Pode parecer difícil perceber como é que a Volta a Portugal continua a ser a grande prova do ciclismo nacional quando é a Volta ao Algarve que tem os ciclistas mais importantes a nível mundial. Sendo uma prova com 42 edições, a competição algarvia evoluiu para níveis que se calhar poucos acreditavam há alguns anos. No entanto, no ciclismo há algo que claramente continua a ser importante: a tradição. E essa, naturalmente que não falta na Volta a Portugal.
Ao se assistir in loco a etapas das duas voltas é óbvio que o que as une é a procura pelo convívio na berma da estrada. Porém, o ambiente que envolve as etapas é bastante distinto, ainda mais quando se trata de etapas em linha. Na Volta ao Algarve, o público mais velho procura a melhor posição para ver o pelotão passar, alguns trazem os petiscos e umas bebidas "refrescantes", enquanto o público mais novo, armado com o poderoso telemóvel, tudo faz para conseguir as fotografias dos grandes ídolos. E não se pense que os autógrafos passaram de moda. Não se podem colocar logo no Facebook, mas o papel e a caneta ainda se vêem nas mãos dos mais novos.
Já na Volta a Portugal, o público mais velho procura a melhor posição para ver o pelotão, discute as possibilidades de um português ganhar e fá-lo acompanhado, quase que obrigatoriamente, de petiscos e as tais bebidas "refrescantes". E este ano deverão certamente voltar as discussões clubísticas. O público mais novo, procura os jogos e brindes que alguns patrocinadores disponibilizam. Bom, os mais velhos também acabam por não resistir a levar uns brindes.
Por muito mais do que isto, a Volta a Portugal é de facto uma festa da primeira à última etapa e claro que se junta a vantagem de ser no verão, tempo de férias, tempo de muitos emigrantes que regressam ao país. O ciclismo torna-se uma desculpa para juntar família e amigos, esperar horas pela rápida passagem dos ciclistas, para depois conviver mais um pouco. Senhora da Graça e Serra da Estrela são a prova mais visível e mediática disso mesmo, mas todas as etapas têm a sua festa muito particular, imagem de um país que não esquece como o ciclismo já foi um dos desportos mais relevantes. E sim, todos gostariam que o pelotão fosse mais competitivo, mas isso são outras conversas. Para já o regresso do FC Porto e do Sporting já trarão de volta um pouco dos bons velhos tempos do ciclismo nacional, pelo menos para o tal ambiente da Volta.
À Volta ao Algarve falta-lhe um pouco deste lado festivo e tradicional - ainda que no Alto do Malhão foram muitos e muitos os que assistiram à subida - mas traz ao país um lado competitivo que durante o ano só se vê na televisão e para isso conta também ela com a vantagem temporal, ou seja, o mês de Fevereiro é perfeito para as grandes equipas prepararem a temporada. Caso para dizer que perante as diferenças, as duas provas como que se complementam, pois proporcionam o melhor do ciclismo a Portugal.
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