19 de agosto de 2017

Candidatos já estão a fazer contas: Froome é quem mais sorri neste arranque da Vuelta

(Fotografia: Facebook La Vuelta)
Em 13,7 quilómetros foram feitos mais estragos do que se poderia pensar numa Vuelta que ainda agora começou. Com tanta montanha pela frente - e a maioria das etapas tem alguma dificuldade com potencial para dar muita dor de cabeça (ou de pernas) - não é altura para desesperar, mas já há tácticas a terem de ser construídas com base no tempo perdido no contra-relógio colectivo deste sábado. A BMC venceu e Rohan Dennis é o primeiro camisola vermelha, mas o grande vencedor - a pensar em longo prazo - foi Chris Froome, que já tem vantagem sobre todos aqueles considerados os principais rivais.

A partir destas diferenças, analisemos então os candidatos desta Volta a Espanha, que será inevitavelmente acompanhada pela frase "a despedida de Alberto Contador".

Chris Froome (Sky): É o favorito número um e todos querem saber se os momentos de fraqueza no Tour são um sinal que o britânico está a entrar numa fase descendente da carreira, ou se foram isso apenas isso, momentos de fraqueza, que todos os ciclistas têm. A Vuelta é um objectivo e já lhe chegam segundos lugares (três). Não terá Mikel Landa, mas terá um Wout Poels que passou boa parte do ano a recuperar de um problema físico e surge agora em aparente boa forma. A Sky fez o quarto tempo, mas são as formações que ficaram atrás que têm os homens que podem causar mais problemas.

Vincenzo Nibali (Bahrain-Merida): 22 segundos perdidos para Froome. O italiano trouxe contigo os homens em quem mais confia e até o britânico o vê como um dos rivais que pode causar mais problemas. Depois do terceiro lugar no Giro, Nibali só esteve nos Nacionais e na Volta à Polónia. Ou seja, não tem muita competição, mas tal não deverá ser problema dada a sua experiência. Aparece em Espanha (neste caso em França, Nîmes, onde começou a corrida) bastante fresco e com a responsabilidade de salvar uma temporada de estreia algo apagada para um equipa que fez um investimento tão grande. Nibali conquistou a Vuelta em 2010.

Fabio Aru (Astana): Fala-se muito de uma possível transferência para a UAE Team Emirates ou Trek-Segafredo. Aru está, para já, concentrado na Vuelta, mas já tem 32 segundos para recuperar para Froome. O campeão italiano esteve bem no Tour até que um problema de saúde o limitou na última semana. Diz não ter nada a perder nesta corrida, que venceu em 2015. Tem certamente tudo a ganhar, principalmente se estiver em fase de negociações e se confirmar que procura um substancial aumento de ordenado. Talento não lhe falta e se estiver bem fisicamente, esta Vuelta assenta-lhe bem e o tempo perdido poderá não ser grave.

Romain Bardet (AG2R): Será que continua com a ideia de não treinar mais o contra-relógio? No Tour quase perdeu o pódio por ser tão vulnerável nesta vertente e em quase 14 quilómetros perdeu 37 segundos. Este sábado teve a ajuda da equipa. Com um esforço individual de 40 por enfrentar nesta corrida, ou Bardet está fantástico nas montanhas e ganha muito tempo, ou arrisca a desta vez nem no pódio ficar.

Rafal Majka (Bora-Hansgrohe): Há alguma curiosidade para ver este polaco em acção. A equipa alemã traz um conjunto interessante para o apoiar na montanha. A participação no Tour foi encurtada devido a uma queda que o deixou bastante mal tratado, mas Majka dá indicações de aparecer bem na Vuelta. Pode não estar numa primeira linha de candidatos à vitória, mas o ciclista de 27 anos está naquele ponto que falta só o chamado clique para dar o passo para se tornar definitivamente um caso sério de voltista. Foi terceiro na Vuelta em 2015, que tal como Aru, deve gostar deste percurso. E não começou mal, perdendo apenas 12 segundos para Froome.

