(Fotografia: © ASO/Bruno Bade) |
Em 2016, Steven Kruijswijk quase conseguiu dar uma inesperada vitória numa grande volta. Uma queda e Vincenzo Nibali tiraram-lhe o Giro. Escapou um triunfo na geral de uma grande volta que não acontece desde que Denis Menchov ganhou a Vuelta e o Giro, em 2007 e 2009, respectivamente. Kruijswijk não mais conseguiu aparecer àquele nível. Neste Tour tem estado muito bem, mas ofuscado por um brilhante Primoz Roglic. O saltador de esqui que deu em ciclista e que em três grandes voltas, ganhou sempre uma etapa. E na primeira vez em que lhe é concedido o estatuto de líder, está a 31 quilómetros de um contra-relógio - no qual é especialista - de conseguir o pódio, provavelmente tirando o lugar ao quatro vezes vencedor da Volta a França, Chris Froome.
Quando há dois anos venceu o contra-relógio no Giro, foi uma espécie de "Primoz quê?" Roglic é agora um nome bem conhecido - ainda mais em Portugal, onde venceu a Volta ao Algarve em 2017 - e nesta Volta a França conquistou um estatuto no pelotão que ele muito trabalhou, mas que ainda estava rodeado de alguma desconfiança. A sua qualidade como ciclista de provas de uma semana estava mais do que confirmada. Só este ano venceu a Volta à Romandia, ao País Basco e da "sua" Eslovénia. Agora confirma que é também um corredor de 21 etapas.
Esta sexta-feira, numa tirada espectacular nos Pirenéus, Roglic - que fará 29 anos em Outubro - foi irrepreensível. Saltou para o terceiro lugar e o segundo está a 19 segundos. Se Tom Dumoulin (Sunweb) tem razões para se preocupar, já Geraint Thomas (Sky) só terá de ser igual a ele próprio e evitar azares. 2:24 minutos será uma distância demasiado grande para perder em 31 quilómetros, mesmo que se esteja perante o vice-campeão do mundo. Ao contrário do campeão Dumoulin, Roglic não fez o Giro. Uma segunda vitória de etapa não é de afastar, tal como passar o holandês.
Depois há um Dylan Groenewegen (25 anos), vencedor de duas etapas neste Tour e que em 2017 ganhou nos Campos Elísios. Cada vez mais é um dos melhores sprinters da actualidade e está também a fazer o trabalho para se tornar num homem de clássicas. Kruijswijk merece o mérito de ter sido essencial nesta reconstrução da equipa, ele que ficou na estrutura desde os tempos da Rabobank, mas são Roglic e Groenewegen os rostos de uma Lotto-Jumbo que nas próximas grandes voltas não será mais uma simples outsider.
Mas estes são os nomes que se consagraram no maior palco de ciclismo do mundo. Contudo, há ainda um muito talentoso George Bennett, cujo oitavo lugar no Giro pode não ter sido bem o que esperava, mas este australiano ainda tem algo mais para dar e conquistar. Aos 24 anos, Antwan Tolhoek é uma esperança holandesa a receber a formação numa equipa que está a produzir bons ciclistas.
A par de Kruijswijk há ainda um Jos van Emden, um Lars Boom e a locomotiva Robert Gesink. Todos já com mais de 30 anos, todos do tempo da Rabobank e todos de confiança para o director Richard Plugge. Gesink não se tornou no voltista esperado, no entanto, o trabalho que hoje realizou para encurtar distâncias para o grupo de Mikel Landa (Movistar) e Romain Bardet (AG2R), explica porque o contrato foi renovado até 2021. Sozinho fez o trabalho de três ou quatro ciclistas da Sky! A vitória de Roglic na etapa também tem muito de Gesink.
Para o ano será apenas Jumbo, ainda que não esteja excluída a entrada de outro patrocinador. A Lotto sai de cena, mas a cadeia de supermercados garantiu que a aposta será forte e até aumentada, comparativamente com este ano. É tempo de crescer. O passado está mesmo lá atrás. Longe vão os tempos em que a equipa foi apenas a Blanco, sem patrocinador. A Belkin apareceu para dar um primeiro empurrão rumo à reconstrução de uma estrutura que viu alguns dos seus principais ciclistas serem envolvidos em casos de doping, ou de não se livrarem de suspeitas.
