6 de agosto de 2017

Só a perspectiva de mudar de ares fez bem a Kristoff

A sua estadia na Katusha-Alpecin estava há vários meses com os dias contados. Alexander Kristoff passou ao lado das Clássicas da Primavera e da Volta a França os dois grandes objectivos do ano. Uma mudança de ares faz muitas vezes bem a alguns ciclistas e o norueguês parecia dar mostras de desejar ter uma, tal como a equipa. Porém, parece que não foi preciso mudar mesmo de ares, pois só a perspectiva de o fazer fez maravilhas ao ciclista. Em duas semanas venceu em Londres numa corrida do World Tour e agora é o novo campeão europeu, sucedendo a Peter Sagan. É certo que na Dinamarca não tiveram os principais sprinters, mas há que não retirar o mérito a um triunfo ao photofinish. A oportunidade estava lá. Se não tivesse ganho, dir-se-ia que nem assim conquista uma vitória, mas venceu e bateu um Elia Viviani que tinha toda uma selecção italiana a trabalhar só para ele (com Edvald Boasson Hagen, a Noruega tinha duas armas).

Kristoff está a um exame médico de assinar pela UAE Team Emirates. Vai ser colega de Rui Costa. Especulou-se um interesse da Astana, mas a equipa dos Emirados seduziu o noruguês que aos 30 anos procura reencontrar-se com as grandes vitórias que o tornaram num ciclista muito bem pago no pelotão. Mas a Milano-Sanremo (2014), a Volta a Flandres (2015) e as duas etapas no Tour (2014) parecem ter acontecido há tanto tempo... Kristoff foi-se apagando. Continua a ganhar e este ano soma oito, metade das conquistadas pela Katusha-Alpecin. O problema é não mostrar capacidade para se bater com os melhores e mesmo sem a concorrência destes, chegou a ser penoso ver como o norueguês não tinha as pernas necessárias para triunfar. Até o seu lançador acabou à sua frente numa etapa na Volta à Califórnia, por não conseguir ter a velocidade necessária para o ultrapassar.

Ganhar os Europeus não é razão para se achar que está de volta o grande Kristoff. Lá está, a concorrência não era assim tão forte. Porém, vestir uma camisola de campeão europeu pode muito bem ser aquele clique que o norueguês tanto procurava para recuperar uma confiança que anda pelas ruas da amargura, além de serem duas vitórias consecutivas, em duas semanas.

A vitória terá também o condão de mostrar à UAE Team Emirates que chegará à equipa com vontade de regressar às tais grandes vitórias. Mas claro da vontade à realidade vai um longo caminho. Kristoff tem os Mundiais como o próximo e último objectivo da temporada. Irá correr em casa. Será a oportunidade para mostrar se está de novo ao nível dos principais novos, se tem essa capacidade.

2018 será um ano muito importante para o ciclista. Se continuar a falhar quando defronta os grandes rivais, Kristoff (30 anos) poderá ver o seu crédito esgotar-se de vez.

Veja aqui os resultados da corrida de elite masculina nos Europeus.

Os portugueses

Tiago Machado foi o melhor representante nacional nos Europeus que se realizaram em Herning, na Dinamarca (241,2 quilómetros). Colega de Kristoff na Katusha-Alpecin, Machado foi 35º a 12 segundos do vencedor, depois de ter sido 11º no contra-relógio. José Mendes foi 69º, a 37 segundos, enquanto Rafael Reis abandonou. O vice-campeão nacional de contra-relógio foi 24º nesta especialidade.

Quanto a Ruben Guerreiro, apesar da expectativa de ver o campeão nacional de estrada mostrar-se nos Europeus, o ciclista continua a recuperar de uma gastroenterite que o obrigou a abandonar a Volta à Polónia e nem viajou para a Dinamarca.

Nos sub-23, Francisco Campos continuou com a sua excelente temporada. O campeão nacional do escalão foi o melhor português ao terminar na 14ª posição, enquanto Soraia Silva foi 21ª, a seis segundos da vencedora. No contra-relógio Gaspar Gonçalves terminou na 37ª posição, a 3:32 minutos. Em juniores, Pedro Teixeira foi o melhor no 38º lugar, entrando no grupo da frente e Maria Martins esteve excelente com o sétimo posto. No contra-relógio, Pedro Lopes fez o 38º tempo, a 3:36 minutos do vencedor.

De destacar Daniela Reis. A ciclista é a primeira portuguesa a chegar ao World Tour e já se vai notando, e bem, a evolução por estar constantemente ao lado das melhores do mundo. Daniela foi 22ª, a 15 segundos de Marianne Vos que discutiu a vitória com outras duas corredoras. Para Portugal é um excelente resultado no sector feminino, juntamente com o de Maria Martins. Vai sendo a prova que há potencial para também as senhoras mostrarem-se ao melhor nível.

Os campeões europeus

Elite estrada: Alexander Kristoff (Nor) e Marianne Vos (Hol)

Contra-relógio elite: Victor Campenaerts (Bel) e Ellen van Dijk (Hol)

Sub-23 estrada: Casper Pedersen e Pernille Mathiesen (Din)

Contra-relógio sub-23: Kasper Asgreen e Pernille Mathiesen (Din)

Juniores estrada: Michele Gazzoli (Ita) e Lorena Wiebes (Hol)

Contra-relógio juniores: Andreas Leknessund (Nor) e Elena Pirrone (Ita)

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