18 de agosto de 2017

Froome na Vuelta: a gestão perfeita da forma física ou o início do declínio?

(Fotografia: ASO/Pauline Ballet)
A Volta a Espanha ganhou um enorme estatuto nos últimos anos. Apostando num percurso maioritariamente de altos e baixos, deixou os sprinters de parte para chamar os trepadores que tanto querem ganhar uma grande volta. Com tão pouco tempo entre o final do Tour e o início da Vuelta, a organização soube atrair os grandes nomes que apostam na Volta a França como principal objectivo, mas que vêem a Vuelta como uma excelente oportunidade de garantir uma vitória se em terras gaulesas as coisas não correrem tão bem. Foi o que aconteceu com Nairo Quintana (2016) e Alberto Contador (2014). Para outros, como Fabio Aru, foi uma excelente forma de abrir a contagem em corridas de três semanas. Chris Froome está numa missão diferente. O britânico quer tornar-se no primeiro ciclista a fazer a dobradinha Tour/Vuelta desde que as competições se encontram na actual disposição do calendário. Diz não estar obcecado, mas já lá vão três segundos lugares e o do ano passado não foi fácil de digerir. Porém, 2017 marca a temporada em que Froome se tornou humano no Tour. O domínio não foi tão explícito e os rivais não lhe perderam o respeito, mas perderam o receio de verem um Froome e uma Sky como imbatíveis. Já não o são.

Foi precisamente na Vuelta de 2016 que a equipa britânica deu o primeiro sinal de fraqueza. Foi na 15ª etapa, que terminou em Aramón Formigal, um dia que ficará na história, quando Contador atacou levando com ele Quintana e outros ciclistas que deixaram não só Froome para trás, mas uma Sky que só não ficou quase toda fora da corrida porque a organização não quis ficar com um pelotão reduzido, já que foram muitos os que chegaram fora do tempo limite. O próprio Froome ficou embaraçado pela situação, considerando que a regra deveria ter sido respeitada. 

No recente Tour, a equipa não só não foi a toda poderosa Sky, como viu o seu líder fraquejar. Mikel Landa vestiu a pele de um Froome de 2012, ou seja do gregário que parece estar mais forte que o líder, mas cumpre o seu papel e garante a vitória esperada. Terminada a corrida, Froome confessou: "Escondi, mas passei por graves problemas." Na 12ª etapa, em Peyresourde, o britânico até surpreendeu os colegas. "Vou sempre recordar o olhar do Mikel Nieve", disse Froome, explicando que o espanhol não queria acreditar quando o seu líder não aguentou o ritmo. O ciclista afirmou ter-se sentido "vazio", explicando que soube muito bem qual foi o seu erro: alimentou-se mal nas etapas planas. Talvez tenha sido, mas os seus rivais perceberam que o britânico era afinal humano.

Porém, quando chegou o momento das decisões, Chris Froome mostrou-se melhor, ou seja, o plano de estar forte na última semana, na qual já tinha apanhado uns pequenos sustos, foi cumprido. Outra parte do plano passava por estar melhor na Vuelta. A partir deste sábado vamos saber se o ano mais apagado de Froome, até ao Tour, irá resultar num histórico para o ciclista de 32 anos, ou se é realmente o princípio de um declínio que toca a todos.

Que o diga Alberto Contador. Tanto trabalhou o espanhol para conquistar o seu terceiro Tour, depois de lhe ter sido retirada a vitória de 2010 devido a um caso de doping. Oleg Tinkov quis fazer do espanhol um herói vencendo o Giro e o Tour no mesmo ano. Contador fez uma Volta a Itália tremenda, venceu-a, mas no Tour não conseguiu estar ao melhor nível. No ano antes, 2014, tinha aparecido numa grande forma. Uma grave queda tirou-o da corrida, tendo o mesmo acontecido a Froome. Este ano, a Trek-Segafredo deu-lhe liberdade para gerir a temporada como quis, a pensar num assalto ao Tour. Já ficava a ideia que poderia ser o tudo ou nada. Foi o nada. Nem uma vitória de etapa. Aliás, nem há um triunfo pela equipa este ano. Falava-se que a Trek-Segafredo queria o ciclista em 2018, mas a pensar no Giro. Porém, o Tour expôs a difícil realidade de enfrentar para qualquer atleta: Contador já não tem a capacidade para estar ao nível dos melhores.

Surgiu então a decisão de terminar a carreira. Era suposto ter acontecido há um ano, mas então o espanhol vinha de vários triunfos que o motivaram. Agora escolheu sair quando ainda é visto como um grande ciclista, evitando que seja recordado pelo declínio. Ganhar a sua quarta Vuelta seria perfeito. Uma etapa já será um final feliz e claro que se espera que dê um último espectáculo ao estilo do El Pistolero.

A 72ª edição da Volta a Espanha começa este sábado na cidade francesa de Nîmes, com um contra-relógio por equipas de 13,1 quilómetros. Como tem sido hábito nesta corrida, os candidatos estão praticamente em todas as etapas a ser testados.





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