Os actuais patrocinadores vincularam-se em 2015. Ano complicado, com apenas seis vitórias. Porém, aquela de Bert-Jan Lindeman na Vuelta serviu de mote para o recomeço de uma equipa que sabe vencer, mas que ainda lhe falta uma vitória na geral de um corrida de três semanas ou num momento, pois soma triunfos em praticamente todas as principais provas. Estará a aproximar-se?...
Etapa espectáculo
A subida ao mítico Tourmalet impulsionou o espectáculo a 100 quilómetros da meta, muito devido a Mikel Landa. Apenas com tudo a ganhar, o espanhol da Movistar cumpriu o prometido e atacou de longe, levando com ele Romain Bardet (AG2R), com Ilnur Zakarin a agarrar-se ao grupo depois da Katusha-Alpecin lhe ter preparado o terreno para tentar ganhar a etapa. Juntou-se ainda um Rafal Majka à procura dar mais uma vitória à Bora-Hansgrohe além das três de Peter Sagan, depois de ter desiludido na luta pela geral.
Primoz Roglic foi o mais espectacular de todos, num dia em que Chris Froome agarrou-se como pôde a Egan Bernal para tentar salvar um terceiro lugar, que, ainda assim, está agora a 13 segundos. Tom Dumoulin fez tudo para defender o seu segundo posto, mostrando que lutar pelo Tour é algo que estava além das suas capacidades. O preço do Giro está a ser pago, pelo que fez o que lhe competia, ainda que para isso tenha ajudado Geraint Thomas a ficar a 31 quilómetros de conquistar um Tour que ninguém, ou quase, acreditaria ser possível há três semanas. Se os três actuais ocupantes do pódio ali permanecerem, o Tour terá três estreantes nestas posições nesta corrida. Só Tom Dumoulin sabe o que é subir ao pódio de uma grande volta: ganhou o Giro em 2017.
(O texto continua por baixo do vídeo.)
Landa subiu ao sexto lugar, enquanto o companheiro Nairo Quintana caiu de quarto para nono, depois de uma etapa dolorosa. O colombiano sofreu uma queda na quinta-feira e não escondeu o quanto o limitou fisicamente. Salva para a Movistar a vitória na etapa dos 65 quilómetros por parte de Quintana e a classificação de equipas. Zakarin é agora 10º à custa de um Jakob Fuglsang que deu certezas à Astana que tem de contratar um ciclista para as três semanas.
Faltam então 31 quilómetros entre Saint-Pée-sur-Nivelle e Espelette, num contra-relógio que de direito pouco tem. Geraint Thomas sabe o que é vencer estas etapas, começou por o fazer há um ano no Tour, por exemplo. 2:05 é uma margem que lhe dá alguma tranquilidade. Em condições normais, nem Dumoulin, nem Roglic e muito menos um Froome cansado, conseguirão tirar-lhe a amarela. Se nada de anormal acontecer, é ele que será a estrela no desfile de campeões em Paris. Mas festas só no fim, como reitera um Peter Sagan que está a sacrificar-se como nunca para acabar o Tour e confirmar a conquista da sexta camisola verde. Escapou à exclusão por chegar fora do tempo limite, mas as dores continuam depois da queda na quarta-feira.
Quem também estará no "desfile" será Julian Alaphilippe. Mais um francês a ganhar a camisola da montanha, sucedendo a Warren Barguil. O ciclista da Quick-Step Floors pode não ser um trepador puro, mas agora já se questiona se será esse o caminho que seguirá na sua evolução, podendo assim pensar em lutar pela geral no Tour. Ainda é cedo e Alaphilippe quer é saborear esta excelente conquista. Pierre Latour partirá para o contra-relógio com 5:47 minutos de vantagem sobre Egan Bernal, pelo que também só algo de muito mau irá tirar ao francês da AG2R a camisola branca da juventude.
Está quase a terminar um Tour dos mais interessantes dos últimos anos. O contra-relógio não deverá ser aquele dia tão decisivo como a organização poderia desejar, mas vamos esperar pelo fim dos 31 quilómetros, pois há uma longa lista de ciclistas que podem atestar que tudo pode acontecer nesta Volta a França, do primeiro ao último metro.
Pode ver aqui as classificações.
Sem comentários:
Enviar um comentário