8 de setembro de 2017

Aí está o tão temido e brutal Angliru

(Fotografia: Mikel Ortega/Flickr)
Se há subida capaz de tirar o sorriso ao mais confiante dos ciclistas é o Angliru. Até os melhores dos trepadores o temem. Esta é apenas a sétima vez que faz parte da Volta a Espanha, mas foi o suficiente para ganhar fama como uma das subidas mais difíceis do ciclismo, com muitos a considerarem mesmo a pior. Este sábado é lá que se vai voltar a decidir uma Vuelta, depois de Juan Cobo o ter feito em 2011, então frente a um Bradley Wiggins, o rei da Sky naquela altura. O Angliru por si só é de tirar o sono a muitos, mas com as previsões a apontarem para a piores das versões da subida... Froome já o disse: "Vai ser brutal!" Contador diz que vai ser um dia de loucos. É um Angliru à chuva que espera pelo pelotão, a tal pior das versões. Mais do que apenas se pensar quem irá ganhar, fica-se também a pensar quem lhe irá resistir?

Aqui vai uma tentativa de explicar porque razão o Angliru é tão temido, ainda mais quando irá decidir uma grande volta que tem sido simplesmente espectacular! São 12,5 quilómetros de ascensão, a terminar uma curta etapa de 117,5 (com duas primeiras categorias "para aquecer"). A primeira metade do Angliru varia entre os 6 e 7%, mas tem logo uma fase a 22,5%. Chega a ter uma fase de descanso, mas quando começa a segunda metade... Cabanes-20%, Llagos-12,5%, Picones-18%, Cobayos-17%, Cueña les Cabres-23,6% e Aviru-20%. O final até é em ligeira descida, mas até lá se chegar será uma batalha de resistência. Aqui não há margem para erros. Um ataque mal feito e de primeiro passa-se rapidamente para uma desvantagem irrecuperável. Uma reacção demasiado tardia a um ataque e poderá já não haver tempo nem força para apanhar quem escapou. O Angliru está na categoria especial de montanhas que os ciclistas sabem que têm de aparecer no seu melhor.

A chuva aumenta em muito a dificuldade. Já houve ocasiões em que os carros nem poderem acompanhar os ciclistas até ao fim porque não conseguiam ter aderência. Um furo, uma avaria mecânica, um imprevisto seja ele qual for e recuperar torna-se numa missão impossível. A maioria dos ciclistas que está a lutar pela geral conhece este Angliru. Froome era um jovem aspirante a suceder a Wiggins quando por lá passou em 2011, ano em que começou a mostrar o seu talento. Foi segundo na geral, a 13 segundos de Cobo. A Sky tanto queria que Wiggins ganhasse que só demasiado tarde deu autorização a Froome para tentar bater Cobo. No Angliru, Froome acompanhou Wiggins até final, perdendo mais de um minuto. A história que entretanto o britânico escreveu no ciclismo é conhecida, mas falta-lhe a Vuelta. São três segundos lugares. "Chega!" Pensará Froome.

O líder da Sky tem 1:37 minutos de vantagem sobre Vincenzo Nibali. Entre os dois, é Froome quem se deu melhor com o Angliru. Não é uma subida que goste, pois aquelas rampas acima de 20% não são as suas preferidas. No entanto, sendo uma ascensão longa, assenta melhor nas suas características de alguém que gosta de impor um ritmo. O italiano da Bahrain-Merida não se importa de subidas longas, mas estas rampas têm sido a sua perdição em algumas ocasiões. A luta pela geral será em condições normais entre estes dois ciclistas, a não ser que o Angliru provoque alguma catástrofre o que nunca é de afastar dadas as dificuldades, não esquecendo que estamos em final de Vuelta, ou seja, muitos quilómetros e muitas subidas já ultrapassadas. Um desgaste físico enorme.

Porém, há um homem que até é provável que roube as atenções a Froome: Alberto Contador. O espanhol tem atacado sempre que pode desde que recuperou da doença que lhe tirou a hipótese de lutar pela Vuelta, na subida em Andorra. Rampas acima dos 20%, subidas longas... Há poucas subidas que não sejam adequadas para Contador. Era ele a mais recente coqueluche do ciclismo espanhol quando venceu no Angliru e ganhou ainda essa Vuelta. Se há candidato à vitória na etapa deste sábado, é Contador. E se Ilnur Zakarin (Katusha-Alpecin) e Wilco Kelderman (Sunweb) fraquejarem o mínimo que seja, o espanhol pode recuperar o pouco mais de um minuto de desvantagem que tem. Mais do que o terceiro lugar é difícil, mas a forma como tem estado a pedalar - ainda esta sexta-feira lá foi na última subida do dia, ainda que tenha sido apanhado depois na parte plana -, este Contador pode ser sinónimo de um derradeiro espectáculo. Um daqueles espectáculo que falaremos durante anos e anos!


Um pouco de história

O Angliru aparece na Volta a Espanha pela primeira vez em 1999, na sexta etapa, tendo o então ídolo espanhol José María Jiménez sido o vencedor. No ano seguinte foi o italiano Gilberto Simoni. Em 2002 foi Roberto Heras que também vestiu a camisola da liderança que não seguraria até final da Vuelta. Em 2008 foi Alberto Contador e 2011 o surpreendente Cobo, que fez a corrida da sua vida. A última vez que por lá se passou na Vuelta foi em 2013. Kenny Elissonde tinha apenas 22 anos quando ganhou, a vitória mais importante da carreira do actual ciclista da Sky, mas que então representava a FDJ.

Quanto a recordes, o ciclista mais rápido a subir o Angliru na Volta a Espanha foi Roberto Heras: 41:55 minutos, uma média de 18,3 quilómetros/hora. Segue-se Chris Horner, que não conseguiu ultrapassar Elissonde, mas ainda assim foi mais rápido na subida: 43:06 minutos. O americano - que em 2013 ganhou a Vuelta aos 41 anos - bateu por pouco a marca de Contador: 43:12.

De Gendt é o número 101º

No início desta Vuelta, Matteo Trentin tornou-se no 100º ciclista a conseguir vencer pelo menos uma etapa nas três grandes voltas. Esse era também o objectivo do belga Thomas de Gendt. É o senhor fugas. O rei, mesmo. Ele que já venceu no Stelvio (2012) e no Mont Ventoux (2016), conseguiu em Gijon o seu grande objectivo do ano e um da sua carreira.

Foi ao sprint que De Gendt conquistou a etapa depois de uma fuga que o pelotão chegou a deixar ter quase 18 minutos de vantagem. Bateu Jarlinson Pantano (Trek-Segafredo) e jovem espanhol Ivan García Cortina (Bahrain-Merida), que aos 21 anos tentou ganhar em casa - é de Gijon -, mas acabou por ficar em terceiro.

Para os portugueses foi mais um dia de sofrimento, na perspectiva de pensar: será desta? Rui Costa (UAE Team Emirates) esteve na fuga, trabalhou muito, mas não conseguiu discutir o sprint como queria. Terminou em quarto, mas foram boas as indicações que deixou, numa altura em que irá começar a pensar nos Mundiais... depois de sobreviver ao Angliru, claro!

Veja aqui as classificações.


Summary - Stage 19 - La Vuelta 2017 por la_vuelta


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