantias: "A equipa é bastante boa, tanto para a parte plana, como para a montanha. Estamos bastante moralizados e focados nisso. Acho que tirando a W52-FC Porto, podemos equiparar-nos às restantes equipas do pelotão."

Quanto ao percurso, Sérgio Paulinho considerou que todas as etapas têm motivos para preocupação. Ainda assim, admitiu que não ter uma chegada à Torre é algo que lhe é favorável. "Mas há outras etapas complicadas, como a Senhora da Graça ou a Senhora da Assunção. E pelo que temos visto noutros anos, às vezes nem é preciso a chegada à Torre para se fazer uma diferença", afirmou.

Os principais candidatos à vitória estão quase todos acima dos 30 anos, excepção feita a Vicente García de Mateos (Louletano-Hospital de Loulé) que tem 28. Sérgio Paulinho considera que a forma como se corre em Portugal acaba por provocar dificuldades aos mais novos, até que consigam adaptar-se. "Quase ninguém controla uma etapa. É sempre ao ataque. No estrangeiro estava habituado a fazer os primeiros 50/60 quilómetros até se formar a fuga e não de em três/quatro dias se estar sempre ao ataque, da partida à chegada", referiu. Apesar dos sub-23 fazerem quase todas as corridas durante o ano com a elite, Paulinho considera que quando chega o momento de fazerem a Volta, há sempre uma dificuldade por parte dos mais novos. Ou seja, a experiência é algo importante numa corrida como a chamada Grandíssima.



Edgar Pinto de fora, Armée de Terre soma segunda vitória

A Volta a Portugal perdeu um dos seus candidatos. Edgar Pinto foi um dos envolvidos na queda perto da meta em Castelo Branco. Foi para o hospital e tem vários ferimentos, desde o rosto ao joelho direito, passando pela zona do abdómen. Teve de ser operado e hoje naturalmente que não partiu para a terceira etapa. É uma grande perda para a LA Alumínios-Metalusa-BlackJack, já que Edgar Pinto estava a realizar uma excelente temporada, neste seu regresso depois de dois anos no Dubai. A responsabilidade de liderar a equipa pertence agora a César Fonte, que é 11º classificado, a 34 segundos de Raúl Alarcon. João Matias recuperou a camisola da montanha para a formação. Uma boa resposta para o infortúnio que atingiu a equipa.

Rafael Silva (Efapel) foi outro dos ciclistas afectados. Teve de receber vários pontos, mas ainda assim continua em prova, com o director Américo Silva a acreditar que caso consiga passar a Senhora da Graça a tendência será para melhorar e conseguir desempenhar novamente em pleno o papel que trouxe para a Volta: ajudar Sérgio Paulinho e estar presentes nos sprints tanto para Daniel Mestre, ou mesmo para ele tentar ganhar.

(Fotografia: Podium/Volta a Portugal)
Quanto à etapa que ligou Figueira de Castelo Rodrigo a Bragança (162,1 quilómetros), apesar de uma subida de segunda categoria na Serra de Bornes, acabou por ser disputada ao sprint, com a vitória a ir para o francês Bryan Alaphilippe. Sim, o nome não engana, é mesmo o irmão mais novo de Julian Alaphilippe, da Quick-Step Floors. Tem 21 anos, é um sprinter com capacidade também para as corridas de um dia.

Muito feliz pelo resultado, Alaphilippe salientou que ganhar em Bragança foi um bónus para a equipa da Armée de Terre. Depois de cumprido o objectivo de ganhar o prólogo e vestir a amarela com Damien Gaudin, tudo o que venha a mais será fenomenal para a formação francesa. O jovem ciclista admitiu que vão continuar à procura de vencer etapas.

Na geral, tudo na mesma na frente. Raúl Alárcon (w52-FC Porto) lidera com seis segundos de vantagem sobre Alejandro Marque (Sporting-Tavira). Do primeiro ao 21º classificado são menos de 60 segundos que separam os ciclistas. A Senhora da Graça deverá fazer uma selecção mais definida.

Veja aqui os resultados da terceira etapa e as classificações.

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