7 de agosto de 2017

Alberto Contador num adeus sem tristeza na Vuelta

(Fotografia: Facebook Trek-Segafredo)
Aquela imagem nos Campos Elísios em que se via Alberto Contador a dizer adeus provocou arrepios em muitos dos seguidores de Alberto Contador e, em geral, em todos os que gostam de ciclismo. Então falava-se de um adeus à Volta a França que o espanhol tanto tentou ganhar pela terceira vez, mas o destino nada quis com ele. Com a Trek-Segafredo a querer que o seu líder ficasse mais um ano, ainda que a pensar no Giro e na Vuelta, crescia ainda assim sensação que o fim de carreira de El Pistolero estava mesmo a chegar. Pensava-se que pelo menos haveria mais um ano para o ver. Contador antecipou esse adeus. O dia 10 de Setembro marcará o fim de uma era. No ciclismo irá passar-se a falar "quando Contador competia", passaremos a recordar os grandes momentos já sem esperança que possa haver mais algum. Alberto Contador vai acabar a carreira na Volta a Espanha, naquela que diz querer ser uma forma de o fazer sem tristezas.

É difícil admitir que não haja uma certa (provavelmente muita) tristeza por parte de quem viu durante 15 anos este ciclista evoluir até se tornar num dos melhores de sempre. Certamente que as emoções serão muitas quando no dia 19 de Agosto Contador começar a Vuelta. Tanto se esperava por uma corrida que contará com muitos dos intervenientes do Tour e Contador agora terá ainda mais atenção. Não fala em sair com uma vitória, apenas considera que foi na corrida do seu país que encontrou a melhor forma para a despedida aos 34 anos. "Digo isto de uma forma feliz, sem tristeza. Ponderei muito bem esta decisão e penso que não há melhor maneira de dizer adeus que não seja na corrida do meu país. Tenho a certeza que serão três semanas maravilhosas, a aproveitar todo o carinho e estou ansioso por começar", salientou Contador, num vídeo publicado nas redes sociais.

Esta despedida já esteve para acontecer no ano passado, mas a boa forma do ciclista e os alguns resultados interessantes fizeram com que voltasse atrás na decisão e assinou pela Trek-Segafredo na esperança de atacar em força a Volta a França, em busca da terceira vitória que chegou a alcançar em 2010, mas que lhe foi retirada por um caso de doping que ficou conhecido pelo "bife à Contador" (foi a justificação que deu, ou seja, um bife que estaria contaminado). Este foi um momento menos bonito de uma carreira que o coloca entre os grandes do ciclismo espanhol... Não, do ciclismo mundial: três Vueltas, dois Tours e dois Giros (também ficou sem um pela mesma situação do doping). Tem ainda dois Paris-Nice, um Tirreno-Adriatico e quatro Voltas ao País Basco, num total de 67 vitórias.

Mais do que os números, é o seu estilo que deixará marcas. Atacante, desestabilizador, com uma mudança de ritmo tremenda, capaz de deixar para trás o mais resistente dos ciclistas. Nem sempre resultou, mas ficou conhecido como El Pistolero não só pelo gesto que faz quando ganha, mas porque realmente quando disparava, era para fazer estragos. E será estranho não ver nas grandes voltas aquela forma de pedalar nas subidas, sempre de pé, sendo Contador o contrário do que é normal, ou seja, quando estava sentado era mau sinal!

Infelizmente tem sido notória a quebra física de Contador. Este ano, mais do que nunca. Apostou tudo no Tour e não foi além de um nono lugar, o pior desde que ganhou pela primeira vez em 2007. Ainda nem tem uma vitória. Perseguido pelas quedas - outro dos aspectos negativos que será difícil esquecer -, o espanhol viu fugirem nos últimos anos algumas oportunidades para chegar à tal terceira vitoria e França. Em 2017, mais do que as quedas, a confissão que psicologicamente estava afectado por estar novamente a sofrer do mesmo problema, deixaram em claro que o desgaste já era grande e que a recuperação psicológica, mais do que a física, estava a derrotar o ciclista.

Talvez seja mesmo o momento ideal. Talvez mais um ano poderia tornar-se numa espécie de arrastamento rumo ao inevitável e nenhum grande ciclista gosta de sair assim. Ganhe ou não a Vuelta, Contador pode não sair como um campeão da corrida, mas sairá a ser lembrado como o campeão que é.

Os grandes ciclistas fazem sempre falta, mas a despedida toca a todos e resta-nos agora aproveitar as últimas três semanas de Alberto Contador, para depois fazer-nos valer da memória para recordar como houve um ciclista que animava as corridas como poucos.




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