Ilnur Zakarin (Katusha-Alpecin): O Giro foi bom, mas ainda não como o russo quereria. "Saltou" o Tour para tentar aparecer na Vuelta de forma a disputar a corrida. À equipa não faltam ciclistas experientes, mas a questão é se numa prova com montanha atrás de montanha, terão capacidade para estar o máximo de tempo possível com o seu líder dia após dia. José Gonçalves será importante para o terreno mais plano e média montanha e que bem cumpriu o seu papel no Giro, mas Losada, Belkov e Taaramäe têm de estar no seu melhor se o russo quer de facto estar na luta até final. É daqueles ciclistas que sozinho faz muito, mas nesta Vuelta, uma equipa pode fazer muita diferença, ao contrário do que aconteceu no Giro, por exemplo. Perdeu 24 segundos para Froome.

Johan Esteban Chaves/Adam e Simon Yates (Orica-Scott): Se há equipa com esperança de sair da Vuelta com um bom resultado é a australiana. Basicamente trouxe as armas todas para a geral. Há um ano ficou no pódio com Chaves, mas o colombiano teve um problema no joelho que o limitou grande parte de 2017. Esteve apagado no Tour, a pensar em ganhar forma para a Volta a Espanha. Diz que não se sente ainda no seu melhor. Bluff? A Orica-Scott pode fazer esse jogo, pois tem ainda os gémeos Yates para lançar, principalmente Adam que não fez o Tour e está mais fresco. Com tantas hipóteses, daqui poderão partir algumas das mexidas nas etapas de montanha.

Alberto Contador (Trek-Segafredo): É a despedida (cá está a referência) e o espanhol não partiu com ilusões de ganhar a sua quarta Vuelta. Perdeu 26 segundos, o que não sendo catastrófico, não é muito bom tendo em conta que Contador não tem conseguido estar ao nível de Froome. Mas está no seu país, na sua corrida (prefere o Tour, mas em Espanha renasce sempre que as coisas não lhe correm bem em França), onde sempre nos mostra aquele Contador que faz muitos entrar em pânico. Esperemos que sim. Pelo menos que dê espectáculo e que lute pela etapa que fica sempre bem quando se está na corrida de despedida.

Estes são aqueles nomes que se destacam, mas há ainda Warren Barguil (que diz que não vem para a geral, mas para ganhar etapas) e Wilco Kelderman, ambos da Sunweb e que ficaram à frente de Froome, tal como David de la Cruz, Julian Alaphilippe e Bob Jungels (Quick-Step Floors), Rohan Dennis e vamos incluir Tejay van Garderen (BMC) apesar do americano já ser visto cada vez menos como um potencial candidato, nem mesmo como outsider, e Louis Meintjes (UAE Team Emirates), que perdeu 38 segundos para Froome.

Os portugueses: Rui Costa acabou por ser um dos destaques, mas não por "culpa" própria. Logo nos primeiros metros do contra-relógio dois dos seus colegas caíram. John Darwin Atapuma e Federico Zurlo perderam quase três minutos. Caso mais grave para o colombiano que fica praticamente de fora de um potencial top dez, mas com caminho aberto para lutar por etapas. Rui Costa chegou com Meintjes. Nelson Oliveira bem tentou puxar por uma Movistar orfã de líder. Foram 24 segundos perdidos para a BMC, mas também uma queda marcou a equipa: Jorge Arcas cortou a meta em último, a mais de quatro minutos do líder. José Gonçalves já está em gestão de esforço e perdeu 2:06, Rafael Reis foi importante no trabalho da Caja Rural que ainda assim ficou a 56 segundos da BMC. Para terminar, Ricardo Vilela foi o primeiro português a partir e a Manzana Postobón ficou a 53 segundos. A Cofidis foi a pior equipa do contra-relógio, a 57 segundos da BMC.

Veja aqui as classificações da primeira etapa.


A etapa deste domingo é a única plana, o que até parece estranho para a Vuelta. Na segunda-feira a corrida vai deixar França e entrar no país natal e o terreno começa a subir.


Resumen - Etapa 1 - La Vuelta 2017 por la_vuelta


»»Froome na Vuelta: a gestão perfeita da forma física ou o início do declínio?««

»»Mais um caso de doping antes de uma grande volta: Samuel Sánchez testa positivo««

Sem comentários:

Enviar um comentário