29 de agosto de 2017

A vitória espanhola que nunca mais chega

Rojas bem tentou, mas foi mais um espanhol a não conseguir ganhar nesta Vuelta
(Fotografia: Unipublic/Photogomez Sport)
Em Espanha desespera-se. Já não bastava Alberto Contador estar de despedida, Alejandro Valverde se ter lesionado e Movistar não estar a ser uma equipa competitiva numa perspectiva de luta pela geral, os dias passam e não há uma vitória espanhola a registar. A desconfiança para com a nova geração é grande e está a aumentar. Tem qualidade, mas como os grandes resultados demoram a chegar, é quase em pânico que se fala na saída das grandes referências dos últimos anos do ciclismo espanhola e que tanto sucesso deram ao país. Esta terça-feira foi de novo uma grande frustração. José Joaquín Rojas parecia ter feito o trabalho perfeito, mas no final lá foi mais uma vitória para a Quick-Step Floors.

Por Espanha vive-se um ambiente muito idêntico ao do Giro. Na 100ª edição, os italianos só conseguiram uma vitória na 16ª etapa, por intermédio de Vincenzo Nibali. A crise que se vive em Itália - nem equipa tem no principal escalão, por exemplo - é bem maior e preocupante do que a espanhola, que nem se pode chamar crise, apenas alguma (senão muita) falta de confiança nos talentos que podem muito bem despontar a qualquer momento, quem sabe ainda nesta Vuelta. Mas percebe-se a preocupação. Se em Itália se tem verificado de ano para ano uma perda de poderio de uma das nações de referência do ciclismo, já em Espanha há muito que não se sentia esta incerteza.

Recuando aos anos 90, quando um senhor Miguel Indurain dominou a Tour - mas nunca ganhou a Vuelta - a sucessão pode não ter sido fácil, principalmente no que diz respeito à corrida francesa. Contudo, competição espanhola houve sempre um ciclista da casa a mostrar-se e a ganhar. Abraham Olano, Roberto Heras, Aitor Gonzalez, Luis Angel Casero e depois os ainda em actividade Alberto Contador e Alejandro Valverde foram conquistando a Vuelta, tendo-se de juntar à lista um surpreendente Juan Jose Cobo, que venceu em 2011, foi para a Movistar e praticamente desapareceu. E a referência é apenas àqueles que ganharam a corrida, pois houve outros que também iam vencendo etapas.

Um deles foi Joaquim Rodríguez que terminou a carreira no ano passado. Contador segue o exemplo este ano, Valverde ainda vai ficar mais uns anos, apesar de ser o mais velho deste trio. As renovações de gerações têm sempre de acontecer, umas vezes acontecem mais rápido que outras. Marc Soler, David de la Cruz, Ruben Fernández, Jaime Rosón são jovens ciclistas de qualidade, mas ainda a procurar o seu espaço e a sua consistência nos resultados. A pressão começa a ser crescer e não ajudou o anúncio de retirada de Contador. Agora é que se quer um novo campeão e já. Também não ajuda ninguém ganhar na Vuelta, o que apenas alimenta o falatório. O próprio Contador tentou, Soler também, Juan José Lobato procurou surpreender e esta terça-feira, na 10ª etapa, foi a fez de Rojas esforçar-se para depois ver Matteo Trentin ganhar, como tinha acontecido a Lobato. Curiosamente foram dois ciclistas experientes que estiveram mais perto. Mais uma razão para a pressão aumentar nos mais novos.

Enquanto Chris Froome vai controlando a sua liderança, com o passar dos dias vai-se falando de mais uma etapa sem um vencedor espanhol, crescendo também a sensação que terá de ser mesmo Contador a dar o tal último disparo que tanto deseja para um final feliz de carreira e assim dar um triunfo espanhola à Vuelta.

Arrancou a segunda semana na corrida e muito se irá falar de uma Movistar irreconhecível, apesar de ter ciclistas de qualidade até que eventualmente algum espanhol ganhe. A estes talentosos ciclistas falta-lhes a experiência que estão a acumular com o passar dos dias. Terão de saber lidar com a impaciência dos media e de alguns adeptos. Terão de saber lidar com a pressão. Se o fizerem, não só podem de facto ganhar, como ganharão a tal experiência que num futuro próximo os poderá colocar no topo de uma nova geração que Itália, por exemplo, gostaria de ter.

E por falar de italianos, só ganharam uma etapa no Giro, mas já vão em três na Vuelta, por intermédio de Vincenzo Nibali e Matteo Trentin. Este último repete um triunfo e aumenta para quatro os da Quick-Step Floors na Volta a Espanha e para 14 em grandes voltas em 2017 (cinco no Giro, mais cinco no Tour)!


Na geral, o destaque vai para os 29 segundos que Nicholas Roche (BMC) ganhou a Froome. O irlandês está empatado com Johan Esteban Chaves (Orica-Scott), a 36 segundos do britânico da Sky. Nibali ainda atacou na subida de primeira categoria, mas foi apanhado. Roche afastou-se, com Froome a dizer que preferiu manter-se seguro com a equipa durante a descida final, num dia chuvoso, estando a pensar mais na etapa de quarta-feira (gráfico em cima). A chegada é em alto e mesmo com as previsões de mais um dia molhado, poderá haver mais trabalho para Froome.

Serão duas subidas de primeira categoria consecutivas. O Alto de Velefique terá 13,2 quilómetros de extensão, com uma pendente média de 8,6%, enquanto a ascensão ao Observatório Astronómico de Calar Alto terá 15,5 quilómetros e 5,9% de pendente média.


Summary - Stage 10 - La Vuelta 2017 por la_vuelta


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