23 de agosto de 2017

De mal a pior. Degenkolb precisa rapidamente de uma grande vitória

(Fotografia: Facebook Trek-Segafredo)
Um ano que tudo aponta será para esquecer. Mais um para John Degenkolb. Os meses passam e o alemão não se reencontra com as vitórias. Desejava uma na Vuelta, onde já soma dez etapas, mas não. Degenkolb já foi para casa devido a uma bronquite e sobram-lhe apenas uns Mundiais para salvar uma temporada que o ciclista queria que fosse de regresso aos tempos em que era um temível homem de clássicas e perigoso sprinter. Queria que fosse o regresso aos tempos antes do acidente em Espanha.

A carreira de John Degenkolb está a ficar marcada pelo antes e depois daquele momento. Em Janeiro de 2016, durante o estágio na zona de Alicante, em Espanha, o alemão treinava com mais cinco colegas da então Giant-Alpecin (actual Sunweb) quando foram atropelados por uma cidadã britânica, que conduzia em contra-mão. Degenkolb quase perdeu um dedo. Só regressou em Maio, até venceu por duas vezes até ao final da época, mas o alemão precisava de uma mudança e optou por sair para a Trek-Segafredo, então à procura de um ciclista que ocupasse a vaga que Fabian Cancellara ia deixar com a sua retirada.

É preciso salientar que 2015 foi um ano fantástico para Degenkolb. O alemão venceu a Milano-Sanremo e o Paris-Roubaix. Na Volta a França andou nos sprints, mas as vitórias escaparam-lhe e na Vuelta conseguiu uma na etapa final, na chegada a Madrid. Aqueles dois triunfos, em dois monumentos, deram uma confiança tremenda ao alemão. Degenkolb tinha-se consagrado entre a elite mundial nas clássicas e só pensava em aumentar o seu currículo no ano seguinte. O acidente mudou tudo. A recuperação foi longa e mesmo ganhando na Artic Race (Noruega) e Sparkassen Münsterland (Alemanha), faltava-lhe alegria em correr. Psicologicamente era um Degenkolb longe daquele que em Janeiro acreditava ser possível alcançar o céu.

O convite da Trek-Segafredo era irresistível. Uma mudança de ares é por vezes a melhor solução e depois de cinco anos na mesma estrutura, Degenkolb procurou uma nova motivação. Substituir Cancellara não era uma missão fácil e ninguém lhe pediu para que fosse o novo Spartacus. Mas ter a possibilidade de ser o eleito para ocupar o lugar do suíço, é por si só uma honra e uma motivação que poderiam ser perfeitas para o alemão.

A época nem começou mal com uma vitória na Volta ao Dubai. Já nas clássicas começaram a surgir as desconfianças. Não que tenha sido uma má fase, pois terminou sempre no top dez, menos na E3 Harelbeke (13º). Porém, apesar de fazer boas corridas, nos momentos decisivos acabava por não estar na discussão da vitória. Substituir Cancellara fez com que Degenkolb ficasse numa posição ingrata, sujeito às comparações. Surgiram as dúvidas da escolha da Trek-Segafredo e não terá ajudado o moral do ciclista ouvir Dirk Demol, um dos directores desportivos, dizer que esperava mais e que os resultados não estavam a ser "suficientemente bons". Considerou que faltava "o instinto de matador" de Cancellara aos seus ciclistas. Nunca criticou directamente Degenkolb, até o elogiou, mas era impossível para o alemão não sentir-se como alvo, já que era ele o líder da equipa na maioria das clássicas.

Depois de terminar a fase do ano em que deveria ter brilhado, Degenkolb tornou-se uma sombra de si próprio. Na Volta a Califórnia tentou, mas o tal "instinto matador" não estava lá, nem na Suíça e muito menos na Volta a França. Restava-lhe uma Vuelta para recuperar prestígio, mas principalmente auto-confiança. Fisicamente o ciclista garante estar bem (tirando a bronquite), com o problema a começar a parecer ser mais a nível mental. Ciclistas como Degenkolb alimentam-se de vitórias, ainda mais quando tão novo ganhou dois monumentos do ciclismo. Na Alemanha só é ofuscado na popularidade por Marcel Kittel e Tony Martin. Contudo, no pelotão, vê-se agora remetido para uma segunda linha de candidatos quando se discute possíveis vencedores numa corrida que normalmente discutiria a vitória.

Degenkolb foi para casa para curar a bronquite e os médicos esperam que ainda compita em 2017. O alemão partilhou as palavras de circunstâncias de estar desiludido por sair da Vuelta, por não poder ajudar Alberto Contador na sua última corrida e só espera que o corpo agora recupere. Ele poderá ser o líder da selecção nos Mundiais de Bergen e a Trek-Segafredo estará desejosa de ver o seu ciclista sair da Noruega com uma vitória. O mal de Degenkolb só assim será curado. Tem 28 anos e o melhor da sua carreira pode ainda estar à sua frente, mas este tipo processo de recuperação psicológica é, por vezes, muito mais complicado do que a recuperação física.

Degenkolb desiludiu, Contador ainda mais. O segundo vai acabar a carreira, o alemão tem contrato até 2019 com a equipa americana. Não perdeu qualidade, mas já gera suspeição. Será aposta em 2018 independentemente do resultado nos Mundiais. A Trek-Segafredo sabe que tem de dar todas as condições de líder se quer ver o seu ciclista recuperar a confiança. Porém, o alemão sabe que não pode ter outro ano tão fraco a nível de triunfos. A concorrência ao seu estatuto é grande e ganhar dois monumentos é um crédito que pode estar a esgotar-se.

»»Resultados da Trek-Segafredo nas clássicas estão a desiludir e já se sente a falta de Cancellara««

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