16 de agosto de 2017

"Os meus colegas foram uma fonte de inspiração. Se não meti o pé no chão foi por causa deles"

Quando se fala de ciclistas combativos na Volta a Portugal, Rafael Silva tem de ser um deles. Não andou na luta por etapas e a muito custo conseguiu ajudar os colegas. Porém, para quem ao terceiro dia sofreu uma grave queda, levando 17 pontos (14 nas costas e três no braço) e ainda teve de lidar com hematomas num joelho, terminar uma corrida como a chamada Grandíssima foi uma missão de esforço, dedicação e principalmente de superação que irá marcar a carreira do corredor da Efapel.

No final do contra-relógio Rafael Silva apareceu sorridente. Tinha chegado ao fim um momento muito complicado da sua carreira. Também ajudava ter acabo de tirar os pontos! No entanto, foi difícil esconder alguma desilusão por não ter sido possível ajudar a sua equipa como queria. Rafael Silva admitiu que ao acabar a Volta percebe como os seres humanos não têm limites. "Nós é que estabelecemos esses limites", salientou ao Volta ao Ciclismo. O ciclista recordou aquelas horas que se seguiram à queda em Castelo Branco, na segunda etapa: "À noite mal conseguia andar. Não conseguia comer, tiveram de cortar a carne e tiveram de me levar em ombros nas escadas... Pensei que era impossível terminar a etapa no dia seguinte."

Rafael Silva disse em tom de desabafo que nem sabe como é que terminou a Volta a Portugal, mas sabe bem a quem tem de agradecer. "Foram os meus colegas que me deram força mental. Tiveram conversas comigo que jamais esquecerei. Eles foram a minha maior motivação", confessou. Só de pensar nas palavras que ouviu emociona-se, nem conseguindo repeti-las: "Foram uma fonte de inspiração. Se não meti o pé no chão foi por causa deles, do director [Américo Silva], da minha família e amigos."

"Passou-me muitas coisas pela cabeça porque o que me custava mais era o início das etapas. Eu descolava e ficava praticamente sozinho"

Dois dias depois da queda que afectou vários ciclistas, mas que deixou Rafael Silva e Edgar Pinto com os piores ferimentos - o líder da LA Alumínios-Metalusa-BlackJack abandonou a corrida na sequência do incidente -, o corredor da Efapel viveu momentos muito difíceis e que foram um autêntico teste à sua resistência como atleta e ser humano. "Passou-me muitas coisas pela cabeça porque o que me custava mais era o início das etapas. Eu descolava e ficava praticamente sozinho, às vezes ainda conseguia encostar, mas foram os meus colegas que me deram a força mental que precisava", contou.

Rafael Silva (26 anos) acredita que a nível psicológico a experiência que viveu o poderá tornar um ciclista mais forte. "O que não nos mata, torna-nos mais fortes. Espero voltar daqui a um ano na mesma condição [física]" referiu o ciclista, que diz ter começado a Volta a Portugal numa das melhores formas da carreira. Considera ter ficado limitado em 80% das suas capacidades, lamentando que talvez por essa razão Daniel Mestre não tenha ganho uma ou duas etapas, pois deveria ter sido o seu lançador. Ainda assim, ficou satisfeito por nos últimos dias já ter sido capaz de dar uma ajuda à equipa.

Poder-se-ia pensar que o ciclista quereria agora descansar e recuperar por completo. Mas não. Se o joelho o permitir - é onde tem mais dores - quer estar presente nos circuitos que marcam o final de temporada no país e talvez nos Campeonatos da Europa de pista, em Outubro. "Tudo depende da condição física e psicológica. Esta Volta a Portugal desgastou-me muito e vamos ver se consigo sofrer mais em treinos e corridas. Também depende do que o seleccionador quiser, mas se ele tiver uma palavra, se calhar não consigo dizer que não", frisou.

Esta foi uma Volta a Portugal que Rafael Silva não irá esquecer: "Sinto-me orgulhoso de mim mesmo por ter demonstrado ter tanto espírito de sacrifício."


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